M. Barreto Condado's Blog, page 19
December 14, 2018
Lançamento do Livro "ENTRE MONSTROS E DRAGÕES"
A autora R.C. Vicente e a Chiado Grupo Editorial convidam para o lançamento do livro "Entre Monstros e Dragões", a convite da Chiado Grupo Editorial e da autora integrarei a mesa de lançamento da obra, espero ver-vos lá.
Neste livro constam contos fantásticos e podem aproveitar e ler o meu "Cruz das Almas".
Neste livro constam contos fantásticos e podem aproveitar e ler o meu "Cruz das Almas".
Published on December 14, 2018 12:00
December 13, 2018
Lançamento do Livro "Natal em Palavras"
Lançamento do Livro "Natal em Palavras" da Chiado Books, onde podem ler o meu conto "Noite de Natal"
Published on December 13, 2018 13:00
Lançamento do Livro "ENTRE MONSTROS E DRAGÕES"
A autora R.C. Vicente e a Chiado Grupo Editorial convidam para o lançamento do livro "Entre Monstros e Dragões", a convite da Chiado Grupo Editorial e da autora integrarei a mesa de lançamento da obra, espero ver-vos lá.
Neste livro constam contos fantásticos e podem aproveitar e ler o meu "Cruz das Almas".
Neste livro constam contos fantásticos e podem aproveitar e ler o meu "Cruz das Almas".
Published on December 13, 2018 12:00
December 12, 2018
Lançamento do Livro "NATAL EM PALAVRAS"
Lançamento do Livro "Natal em Palavras" da Chiado Books, onde podem ler o meu conto "Noite de Natal"
Published on December 12, 2018 09:38
Lançamento do Livro "ENTRE MONSTROS E DRAGÕES"
A autora R.C. Vicente e a Chiado Grupo Editorial convidam para o lançamento do livro "Entre Monstros e Dragões", a convite da Chiado Grupo Editorial e da autora integrarei a mesa de lançamento da obra, espero ver-vos lá.
Neste livro constam contos fantásticos e podem aproveitar e ler o meu "Cruz das Almas".
Published on December 12, 2018 04:11
December 6, 2018
Pai Natal
Pai NatalCasa do Pai Natal (fácil de identificar mesmo no meio do nevoeiro pelo nariz vermelho do Rudolfo, a Corredora, Dançarina, Empinadora, Raposa, Cometa, Cupido, Trovão e Relâmpago) Rovaniemi Lapónia
Yggdrasil, 03 de Dezembro de 2018(a casa é fácil de encontrar, fica no meio do nada recomendo viagem nocturna)
Pai Natal,
Espero que a minha carta ainda chegue a tempo pois tem sido um ano complicado, mas posso garantir-te que não sou boazinha, tenho sangue quente e fervo em pouca água.
Se estiveres muito ocupado para leres esta mensagem por favor passa a um dos teus ajudantes (preferia os mais altos, com abdominais trabalhados e costas largas onde gostaria de descansar por umas horas, ando estafada).
Como nunca te pedi nada este ano resolvi abrir uma excepção, fica descansado que não te vou pedir por cada ano passado (em que tristemente falhaste, avisei-te que tenho sangue quente).
Gostaria de ter MUITA saúde, dinheiro e amor (e não penses enviar-me o CD do argentino Irusta);
Voltar à Irlanda em boa companhia (agradeço que não me envies os meus próprios livros da Profecia ou sangue correrá…e não será o meu);
Um potente Jipe (se me envias Playmobil eu envio-te um das Caldas);
Que os meus dedos consigam escrever à velocidade com que as ideias surgem (não me envies um gravador ou vou devolver-to pessoalmente);
Quero publicar todos os livros das duas sagas e mais três que já iniciei. (não digas que é impossível, se respeitares o meu anterior pedido e fizeres com que as horas passem mais devagar “…a obra acontece…” “.
Deixo-te dois avisos: dia 25 é feriado e os caçadores andam por aí e como não andamos nas graças um do outro preferia que enviasses um dos ajudantes acima referenciado, ele que venha uns dias antes, que entre pela porta da sala (a lareira estará a aquecer o ambiente) onde encontrará bolachinhas, um copo de Borba e o sofá aberto para que me possa castigar (envio foto do ajudante e sugestão do castigo a aplicar).Obrigada e até para o anoMadalena
Published on December 06, 2018 07:54
October 30, 2018
À conversa com a escritora ROBIN HOBB
Margaret Astrid Lindholm Ogden nasceu na Califórnia em 1952, utiliza o pseudónimo Robin Hobb o mesmo que lhe viria a abrir as portas do mundo editorial com estonteantes vendas e projecção internacional.Era muito nova quando se mudou com a família da Califórnia para o Alasca mas como o mundo da ficção se mistura com a realidade na sua nova casa ganhou um novo companheiro de aventuras, Bruno, um hibrido de cão e lobo com o qual se sentia segura o suficiente para se embrenhar pela densa floresta que rodeava a casa deixando a imaginação guiá-la.No início da sua carreira escrevia para jornais locais, revistas juvenis, e em 1981 foi premiada pelo Conselho Estadual do Alasca pelo seu conto “A Caça Furtiva”, em 1983 escreveu o seu primeiro romance. foi nomeada para os prémios Hugo e Nébula e foi vencedora do prémio Asimov.Mais tarde casou-se com um pescador e mudou-se para a ilha de Kodiak, foi através do marido que aprendeu a amar tudo o que dizia respeito ao mar.Tem quatro filhos e netos e vive actualmente no estado de Washinghton.Somente em 1995, após conversa com o seu agente decidiu criar um nome que se adequasse ao seu novo estilo de escrita com a publicação de “O aprendiz de assassino” Robin Hobb era finalmente catapultada para a fama e sucesso.De ressalvar ainda como surge a série de fantasia mais popular de Robin Hobb, de acordo com a própria tudo começou com a descoberta de um pedaço de papel que conservava guardado no fundo de uma gaveta e que dizia simplesmente: “E se a magia fosse viciante? E se esse vicio fosse completamente destrutivo?”.Os seus livros estão traduzidos em mais de vinte línguas, ganhou diversos prémios através da Europa como o Prémio da Fantasia do Elfo na Holanda, o Prémio Imaginales pelo trabalho traduzido em França e mais perto de casa ganhou o Prémio Endeavor por trabalhos publicados no Noroeste do Pacífico, venceu ainda este ano o prémio Gemmel em Inglaterra para melhor romance com o livro Assassin’s Fate, o último livro da série do Assassino e o Bobo. O livro será publicado brevemente em Portugal em dois volumes, “A Viagem do Assassino” e “O Destino do Assassino”.E mais recente ganhou o Prémio Israeli Geffen para o melhor romance de fantasia com o livro “O Assassino do Bobo”, o seu trabalho continua a ser nomeado para os prémios Hugo, Locus e Nebula.Robin continua a escrever pequenas estórias de ficção como Megan Lindholm.A verdade é que sempre soube que queria escrever.
MBC – Como prefere ser conhecida por Margaret, Megan ou Robbin?RH - Sou definitivamente Robin.
MBC – É a primeira vez que visita Portugal?RH – Sim é a minha primeira vez.
MBC – Foi difícil conciliar a sua paixão pela escrita com o seu dia a dia de profissional, mulher, mãe, dona de casa?RH - É um acto de equilíbrio. Acho que é importante que as pessoas percebam que as crianças vêm sempre em primeiro lugar, primeiro sou mãe e só depois tenho um trabalho e algo de que gosto muito. Quando comecei a escrever tinha filhos pequenos e rapidamente percebi que não podia ter um sistema para escrever peguei sempre em todos os pequenos momentos livres que conseguia durante o dia quando dormiam, brincavam, viam televisão, sentava-me na mesa enquanto os observava e escrevia. Devo confessar que a minha casa nunca estava limpa como gostaria, que a minha relva ficava muitas vezes por cortar porque a verdade é que quando a oportunidade para escrever aparecia eu aproveitava-a.
MBC – Confesso que fiquei apaixonada quando tomei conhecimento da sua relação com o cão Lobo Bruno, pode fala-nos um pouco sobre esse tempo?RH - Quando nos mudámos para o Alasca existia um cão no nosso bairro, e quando digo bairro refiro-me às casas estarem afastadas por hectares umas das outras, uma das coisas que dizemos no Alasca é que se à noite conseguires ver as luzes do vizinho está na hora de mudares. Víamos o Bruno como um rafeiro e a história que se contava sobre ele é que tinha sido criado como animal de estimação de alguém, mas que, entretanto, tinha sido amarrado e fugira. Quando o vimos pela primeira vez coxeava, mas vinha até à nossa casa e começámos a alimentá-lo. O meu pai conseguiu fazer com que confiasse nele o suficiente para se aproximar e tirar-lhe o espinho que o feria depois de o tratarmos gradualmente começou a ficar na nossa casa e tornou-se parte da nossa família. Os vizinhos contaram-nos que devia ser uma mistura de cão pastor branco e de Lobo, era um cão enorme e esteve connosco durante muitos anos. Eu estava muito habituada a viver perto de florestas, mas com este cão percorria a floresta encostada à minha casa durante horas sabendo que ele garantia o meu regresso em segurança.
MBC – As paisagens do Alasca têm alguma influência em tudo o que escreve?RH – Nem por isso. Desde que me lembro que sempre quis ser escritora. Na minha adolescência escrevia vários inícios de estórias, mas nunca me conseguia comprometer com um final, porém estava sempre a escrever. Desse tempo guardei somente alguns rascunhos e alguns diários que já nem existem.MBC – O seu marido é o seu maior crítico?RH - O meu marido não lê nada do que escrevo e o motivo para isso é que no inicio da minha carreira estava a escrever sobre uma personagem que ia morrer de uma maneira suja, ele leu as primeiras páginas e disse-me que a personagem que estava a descrever era muito parecida com uma pessoa nossa conhecida, o Bruce, depois de pensar confirmei que tinha razão era realmente parecida foi quando o meu marido me disse que não ia continuar a ler a estória porque não achava bem que eu matasse os amigos. O que percebi foi que o meu marido conhece-me tão bem que não estava a ler o que escrevia, mas que me lia a mim. É por esse motivo que penso que se queres ser um escritor deves ter alguém que leia e critique a tua estória, alguém que não te conheça porque se estás a escrever e descreves locais como o cinema ou a casa de waffles do outro lado da rua e por aí em diante os teus conhecidos reconhecem de imediato os locais aos quais te referes. Por esse motivo é melhor distanciarmo-nos e termos alguém de fora a criticar-nos e aconselhar-nos.
MBC – E os seus filhos e netos serão eles os seus maiores fans e críticos?RH – A verdade é que alguns deles leram, outros não, uns vieram a tornar-se fervorosos leitores enquanto que os outros preferem documentários.
MBC - Baseia os seus personagens na sua família, em conhecidos?RH - Nunca o faço deliberadamente, não tenho por hábito colocar pessoas que conheço nos meus livros possivelmente somente algumas das suas características que me prendam a atenção, como certa pessoa anda, pega na caneca do café, como fuma um cigarro, como se veste. Por exemplo não podemos tirar uma mulher moderna e colocá-la num mundo de fantasia, ela tem ideias, consciência de que é dona do seu próprio espaço, teria que existir uma razão para o fazermos.
MBC - O que sentiu quando percebeu que a aceitação dos seus livros era maior quando
se apresentava como Robin Hobb, quando na realidade continuava a ser a Megan?RH - Comecei a escrever com o diminutivo do meu nome de solteira, Megan Lindholm quando escrevia histórias para crianças, fantasia e ficção científica. Escrevia em todos os géneros da fantasia mas os leitores gostam de saber o que leem, se for conhecida por escrever westerns e depois escrevo um romance que se passa em Nova Iorque com o mesmo nome de autor o leitor que me siga não irá ficar satisfeito se comprar um dos meus livros a pensar que é um western e sai-lhe algo completamente diferente ou vice-versa. Por isso quando tanto eu como o meu agente nos apercebemos que queria escrever fantasia épica e sempre mais do que um livro dentro do mesmo género disse-me que precisávamos de separar a escrita e aconselhou-me a pensar num nome diferente, divertimo-nos imenso a ler o nome escolhido. Além de que é uma forma de escrita totalmente diferente da de Megan que é muito mais cínica e não explica detalhadamente as situações nem é tão emocional por isso é um estilo de escrita diferente e ainda hoje quando tenho uma nova ideia sobre o que quero escrever sei automaticamente se é para ser escrito pela Megan ou pela Robin. Quando adoptei este nome não dei muitas entrevistas, nem anunciei a mudança, não foi tanto para tentar parecer que era um homem que escrevia foi mais para baixar a pressão de descrença que pudesse surgir. Quando escrevi a trilogia Farseer escrevi como a personagem principal que era um homem porque quis facilitar a entrada na estória tornando-a mais fácil para o leitor.
MBC – Consta que descobriu um pedaço de papel que conservava guardado no fundo de uma gaveta e que esse foi o incentivo necessário para começar a escrever a Trilogia Farseer.RH - É verdade, era um envelope rasgado ao meio que guardava na gaveta porque nunca fui suficientemente organizada para ter pequenos livros de anotações isto aconteceu no inicio da minha carreira quando ainda escrevia como Megan, aconteceu quando atingi um ponto difícil no livro que estava a escrever e de repente tens outra ideia que é mais bonita, mais brilhante e muito mais fácil de escrever, ou uma ideia que não se adequa ao que está a escrever presentemente a frase era: “E se a magia fosse viciante? E se esse vicio fosse completamente destrutivo?”. Nesse momento soube que tinha que tirar a frase da minha mente e acabar a estória na qual estava a trabalhar na altura. Por isso voltei a guardar o envelope rasgado dentro da gaveta onde mantinha uma série de outros papeis, e ali ficou durante mais um tempo.
MBC - Ainda tem essa secretária?RH – Não, essa secretária há muito que desapareceu bem como a casa. Mas só Deus sabe o que guardo no meu escritório.
MBC – O desenho detalhado das casas, dos mapas partiram de si ou foram sugeridos?
RH - Não faço mapas porque infelizmente tenho uma noção muito má das distâncias, neste momento não conseguiria dizer a distância que nos separa por esse motivo sou terrível a desenhar mapas. Cada tradução tem as suas próprias opções artísticas para as capas, os mapas do terreno, o detalhe das casas. O que acontece é que normalmente envio para o meu editor rabiscos de um mapa no qual se baseiam. Se virem os primeiros livros do aprendiz de assassino podem repara que o mapa na edição inglesa é totalmente diferente do mapa na edição americana.MBC - O festival Bang é anual e consegue colmatar a curiosidade que os leitores de literatura fantástica têm sobre quem escreve os livros que os transportam para lá da imaginação por esse motivo qual espera ser a sua recepção de boas-vindas amanhã no Festival Bang?RH - Todos os festivais são diferentes costumo ir aos Comic Con nos Estados Unidos e é sempre diferente por isso terei que esperar para ver.
MBC - Quer deixar uma mensagem aos leitores portugueses?RH - Muito obrigada pelo vosso apoio.
Texto: MBarreto Condado
Fotos: Mário RamiresIn Jornal Nova Gazeta, 30 Outubro 2018
Published on October 30, 2018 14:56
September 11, 2018
Brevemente "Cruz das Almas" in Entre Monstros e Dragões da Chiado Dragons

"Penetrou na falsa protecção daquelas copas, parando momentaneamente para olhar para trás, às três mulheres tinham-se juntado todos aqueles que vira espalhados pelo monte envergando a mesma sinistra indumentária, notou com curiosidade que tinham parado de a seguir tendo começado a gritar na sua direcção num coro de lamentos e ódio."
Published on September 11, 2018 08:43
March 18, 2018
"Crónicas de Nunes, um asno - Férias"
“Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência”
*As férias do Asno eram sempre passadas no Algarve na casa da irmã, sim porque o pai apesar de “arrotar postas de pescada” de que tinha casas por todo o Portugal, na realidade referia-se mesmo a jazigos senhoriais no cemitério do Alto de São João (com vista para o Tejo, o que aumentava o valor da propriedade) roubados às velhas e decrépitas senhoras que furtara durante os seus altos anos (entenda-se por altos em número de furtos de jazigos e não em estatura porque afinal a criatura tinha pouco mais de metro e meio).
As férias do asno eram, sempre um pouco agridoces ou não tivesse ele que tomar conta dos seus dois sobrinhos.
O mais velho influenciado pelo avô materno (também conhecido na alta roda funerária como “O Senhor dos Jazigos”) adquirira as mesmas manias de grandeza, passava os dias sentado numa velha cadeira de praia, como se de um trono de tratasse, com uma velha manta de cor borgonha, ou como diria o asno uma cape bordeaux, com um toco de um velho varão de casa de banho como ceptro, não necessitava de coroa porque o seu áspero cabelo exercia essa função.
Já o mais novo que herdara a beleza símia e sorriso equino de sua mãe (mesmo com esforço os dentes não lhe cabiam todos dentro da enorme boca), passava os dias a saltar de sofá em sofá enquanto deglutia as bananas que a empregada entretanto contratada para ajudar na árdua tarefa da limpeza do bem estruturado T0, lhe trazia todas as manhãs.
Era nesses parcos momentos que o asno se esgueirava para a praia de Faro para descomprimir da sua imberbe existência. Nunca saia de casa sem desenhar com os dedos molhados (possivelmente de óleo de fritar) um caracol na testa que não se mexia um único milímetro nem mesmo depois de apanhar um excerto de porradas das ondas e de andar enrolado na rebentação já sem calções e com o carnudo rabo ao léu.
Era, contudo, um prazer observá-lo a chegar à praia de Faro. Tinha sempre o cuidado de escolher a praia de frente para a ponte, a única com nadador salvador.
Aparecia no topo do areal sentindo-se o Tarzan Taborda, a minúscula toalha de bidé que retirara da casa de banho da irmã displicentemente atirada por cima do ombro esquerdo (a mesma que tinha para se limpar quando chegasse a casa e durante todo o Verão que permanecesse em casa da irmã, nas palavras da mesma era no poupar que estava o ganho), ajeitava discretamente a sua masculinidade já por si apertada nos calções que tinham sido da juventude do seu pai e que ainda estavam muito em voga apesar de já se terem passado uns meros setenta e seis anos.
Olhava atentamente em volta não à procura de um local desocupado, mas de um que tivesse lotado de estrangeiras (de preferência mais velhas, como o pai lhe ensinara) afinal aquele corpinho tinha que se alimentar bem durante o dia porque o jantar em casa da mana nunca era garantido.
Se ao menos o sobrinho lhe deixasse uma bananinha…
Published on March 18, 2018 11:00
March 17, 2018
Entrevista à autora Anabela Natário
Anabela Natário, 57 anos, alfacinha. Jornalista e escritora. Começou em 1981 no Correio da Manhã, passou pela Agência Lusa, Público, 24Horas, Courrier Internacional e jornal Expresso, entre muitas outras colaborações. Quando fez um descanso dos jornais, foi adjunta do presidente do Supremo Tribunal de Justiça e criou uma empresa inovadora de venda de prosa à medida, a “Énetextos, Caracteres Efervescentes”, e depois… voltou ao jornalismo. Quanto ao lado de escritora, publicou a primeira ficção,
A Cueca Bibelô, em 2007, e a segunda em 2014, O Assassino do Aqueduto. No ínterim, foi coautora de um livro sobre património mundial publicado em chinês, fez um prefácio a contar a história de Francisco Grandella e os Makavenkos e publicou mais seis livros, estes formando uma coleção de 177 biografias de mulheres do século X ao XX, intitulada “Portuguesas com História”. Agora, está de volta ao crime…
“Falar de crime também é uma maneira de historiar o país, além de passar testemunhos de outras épocas, de outras índoles”.Na medida em que poucas pessoas conheciam os casos descritos no livro onde são retratados acontecimentos reais de assassinas, falsificadoras e ladras portuguesas dos últimos três séculos gostávamos de saber o motivo pelo qual achou importante escrever um livro sobre estas mulheres?
Eu gosto de História, de jornalismo, da problemática feminina e da criminologia. Na minha “missão” de repórter enviada ao passado, já descrevi a vida de outras 177 mulheres, em seis livros intitulados Portuguesas com História. Não eram criminosas, mas nem todas foram heroínas do seu tempo. Muito diferentes são, porém, estas 23 mulheres, todavia, também com elas quis dar a conhecer personalidades e vidas noutros tempos… é precisamente como digo na introdução de Mulheres Fora da Lei, contar histórias de crime é também fazer a História de um país. Em especial, porque tenho a preocupação de fazer enquadramentos, de dar testemunhos das épocas descritas, de revelar jornais. E retrato criminosas, como também agentes da justiça, políticas, locais…. É bom saber de tudo, a censura é péssima a todos os níveis, muito mais na aquisição do conhecimento. Por outro lado, o facto de as mulheres cometerem menos crimes do que os homens não significa que não os pratiquem. Além disso, é necessário recordar o passado para acautelar o futuro.
Na sua perspetiva o que levou estas mulheres a tornarem-se criminosas? A época em que viviam? O contexto sociocultural? Ou simplesmente uma incapacidade de sentir empatia e amor?
Não tenho certezas. No caso das assassinas de maridos, embora não haja desculpa para o ato, parece-me que elas não viam outra saída para um casamento doloroso (quando sujeitas a maus-tratos, o que era a “normalidade”) ou para a falta de amor senão o livrarem-se dos maridos tirando-lhes a vida. Não havia divórcio, a separação era um passo dificílimo para uma mulher e amores fora do casamento só eram permitidos aos homens. Quanto às gatunas, a maioria vivia na miséria, num meio miserável… exploradas por homens (uma boa parte), portanto, quando a pobreza social é desta ordem as saídas para a sobrevivência são escassas. Outras houve, claro, que gostavam do que faziam, ou seja, de se dedicarem ao crime. É assim a história da existência humana, desde os primórdios. Há casos e casos, mulheres e mulheres, homens e homens…
Quando fez a sua investigação encontrou certamente informação escondida nos arquivos que consultou que não tenha colocado no livro, e que de alguma forma possam ficar para uma continuação de Mulheres Fora da Lei ?
Sim, aliás, os casos retratados em Mulheres Fora da Lei já saíram do meu arquivo, que é resultado de uma pesquisa mais alargada sobre crime (e outros factos históricos) que faço há anos. Daí que tenha muitas mais histórias na manga com personagens femininas e masculinas. Em breve, espero que ainda este ano, irão surgir outras histórias deste já bem recheado meu arquivo.
Confesso-lhe que de todos os casos retratados no livro aqueles que mais me impressionaram foram o da Luísa de Jesus (assassina em série) e a de Maria do Carmo (a filicida), talvez por se tratarem de casos envolvendo bebés. Na sua opinião qual foi a reação das pessoas a estes dois casos em particular.
Os crimes de Luísa de Jesus, rapariga de 23 anos, impressionam sempre. Não temos registo em Portugal de um crime deste calibre… ela foi condenada por ter assassinado 28 crianças, bebés que ia buscar à roda dos expostos de Coimbra, mas terá matado mais de 30… para ficar com os 600 réis, o berço e os 66 centímetros de pano de lã felpudo que a Misericórdia dava às amas, por cada bebé que levavam para criar ou para dar a outras famílias que dele cuidassem. Ninguém fica indiferente a um caso como este, mesmo sabendo que tudo aconteceu num tempo longínquo; são crimes cometidos a sangue frio, sem remorso. A Maria do Carmo é diferente, no perfil, nas motivações… a única semelhança é a idade… julgo que foi um ato de desespero matar o filho de um mês. Estamos a falar dos últimos anos do século XIX, as mulheres não tinham direitos e as criadas de servir muito menos. Quando, numa casa, havia um roubo, por exemplo, a criada era a primeira a ser presa, mesmo que nada indicasse que fora ela. Se uma mulher engravidava sem ser casada tratava-se de um atentado social, se fosse de “boas famílias” ainda arranjava maneira de se livrar do estigma, mas sendo criada… Maria do Carmo viera há pouso meses da província, onde um soldado lhe prometera casamento para a namorar, contudo, quando ela engravidou nunca mais ninguém o viu. Quando a barriga se começou a fazer notar, deixou a casa do militar onde trabalhava, desesperada… Já no hospital, uma outra companheira de enfermaria disse-lhe que abandonasse a criança numa escada, prática comum, ou que a entregasse na misericórdia de Lisboa. Ali, embora percebessem que ela não tinha condições para o criar, disseram-lhe que não podiam aceitar o bebé, por uma questão burocrática: este tinha sido concebido em Pombal, portanto, fora do concelho de Lisboa. Transtornada, sem saber o que fazer, foi da misericórdia ao jardim do Campo Grande, a pé, com a criança nos braços; lá chegada, escolheu um banco, junto ao lago, estrangulou o filho, e esteve horas a fio, sentada, com o bebé morto nos braços, até anoitecer, até o pousar com cuidado no chão, num local onde era visível... Falamos de uma altura em que o aborto é proibido, extremamente perigoso e, por isso, pouco praticado. Quase todos os dias, surgem nos jornais notícias sobre o aparecimento de um feto, uma suspeita de infanticídio, uma criança abandonada. Maria do Carmo disse que lhe passou uma nuvem pela cabeça… Qualquer destes casos, o de Luísa de Jesus e o do Maria do Carmo, impressionam qualquer pessoa, julgo eu. Para mais, é tudo real, em nenhuma das histórias que conto há ficção, mesmo quando digo que está a chover ou a fazer sol.
Alguns leitores poderão pensar que os castigos eram muito severos “cortadas e separadas as cabeças dos corpos já mortos e levadas e postas no lugar do delito” ou até que alguns eram muito leves “oito anos de prisão celular, seguida de doze anos de degredo”, tendo esta assassina ainda vivido até aos 86 anos. Se lhe pedisse a sua opinião sobre os castigos em geral qual seria a sua resposta.
Eu sou contra a pena de morte, portanto, até me custa pensar que além desse castigo, os juízes ainda sentenciassem, por exemplo, que as cabeças dos criminosos e criminosas fossem penduradas no local do crime… uma imagem que nunca pensei poder associar à História de Portugal. Também não me parece que as penas de prisão fossem leves… basta pensarmos como eram horríveis as condições das cadeias e a dureza da vida em áfrica, no entanto, eram assim os castigos no passado, em épocas em que me parece que até a justiça era pouco recomendável. Veja-se o caso de Isabel Clesse que foi acusada de tentativa de homicídio, o que a livraria da forca, mas como tinha um amante, como “vivia publica e escandalosamente amancebada”, coisa imperdoável a uma mulher, foi condenada à morte e enforcada. Ao apreciarmos sentenças dos séculos passados nota-se oprocedimento discricionário… atualmente, também há razões para queixas, mas estamos muito melhores. Apesar de tudo, o país está muito melhor, o mundo está muito melhor.
Pensa mesmo que “só o facto de já estarem todas enterradas no passado nos deixa alguma tranquilidade”?
Bem, é uma forma de dizer que as criminosas retratadas já não andam por aí, já não podem fazer mal a ninguém. Por isso mesmo, digo alguma tranquilidade. Só alguma, porque o crime, independentemente da altura em que é praticado, seja no passado ou no presente, é algo que incomoda. Há por aí muitas substitutas… Uma sociedade sem crime não existe, infelizmente foi assim ontem é assim hoje, todavia, temos sempre a ilusão de que o conseguiremos erradicar combatendo-o, e ainda bem que temos essa esperança.
Se escrevesse uma continuação de Mulheres Fora da Lei já neste século pensa que poderia encontrar casos semelhantes, com os mesmos contornos ou as mulheres deste século serão mais “hábeis” nas suas fazes mais negras?
As mulheres continuam a cometer menos crimes do que os homens, no entanto muitas continuam a fazê-lo. Mulheres que assassinam, que roubam, que vigarizam, chantageiam… continuam a existir, algumas com outros requintes, praticando o crime de forma mais refinada. E até em maior número… é o preço que se paga pelo ganho de maior liberdade de movimentos, pela emancipação de um sexo continuamente subjugado, mesmo quando se fala em crime.
Sinopse
Nem sempre fomos um país de brandos costumes. Venha conhecer as mulheres criminosas que aterrorizaram Portugal. Cuidado com elas! São 23 mulheres, desde assassinas a vigaristas e gatunas. Uma desfez-se do marido, servindo lhe um prato de arroz temperado com arsénio ao jantar. Outra, seguindo um plano mais elaborado, temperou um clister com a mesma intenção. Uma terceira ia buscar crianças para adotar e desfazia-se delas, asfixiando-as com uma tira de pano. Menos violentas, mas não menos criminosas, são as larápias de mão leve, algumas verdadeiras figuras públicas, cujas aventuras nos dão a conhecer o Portugal de outros tempos. Mulheres Fora da Lei convida-nos a viajar pela vida das maiores criminosas dos últimos três séculos. E só o facto de já estarem todas enterradas no passado nos deixa alguma tranquilidade.
Fotos: Saída de Emergência
MBarreto Condadoin Jornal Nova Gazeta, 17 de Março de 2018
Published on March 17, 2018 09:02


