Rui Azeredo's Blog, page 3
June 10, 2020
Relógio d’Água traz de volta «A Montanha Mágica», de Thomas Mann
[image error]A Relógio d’Água acrescenta em junho ao seu catálogo mais uma obra do escritor alemão Thomas Mann, A Montanha Mágica. Thomas Mann (1875-1955), que em 1929 venceu o Prémio Nobel, tem ainda editado na Relógio d’Água Os Buddenbrook, graças à qual ganhou o Nobel, A Morte em Veneza e Mário e o Mágico, entre outras.
A Montanha Mágica tem tradução e notas de António Sousa Ribeiro, também autor do prefácio, do qual deixo aqui um excerto:
«Tal como em A Morte em Veneza, o protagonista de A Montanha Mágica empreende uma viagem que acaba por o levar para fora do espaço e do tempo da existência burguesa. Não por acaso, contrariando planos anteriores em que o romance abria com a explanação da biografia de Hans, depois remetida para o segundo capítulo, o primeiro capítulo centra‑se na viagem e no primeiro momento de confronto com o mundo fechado do sanatório, o início do longo percurso de iniciação que irá constituir o fulcro da narrativa. O herói do romance, como surge repetidamente sublinhado, nada tem de excepcional, pelo contrário, a própria mediania da personagem constitui uma forma de acentuar de que modo ela representa paradigmaticamente a normalidade social. O fulcro do romance, está, justamente, no facto de essa normalidade ser totalmente posta à prova e problematizada nos seus fundamentos pelo confronto com o microcosmos do sanatório.»
June 8, 2020
Richard Ford recorda os pais em «Entre Eles»
[image error]Entre Eles – Recordando os Meus Pais é a mais recente obra do norte-americano Richard Ford lançada em Portugal, numa edição Porto Editora, que tem vindo a publicar os seus livros, como O Jornalista Desportivo, Canadá e Francamente, Frank.
Em Entre Eles, segundo descreve a Porto Editora, Richard Ford recorre à história da sua própria vida e da dos pais para continuar a «perscrutar a essência do que é a América». Ainda segundo a nota enviada à Imprensa, este é um livro composto por dois textos escritos com 35 anos de diferença. O mais recente, e aquele com que o livro começa, centra-se na figura do pai, enquanto o outro, de 1986, é dedicado à mãe, falecida cinco anos antes.
Sobre o livro: «Edna Akin apaixonou-se aos 17 anos por Parker Ford. Ela era uma bela jovem nascida no Arkansas e ele um sorridente rapaz que trabalhava numa mercearia. Casaram-se e o novo trabalho dele como vendedor levou-os a uma vida itinerante pelo Sul dos Estados Unidos, durante os anos da Grande Depressão.
Quando já não o esperavam, Edna e Parker tiveram um filho: Richard Ford. Anos mais tarde, já um escritor consagrado, Ford quis reconstituir a vida dos pais recorrendo a fotografias, histórias que ouviu contar, instantes que viveu com eles e que, mesmo insignificantes, se cristalizaram na sua memória.
Este livro é o resultado desse esforço e um comovente retrato de família. Com amor, inteligência e grande capacidade de reflexão, Richard Ford evoca o modo como os filhos mudam ao longo do tempo e a imagem que têm dos pais. Entre eles é, ao mesmo tempo, um profundo ato de amor e uma intensa reflexão sobre a família.»
June 2, 2020
«O Último Faraó» editado em Portugal
[image error]O Último Faraó, uma nova aventura de Blake e Mortimer, chegou finalmente às livrarias. Este álbum de banda desenhada, da autoria de François Schuiten, Jaco Van Dormael, Thomas Gunzig e do ilustrador Laurent Durieux, pega nos heróis criados por Edgar P. Jacobs e leva-os a uma aventura com passagens por Bruxelas e pelo Egito. O Último Faraó é editado em Portugal pela ASA e custa 17,95 euros.
Sinopse: «Vinda das profundezas do Palácio da Justiça, em Bruxelas, uma energia de origem desconhecida ameaça a sobrevivência da humanidade. Ninguém parece capaz de conseguir contê-la… a não ser, talvez, Philip Mortimer. Mas, desde O Mistério da Grande Pirâmide, o tempo foi passando. Estará o professor preparado para enfrentar os mistérios do Egito que lhe regressam à memória?»
May 29, 2020
«Nada a Temer», de Julian Barnes, no regresso da Quetzal às livrarias
[image error]A Quetzal está de volta às livrarias a 5 de junho e esse regresso é feito através da reedição de Nada a Temer, de Julian Barnes. O escritor inglês, vencedor dos prémios Médicis e Femina, é o autor nomeadamente O Papagaio de Flaubert e O Sentido do Fim, com o qual venceu o Booker Prize.
A Quetzal considera este livro «maravilhosamente sério e divertido, hilariante […] é uma demonstração do dom supremo de Julian Barnes, enquanto deambula pelo seu percurso – sempre pessoal – pela condição humana: memória e mortalidade como só Julian Barnes saberia descrevê-las».
Sobre o livro: «Escreveu livros e depois morreu. No obituário que escreve de si mesmo em Nada a Temer, Julian Barnes chega a resumir a sua vida desta forma. E acrescenta: amava a mulher e temia a morte. E é sobre esse pavor do desconhecido que nos espera no final da vida, que aquele que é considerado o mais brilhante escritor britânico do momento discorre neste livro.
Ateu aos 20 e agnóstico e agnóstico aos 50 e 60, Julian Barnes medita sobre a relação que mantemos com a nossa única certeza: o desaparecimento. E, ao fazê-lo, passa necessariamente pela fé e pela ausência dela, pela memória que se sedimenta em construções enganadoras, pela sua história familiar, escolar, estética – e por um extraordinário acervo de figuras históricas e da forma como, ao longo dos séculos, se confrontaram com a morte.
Nada a Temer é uma memória de família, um diálogo com o irmão filósofo, uma meditação sobre a mortalidade e o medo da morte, uma celebração da arte e uma discussão sobre Deus.»
Viaje pelo mundo e história da BD no Centro Belga de Banda Desenhada
Bruxelas é por norma associada a instituições europeias, burocracia, política, etc., mas a capital da Bélgica é naturalmente muito mais do que isso. Não tem os grandes e icónicos monumentos como a Torre Eiffel ou o Big Ben, mas nem por isso deixa de ser uma cidade acolhedora e que sabe receber. Nomeadamente, é a capital europeia da banda desenhada. E isso não é pouco. Quem visita Bruxelas «cruza-se» frequentemente com Tintin, Spirou, Gaston Lagaffe, Lucky Luke, Schtroumpfs, entre muitos outros, e digam lá se não são boas companhias?
A BD está, portanto, por toda a parte, seja em lojas especializadas, seja em murais, e são muitos, espalhados pela cidade. Em tal tipo de urbe não é de estranhar que haja um museu de banda desenhada, o Centre Belge de la Bande Dessinée, onde uma completa coleção permanente permite ao amante da BD, e não só, perder-se naquele mundo desenhado, e na sua história. Sim, o museu não serve apenas para mostrar «bonecos» (embora também cumpra essa missão com grande estilo), já que se revela de igual modo bastante detalhado no relato da interessante e longa história da banda desenhada mundial, que como se sabe tem um dos seus principais núcleos precisamente em Bruxelas.
A reabertura pós-Covid está marcada para 3 de junho e para quem não vive na Bélgica resta esperar que sejam retomados os voos para a capital belga, assim como reabertas em geral as fronteiras.
Desde 1989 no centro de Bruxelas
[image error]O 2CV de Boule e Bill
O museu está instalado desde 1989 na rue des Sables/Zandstraat (bem perto do centro, a uns passos da Grand Place) num edifício Art-Noveau de 1906 que começou por servir como grande armazém dedicado às vendas de têxteis. Depois dos seus tempos áureos, veio um período de decadência e nos anos 1970 começou a ser debatida a sua recuperação. Até que a 6 de outubro de 1989, depois de remodelado, abre portas como Centre Belge de la Bande Dessinée.
Já por lá passaram muitos milhares de visitantes e é inevitável que desde a entrada se tenham sentido deleitados com o belo átrio onde o visitante é recebido por Lucky Luke a cavalo e por Boule e Bill junto ao seu belo 2 CV vermelho, além de um Schtroumpf e do foguetão que Tintin e amigos usaram para ir à Lua. Alerte-se, no entanto, que estas peças ocasionalmente trocam de lugar no museu, pelo que podem não se encontrar exatamente como aqui descrito. Outras tão ou mais interessantes estarão a receber os visitantes, isso é garantido.
[image error]Vista geral do 1.º piso, com destaque para as entradas das zonas dedicas a Victor Horta e aos Schtroumpfs
Percorrido este átrio – é melhor à entrada ignorar a espetacular loja à esquerda que por si só merece uma demorada visita (guarde-a para o fim) –, sobe-se a escadaria imponente até ao balcão de atendimento, onde se compra os bilhetes de acesso. E aí começa a visita propriamente dita, preenchida por cinco exposições permanentes. A Invenção da Banda Desenhada (desde os primórdios aos dias de hoje, com informação detalhada), A Arte da BD (com a presença rotativa de obras de dezenas de autores, cobrindo imensos géneros europeus e todas as fases do processo criativo), Horta e os Armazéns Waucquez (dedicado ao arquiteto Victor Horta, que desenhou o edifício), o Espaço Hergé (onde
[image error]Pode visitar as casas dos Schtroumpfs
tomamos contacto com a obra do criador de Tintin e muito mais), o Espaço Peyo (onde os Schtroumpfs são reis e senhores e onde é possível posar para fotos no ambiente deles) e o Auditório Pieter de Poortere. Este último autor, não tão conhecido em Portugal, criou Dickie, que surge em pequenas histórias super divertidas, capazes de prender o visitante no auditório, sempre ávido por mais uma história, seja nas pranchas e quadros expostos nas paredes, seja nos pequenos filmes que passam constantemente no ecrã do auditório dedicado a este autor belga contemporâneo.
Constantes exposições temporárias
[image error]As casas de Boule e Bill
[image error]Jogos no espaço Boule e Bill, entre as recriações de cenários
Presentemente, está ainda patente uma exposição temporária relativa a Boule et Bill, uma divertida dupla criada pelo desenhador local Jean Roba há mais de 60 anos, nas páginas da revista Spirou. Destinada essencialmente aos mais pequenos, esta BD sem dificuldade conquistou públicos de todas as idades. A exposição atualmente patente (até 31 de agosto de 2020) permite, além da visualização de várias pranchas, interagir e brincar com alguns adereços relativos aos heróis.
Outra exposição temporária que se pode visitar de momento (e até 8 de novembro de 2020) no centro/museu é relativa ao espanhol Juanjo Garnido, conhecido principalmente por desenhar Blacksad, série que tem argumento de Juan Diaz Canales.
À saída, sim, não deve perder a loja, onde há de tudo o que possa ter que ver com banda desenhada.
Banda desenhada espalhada pelas ruas



Se não lhe bastou toda esta banda desenhada concentrada, recomenda-se um passeio pelas ruas de Bruxelas em busca dos murais dedicados a vários heróis e personagens da banda desenhada franco-belga. Ocupam principalmente fachadas «despidas» de prédios e são dedicados a heróis como Tintin, Blake & Mortimer, Lucky Luke, Ric Hochet, etc. O melhor mesmo é consultar este site do município de Bruxelas e organizar o seu próprio percurso.
[image error]Foguetão de Tintin no aeroporto de Bruxelas
Até nos aviões
Aliás, para o amante de banda desenhada que chegue a Bruxelas de avião, o primeiro brinde surge logo no aeroporto, onde há uma réplica de dimensão considerável do foguetão de Tintin e companheiros visto em Rumo à Lua e Explorando a Lua. Aliás a sorte grande poderá sair a quem apostar em viajar pela Brussels Airlines, que em épocas normais tem voos regulares para o Porto e Lisboa. É que esta companhia belga conta na sua frota com um avião dedicado a Tintin e outro aos Schtroumpfs e nunca se sabe se não será um desses a transportar-nos. Eu apostei na Brussels Airlines, graças também aos seus preços convidativos, e não tive a sorte de me sair um desses aviões, mas nem me posso queixar muito porque calhou-me um dos outros que eles têm decorados, neste caso dedicado a Bruegel. Sim, porque Bruxelas, ou a Bélgica, não são só instituições europeias ou banda desenhada. Está lá o Atomium, a Mini Europa, e vários museus interessantes, como o de instrumentos musicais.
Contudo, para já não se perca, e primeiro prepare a sua visita ao Centre Belge de la Bande Dessinée passando pelo site oficial, que pode consultar a aqui. Tem todas as informações sobre acessos, bilhetes, exposições, etc.


(Texto e fotos de Rui Azeredo)
May 27, 2020
«Elevação», novo romance de Stephen King, já anda por cá desde março
[image error]Apanhado em cheio pela pandemia, passou um pouco despercebido o lançamento de um novo romance de Stephen King, intitulado Elevação, cuja ação decorre na famosa cidadezinha fictícia (mas tão genuína) de Little Rock, cenário de tantas das histórias do mestre do terror, suspense, e de outros géneros.
Stephen King é o autor de clássicos como Carrie, A Coisa ou The Shining, e recentemente lançou obras como Despertar, Bem-Vindos-a-Joyland, O Intruso, Sr. Mercedes, Dr. Sono, A Cúpula, etc., todos editados em Portugal pela Bertrand, tal como Elevação.
Entretanto, a Bertrand já anunciou que em julho irá lançar Escrever, uma obra com uma boa dose de autobiografia onde Stephen King aborda a temática da escrita.
Sinopse
«Castle Rock é uma pequena cidade, cenário de muitos livros de Stephen King, e as notícias correm depressa. É por isso que Scott Carey quer confiar o seu estranho segredo apenas ao Dr. Bob Ellis: anda a perder peso sem emagrecer, e a balança regista o mesmo peso independentemente da roupa que usa.
Scott tem duas vizinhas que abriram uma “requintada experiência gastronómica” na cidade, mas a população não está convencida. Deirdre e Missy Donaldson formam um casal de lésbicas que não encaixa muito bem nas expectativas da comunidade. E agora Scott parece estar em guerra com elas, porque os cães do casal gostam de ir fazer as necessidades ao seu relvado.
Scott começa a compreender a vida difícil das vizinhas e tenta ajudar. Enquanto a comunidade se une e se prepara para mais uma comemoração do Dia de Ação de Graças, são criadas alianças improváveis, mostrando que podemos encontrar uma base comum apesar das nossas diferenças tão enraizadas.»
Siri Hustvedt e Herman Hesse prestes a regressar às livrarias
[image error]A norte-americana Siri Hustvedt e o alemão Herman Hesse são os dois autores de literatura traduzida a serem editados pela Dom Quixote em junho, a primeira chegando às livrarias com Recordações do Futuro e o segundo com O Último Verão em Klingsor.
Recordações do Futuro – Siri Hustvedt
«Com 23 anos e o objetivo de escrever um livro, S. H. troca o interior rural dos Estados Unidos por um esquálido apartamento na exuberante Nova Iorque dos anos 70. Todos os dias, para combater a solidão e a fome, a rapariga parte à descoberta da cidade, que na época é suja e perigosa e repleta de aventuras. Tem como única companhia os heróis literários da sua adolescência – Dom Quixote e Tristram Shandy – e a voz de uma vizinha, Lucy Brite, que todas as noites lhe chega através da parede da sala, entoando um triste cântico e monólogos bizarros, que S. H. aponta num diário. A misteriosa Lucy rapidamente se torna uma obsessão.
Quarenta anos depois, a reputada escritora S. H. encontra o seu velho diário e o rascunho de um romance inacabado. Justapondo os diversos textos, ela cria um diálogo entre os seus diferentes «eus» ao longo das décadas, num jogo que transforma a narradora – e o leitor – numa espécie de Sherlock Holmes (S.H.) em busca da verdade possível entre a memória e a imaginação.»
Sai a 23 de junho
[image error]O Último Verão de Klingsor – Hermann Hesse
«Escrito pouco depois do fim da Grande Guerra, O Último Verão de Klingsor relata a história de um famoso pintor, Klingsor, que vive uma explosão final de criatividade no último verão da sua vida.
Pintor expressionista orientado pela emoção, a entrega de Klingsor à arte é total pois considera que esta corporiza a essência da vida.
Amante dos extremos, opõe-se violentamente à moderação e à mediocridade. Não gosta de planear nada com antecedência pois não acredita no amanhã e vive cada dia como se fosse o último. Na vida tem apenas dois pontos centrais de interesse em que é bem-sucedido: criar arte e amar.
Como Demian, Siddhartha, Goldmund e Joseph Knecht, Klingsor não é uma personagem vulgar. Atingiu um patamar de sucesso fora do comum na arte que escolheu e trabalha intensamente para manter esse nível. E, tal como outros heróis dos livros de Hesse, luta por trilhar o seu percurso individual e único para atingir o fim que se propõe na vida.»
Sai a 30 de junho
May 26, 2020
Literatura portuguesa em destaque no Junho da Dom Quixote
[image error]Junho promete ser um mês em grande para a literatura portuguesa no que toca a lançamentos das Publicações Dom Quixote. É que a par do já anunciado novo romance de Rodrigo Guedes de Carvalho (Margarida Espantada), vão sair também obras de Isabel Rio Novo (Rua de Paris em Dia de Chuva), João de Melo (Livro de Vozes e Sombras) e Lídia Jorge (Em Todos os Sentidos), sendo este último um livro de crónicas.
Pode ler nas linhas seguintes os resumos divulgados pela Dom Quixote
Margarida Espantada – Rodrigo Guedes de Carvalho
O novo romance de Rodrigo Guedes de Carvalho, que se segue a Jogos de Raiva, publicado em 2018, é assim descrito pelo próprio autor:
«Margarida Espantada é sobre família. Sobre irmãos. É sobre violência doméstica e doença mental. É um efeito dominó sobre a dor. A literatura é um jogo do avesso. Os bons romances são sempre sobre amor, e os melhores são os que fingem que não são. Não devemos recear livros duros. As histórias que mais nos prendem trazem uma catarse que nos carrega as mágoas, personagens que apresentam as suas semelhanças connosco. Gosto da ficção que é número arriscado de circo, com fogo e espadas, que nos faz chegar muito perto da queimadura que não vamos realmente sentir. Mas reconhecemos.»
Sai a 2 de junho
[image error]Rua de Paris em Dia de Chuva – Isabel Rio Novo
Na capital francesa, vivem-se tempos de profundas transformações, com a abertura dos grandes bulevares e o despertar de uma nova corrente artística, o Impressionismo, que irá alterar o olhar dos indivíduos sobre a arte e o mundo. Mas que história de amor à distância poderão experimentar o protagonista deste romance – um diletante chamado Gustave Caillebotte, amigo e mecenas de pintores como Monet e Renoir e, afinal, ele próprio um artista de primeira linha – e a sua Autora, que há anos persegue a história deste milionário triste e decide agora escrever sobre ela? E que papel desempenha nessa relação a enigmática Helena, uma professora de história da arte que parece saber tudo sobre Caillebotte?
Combinando o impulso histórico com a tentação do fantástico, Isabel Rio Novo – duas vezes finalista do Prémio LeYa – oferece-nos com Rua de Paris em Dia de Chuva uma peça literária fascinante acerca do poder da arte, que a confirma como uma das vozes mais relevantes da ficção portuguesa contemporânea.
Sai a 9 de junho
[image error]Livro de Vozes e Sombras – João de Melo
Cláudia Lourenço, jornalista, é enviada de Lisboa à ilha de São Miguel ao serviço do Quotidiano. Tem por missão entrevistar um conhecido ex‑operacional da Frente de Libertação dos Açores e reaver a crónica do independentismo insular durante a Revolução. Depara-se-lhe um homem-‑mistério, voz e sombra do jogador, das suas verdades que mentem, das suas mentiras que dizem a verdade. Ela, que pertence à «geração seguinte», não parece ter memória histórica do país de então: vive no de agora, e o passado é um território longínquo, cuja narração flui no interior de um imaginário algo obscuro. A história da FLA (e a da FLAMA, na Madeira) comporta em si o «país de todos os regressos»: a Ditadura, o fim das guerras em África, a descolonização e o «retorno» à casa europeia pelos caminhos de volta, os mesmos que levaram as naus a perder-se nos mares da partida. O país que a si mesmo se descoloniza vibra na exaltação revolucionária. E é dos avanços e recuos dessa Revolução que nasce a tentação separatista do arquipélago.
Uma narrativa triangular cujos vértices e sequências assentam sobre Lisboa, África e Açores.
Sai a 30 de junho
[image error]Em Todos os Sentidos – Lídia Jorge
Na introdução que abre este livro, Lídia Jorge define a crónica como uma homenagem ao deus que faz escorregar os grãos de areia, mirando-nos de soslaio. E acrescenta: «Como não podemos vencer o Tempo, escrevemos textos que o desafiam a que chamamos crónicas.»
Em Todos os Sentidos, conjunto de quarenta e uma crónicas que Lídia Jorge leu, ao longo de um ano, aos microfones da Rádio Pública, Antena 2, corresponde a essa definição – são crónicas que encaram de frente a fúria do mundo contemporâneo, interpretando os seus desafios, perigos e simulacros com um olhar crítico acutilante.
Mas a singularidade destas páginas de intervenção provém, sobretudo, do facto de a autora ser capaz de juntar no mesmo palco da reflexão o pensamento crítico sobre a realidade e o discurso subjectivo da memória íntima, com um olhar profundamente sentido. No interior deste livro, há páginas inesquecíveis sobre a vida humana.
Sai a 16 de Junho
Vogais lança a 1 de junho «A Arte da Guerra» versão novela gráfica
[image error]A Vogais, chancela da editora 20|20, lança a 1 de junho a edição ilustrada do clássico A Arte da Guerra, de Sun Tzu. A obra, um tratado militar chinês escrito por volta do século V a. C. e hoje em dia considerada uma referência na área da gestão e liderança, é ilustrada por Peter Katz, apresentando em Portugal o título A Arte da Guerra – Novela Gráfica.
Nesta obra de Sun Tzu, general, estratega militar e filósofo, explica a Vogais que «um professor educa o pupilo quanto à mais subtil de todas as artes». As ilustrações de Pete Katz «retratam cenas de batalha e cenários estratégicos, dando vida a princípios militares antigos para uma nova geração de leitores».
[image error]O ilustrador, nascido em Londres, trabalha há mais de dez anos como ilustrador freelance, tendo já colaborado, nomeadamente, com o British Museum. Desenvolve ainda novelas gráficas e desenha retratos. Paralelamente, integra o coletivo internacional de artistas Bad Apple. Se desejar conhecer melhor a obra do ilustrador Peter Katz clique aqui.
A Arte da Guerra – Novela Gráfica tem 128 páginas e custa 16,59 €. Entretanto, pode ler aqui as primeiras páginas do livro. [image error]
April 29, 2020
Bem-Vindos a Joyland – Stephen King
[image error]Bem-vindos a Joyland, um original de 2013 que em Portugal foi editado pela Bertrand, tem os ingredientes habituais de Stephen King de mistério, algum terror e um pouco de sobrenatural, numa decadente feira popular bem ao estilo americano, mas é muito mais do que isso. Trata-se igualmente, ou até mais, de uma história do despertar para a vida de um jovem, no caso Devin Jones, o narrador, que já mais velho nos conta esta história da sua juventude.
Depois de sofrer um desgosto de amor, Devin resolve ir trabalhar no verão de 1973 para uma feira popular na Carolina do Norte, onde acaba por se transformar num funcionário exemplar, bem acolhido pelos seus colegas e patrão. É nesse parque de diversões que lhe contam que a mansão assombrada está amaldiçoada, depois de uns anos antes uma rapariga ter sido degolada pelo namorado enquanto seguiam num carrinho na diversão. Desde então, segundo alguns funcionários, a rapariga foi avistada várias vezes junto à diversão, onde foi assassinada e abandonada pelo namorado, que nunca foi identificado.|
Mas a verdade é que este crime é apenas mais um elemento da história e nem sequer o mais importante, pois o que cativa o leitor é mesmo a vida de Devin Jones, as suas amizades, os seus desgostos amorosos e recuperações, num ambiente sempre muito bem retratado por Stephen King. O autor consegue captar a atenção do leitor tanto com o mistério criado, como com as descrições dos ambientes e vidas das personagens, tornando o crime na diversão da mansão assombrada num mero acessório da história.
As personagens, aliás, são uma mais-valia nesta obra menos assustadora do que o habitual em King, começando pelo protagonista, um rapaz simpático e interessante, mas não esquecendo todos os habituais excêntricos de um parque de diversões sazonal que conhecemos essencialmente da literatura e cinema americanos.
Note-se ainda que este livro de Stephen King é mais pequeno do que o habitual no escritor, tendo a edição de bolso da Bertrand, na coleção 11/17, umas “meras” 300 páginas, enquanto a edição “normal” não passa das 256.
Uma boa aposta, portanto, para quem aprecia uma boa história, desfrutando do trabalho de um belo contador de histórias como Stephen King sem “levar” com o habitual horror que ele nos reserva.
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