B. Pellizzer's Blog, page 4

September 1, 2020

Love Affair

Pra quem ainda não sabe, eu moro no interior de Santa Catarina e, a casa onde moro fica no meio de um quintal muito grande, ao lado de um terreno baldio e perto do rio. Todos esses elementos combinados significam que tenho uma boa horta, um pomar com várias opções de frutas, muita sorte durante a quarentena e, claro, uma fauna doméstica superdiversificada.

Cosmopolita, meu *** (já conhecem o script, né? Troquem o *** pelo adjetivo que acharem melhor: namorado, companheiro, vítima, corpinho que me dá prazer, mais paciente dos mortais, etc) vive uma relação de amor e ódio com dita fauna, o que me dá muita coisa do que rir.

Já tivemos o hospital de abelha; a perseguição do lagarto; o “isso não é um camaleão!”; o impasse mexicano com o morcego (essa é história é ótima, um dia me animo a contá-la); o esconde-esconde com a lagartixa; a caça à perereca; o “Meu Deus! Um sapo!”; o jogo de mímica com a aranha armadeira, quando os dois se colocaram exatamente na mesma posição: peito estufado e patas dianteiras erguidas, exceto que a aranha estava pronta pra atacar, e ele procurava a rota de fuga mais próxima; e eu não sei nem por onde começar a explicar tudo o que aconteceu no dia que ele encontrou uma cobra perto da churrasqueira, não consegui nem batizar essa história ainda.

Tantos sustos o fizeram um homem mais forte e, confesso, há já muitos meses que eu não preciso expulsar nenhum bichinho inocente.
Estava pensando que isso era progresso até que aconteceu o episódio “Love Affair”, quando perdi meu quase-ex-gordinho para uma viúva negra.

Era de manhã, precisávamos sair e eu já estava ao lado do bettimóvel quando o vi parado, num canto entre a porta de saída para a garagem e o quintal. A teia nascia do chão, tinha poucos fios e, quase no centro, estava ela, a tal, com seu corpinho marrom, um marrom preguiçoso, gostoso, um marrom bem brasileiro, sabe?, e aquela barriguinha vermelha. Ele estava sentado sobre os próprios calcanhares, e olhava para a aranha como que estivesse encantado.

— O que foi?
— É uma viúva negra! — respondeu ele, apontando para a teia e com um sorriso besta na cara.
— Não tem viúva negra por aqui.
— Essa é marrom, mas é sim, uma viúva.

Ele tinha razão.
Fiquei ali um tempo olhando a aranha sem entender ele não estar gritando, ou fugindo, ou procurando um chinelo, mas não disse nada.

— Agora eu já vi tudo — disse ele.
— É só uma aranha! O que ela tem de tão especial?
— Não é só uma aranha! Essa é uma aranha tão, mas tão divina, que mesmo sabendo que vai morrer, o parceiro não resiste à cópula. É como a fêmea mais sedutora do reino animal, mulher fatal, a Mata Hari dos aracnídeos.
— Mata Hari?
— Sim... tão sedutora que, mesmo sabendo que não deve, o macho não consegue resistir aos seus encantos; mais sedutora ainda, porque, ao contrário dos militares seduzidos por Mata Hari, o aranho sabe que não vai sair vivo do encontro.

E este, senhoras e senhores, é um dos motivos por que eu gosto tanto de conversar com esse moço. A continuação da conversa, entretanto, é um dos motivos por que não entendo como ele me aguenta:

— Canibalismo sexual... quem é que faz isso? — ponderou ele.
— Gafanhotos, abelhas, dezenas de espécies de animais marinhos, e eu, se você não entrar no carro logo.
Ele me sorriu de um jeito mais sacana do que seria recomendado, mas entrou no carro. Já estávamos na rua quando eu perguntei:
— Ainda pensando na viúva negra?
— Ela mata o parceiro e o come! Será que não existe uma rebelde qualquer no grupo que tenha dito: “não, dessa vez eu vou fazer uma família”, será que nenhuma nunca se apaixonou?

Sim, ele é o romântico sonhador do casal, lamento macular-lhes um estereotipo...

Segurando a vontade de rir, respondi:
— Ela não mata o aranho, o bichinho morre de hemorragia. Ela só aproveita o tchezinho já morto para recuperar as energias depois do coito, porque, com tanta aranhinha passando fome na África, não se deve desperdiçar comida.

(Cêis acreditam que ele não riu da minha piada?)

— Hemorragia de quê?
— É que a viúva negra mexe os quadris tão freneticamente, que acaba arrancando o piupiuzinho do macho, e é assim que ele morre de tanto sangrar.
— Tá aí um jeito bom de morrer... que mulher!

Juro que eu fiquei até sem resposta.

Quando voltamos, a viúva não estava mais lá, haviam sobrado apenas os fios de sua teia, mas ele a procurou pelos cantos por um bom tempo.

Viúvo da viúva.

Tô com ciúmes. E agora?

😂😂😂😂😂😂

#vidadeescritor #MorroENãoVejoTudo #quemulher
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Published on September 01, 2020 13:14 Tags: bpellizer, vida-de-escritor

August 10, 2020

Si quisiera hablar de tu beso

Si quisiera hablar de tu beso, no hablaría de tu boca que cubre la mía, tanto exigente como suplicante.

No.

Si quisiera hablar de tu beso, hablaría de mi boca que espera y se rinde a los caprichos de la tuya; hablaría de la saliva que fluye debajo de mi lengua; y del sabor de más que se queda en el después.

Si quisiera hablar de tu beso, hablaría de mi piel que cosquillea, que siente tu presencia en cada milímetro expuesto, en cada poro oculto, en cada surco desconocido. Mi piel que anhela tu roce desde las plantas de los pies hasta el cuero cabelludo. Mi piel que inventa chispas que me avergüenzan por denunciar cuánto mi cuerpo está adicto a tu tacto.

Si quisiera hablar de tu beso, hablaría de la respiración que de mí sale enviándote los sorbos de vida que a ti dedico.
La vida que me deja y te toma.
La vida que se me escapa y te adona.
Vida que respira un aliento que ya no es mío.
Es nuestro.

Si quisiera hablar de tu beso, hablaría de mis manos que corren alrededor de tu nuca, se enredan en tu cabello y se quedan atrapadas en tu perfume que se aloja allí.
Perenne
Incesante
Tóxico
Y hace que, cada vez que me ponga las manos bajo la barbilla para pensar en ti, te piense aún más.

Si quisiera hablar tu beso, hablaría de mis ojos que se ponen cerrados para que yo pueda sentirte mejor, pero que extrañan tu rostro tan cerca del mío.

Si quisiera hablar de tu beso, ah, pero por supuesto que no quiero hablar…

¡Ven y bésame!
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Published on August 10, 2020 10:39 Tags: amor, beso, bpellizzer

August 3, 2020

Ela e o perfeito

Ele era alto e forte, tinha o sorriso largo e os cabelos sempre alinhados, o perfeito clichê dos romances femininos.

Ela tinha cabelos escuros com vida própria, em qualquer lugar que fosse, seus cabelos chegavam antes; era pequena, miúda, tinha o tamanho perfeito para se encaixar no abraço dele.

Ele era um sonhador, um buscador, acreditava em sinais do universo, em premonições.

Ela era uma burocrata, carregava consigo a certeza de ser a única responsável por sua vida, todo o resto era bobagem.

Ele sonhava. Ela realizava.

Seus olhares habitavam o inconsciente um do outro sem que se dessem conta, como um pingo insistente que tira o sono durante a madrugada, mas que é impossível fazer parar de pingar.

Naquela manhã, ele acordou cedo, fez a barba, deixou seu cabelo perfeito perfeitamente alinhado e conferiu as dobras da camisa antes de sair pela porta; ela acordou atrasada, sacudiu os cabelos, escovou os dentes com pressa e terminou de tomar uma xícara de café amargo e preto dentro do carro.

No sinal vermelho, pararam lado a lado. Seus rádios estavam sintonizados na mesma estação, e a batida da música sugeria que seus corações poderiam estar batendo no mesmo compasso.

Suas janelas estavam abaixadas.

Ele olhava para o horizonte. Ela, para o relógio.
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Published on August 03, 2020 13:01 Tags: amor, bpellizzer, histórias-de-amor

July 15, 2020

Empatia

 

Hoje eu quero falar com vocês sobre empatia. Mas não se preocupem, não vou ficar aqui dando liçãozinha de moral sobre a necessidade de ser empático, sobre como você será um ser humano melhor se se colocar no lugar de outra pessoa. Nada disso. Quero falar com vocês sobre meu... *** (namorado, parceiro, amigo colorido, corpinho gostoso que eu uso pra me dar prazer, minha vítima, P.A., enfim, preencham os *** com o nome que vocês quiserem).O que acontece com ele é que a quarentena o deixou mei gordinho. E, com quarentena, quero dizer: ele já está em processo de engorda desde meados de 2019; e por gordinho, quero dizer que cada coxa dele está com o diâmetro aproximado da minha cintura. Mas, para fins dessa conversa, ele ficou gordinho durante a quarentena.Preocupado, frustrado e um tanto deprimido, ele me pediu ajuda e fiscalização pra emagrecer e, geralmente, eu só pró-fitness e aquela coisa toda, masssÉ claro que tem um masEle ficou muito gostoso gordinho. Sério. Muitoooo gos-to-sooooÉ tipo carro: alguns são aerodinâmicos, outros são confortáveis. O meu *** quer ser aerodinâmico, mas ele nasceu pra ser confortável. Juro pra vocês que parece que até mais cheiroso ele ficou. O braço abraça mais gostoso, o ombro tem mais espaço pra minha cabeça e as coxas dele, senhor!, que coisa mais linda! Macias, roliças, pegáveis, sabem? A gente encaixa a bunda ali no vãozinho das coxas quando senta no colo, e é como estar na poltrona mais confortável do mundo. Super aprovo a versão full body dele. Mas isso não tem nada a ver comigo. O corpo é dele, e é minha obrigação ser parceira, dar suporte e apoiar sua decisão de voltar ao peso normal e caber em suas roupas. Claro que o inconsciente é uma vadia sem coração, então, ao mesmo tempo que eu tava toda “vamos nessa!”, “vai treinar!”, “fecha a boca!”; eu também comecei a pesar a mão no cardápio. E tinha uma parte minha que sabia disso, mas tinha uma outra parte que dizia que não, que ele tava treinando duro e precisava se alimentar bem. Tá... isso é mentira! Eu entupia ele de doce. Sempre com aquela de: “é só hoje”, “só um não vai fazer mal”, e aquela coisa toda. E eu sei que ele é maior de idade e capaz de tomar suas decisões, mas vocês sabem como essas coisas funcionam, não sabem? Até que hoje eu fui fechar a MINHA calça, e não consegui.Foi como se o zíper saísse do lugar, se agigantasse e berrasse: “O jogo virou, vadia! E agora? Vai fazer o quê?”Pois é, o jogo virou.Acho que agora ele consegue emagrecer.Empatia, pessoal! Empatia. Porque a lei do retorno é implacável. [image error]
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Published on July 15, 2020 07:36

July 12, 2020

Alma de tesouro

 

Porque você é uma alma de tesouro e a primeira vez que te vi pensei que estivesse sonhando.Porque você rouba o meu silêncio e me faz sentir saudade dessa voz que troveja, e enche minha casa com notas que minhas cordas vocais jamais alcançarão; e porque o teu barulho me irrita, mas a falta dele me lança no vazio da solidão que eu nunca havia temido antes de ti.Porque o teu sorriso é a bússola que me guia para a luz a cada novo amanhecer, e porque você acorda sempre alegre e me tira da inércia enraivecida com que brindo cada novo dia; e porque essa alegria também me irrita, faz-me sentir malvada, põe-me como bruxa de conto de fadas, faz-me parecer aquela que mastiga criancinhas; e porque eu sei que esse sorriso é para mim e meu, mesmo que eu reclame da tua alegria, mesmo que meu cabelo se pareça uma escova de banheiro; mesmo que as olheiras denunciem que eu tenha preferido trabalhar até tarde em vez de deitar-me cedo contigo.Porque a tua mão tem o tamanho exato para acomodar meu rosto e sabe como deslizar pela minha pele para que eu sinta os arrepios certos nos lugares certos; e porque essa mesma mão está sempre se movimentando, bailando ao som da tua voz, criando, ela mesma, uma personalidade que enche a casa com mais barulho e com mais sorrisos.Porque você sabe respeitar minha vontade de ficar sozinha, mesmo que às vezes prefira violar meu espaço; porque você teima em me reconstruir; porque você insiste em ficar; porque você faz fácil o que, a mim, sempre foi difícil: amar.Porque você me mostra suas imperfeições sem medo, porque você não foge do amor que já te destruiu, porque você junta a tua destruição com a minha para que possamos construir esse castelo de sucatas que parece frágil, mas que sempre damos um jeito de manter em pé.Porque você sempre está.Porque me faz ficar.Porque, juntos, existimos.Enfim...Porque você faz uma descrente crer no impossível e dedicar-te versos de um amor invisível, desejo-te um feliz dia dos namorados.
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Published on July 12, 2020 08:11

July 9, 2020

  Oi. Tudo bem? Eu tô na correria, sem tempo pra p...

 

Oi. Tudo bem? Eu tô na correria, sem tempo pra pensar nas coisas, sem tempo até pra te ver. Muita coisa aconteceu por esses dias: o cachorro morreu, não sei bem por quê. De repente ele começou a salivar e se escondeu. Quando não atendeu meu chamado, achei o bichinho já duro e frio; enterramos ele embaixo da jabuticabeira. A jabuticabeira tá bonita, o tronco já está cheio de caroços e, daqui a pouquinho, a gente vai poder colher. Você devia passar lá em casa, sempre gostou tanto de jabuticaba... Pedi um aumento essa semana, meu chefe disse que vai “analisar”... Sei bem o que ele vai analisar... Acho que vou precisar de um emprego novo, porque as coisas ficaram difíceis no último ano. As crianças estão bem, sempre perguntam por você e, toda vez que digo que estou vindo te visitar, elas colhem uma flor colorida no jardim. Toma! É pra você. Ah! O João finalmente pagou aquele dinheiro que ele tava te devendo. Coloquei no bolso daquela calça jeans rasgada que você gosta tanto, assim não tem chance de você não encontrar, sabe... para o caso de eu não estar por perto quando você aparecer. Eu sei, eu sei... eu bem podia ter trazido o dinheiro comigo, mas é que eu não tinha pensado em te ver hoje, tá mesmo tudo muito corrido, mas eu estava saindo com o carro e ouvi aquela música..., sabe?..., lembrei de você e não teve jeito, tive que passar aqui, só deu tempo de as crianças colherem a flor. E eu tenho que ir embora logo, meu chefe... sabe como é... acabei de pedir aumento, então tô na mira. Nossa! Mas eu não paro de falar! É bem típico de mim querer falar só dos meus problemas. Desculpe. Como você está?———Ela encarou os olhos negros dele por uma vida, por todos os significados de vida, mas aqueles olhos negros não esboçaram emoção, e ela entendeu que, mais uma vez, não obteria qualquer resposta.Usou as costas da mão para secar uma lágrima atrevida, beijou as pontas dos dedos e usou os dedos beijados para tocar o rosto estampado na foto da lápide. Quando deixou o cemitério, dirigiu com o som desligado, não queria que outra música a obrigasse a voltar.#republicando #bpellizzer #prachorar #quasesexta
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Published on July 09, 2020 07:47