David Soares's Blog, page 54

September 18, 2012

Quando é um político que se sacrifica


Nesta altura em que toda a gente, em menor ou maior grau, aguçou a sua consciência política, vale a pena lembrar um nome de vital importância que, lamentavelmente, tem sido esquecido: Manuel Fernandes Tomás.
Nascido a 31 de Julho de 1771, o "patriarca da liberdade portuguesa" , como viria a ser cognominado, matriculou-se com apenas quinze anos de idade na Universidade de Coimbra. Abreviando um percurso extenso de vida, que tomaria muitas linhas a explanar, basta reter que, muito mais tarde, em 1811, Manuel Fernandes Tomás voltou a essa cidade, como seu Provedor da Comarca, e foi a partir dessa altura que iniciou o estudo legislativo das constituições políticas, europeias e norte-americana, que, entretanto, vieram à luz. Em paralelo, indignado com o servilismo e a decadência dos partidários do Antigo Regime e com os autoritarismos das forças francesas (mais tarde também as inglesas, lideradas pelo marechal William Beresford, que se instalaram no país em altos cargos militares), publicou diversas obras reformistas e de protesto, nas quais se inclui o célebre Repertório Geral ou Índice Alfabético das Leis extravagantes do Reino de Portugal (1815-1819). Em 1817, muda-se para o Porto, para desempenhar o cargo de Desembargador da Relação, e enceta esforços para formar um novo tipo de regime, de feição liberalista, no sentido de regenerar Portugal - numa altura em que "liberal" significava algo muito diferente de "desregulação bancária para as empresas".
É, pois, juntamente com José Ferreira Borges (advogado e secretário da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro), José da Silva Carvalho (juiz dos Órfãos) e João Ferreira Viana (comerciante da praça do Porto), que, logo no início do ano seguinte, funda o Sinédrio: associação discreta que, reunindo juristas, militares, clérigos e civis, objectivava a criação e implementação de um novo regime liberal.

Em 1820, observando com redobrada atenção a vizinha sublevação galega de Março, que restaurou "La Pepa" - a Constituição de Cádis (de 1812) -, os elementos do Sinédrio aceleraram os seus esforços revolucionários e, nesse mesmo ano, a 24 de Agosto, instauraram o primeiro regime liberal do país, naquela que ficou conhecida como a Revolução Liberal do Porto. Este movimento foi surpreendente, porque contou com o apoio de todas as classes sociais, que exigiam, no mínimo, dois grandes objectivos: o retorno da família real portuguesa ao país e a reinstauração do Pacto Colonial (em síntese, a exclusividade portuguesa de comércio com o Brasil). Manuel Fernandes Tomás escreveu o Manifesto aos Portugueses, no qual deu a conhecer a natureza da revolução e seus desideratos, e, de imediato, por unanimidade, iniciou o projecto de lavrar uma constituição.
Essa inaugural constituição, baptizada de Constituição Política da Monarquia Portuguesa, foi jurada por D. João VI, no Palácio de Queluz, a 25 de Setembro de 1822. Porém, ao mesmo tempo que foi redigindo a constituição, Manuel Fernandes Tomás viu a sua saúde debilitar-se rapidamente: morreu, pouco tempo depois, a 19 de Novembro de 1822. O repentino falecimento chocou amigos íntimos, como o poeta Almeida Garrett.

Quanto à causa da morte, o que é possível auferir-se dos relatos de época é que ele, indivíduo imbuído de um elevadíssimo sentido do dever, como é raríssimo encontrar-se hoje, recusou imperativamente receber honorários pelas suas funções políticas, declarando que estava na política por patriotismo e não pelo dinheiro. Gastando as suas poupanças, tanto no orçamento doméstico e nos esforços revolucionários, Manuel Fernandes Tomás passou fome nos últimos meses de vida - aqueles em que redigiu olimpicamente a inédita constituição - e morreu em consequência dessa privação.
As primeiras cortes ordinárias, reunidas a 1 de Dezembro, aprovaram a atribuição de subsídios anuais à sua viúva e filhos - não sem vozes discordantes, o que é verdadeiramente nóxio: dezassete deputados tiveram a frieza de votar contra a atribuição dessa caridade à família do homem responsável pela criação do regime que lhes proporcionava os cargos que desempenhavam e que, para que esse mesmo regime regenerador fosse uma realidade, morrera de fome. 

Hoje, o nome de Manuel Fernandes Tomás é, infelizmente, algo desconhecido do grande público, mas devemos muitíssimo ao seu trabalho e a sua vida é um exemplo ímpar de rigor e devoção aos ideais da liberdade e da justiça. Nesta altura em que tão poucos pedem sacrifícios a tantos, vale a pena recordar Manuel Fernandes Tomás que, individualmente, e sem recolher benefícios - mesmo aqueles que lhe eram devidos por direito - se sacrificou por todos.
Também vale a pena recordar o que ele leu às cortes provisórias, em Fevereiro de 1821: «Quando um governo, senhores, trata o interesse dos povos pelo modo que tendes ouvido, o que, desgraçadamente, é muito verdadeiro, fazendo ou consentindo que se façam males tão grandes, ninguém poderá deixar de confessar que ele é um governo mau; e, em tal caso, seria bem admirável que houvera ainda quem se lembrasse de espoletar à nação o direito de escolher ou de fazer outro melhor.»


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Published on September 18, 2012 06:31

September 17, 2012

September 16, 2012

Depoimento


Caros leitores:

Por escolha pessoal, sempre mantive em separado aquilo que é a minha face pública de autor e a minha vida e convicções privadas, mas este período negríssimo pelo qual passamos, e que emerge como sendo decisivo nas vidas de todos nós, obriga-me a desfazer essa separação e a pronunciar-me publicamente sobre política; em principal, sobre a perigosa política actual que nos conduz e que nos levará à ruína.
Por conseguinte, enquanto autor e enquanto indivíduo, não posso calar-me, pois a palavra é a minha ferramenta de trabalho e é através dela que tenho forma de fazer-me ler e escutar por todos.Abaixo, encontram-se duas ligações para dois artigos que escrevi aqui no Cadernos de Daath sobre os últimos dias: um antes da Manifestação de 15 de Setembro - a que fui e à qual dei o meu contributo de protesto contra um governo injusto e fanático que urge remodelar - e outro que escrevi depois de chegar da Manifestação. Apresento-vos as ligações por ordem cronológica para que leiam, pensem e partilhem.

Reforço a ideia, axial nos textos, de que estas políticas actuais nada têm a ver com as políticas a que o(s) partido(s) em governo de coligação nos habituaram ao longo das últimas dezenas de anos, mas que se correspondem com ideologias novas, muito diferentes e mais perversas do que temos experimentado.
É o contributo que me é possível para mudar de uma vez por todas esta situação irrespirável, porque não tenho outro modo de agir. Sou escritor, sou um homem das letras, e é por elas que tenho de chegar aos outros: enquanto me for permitido e enquanto for, de modo geral, permitido.

Porque não desejo viver no Portugal que nos estão a construir, este governo irresponsável e perigoso tem de ser remodelado. Já! Antes de ser demasiado tarde, façam-se ouvir, protestem, manifestem-se nas vossas áreas se, tal como eu, também não querem que nos seja arruinado o país.
Obrigado.

http://cadernosdedaath.blogspot.pt/2012/09/aquele-que-nao-tem-ser-lhe-tirado-mesmo.html

http://cadernosdedaath.blogspot.pt/2012/09/ruas-sem-medo.html

Cumprimentos.David Soares.Lisboa, 16 de Setembro de 2012
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Published on September 16, 2012 12:47

September 15, 2012

Ruas sem medo


Cerca de um milhão (estimativa por baixo) de cidadãos de todo o país manifestaram-se na rua contras as políticas perigosas do autêntico projecto de engenharia social classista, (mal) disfarçado de teoria económica, desenvolvido nos anos setenta do século passado por Milton Friedman da "Escola de Chicago" e pugnado pelo nosso actual governo neo-liberal: quando, somente, a riqueza garante direitos, os direitos dos indivíduos são proporcionais à sua riqueza, o que é uma monstruosidade que substitui a velhíssima lei da "nobreza de sangue" por uma nova lei da "nobreza do recheio da conta bancária". Eu estive ontem na rua, em Lisboa, contra esta ideologia perversa: foi a MAIOR manifestação do género.Ontem foi o Dia Zero: hoje é o Dia Um.As coisas não podem continuar na mesma. Simplesmente, não podem.

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Published on September 15, 2012 20:22

September 12, 2012

Àquele que não tem, ser-lhe-á tirado mesmo o que tem


A política faz-se de ideologias, embora seja fácil esquecer isso, em especial nos dias contemporâneos, mas o facto é o de que as ideologias influenciam, marcam e definem as políticas; e, nesse sentido, as medidas de austeridade avançadas pelo governo em vigência inserem-se numa ideologia neo-liberal, plutocrática, pugnada por algumas escolas economicistas dos últimos três decénios do século passado, como a famosa "Escola de Chicago".
Sob a égide dessa ideologia da desvalorização do trabalho realizado pelos chamados trabalhadores por conta de outrem, observados como "comedores inúteis" pelos deificados criadores de empregos - os tais "empreendedores" -, cada indivíduo só é considerado como tal se se tornar um empresário; ou seja, uma pessoa influente em virtude da sua riqueza, valendo, em exclusivo, pelo dinheiro que faz ao ano.Faz lembrar a lei da Limpeza de Sangue que, até há poucas centenas de anos, era mandatória para se aceder a cargos públicos em Portugal: só quem tivesse sangue limpo, nobre e despoluído de cruzamentos indesejáveis, era aceite como sendo um cidadão com direitos - aqui, essa lex sanguinis é substituída pelo recheio da conta bancária: mas já o Novo Testamento (leitura preferida nestes círculos nos quais ir-se à missa é que é sinónimo de uma boa cidadania - e o resto são, apenas, negócios) avisa que «pois àquele que tem, dar-se-lhe-á e terá em abundância; mas àquele que não tem, ser-lhe-á tirado mesmo o que tem».
Importa reter que esta ideologia almeja a construção de um novo tipo de homem - ou melhor, dois novos tipos: um, o tal empresário - tão auto-suficiente que até é capaz de segurar sozinho aos ombros, como Atlas, o edifício empresarial que construiu com as suas próprias mãos, como se os apoios estatais e privados não existissem - e, o outro, o operário desqualificado, sustentado com um salário de sobrevivência, no limiar da miséria.
Este pesadelo quasi-malthusiano está prestes a tornar-se realidade. Não duvidem que iremos, muito em breve, e até bem perto de nós, com certeza, assistir a grandes mudanças para pior, se esta draconiana desvalorização dos indivíduos for em frente. Nem nos piores tempos nepóticos dos séculos XVII e XVIII, uns quantos colocaram em Portugal um peso tão grande em tantos. E a Troika, excelente bicho-papão, nem sequer precisa de ser para aqui chamada como ceifeiro da desgraça: a austeridade do governo é parte indissolúvel do seu programa político e figurava já em 2010 no espantoso projecto de alteração da Constituição da República Portuguesa (as privatizações, a extinção da classe média e outras medidas ainda piores que, suspeita-se, estarão a ser reservadas para o segundo mandato). Sim, temos cá o FMI, mas o neo-liberalismo é do governo, completamente: abram os olhos, investiguem e pensem.Por enquanto, ainda se pode.

Uma adenda: poucas horas depois de ter publicado este artigo, descobri esta notícia que, conforme poderão ler, corrobora a sua ideia principal - caso dúvidas restassem sobre o assunto. A ler: «esta tarde o Ministro das Finanças também assumiu a paternidade do programa de ajustamento, depois da troika dizer que o programa não era seu».
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Published on September 12, 2012 12:39

September 11, 2012

Marchar, marchar...


«If a man does not keep pace with his companions,perhaps it is because he hears a different drummer.»Henry David Thoreau, Walden (1854).

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Published on September 11, 2012 21:49

September 10, 2012

'Masterclass' cancelada


Lamento, mas, por motivos pessoais, tive de cancelar a minha masterclass de Domingo, dia 16, no festival MOTELx deste ano.
Desmarquem das vossas agendas. Obrigado.

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Published on September 10, 2012 11:23

September 6, 2012

Anormais reais: o Geek e o Xexé


Hoje, a palavra norte-americana geek (sem tradução directa para língua portuguesa, mas cujo sentido se contígua ao transmitido pela palavra anormal) é, quase em exclusivo, utilizada para designar o arquétipo do adolescente tímido, "caixa de óculos" e sem competências sociais, que é obcecado por tecnologia e banda desenhada, mas, em outros tempos, principalmente na transição do século XIX para o XX, o nome geek era dado aos artistas dos circos e feiras ambulantes que, nos seus espectáculos, comiam cabeças de galinhas, cobras e ratazanas vivas.Na imagem acima, fotografada no ano de 1938 na cidade norte-americana de Donaldsonville, no estado do Louisiana, pode ver-se um geek autêntico a trincar a cabeça de uma serpente para gáudio da assistência. De maneira geral, estes artistas eram indivíduos simplórios ou padecentes de doenças mentais que aceitavam ou eram obrigados a participar em desafios de natureza aberrante, como os de comer insectos e cabeças de répteis e roedores. O New International Dictionary of the English Language (1954) oferece esta definição de geek: «um "homem selvagem" circense que comia as cabeças de cobras e galinhas vivas nos seus espectáculos». É uma designação que provém de geck, quinhentista palavra inglesa que significava louco ou imbecil e que, por sua vez, teve origem no nome holandês gek, que possuía o mesmo sentido.
A lamentável figura do geek das feiras itinerantes foi popularizada junto do grande público pelo filme Nightmare Alley , realizado em 1947 pelo cineasta inglês Edmund Goulding e que estreou dois anos depois em Portugal com o título O Beco das Almas Perdidas : neste filme, que adapta o romance homónimo do escritor norte-americano William Lindsay Gresham, publicado em 1946, o actor norte-americano Tyronne Power interpreta a personagem Stan Carlisle, vigarista que, a dada altura, por culpa de um reverso de fortuna, se vê obrigado a fazer de geek numa feira para ganhar a vida. No início da década de oitenta do século passado (no ano de 1981), o músico inglês Ozzy Osbourne também fez de geek, mas acidentalmente, quando, embriagado, comeu a cabeça de uma pomba viva durante uma reunião de trabalho com executivos da distribuidora discográfica Columbia Records. Não deixa de ser interessante que essa empresa tenha ido buscar o seu nome à personagem Columbia: a personificação feminina e republicana (com barrete frígio e tudo) dos Estados Unidos (que, entretanto, perdeu popularidade em relação à simbologia romântica oferecida pela Estátua da Liberdade) e cujo nome é uma variação do apelido do navegador genovês Cristovão Colombo, o descobridor oficial do Novo Mundo - em latim, columbus significa pombo).
 Se a primeira mudança de sentido da palavra geek, de imbecil para anormal de feira, é, mais ou menos, linear, não é clara a sua transformação em adolescente, embora se possa especular com segurança que a popularização desse significado ocorreu a partir de 1984 com a estreia do filme Sixteen Candles ( Dezasseis Primavera s ), a primeira longa-metragem do cineasta norte-americano John Hughes, no qual a personagem intepretada pelo actor norte-americano Anthony Michael Hall é conhecida como Geek.

Contemporânea do geek de feira norte-americano, outra personagem grotesca - avatar (praticamente esquecido) da psique popular - que dava pelo nome de Xexé, foi uma visão comum, e "temida", nas ruas de Lisboa durante os dias de Carnaval. O período áureo do Xexé terminou em meados da década de trinta do século passado, quando esta personificação do Antigo Regime perdeu, em definitivo, referentes com a vida de todos os dias.
    
Vestido de casaca de seda, bicórnio e cabeleira, como se fosse um nobre setecentista, munido com um bastão, um facalhão e um par de cornos, o Xexé é uma caricatura fidalga, projectada pelos populares, que veio a ser entendida no século XIX como sendo uma sátira aos partidários miguelistas. Os chavelhos, elementos decisivos na composição da sua figura, remetem para o velho hábito olisiponense de pendurar-se cornos nas portas das casas dos indivíduos a quem se queria chamar de "cornudos": verdadeira febre que incendiou a imaginação dos lisboetas da primeira metade do século XVIII e a que D. José tentou dar o fim com uma lei datada de 15 de Março de 1751. Desse modo, o Xexé será, sem dúvida, uma síntese desse humor popular, ordinário, com o estilo mariálvico de quem pertence ao escol, mas prefere imiscuir-se com a ralé. Por ser uma personagem retrógrada, pertencente a uma memória que o grande terramoto de 1755 não debilitou totalmente, o Xexé costumava ser representado como sendo um velho lascivo, afectado por tiques de embriaguez, que importunava com veemência aqueles que com ele se cruzavam na rua - e daí o nome "xexé" que se dá, tantas vezes, aos velhotes já acometidos de senilidade. No início do século XX, com o advento da primeira república, as lúbricas brincadeiras dos xexés e das chamadas "caqueiradas" (chuvas de águas sujas, dejectos e quinquilharias que, das janelas, se jogavam sem piedade para cima dos transeuntes) perderam popularidade para um Carnaval cada vez mais cosmopolita, pensado como grande espectáculo colectivo, e cada vez menos um intervalo de ruptura.

 O nome Xexé, cuja grafia deixa uma suspeição de proveniência galega, poderá ter uma origem onomatopaica, do mesmo modo que o nome gagá, que retém um sentido parecido. Gagá é uma onomatopeia que deriva da palavra francesa gâteur: pejorativo calão hospitalar, usado pelas enfermeiras e pelos médicos, que significa velhote que mija na cama e que veio, seguidamente, a veicular a ideia de senilidade. É, pois, possível que xexé possa derivar de xixi, relacionando-se assim com a ideia do velhote senil que já não tem capacidade para controlar-se, inclusive controlar o seu próprio corpo, e a quem tudo (ou quase tudo) é permitido? É uma contribuição que deixo para a resolução deste enigma.

Seja como for, o badalhoco, bafiento e impertinente Xexé - tão descabelado quanto um geek de feira - foi, provavelmente, o último dos anormais "alegóricos" de Lisboa: espécie de Careto urbano de um Carnaval popular, tipicamente lisboeta, que foi substituído pelas manifestações assépticas das marchas bairristas e das celebrações turísticas dos santos populares.

  
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Published on September 06, 2012 21:06

September 5, 2012

Finança e finanças


Agora que se avizinha mais sobrecargas fiscais sobre todos nós, vale a pena reflectir sobre umas curiosas ligações etimológicas que, infelizmente, têm sido esquecidas. Por exemplo, a palavra «finança», que dá nome a um importante ofício estatal, pertence à família etimológica de palavras como «finar» ou «finitude»: neste caso, a «finança», que deriva do verbo latino «finire», significa «morte», no mesmo sentido de «matança». Este é o significado original de «finança».
Ora, percebe-se bem como é que esta palavra, sinónimo de «morte», transitou para o universo monetário: é que as ditas finanças podem acabar mesmo em finança. Ora, percebe-se ainda melhor que, por esse ponto de vista, os diversos ministérios das finanças existentes continuam perfeitamente sintonizados com essa herança etimológica que, entretanto, nós temos vindo a esquecer e que eu, numa tentativa de ser um bom cidadão, venho lembrar.

(Foto: monge italiano, vestido com traje funerário. Século XIX.)
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Published on September 05, 2012 08:49

September 4, 2012

O escritor


Um pouco de sangue nas mãos e muita luz na cabeça: ser escritor é isto.

(Thomas Eakins, The Clinic of Dr. Gross. 1875)

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Published on September 04, 2012 18:04