David Soares's Blog, page 53
October 1, 2012
«Os Anormais» na revista LOUD nº 139.
Excelente crítica a
Os Anormais: Necropsia De Um Cosmos Olisiponense
, de David Soares e Charles Sangnoir (Necrosymphonic Entertainment/raging planet, 2012) na revista LOUD! deste mês.
Podem ouvir e adquirir o disco nesta ligação: http://necrosymphonic.bandcamp.com/album/os-anormais
Podem ouvir e adquirir o disco nesta ligação: http://necrosymphonic.bandcamp.com/album/os-anormais

Published on October 01, 2012 07:32
September 28, 2012
Desabafo
Published on September 28, 2012 19:53
September 25, 2012
«A Lua do Loreto» em «Os Anormais»

A repugnante Estanqueira do Loreto é outra das personagens principais de Os Anormais: Necropsia De Um Cosmos Olisiponense , o meu novo disco de spoken word, com texto e voz meus e música de Charles Sangnoir (La Chanson Noire).
Dona de um estanco setecentista (hoje diz-se tabacaria) construído nos insalubres Casebres do Loreto (as ruínas do Palácio dos Marqueses de Marialva, outrora situadas no local onde hoje se encontra a Praça Luís de Camões), a deformada Estanqueira foi alvo das partidas e das chacotas cruéis da populaça e dos poetas, acabando a vida no vizinho Largo do Calhariz, no início do século XIX, em condições miseráveis de desumanidade. Em meados desse século, a Estanqueira já adquirira aura de criatura lendária e tornou-se, até, ícone de produtos relacionados com o negócio do estanque, como comprova a pintura da tampa de uma caixa de rapé que pertenceu ao rei D. Pedro V e que se encontra na imagem acima.
Em Os Anormais: Necropsia De Um Cosmos Olisiponense , a desfigurada Estanqueira do Loreto é a Lua desse universo composto por indivíduos marginalizados: antropomórfica pietra del paragone que, entre a escória dos Casebres do Loreto, revela-nos o verdadeiro ouro oculto na nossa alma.Nesta ligação, na qual o disco se encontra à venda, poderão ouvir o capítulo A Lua do Loreto : http://necrosymphonic.bandcamp.com/track/a-lua-do-loreto
A apresentação de Os Anormais: Necropsia De Um Cosmos Olisiponense será na próxima sexta-feira, dia 28, às 19H30, na Biblioteca Municipal Camões: lugar preenchido de significado, pois situa-se no Largo do Calhariz, onde a Estanqueira do Loreto terminou os seus dias.Marquem nas vossas agendas, passem a palavra e apareçam: Charles Sangnoir tocará ao vivo, num lindíssimo piano oitocentista, enquanto eu, numa sessão de necropsia psicogeográfica, interpretarei A Lua do Loreto, em memória da Estanqueira e de todos os "anormais" que viveram em Lisboa.
Published on September 25, 2012 18:37
Entrevista no programa Livraria Ideal

A entrevista que dei a João Paulo Sacadura no meu regresso ao programa Livraria Ideal (TVI24) já se encontra disponível para visualização nesta ligação: http://www.tvi24.iol.pt/programa/3494/90
Uma retrospectiva de todos os livros que escrevi nos últimos dois anos e meio, assim como a apresentação do meu trabalho mais recente: o disco de spoken word «Os Anormais: Necropsia De Um Cosmos Olisiponense» (este com texto e voz meus e música de Charles Sangnoir, de La Chanson Noire).
Published on September 25, 2012 09:17
September 23, 2012
O triunfo da treta: história verídica

Haverá poema mais profético que The Triumph of Bullshit , escrito por T. S. Eliot? Profético na sua antevisão da desconsideração do intelecto em valimento da treta (da bullshit)? Como observou Harry Frankfurt em On Bullshit , os treteiros não se preocupam com a verdade, mas, somente em, entre aspas, "marcar pontos". Preocupam-se com a aparência do conhecimento, em mimetizar aquilo que pensam ser o conhecimento - e, muitas vezes, nem isso se encontra nos seus horizontes, tão limitados que estes são.
Como provou Otto von Guericke, no século XVII, através da sua luminosa experiência com os dois hemisférios de Madgeburgo ( sobre os quais também escrevi nesta ligação ), o vácuo - o vazio, lá está! - tem uma força extraordinária. Ainda hoje tem - o que é verdadeiramente espantoso: o vazio de inteligência, de carácter, de genialidade, tem uma força tremenda. Este, sim, é que é o verdadeiro "vazio lipovetskiano" no qual, infelizmente, se vive: é a era do vazio, pois é, mas de vazio de ideias, de intelecto, de valor. Existe por aí gente de muitíssima má qualidade: gente que não é sequer qualificada o suficiente para dar lustro ao chão pisado por aqueles a quem nunca haverão de chegar aos calcanhares. Cabe, pois, a quem tem horror ao vazio ter tolerância zero para com a treta e os treteiros.
Published on September 23, 2012 17:49
September 22, 2012
«Os Anormais»: O Plutão da Pena

A apresentação do meu novo disco de spoken word, Os Anormais: Necropsia De Um Cosmos Olisiponense (texto e voz meus e música de Charles Sangnoir, de La Chanson Noire), observação erudita, simultaneamente tenebrosa e luminosa, sobre os volutabros imaginais de Lisboa, nos quais habitaram os indivíduos excêntricos e deformados que, neste trabalho, são reunidos sob a designação colectiva de "os anormais", será no próximo dia 28 (sexta-feira), às 19H30, na Biblioteca Municipal Camões. Este equipamento cultural emerge com uma significante importância simbólica, posto que se situa no Largo do Calhariz: nódoa psicogeográfica em que uma das personagens principais do disco, a horrenda Estanqueira do Loreto, acabou, miseravelmente, os seus dias.
Mas outra personagem importantíssima para este título é o Anão dos Assobios: indivíduo singular que, passeando pela zona mais movimentada da cidade, assustava os distraídos com assobios estridentes que produzia com dois dedos enfiados na boca. Os esqueletos do Anão dos Assobios e da Estanqueira do Loreto foram exibidos ao público no Museu de Patologia do Hospital de São José, na freguesia da Pena, e, hoje, os seus paradeiros permancem envoltos em mistério.
Em Os Anormais: Necropsia De Um Cosmos Olisiponense , o rigor histórico entretece-se com o hermetismo e o meu universo autoral para, a partir destas e outras personagens, interrogar temas como a marginalidade e a nossa necessidade de transcendência.Nesta ligação, na qual o disco se encontra disponível para venda, poderão ouvir o capítulo O Plutão da Pena , alusivo ao Anão dos Assobios: http://necrosymphonic.bandcamp.com/track/o-plut-o-da-pena
Published on September 22, 2012 09:35
September 21, 2012
Regresso ao programa Livraria Ideal

Neste fim de semana, regresso ao programa Livraria Ideal, na TVI24, para falar sobre os meus livros mais recentes e, também, sobre o meu novo disco de spoken word «Os Anormais: Necropsia De Um Cosmos Olisponense». Transmite amanhã, às 09H30, e Domingo, às 13H00.Marquem nas vossas agendas e passem a palavra. Obrigado.
Published on September 21, 2012 07:20
September 19, 2012
Observação etnológica sobre a origem da esquerda e da direita

Em política, as diferentes ideologias e convicções dos indivíduos e dos partidos políticos distribuem-se por um espectro de gradientes, cujos extremos se denominam de "esquerda" e de "direita". Entende-se o lado de "direita" como sendo aquele que reúne variados conjuntos de ideias, que, à superfície, até podem não se assemelhar, mas que, de maneira geral, defendem a manutenção, mas nunca a mudança, do estado das coisas; instrumentalizando, para o efeito, princípios de índole conservadora que almejam a sustentabilidade prolongada das tradições e dos modos de vida dominantes numa determinada sociedade. Assenta-se que o outro lado, de "esquerda", é, largamente, o que coloca em movimento filosofias ditas de reforma, que, inversamente às de "direita", procuram mudar o estado das coisas, promovendo para esse fim políticas revolucionárias ou de ruptura. Em síntese, e não chamando à colação as especificidades e as idiossincrasias de todas as ideologias que fazem parte do espectro político, estas são as diferenças fundamentais entre o lado de "esquerda" e o de "direita": um lado feito de política revolucionária e outro feito de política conservadora.
Como saber-se a que lado se pertence? Com efeito, pode pertencer-se somente a um dos lados o tempo todo ou a ambos em diferentes momentos, porque os indivíduos, tal como a própria política, que é sua invenção, são complexos e não podem ser catalogados com este nível de facilidade. Porém, generalizando, existirá em nós sempre uma inclinação mais forte para um lado do que para o outro, daí que pode especular-se sobre isso num pequeno exercício.Considere-se estes dois exemplos muito simples: 1) a sociedade, hierarquizada em diferentes classes de indivíduos, privilegiados de acordo com o seu estatuto socioeconómico, faz-se de valores tradicionais como a fé, a família, a nação e o respeito pela autoridade, mas se ideias ditas "progressistas" ameaçarem esses valores basilares o tecido social poderá desagregar-se, logo é preciso, sempre, reprimi-las; 2) uma sociedade faz-se de ideias progressistas, como a liberdade e a igualdade de todos os indivíduos perante o estado, que é laico, e este deve fomentar um ambiente conveniente à criação de idênticas oportunidades para todos os cidadãos procurarem a sua felicidade, independentemente do seu estatuto socioeconómico.Com qual destes exemplos vocês se identificam? De uma forma ou de outra, menos pormenor, mais pormenor, acaba-se por concordar mais com uma narrativa do que outra e é dessa forma que nos podemos classificar como sendo de "direita" ou de "esquerda". Mas de que modo foram formuladas estas denominações que, ao fim e ao cabo, classificam dois sistemas antagónicos de olhar para a construção da sociedade e nos quais a maioria das gentes se inclui?
A explicação que, até agora, reuniu mais consenso é a de que estes rótulos foram criados no final do século XVIII, no período da Revolução Francesa, quando, na Assembleia Nacional, os indivíduos se sentaram em lados opostos da sala: os partidários da monarquia, conservadores, sentaram-se à direita do presidente e à esquerda deste sentou-se a facção revolucionária que defendia a mudança de regime; posto que os conservadores do estado das coisas ocuparam o lado direito do parlamento e os partidaristas da mudança se situaram à esquerda, esses adjectivos passaram, pois, a designar duas diferentes formas de pensar e de fazer política. Mesmo assim, ainda é possível recuar um pouco mais e, com maior profundidade, encontrar uma origem mais antiga para estas duas direcções opostas.
É inegável que, mesmo num mundo cada vez mais homogéneo, diferentes culturas ainda guardam diferentes maneiras de executar tarefas idênticas e isso influencia muitíssimo o desenvolvimento das ideias. Meditemos no seguinte: o modo como nós, ocidentais, lemos os livros é seguindo as palavras no sentido da esquerda para a direita e de cima para baixo, mas muitas etnias orientais lêem de um modo totalmente oposto, ou seja, da direita para a esquerda e de baixo para cima; estas tendências também se manifestam no cinema e na banda desenhada, pois reparem que a maioria das sequências dos filmes e bandas desenhadas ocidentais, tanto numa linguagem como na outra, ocorre no sentido da esquerda para a direita, enquanto que nos filmes e bandas desenhadas orientais se verifica o contrário. Por que é que isto acontece? Por que é que a escrita e a leitura se realizam destas duas maneiras tão conspícuas? Para encontrar uma resposta temos de recuar até uma altura em que a escrita não existia e perceber, então, o que a poderá ter influenciado. A resposta que se afigura como sendo a mais provável é a de que o desenvolvimento da escrita não só foi uma consequência do agriculto, como já foi provado há muito tempo (a escrita foi inventada para responder à necessidade mais prosaica de, com fidelidade, contabilizar armazenamentos e registar transacções), como o modo como se escreve foi certamente influenciado pelo sentido com o qual essas sociedades primitivas, em virtude das suas preferências, aravam e semeavam os campos: os precursores da escrita contemporânea colocavam caracteres nas superfícies preparadas para o efeito, fossem placas de argila ou folhas de pergaminho, tal como plantavam cereais num terreno lavrado - e ainda hoje diz-se "lavrar" quando se alude à escrita. Não é uma coincidência. Somos depositários dessas heranças.
Em similitude, as origens do lado de "esquerda" e do lado de "direita" poderão estar relacionadas com o modo como nasceram as primeiras cidades. Em essência, os nossos antepassados ergueram os seus povoamentos primitivos em locais junto de água corrente; para ser mais exacto, nas margens dos rios. As margens dos rios ofereciam, evidentemente, muitas vantagens e o facto de tratar-se de água corrente garantia que esta fosse sempre limpa, mas, ainda assim, surgiam algumas desvantagens, mesmo em climas mais amenos; em principal, o desconforto provocado pelos ventos oriundos do Norte, sempre frios e fortes, principalmente nos Invernos. Por isso, as primeiras aldeias, mais tarde as primeiras cidades, sempre foram construídas preferencialmente nas margens direitas dos rios, porque eram as únicas que permitiam erguer defesas a Norte, feitas pelas linhas das habitações ou por muros altos que quebravam os ventos, ao mesmo tempo que deixavam abertas as faces meridionais das cidades, voltadas para os rios. Se se construísse nas margens esquerdas dos rios, as cidades ficariam sem defesas diante das ventanias. Qual é a margem direita de um rio? É aquela que fica à nossa direita quando nos colocamos de costas para a nascente. Com a passagem do tempo, as cidades vão crescendo aos seus ritmos e vão enriquecendo; mais tarde ou mais cedo, pelas razões mais variadas, as margens esquerdas dos rios começam a ser, também, ocupadas. Ou porque a cidade se agiganta o bastante para justificar uma absorção do seu lado oposto e, nesse caso, a margem a Sul passa a ser morada de gente nova que quer tentar a sorte no arrabalde; ou porque os indivíduos desfavorecidos, como trabalhadores braçais e minorias étnicas, vão construir aí os bairros. Seja como for, as grandes cidades das margens direitas dos rios são sempre mais antigas e prósperas que as das margens esquerdas: essa noção - de que os moradores do lado direito têm tudo a ganhar em conservar o estado das coisas e de que os moradores do lado esquerdo têm tudo a ganhar em mudar as condições de vida - influenciou, de certeza, o baptismo de (margem) "esquerda" e de (margem) "direita" dessas duas maneiras tão diferentes de pensar a construção das sociedades. Uma visão conservadora, apoiada naquilo que se pensa ser valores tradicionais e elitistas, e outra visão, reformista, que se dirige à procura de condições mais justas de vida.
Não duvido que quando as duas facções adversárias se sentaram à esquerda e à direita do presidente da Assembleia Nacional de Paris, em 1789, sabiam muitíssimo bem o que estavam a fazer e que cada uma escolheu o lado que, por defeito, era o seu.Esta dualidade integrante da nossa matriz foi, com elegância e fair play, descrita neste feitio pelo filósofo inglês utilitarista John Stuart Mill: «A party of order or stability, and a party of progress of reform, are both necessary elements of a healthy state of political life» (em On Liberty. 1859). Todavia, Mill referia-se à esquerda e à direita do centro, democráticas, e não às dos extremos. Só se pode construir pontes até um certo ponto.
Imagem: Jacques-Louis David, Le Serment du Jeu de Paume (1791). Não é acidental que seja pelas janelas do lado esquerdo que sopram os ventos que movem as cortinas e insuflam de ar fresco o aposento.
Published on September 19, 2012 22:37
Nova data para a apresentação do disco «Os Anormais»

A apresentação do disco Os Anormais: Necropsia De Um Cosmos Olisiponense será no dia 28 (sexta-feira) às 19H30 na Biblioteca Municipal Camões.
Spoken word com texto e voz meus e música de Charles Sangnoir, sobre os indivíduos excêntricos e deformados que viveram em Lisboa, ao longo dos séculos. Uma viagem simultaneamente negra e luminosa aos volutabros imaginais de Lisboa, na qual se entretece universo autoral, rigor histórico e hermetismo.
O disco encontra-se disponível para audição e venda nesta ligação: http://necrosymphonic.bandcamp.com/album/os-anormais
Published on September 19, 2012 15:51
September 18, 2012
Discurso neo-liberal à porta fechada
Eis o verdadeiro discurso neo-liberal, proferido quando, na mesma sala, à porta fechada, os indivíduos se sentem à vontade para dizer o que realmente pensam: só surpreende quem se deixa enganar pela aura de credibilidade de que estes indivíduos se conseguem arrogar. Não se deixem ludibriar pelo facto de Romney ser norte-americano: o neo-liberalismo é uma linguagem universal - e em Portugal é a linguagem do governo.
Esta é a ideologia neo-liberal que circula à vontade, por trás das portas fechadas dos gabinetes do Palácio de S. Bento.É um governo como este que vocês querem?O que é que estão dispostos a fazer pela mudança?
Esta é a ideologia neo-liberal que circula à vontade, por trás das portas fechadas dos gabinetes do Palácio de S. Bento.É um governo como este que vocês querem?O que é que estão dispostos a fazer pela mudança?
Published on September 18, 2012 18:20