B. Pellizzer's Blog, page 2
May 27, 2021
Espelho da Vida

Na hora da morte, é preciso que haja ao menos um espelho em frente para que a gente não se sinta terrivelmente só. Para que a gente possa se mirar durante a agonia e ensaiar a cara post mortem que mais combine com nosso melhor traje. Aquele traje de domingo com que gostaríamos de ser enterrados. Um espelho em que a gente possa apreciar a beleza do sofrimento e eternizar, na retina, a última expressão de dor. Aquela que será contínua, aquela que será eterna. É com essa cara de dor que chegaremos ao paraíso. Um espelho que duplique o adeus e, de certa forma, prolongue o viver, sendo o duplo de nosso ser moribundo. Espelhos múltiplos para multiplicar o pouco tempo de vida que nos resta. Um espelho por onde nossa alma descarnada possa se mirar e, quem sabe, num átimo, decidir voltar para o corpo morrediço. Um espelho em que a gente possa ver além de nós mesmos e, antes daquele último suspiro, agarrar o cordão de prata do espírito, que se distraiu com a própria imagem, e puxá-lo de volta para aquela que deveria continuar sendo sua única morada. Ou talvez, usar o cordão de prata ao redor do pescoço. Primeiro, como adereço. Para ficar melhor na foto do velório. Depois, como instrumento a fim de abreviar a dor. Causa da morte: enforcamento pelo cordão de prata da própria alma. Poderia isso ser considerado suicídio? Se assim for, que haja, no Umbral, outro espelho para que não tenhamos que encarar nossos espíritos semelhantes. Que a frequência umbralina habitada por nós, da Irmandade do Suicida do Cordão de Prata, seja uma casa de espelhos onde nos miremos enroscados pelos cordões de prata de nossos espíritos, e estes, pelos cordões de prata de seus próprios espíritos, até que a última célula prateada seja eliminada e jogada no umbral do umbral do umbral de um universo infinito multiplicado por tantos espelhos.Na hora da morte, é preciso que haja ao menos um espelho... Mas que bobagem! Na hora da morte, a gente sempre está só.

May 24, 2021
Vergonheira universal
Acho que quase todos vocês aqui sabem, mas eu cultivo uma certa antipatia por câmeras. Tenho até medo delas. O que vocês talvez não saibam é que eu sou especialista em passar vergonha. Se tem uma vergonha esperando pra ser passada num raio de 10 quarteirões, ela vai me achar. Sabe a pessoa que bate a cara em portas de vidro; sai com pena de travesseiro no cabelo; tem um pedaço de tomate perdido no sutiã pronto pra cair no meio de uma palestra?
Essa pessoa sou eu.
Então, quando estou diante de uma câmera, a probabilidade de eu passar vergonha deixa de ser probabilidade.
No último abril, inclusive, fiz isso com uma competência invejável.
Havia sido convidada por uma amiga a gravar um vídeo para um evento colaborativo online falando sobre como desenvolver a criatividade.
Como tudo o que eu não gosto de fazer, eu comecei a trabalhar no vídeo assim que falei com ela, porque se eu encontrasse a primeira desculpa para adiar, eu sabia que não faria. Então fiz o roteiro e gravei durante o dia, com luz solar, durante três dias. Quase oito horas de gravação para extrair meia hora de vídeo aproveitável. Daí editei.
Ficou passável.
Eu tinha feito uma coisa fora da minha zona de conforto e não tinha passado nenhuma vergonha.
Uh-huuuu!
Vídeo guardado para quando chegasse a hora de subir para a plataforma, segui minha vida e, num fim de semana desses aí, saí tomar café com um amigo. Meu telefone estava com problema de sinal, e esse amigo sugeriu que talvez o problema estivesse no aparelho e não na operadora. Como eu já andava com problema de sinal havia uns dois meses, cheguei em casa e formatei o celular. Assim de fácil. Todos os meus arquivos ficam na nuvem, não me preocupei.
Claro que vocês já adivinharam qual porcaria de arquivo não estava na nuvem.
Era muito grande!
O fato é que eu só descobri que não tinha mais o arquivo na véspera do prazo final de enviar o arquivo para a plataforma. E o trabalho que eu tinha levado uma semana pra fazer precisaria ser refeito em um dia.
Primeiro, perdi umas horas procurando o vídeo original porque eu não acreditava que tivesse sido tão rematadamente estúpida a ponto de perder aquele vídeo; quando saí da negação, resgatei o roteiro do vídeo que estava na minha caderneta, escrito à mão; acarpetei a minha cara com corretivo pra esconder as olheiras e, no fim da tarde, comecei a gravar o vídeo iluminada por uma lanterna de celular. Foram quase três horas de gravação, que eu deveria transformar em meia hora.
Mãos à obra.
Quando terminei, coloquei pra renderizar com aquela sensação de dever cumprido. Não tinha ficado exatamente bom, mas não estava ruim o suficiente pra me fazer passar vergonha.
Uh-huuuu!
Enquanto esperava, recebi alguns amigos de passagem pela cidade que, quando souberam que eu havia gravado um vídeo inteiro, quiseram ver (claro!).
Foi quando eu percebi.
Lá estava ela: a vergonheira.
Eu havia ficado tão preocupada em esconder as olheiras da cara e com o conteúdo do vídeo, que não cogitei a necessidade de trocar de roupa. Geralmente eu nem sei o que tô vestindo.
Se estou confortável, tá tudo bem pra mim, e eu estava muito confortável.
Acontece que minha blusinha de tricô tinha mais furos que o depoimento da Flordelis. Dois deles ficavam embaixo dos braços. Sabem aquele sovaco descosturado? Pois é... E eu adoro movimentar os braços. Pra cima, pra baixo, pros lados.
Duas coisas aconteceram naquele fim de semana: 1) a gente fez o jogo da bebida virando uma dose de Montilla cada vez que que um furo aparecia na minha blusa no vídeo de três horas; 2) eu descobri que sou capaz de editar um vídeo de ressaca.
Com mais algumas horas de trabalho conseguimos reeditar aquelas três horas de vídeo para que ficasse à prova de furo. Ahahahahahaha. Não que os furos não aparecessem, mas a gente tentou fazer de um jeito que, quem assistisse, não prestasse atenção. Claro que, quando a ressaca passou, e eu já tinha enviado o vídeo, descobri que não tinha jeito. Os furos estavam lá.
Pensei até em tirar vantagem da vergonha (já que não tinha mais jeito) e fazer um concurso cultural na página: quem encontrasse mais buracos na blusa entraria no sorteio para um exemplar impresso de “A fúria de Hannah”.
Mas, no fim das contas, eu estava tão fora de sintonia naqueles dias que nem me lembrei de divulgar o vídeo. Na minha cabeça, o dia do evento era num sábado, mas quando chegou o sábado, descobri que o evento tinha sido na quarta, e eu não havia divulgado o vídeo.
Já não havia mais nada que eu pudesse fazer. Vida que segue.
Acontece que amanhã, dia 25/05, vou participar da minha primeira live de Instagram.
E a pessoa que vai promover a live, é justamente o puto do amigo que, durante o café, involuntariamente me deu a ideia de formatar o celular, senhor Leo Bogo.
Isso quer dizer, senhoras e senhores, que a Lei do Carma, a Lei de Murphy, o Fatalismo e minha capacidade infinita de passar vergonha serão todos colocados juntos e testados ao mesmo tempo.
Se você tem Instagram, desconecte-se depois das nove horas da noite, no dia 25/05.
Mas se além de Instagram você também tem coragem, siga o perfil do @leobogo. A live será às 21:12.
E que Nossa Senhora da Não-Passação de Vergonha nos ajude!

May 12, 2021
Garabatos de fin de día

Lo que la gente dice añoranza, yo reconozco como la necesidad de escuchar tu voz repicando a través de las paredes de la habitación: fuerte, enérgica, irritante, atronadora..., única.
Lo que la gente dice belleza, yo reconozco como tu sonrisa ancha, color perla brillante, que se extiende más allá de las mejillas, más allá del horizonte, más allá de mis sueños más viciados.
Lo que la gente dice fibra, yo reconozco como tu habilidad para fingir no-desesperación cuando las cosas se desvían y cada partícula de tu ser grita que necesita ayuda.
Lo que la gente dice caricia, reconozco como cada excusa que mi piel halla para tocar la tuya, desde el roce de tus dedos, hasta el doloroso frotamiento de cada hilo espeso en tu barbilla.
Lo que la gente dice paz, yo reconozco como verte durmiendo de lado, como un niño aferrado a la almohada: el único momento del día en que encuentro el silencio.
En todo lo que la gente dice amor, yo reconozco… a ti.

Rabiscos de fim de dia

O que outros chamam de saudade, eu reconheço como a necessidade de ouvir o som da tua voz ecoando pelas paredes do quarto: forte, alta, irritante, trovejante..., única.
O que outros chamam de beleza, eu reconheço como teu sorriso aberto, cor de pérola brilhante, que se alarga para além das bochechas, para além do horizonte, para além dos meus sonhos mais torcidos.
O que outros chamam de força, eu reconheço como a tua capacidade de fingir não-desespero quando as coisas saem dos trilhos e cada partícula de teu ser grita que precisa de ajuda.
O que outros chamam de carícia, eu reconheço como cada desculpa que minha pele encontra para tocar na tua, desde o roçar das pontas dos teus dedos, até o friccionar dolorido de cada fio espesso de barba do teu queixo.
O que outros chamam de paz, eu reconheço como a visão de você dormindo, de lado, como um menino agarrado ao travesseiro: a única hora do dia em que encontro o silêncio.
No que os outros chamam amor, eu reconheço... você

May 7, 2021
Livro sem nome

Sempre que eu assistia a algum filme em que a personagem sabia que morreria, mas seguia em frente e perseguia a morte, eu ficava me perguntando como era possível.
O que leva alguém a desafiar seu instinto mais primitivo? Que coisa pode mover alguém na direção contrária à da própria sobrevivência? Agora, enquanto caminho em direção à minha morte certa, entendo tudo.Um passo.Dois.Três.Sequer escuto o bater dos meus pés no chão. Talvez por isso eu precise contar as passadas.Seis passos.Sete.Empaco.Escuto.Minhas mãos pararam de tremer no instante em que decidi atravessar a porta; é só esse suor teimoso nas palmas que me incomoda. Mas é um incômodo ridículo, sem propósito.Dezoito passos.Meu coração ainda trai uma falta de ritmo vergonhosa que me deixa saber que, sim, sinto medo, mas tenho certeza de que meu rosto... bem... quem se importa?Vinte e dois passos.Já está na hora.Vinte e três.Inalo.Vinte e quatro.Exalo.Vinte e cinco.Vinte e cinco e meio, ou o passo que permitiu que meus dois pés ficassem lado a lado.Tanto faz.E quando digo tanto faz, é tanto faz mesmo.Não me resta mais nada, nem o medo da morte.----------------Personagem que, do nada, entrou na minha cabeça, e eu não quis deixar lá: joguei no "papel". O nome dela é Sânia, e eu já a amo como se a conhecesse desde criancinha. #LivroSemNome #bpellizzer #vidadeescritora #amomeutrabalho
February 22, 2021
¡Abrid las ventanas!

Mi hija menor es de las que se despierta, abre todas las ventanas de la habitación para que entre la luz, para que entre el gato, para que los perros asomen la cabeza por el hueco pidiéndole cariño, en fin, para que la vida baila su ballet, como debe de ser...
Es una sabia.
Yo, criatura de las tinieblas, me enfado cada vez que, en el apuro de salir por las mañanas, necesito volver a cerrar las ventanas abiertas de par en par.
Hoy temprano, cuando vi que la luz se escapaba por debajo de la puerta del dormitorio mientras ella desayunaba en la cocina, le pedí que no lo hiciera más, que no abriera la ventana tan pronto antes de irse a clase porque, inevitablemente, terminaríamos olvidándonos de cerrarla algún día.
Ella, como casi siempre, se puso de acuerdo sin discutirlo.
Que quede claro que, «ponerse de acuerdo sin discutirlo» no quiere decir, ni modo, que ella cumpliría con el acuerdo
Fui al dormitorio para cerrar la ventana y me di cuenta de que el sol sale por ese lado. A las seis de la mañana, que es cuando ella abre las ventanas, él muestra el rostro amarillo detrás de los cerros como si se hubiera despertado con ella.
¡Es una belleza!
¿A quién le importa si esa ventana da a la calle y no debe quedarse abierta?
Regresé a la cocina y le dije: «¿Sabes qué? Puedes abrir las ventanas tantas veces como quieras, solo trata de cerrarlas antes de salir de casa, ¿de acuerdo?»
Ella estuvo de acuerdo sin discutir, pero esta vez, con una sonrisa –– bastante grande –– en su rostro.
¡Sed como mi hija menor! ¡Abrid las ventanas!
Nota: la foto es ilustrativa. Por supuesto, no tuve la presencia de ánimo para fotografiar el momento.

Deixe a luz entrar

Minha filha mais nova é dessas que acorda, abre todas as janelas do quarto para a luz entrar, para o gato entrar, para os cachorros enfiarem a cabeça pelo vão pedindo carinho, enfim, para que a vida dance seu bailado, como tem que ser...
É uma sábia.
Eu, criatura da escuridão, aborreço-me sempre que, na correria do sair pelas manhãs, preciso voltar para fechar a janela que ficou escancarada.
Hoje cedo, ao ver a luz escapando por baixo da porta do quarto enquanto ela tomava o café da manhã na cozinha, lhe pedi que não fizesse mais isso, que não abrisse a janela tão cedo antes de ir pra aula porque, fatalmente, acabaríamos esquecendo aberta algum dia.
Ela, como quase sempre, concordou sem discutir. Que fique claro que, concordar sem discutir não significa, de maneira nenhuma, que ela cumpriria o acordo... ahahahaha
Fui até o quarto fechar a janela, e me dei conta de que o sol nasce daquele lado. Às seis horas da manhã, que é quando ela abre as janelas, ele está mostrando a carinha amarela por trás dos morros como se tivesse acordado junto com ela.
É lindo!
Quem se importa se aquela janela dá para rua e não deve ficar aberta?
Voltei pra cozinha e disse: “Quer saber? Pode abrir as janelas de manhã quantas vezes quiser, só tenta lembrar de fechar antes de sair de casa, tá bem?”
Ela concordou sem discutir, mas, dessa vez, com um sorriso — bem grande — no rosto.
Sejam como minha filha: deixem a luz entrar.
É lindo!
Obs.: A foto é ilustrativa. Claro que eu não tive a presença de espírito de fotografar o momento!

February 14, 2021
Ela sabia viver

Ah, ela sabia viver!
Talvez não aos olhos dos puritanos, dos defensores da família, daqueles que apreciam a ordem conhecida, mas, por Deus!, aquela menina sabia viver.Às vezes chegava a se perguntar se a vida que levava era a certa, afinal, não eram poucas as críticas que ouvia, mas a alegria que carregava para os seus dias a fazia continuar e continuar e continuar. Na dúvida, dizia sim. Quando adoeceu do corpo, chegou tão perto da morte que pensou estar doente da mente. Olhou ao redor, para sua casa bagunçada, para suas finanças destruídas, para o contato de emergência que não havia em seu telefone, e pensou que tinha feito tudo errado, mesmo que tivesse sido feliz, só lamentava que seu corpo sem vida fosse se transformar em fonte de tanto trabalho. Ela nunca havia gostado de ser um fardo.— Senhor, por favor, não peço que me poupe, apenas que me dê mais uns dias para eu fazer tudo certo. Quando acordou na manhã seguinte, sentia-se energizada; não fosse o cansaço inexplicável e o ardume nas juntas, dir-se-ia curada. Sabedora de que aquela era a chance pela qual havia pedido, vestiu-se de disposição e foi ser normal.Ao final do oitavo dia, porque, afinal, ela não era Deus e apenas na hora da morte havia passado a acreditar em um, olhou ao redor satisfeita. Suas contas estavam pagas, sua casa estava limpa, suas garrafas de bebida não haviam ficado nas prateleiras, e suas gavetas não mais abrigavam quaisquer objetos que pudessem macular sua memória. Sobre a mesa imaculada da cozinha, um envelope branco com instruções para seu enterro e alguns outros procedimentos de gente normal.Tinha vivido perdidamente, mas deixaria a lembrança da redenção: o melhor de dois mundos.Sessenta e cinco anos depois da manhã em que havia esperado não acordar, o envelope já não é mais branco, mas continua sobre a mesa imaculada. Ao comemorar seu aniversário, o de número oitenta e sete, olhou para seu mundo ordenado, para os amigos polidos que lhe estendiam congratulações polidas, para as janelas transparentes e entendeu que, havia muito, não vivia. Lembrou-se que seu carro sempre limpo ostentava um absurdo crucifixo pendurado no retrovisor, e de todas as coisas equivocadas em seu universo normal, foi aquela a que mais a atingiu. Havia se apegado aos deuses de barro e ao que seus seguidores diziam ser certo, e se esquecido do deus maior: ela mesma. Entendeu que tinha deixado de viver na noite em que não morreu. Quatro dias depois da epifania crucifixal, sua preocupada família a encontrou em um lugar considerado tão indecente, que não tiveram coragem de revelar aos amigos polidos mais próximos. Tudo o que se ficou sabendo é que, sobre toda a indecência que rodeava seu corpo já teso, pairava a aura do sorriso eternizado em seu rosto. Um sorriso que seu marido jamais havia visto. O sorriso que denunciava a vida plena que havia vivido, mesmo que por apenas quatro dias.
January 31, 2021
Si quisiera hablar de tu beso

Si quisiera hablar de tu beso, no hablaría de tu boca que cubre la mía, tanto exigente como suplicante. No.Si quisiera hablar de tu beso, hablaría de mi boca que espera y se rinde a los caprichos de la tuya; hablaría de la saliva que fluye debajo de mi lengua; y del sabor de más que se queda en el después.Si quisiera hablar de tu beso, hablaría de mi piel que cosquillea, que siente tu presencia en cada milímetro expuesto, en cada poro oculto, en cada surco desconocido. Mi piel que anhela tu roce desde las plantas de los pies hasta el cuero cabelludo. Mi piel que inventa chispas que me avergüenzan por denunciar cuánto mi cuerpo está adicto a tu tacto.Si quisiera hablar de tu beso, hablaría de la respiración que de mí sale enviándote los sorbos de vida que a ti dedico.La vida que me deja y te toma.La vida que se me escapa y te adona.Vida que respira un aliento que ya no es mío.Es nuestro.Si quisiera hablar de tu beso, hablaría de mis manos que corren alrededor de tu nuca, se enredan en tu cabello y se quedan atrapadas en tu perfume que se aloja allí.PerenneIncesanteTóxicoY hace que, cada vez que me ponga las manos bajo la barbilla para pensar en ti, te piense aún más.Si quisiera hablar tu beso, hablaría de mis ojos que se ponen cerrados para que yo pueda sentirte mejor, pero que extrañan tu rostro tan cerca del mío.Si quisiera hablar de tu beso, ah, pero por supuesto que no quiero hablar…
¡Ven y bésame!

January 25, 2021
Espelho da vida
Na hora da morte, é preciso que haja ao menos um espelho em frente para que a gente não se sinta terrivelmente só. Para que a gente possa se mirar durante a agonia e ensaiar a cara post mortem que mais combine com nosso melhor traje. Aquele traje de domingo com que gostaríamos de ser enterrados. Um espelho em que a gente possa apreciar a beleza do sofrimento e eternizar, na retina, a última expressão de dor. Aquela que será contínua, aquela que será eterna. É com essa cara de dor que chegaremos ao paraíso. Um espelho que duplique o adeus e, de certa forma, prolongue o viver, sendo o duplo de nosso ser moribundo. Espelhos múltiplos para multiplicar o pouco tempo de vida que nos resta. Um espelho por onde nossa alma descarnada possa se mirar e, quem sabe, num átimo, decidir voltar para o corpo morrediço. Um espelho em que a gente possa ver além de nós mesmos e, antes daquele último suspiro, agarrar o cordão de prata do espírito, que se distraiu com a própria imagem, e puxá-lo de volta para aquela que deveria continuar sendo sua única morada. Ou talvez, usar o cordão de prata ao redor do pescoço. Primeiro, como adereço. Para ficar melhor na foto do velório. Depois, como instrumento a fim de abreviar a dor. Causa da morte: enforcamento pelo cordão de prata da própria alma. Poderia isso ser considerado suicídio? Se assim for, que haja, no Umbral, outro espelho para que não tenhamos que encarar nossos espíritos semelhantes. Que a frequência umbralina habitada por nós, da Irmandade do Suicida do Cordão de Prata, seja uma casa de espelhos onde nos miremos enroscados pelos cordões de prata de nossos espíritos, e estes, pelos cordões de prata de seus próprios espíritos, até que a última célula prateada seja eliminada e jogada no umbral do umbral do umbral de um universo infinito multiplicado por tantos espelhos.Na hora da morte, é preciso que haja ao menos um espelho... Mas que bobagem! Na hora da morte, a gente sempre está só.
