M. Barreto Condado's Blog, page 23

November 27, 2017

Lua do Lobo, Irmandade da Cruz

“Não andes sozinha na noite, evita o escuro e nunca te afastes do teu caminho..."



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Published on November 27, 2017 08:36

October 31, 2017

All Hallows Eve

Cai o véu que separa os mundos.
Nesta noite é permitido às almas circularem livremente pelos locais que em vida conheceram. Uns mais afortunados poderão vê-las, outros senti-las, mas a verdade é que nesta noite elas estão aqui para nos agraciar com a sua presença. Voltam para nos fazer companhia, para nos sentir, para nos lembrar que não estamos sós.
Não necessitamos fechar os olhos para senti-las ao nosso lado.
Fazem-nos companhia enquanto cozinhamos, sentam-se à nossa mesa para nos ouvir conversar e antes de voltarem a partir ajeitam-nos os lençóis da cama como faziam em vida beijam-nos nas faces sussurrando-nos as tão ansiadas palavras de amor.
Nesses momentos se fecharmos bem os olhos quase que as conseguimos ouvir dizer:
“Não chores não morri! Já não sou o meu corpo, mas o meu espirito permanece em ti.Não tenhas saudades minhas!Pois nunca te deixarei, não o conseguiria mesmo que tentasse.Não te sintas só!Estarei sempre aqui até ao dia em que nos reencontremos.E até que esse dia chegue novamente ansiarei pela tua presença.Mas voltarei. Porque enquanto viver na tua memória, Vivo!Agora descansa com a certeza que estarei sempre por perto.E quando o véu se voltar a erguer e sentires o vazio da minha ausência pensa que teremos sempre este dia para nos voltarmos a reencontrar. E no próximo ano aqui estarei só para te ver.”
Ergue-se o véu que separa os mundos.

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Published on October 31, 2017 02:00

October 19, 2017

"ORIGEM" de DAN BROWN ou o PROFESSOR ROBERT LANGDON em PORTUGAL?


As perguntas para Dan Brown eram inúmeras todos queriam falar com o autor, tirar fotografias, pedir autógrafos. No entanto foi-nos explicado que só iria responder às perguntas. Para todos aqueles que pensem que se trata de vedetismo passo desde já a explicar o motivo da sua decisão. Como não é humanamente possível no período de uma hora assinar os livros de 1500 pessoas, bem como responder e tirar fotos com cada uma delas, decidiu logicamente não o fazer com ninguém.
Muitas das questões tinham sido antecipadamente enviadas pelos leitores para a editora através da página oficial da Bertrand, mas felizmente para todos os presentes foi possível fazerem-se muitas mais, e são essas respostas que vos deixo aqui hoje, na esperança de vos ajudar a saciar a curiosidade.
A primeira questão foi para quando uma estória em Portugal. A resposta surgiu tão naturalmente como o titulo do mesmo. Dan Brown já anda a pensar há algum tempo fazê-lo e até já trazia um nome “The Sintra Cypher”.
O motivo que o levou a escrever “Origem” com Espanha como pano de fundo de toda a acção deve-se ao facto de lá ter vivido durante um ano enquanto estudante na Universidade de Sevilha. O momento mais peculiar foi quando disse que nesse período aprendeu a dançar sevilhanas, numa noite foi com a família com quem vivia à Feira de Sevilha, sem saber como deu por si em cima de um palco com uma lindíssima mulher com quem teve que dançar. Fazia-o maravilhosamente enquanto que ele não sabe bem o que fez naquele longo período de tempo. Deu graças por na altura ainda não existirem telemóveis com camara.
Gosta de escrever sobre o que gosta de ler. Se lhe pedissem para escrever sobre como cozinhar “paella” não o faria até porque nunca conseguiu fazer um prato de jeito.
Acredita em vida extraterrestre apesar de não acreditar que são os responsáveis pela construção das pirâmides. O motivo pelo qual julga que não conseguimos comunicar com outras formas de vida deve-se unicamente ao facto do nosso tempo ser limitado e o universo ser muito extenso.
Se o ser humano muda de acordo com as suas necessidades sente que a religião deveria fazer o mesmo. Se não mudar, não evoluir terá tendência para eventualmente se extinguir. “Todos temos um código fundamental dentro de nós. Não preciso dos Dez Mandamentos para saber que não devo matar. Até uma criança, que vê um sapo na praia, sabe que não deve pisar o sapo. Sabemos que temos de proteger a vida. Não penso que a religião nos vá salvar, nós é que precisamos de nos salvar.”
A mãe, a sua fã número um, estava muito orgulhosa dele por tratar de assuntos tão melindrosos como o da religião, costumava dizer-lhe que “É mais importante acreditares no que acreditas do que naquilo que nos é imposto”.
Ao ser confrontado com o receio das reações que poderia ter ao seu livro por tocar em tantas religiões, afirmou que nada tinha a temer na medida em que o seu livro é simplesmente uma obra de ficção. Lembrando o que os cruzados passaram e mais recentemente os julgamentos de Salém. Não acha que o terrorismo tenha algo a ver com a religião. Mas que esta acaba por ser uma desculpa para levar as pessoas a fazerem coisas más. Afirmando que: “as religiões são pacíficas.”
O professor Langdon tem um pouco dele e do pai na medida em que são ambos professores, “Quis escrever uma trama emocionante com um herói que fosse um professor”. Gosta de pensar que se identifica com a sua personagem, mas gostaria de ser, mais inteligente e corajoso como Robert Langdon. Alguém lhe disse que isso não era possível pois a personagem só existia porque ele assim a fizera: “Não pode ser, porque ele diz o que tu dizes” na altura lembra-se de ter respondido: “o que lhe leva 3 segundos a responder levou-me 3 dias a escrever”.
À pergunta se considerava o professor Langdon parecido com o Indiana Jones, afirmou perentoriamente que os únicos elos de ligação entre os dois passam por serem ambos professores universitários e estarem sempre envolvidos em aventuras, mas continua a considerar o Indiana Jones muito mais corajoso e estiloso.
Quando lhe foi perguntado se já tinha ideias para um novo livro. Pediu a quem lhe tinha feito a pergunta que se levantasse e se mantivesse assim enquanto lhe respondia. Uma jovem mulher fê-lo timidamente E a resposta não poderia ter sido mais divertida. Lembrou que o livro tinha somente 8 dias desde a sua publicação e perguntou-lhe: “Tem filhos? Agora imagine que estava na maternidade e tinha acabado de ter o seu filho há dez minutos, o seu marido entra naquele momento e pergunta-lhe: querida, quando é que voltamos a fazer isto?”
Foi confirmado para breve um novo filme com Ron Howard e Tom Hanks, já tinha vendeu os direitos do novo livro.
Ao escrever “Origem” aprendeu imenso sobre vários assuntos, inclusive arte moderna no Museu Guggenheim de Bilbau. Apesar de tudo continua a não compreender como certas peças podem ser arte, se até ele conseguiria fazer o mesmo ao que o conservador do museu lhe chegou a responder: “Pois, mas não o fez”.
Quando visitou a Igreja da Sagrada Família, reparou numa escadaria em espiral, escura, assustadora (e não querendo estragar o suspense) viu que tinha que matar alguém naquele mesmo lugar. Momento esse presente no livro.
O relógio do Mickey Mouse que Robert Langdon usa é para o lembrar que nunca deve deixar de ser jovem de coração.
Chegou o momento em que uma das muitas leitoras presentes lhe colocou uma questão não sem antes afirmar que devorava todos os seus livros com sentida admiração porque eram muito melhores do que os filmes ao que um emocionado Dan Brown retorquiu: “É por sua culpa que escrevo”.  Confessou que quando lê os guiões dá-lhe sempre uma estranha vontade de chorar. No entanto compreende que se os seus livros fossem feitos na integra do seu conteúdo daria um filme de 10 horas. Motivo pelo qual está a estudar a possibilidade dos mesmos serem feitos em minisséries.
Voltou a garantir que não era ateu, que era agnóstico ou como melhor se define um trabalho em processo. Deixou de acreditar no Deus da sua infância, no entanto quando vê uma sala cheia de pessoas a interagirem não consegue deixar de pensar na maravilha daquele momento e nessa altura acredita na existência de algo superior. Para ele a sua verdadeira crença é questionar sempre. “Devemos questionar Tudo!”
Terminou despedindo-se de todos, deixando no ar uma vez mais a possibilidade do professor Robert Langdon passear por Sintra, quem sabe na Quinta da Regaleira com o seu poço iniciático e os mistérios que se escondem para lá das brumas em “The Sintra Cypher”.
Portugal recebê-lo-á de braços abertos, com o calor que nos caracteriza e certamente com muitas histórias e mistérios.
Deixo-vos aqui a sinopse de “Origem” para aguçar um pouco a maravilha do seu conteúdo.
“Robert Langdon, professor de simbologia e iconologia religiosa da Universidade de Harvard, chega ao ultramoderno Museu Guggenheim de Bilbau para assistir a um grandioso anúncio: a revelação da descoberta que «mudará para sempre o rosto da ciência».
O anfitrião dessa noite é Edmond Kirsch, um dos primeiros alunos de Langdon em Harvard, cujas espantosas invenções e previsões tornaram uma figura de renome a nível global. Mas aquela noite tão meticulosamente orquestrada não tardará a transformar-se em caos e a preciosa descoberta do futurologista pode muito bem-estar em vias de perder para sempre.
Num turbilhão de emoções, Langdon tenta desesperadamente fugir de Bilbau. Tem ao seu lado Ambra Vidal, a elegante diretora do Guggenheim, e juntos fogem para Barcelona, com a perigosa missão de localizarem a palavra-passe que os ajudará a desvendar o segredo de Kirsch.
Percorrendo os obscuros corredores da história e da religião, Langdon e Vidal têm de fugir de um inimigo atormentado, que tudo fará para os deter. Numa viagem marcada pela arte moderna e por símbolos enigmáticos, Langdon e Vidal vão descobrindo as pistas que acabarão por conduzi-los à chocante descoberta de Kirsch…e a uma verdade que nos deixará sem fôlego.”












Texto e Fotos: MBarreto Condado



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Published on October 19, 2017 09:02

October 17, 2017

"ORIGEM" de DAN BROWN ou o PROFESSOR ROBERT LANGDON em PORTUGAL?

(Primeira parte da reportagem do passado Domingo 16 de Outubro, a Dan Brown a convite da Bertrand Editora)


Em primeiro lugar gostaria de agradecer à Bertrand Editora, pelo convite e pela excelente organização bem como a oportunidade única de falarmos com o escritor norte-americano Dan Brown. No passado domingo dia 16 de Outubro, no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, assistimos à apresentação do livro “Origem” um momento único repleto de boa disposição.
Para este evento a Bertrand Editora entregou vários convites, a sala encheu rapidamente contabilizando-se cerca de 1.500 leitores.
Antes da entrada em palco do escritor fomos agraciados com um pequeno filme no qual nos transportou com ele numa viagem através dos locais onde o professor Robert Langdon se move no seu mais recente livro “Origem”, deixando no ar a pergunta: “Irá Deus sobreviver à Ciência?”
Dan Brown chegou a Portugal via Frankfurt, entrou em palco para se deparar com uma sala cheia de ávidos e fieis leitores, algumas caras conhecidas, televisões, jornais, revistas, bloggers, tendo sido recebido em apoteose com uma salva de palmas interminável dando-lhe as acolhedoras boas vindas como só os portugueses sabem fazer.
Começou por falar da sua infância, como foi crescer numa casa onde a mãe católica praticante, organista da igreja e diretora do coro o costumava levar aos treinos de futebol no seu carro com a matrícula “KYRIE” que significa em latim “Pelo Senhor”, era a sua forma de afirmar que era cristã, que acreditava em Deus. Já o pai, escritor do bestseller de matemática avançada, a matricula do seu carro dizia“METRIC”. Esta dicotomia dos seus pais fazia-o sentir-se um pouco esquizofrénico, além de que os seus amigos odiavam ter que fazer os exercícios de matemática que o pai escrevera como trabalhos de casa. Enquanto falava com emoção daqueles que são os responsáveis por se ter tornado quem é hoje exibia orgulhosamente as respetivas matrículas.
Aos 5 anos escreveu o seu primeiro livro. Contava a estória à mãe que a registava tendo-a posteriormente encadernado numa capa castanha cozida com fio vermelho. Fez questão de mencionar que tinha sido feito um único exemplar cujo título era: “A girafa, o porco e as calças em chamas”. Exibindo o exemplar orgulhosamente.  
Apesar de muito influenciado pela crença que a mãe sempre lhe incutiu, surgiram-lhe as primeiras dúvidas aos 9 anos quando se dirigiu à igreja que frequentavam e colocou algumas questões ao padre, este simplesmente lhe respondeu que os “bons rapazes não fazem esse tipo de perguntas”não devia duvidar, mas ter fé.
Não é ateu, mas aos 11 anos tornou-se agnóstico quando um amigo da sua idade morreu de leucemia (a mesma doença que lhe viria a vitimar a mãe, que, contudo, devido aos avanços da medicina genética ainda conseguiu mais dez anos depois de ter sido diagnosticada), e o padre disse que Deus o tinha levado porque era essa a sua vontade. Não percebeu como poderia ser a vontade de um Deus bondoso levar uma criança.
Colocou a questão: “O que acontece quando morremos”, na medida em que é algo que nos faz pensar em Deus mesmo os que não acreditam nele.
Para o livro “Origem” fez uma vez mais bastante investigação. Entre tantos assuntos retratados neste livro aquele que lhe deu maior prazer foi o debate que teve com diversos cientistas sobre Inteligência artificial. Frisando uma vez mais que esta é uma área que nos leva a debater as diferenças entre religião e ciência, a mesma que o tem acompanhado ao longo de toda a sua vida.
"Não existe nada pré-programado no nosso ADN somos o que os nossos pais fazem de nós, por esse motivo que papel terá Deus nas nossas decisões?"
Confessou que antes do seu bestseller “O Código Da Vinci” já tinha publicado dois livros e que não tinha conseguido vender mais do que uma centena, se contasse com os que a mãe lhe tinha comprado. Quando publicou finalmente aquele que viria a ser o livro da sua projeção já só pensava em conseguir algum dinheiro com a venda do mesmo de forma a conseguir levar a sua mulher a jantar fora. Com esta confissão arrancou gargalhadas do público presente.
Em todos os momentos reinou a boa disposição sempre com Dan Brown a contar algumas situações caricatas que lhe têm acontecido.  Desde o padre que o abordou nas ruas de Boston para lhe dizer que não tinha apreciado o livro, mas que lhe estava agradecido porque desde que colocara na porta da igreja a informação que em substituição da leitura da bíblia passariam a discutir o “Código Da Vinci” os fieis tinham passado de 8 para 400. Ou ainda durante as filmagens quando ouve alguém gritar “tragam uma coca-cola diet para Maria Madalena”.
Incomodam-no diversas questões, tais como o rápido desenvolvimento tecnológico e a nossa capacidade enquanto seres humanos de transformar tudo em armas. O aumento populacional, a poluição, o clima e mais recentemente Trump. “Espero apenas que a nossa moralidade cresça ao mesmo tempo que a nossa tecnologia.”
Acabou a apresentação com a seguinte frase: “Para todos na audiência que leem e estimam os livros, agradeço-vos do fundo do coração”.
Amanhã trago-vos as respostas às perguntas colocadas pelo público e pela imprensa presente. Não deixando de informar que ficou em aberto a possibilidade de uma estória com o Professor Langdon em Sintra cujo título sugerido pelo próprio autor seria “The Sintra Cypher”.
















Texto e Fotos: MBarreto Condado
in Jornal Nova Gazeta, 17 Outubro 2017
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Published on October 17, 2017 06:12

October 6, 2017

De casinha a casa, ou o pretensiosismo a roçar a porcaria.

Uma casa antiga tem alma. A alma das pessoas que lá viveram, que por lá passaram e que de alguma forma deixara o seu cunho. Foi por todos esses motivos que me senti tão atraída pela minha nova casa.
Soube desde o primeiro dia que necessitava de obras. Mas esse era o maior atractivo nela. Quem me conhece sabe que não gosto de casas modernas, com aspiração central, com piscina olímpica ou até mesmo sistema de segurança ultrassofisticado. Para mim todos esses aspectos são colmatados com a vassoura, um pequeno lago, cães e gatos (muitos de preferência).
Gosto do que é rústico, acho graça a um muro a necessitar de uma pintura, árvores para serem podadas, erva para ser cortada, a simples ideia de ter o meu próprio poço com uma nascente natural dá-me um novo ânimo pois tudo isto faz parte das alegrias de colocarmos o nosso próprio cunho naquilo que é nosso e sermos recompensados.
A pior parte é quando começamos a conhecer os anteriores proprietários pelo que vamos encontrando espalhado pelo terreno.
Por esse motivo achei necessário deixar aqui alguns conselhos para quem queira tal como eu adquirir uma casa com alma que de alguma forma retorcida quem a vendeu tentou quebrar e não conseguiu.
Elaborei uma resumida lista do que ficou:1º - Nunca lhe chamem casinha, não é uma casa de banho é uma CASA;2º - A lenha dentro da lareira é para arder NÃO é para tapar o buraco no fundo da mesma;3º- Se um enxame de abelhas faz uma colmeia dentro de casa LIMPAR a cera que fica no chão é uma prioridade, devem ter em conta que não poupam porque a mesma não serve para encerar;4º - Se a piscina se estraga, devem TRANSPORTÁ-LA para a reciclagem NUNCA a devem enterrar no fundo do jardim o mesmo se aplica a mobílias e latas de tinta vazias;5º - PROIBIDO dizer que se tem uma garrafeira quando a mesma é composta por espaços ocos, garrafas vazias e aranhas;6º - O pomar é para ser limpo não é para ter uma trepadeira a cobrir o chão, as paredes e as árvores, A MENOS que se esteja a planear fazer um safari pelas densas florestas do terreno de catana em riste;7º - É de uma riqueza extrema ter-se uma pérgula A NÃO SER que a mesma esteja podre atirada para um monte de lixo;8º - A melhor maneira de se ter o alpendre limpo NÃO É colocando-lhe gordura, pois nem tudo o que brilha é ouro. Julgo que um simples balde de água com detergente seria o suficiente;9º - O LIXO que deixam para trás ao qual chamam de utilidades não é um tesouro perdido. Para quem chega, continua a ser lixo;10º - NUNCA cortar os fios eléctricos somente porque não se percebe um boi de eletricidade;11º - Um toco de árvore morta NÃO É uma mesa de poker, é simplesmente para retirar.
PODIA continuar, mas como não tenho veia de comediante prefiro ficar-me por aqui, até porque não tenho pretensões e gosto de limpeza. Afinal após somente três meses de trabalho dedicado, a CASA está como nunca esteve. Limpa, habitável e finalmente a alma que lhe tinha sido negada voltou reforçada, talvez por saber que finalmente também ela reencontrou a sua alma gémea. NÓS!

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Published on October 06, 2017 02:00

October 4, 2017

À conversa com a autora Inês Oliveira

Por acreditar na divulgação de novos autores como forma de promoção do seu trabalho e por contar com esse mesmo apoio por parte das chefias do Jornal Nova Gazeta, estive à conversa com mais uma jovem autora portuguesa emigrada em França.
Poderia ser eu a apresentar-vos a Inês Oliveira mas nada melhor do que a própria para falar de si e do seu trabalho.
MBC – Quem é a Inês Oliveira?IO - Uma jovem cheia de segredos e contos. Estou emigrada em França desde os vinte e quatro anos, longe da minha família e amigos. Ao início para tentar colmatar a sua ausência agarrei-me à leitura. Livros portugueses pois sempre adorei ler, mas aos poucos também comecei a ler em francês movia-me a necessidade de me integrar mais rapidamente no país que me acolhia.
MBC – O que te levou a escrever, e principalmente a escrever poesia?IO - A solidão. Ao separar-me da minha família e amigos para partir nesta nova aventura fez com que rapidamente me sentisse isolada de todos os meus hábitos e caprichos. Escrever sempre foi a forma mais facil de me exprimir. Colocar por escrito o que tantas vezes se torna dificil dizer por palavras seja por falta de espontaneidade ou quem sabe timidez . Sempre olhei com admiração para aquelas pessoas que têm a capacidade de “brincar” com as palavras contando estórias fabulosas. Na 4ªclasse, lembro-me da minha professora pedir logo no inicio do mês de setembro que fizessemos uma redaçao para contar as nossas férias de verão. No final de cada redação escrevia um verso, penso que era o meu subconsciente a dizer-me o que fazer.Desde então nunca mais parei. Infelizmente perdi todos esses pequenos versos num acidente doméstico mas a recordação, essa nunca morre. Também em França a partir do momento em que comecei a escrever algo acordou dentro de mim, essa antiga vontade de colocar por escrito o que me vai na alma e que tantas vezes não consigo dizer por palavras.
MBC – “Só Eu Sei”, o título do teu livro tem algum significado especial que queiras partilhar?IO - Este livro é um misto de pensamentos, sentimentos, desejos, sonhos. Aqui, penso que algumas pessoas se conseguirão identificar com as suas próprias histórias, tal como eu tenho as minhas aqui desenhadas por palavras mas guardando sempre um lado secreto e misterioso. Motivo pelo qual resolvi que este livro se deveria chamar “Só Eu Sei”.
MBC – Ainda és muito nova e começaste neste mundo da escrita há relativamente pouco tempo quais são os teus planos para um futuro próximo?IO - Não tenho intenção de ser conhecida ou famosa. Neste momento o meu único objetivo é poder partilhar as minhas estórias, contos mas acima de tudo tirar prazer ao fazê-lo.
MBC – Planeias manter-te dentro deste género ou podemos esperar um romance para breve?IO - Podem sempre surgir surpresas. Um romance não está fora dos meus planos.Para breve? Quem sabe!
MBC – Este teu livro está a venda em Portugal ou somente em França? E já agora, onde se pode comprar?IO - Para obeterem o livro podem fazê-lo passando pela minha pagina do facebook @inesoliveira83, através da minha editora @portugalmagedicoese ainda através do site www.ptkdo.com.
MBC – O livro está traduzido em outras línguas?IO – Não. Este foi apenas escrito em português.
MBC  – Tens feito algumas apresentações em Portugal? IO – Não tenho feito muitas apresentações. Não por falta de propostas mas pela falta de tempo. Infelizmente a vida nem sempre nos permite fazer o que mais desejamos.
MBC – Queres deixar alguma mensagem para quem tal como tu começa agora?IO - A vida é muito curta para nos arrependermos do que ficou por fazer ou dizer.
Sonhar é um meio de motivação sobre os nossos objectivos. Nem sempre é fácil, mas o fácil tambem não dá o mesmo gosto e prazer ao ser realizado.
In Jornal Nova Gazeta, 04 Outubro 2017
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Published on October 04, 2017 02:00

October 3, 2017

À conversa com o escritor Robert Service


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O que nos leva a ler um livro com o título: “O último dos Czares, Nicolau II e a Revolução Russa” cem anos após o seu acontecimento? Será o mistério que ainda hoje existe à volta da família Romanov? O aparecimento de Putin como um novo imperador que tenta reunificar esta nova Rússia?Para sabermos as respostas a todas estas questões fomos falar com o autor.

Robert John Service é um historiador e autor britânico que tem escrito extensivamente sobre a história da União Soviética, particularmente desde o período da Revolução de Outubro à morte de Stalin. Actualmente é professor de história da Rússia na Universidade de Oxford. Como autor, é conhecido por ter escrito as biografias de Vladimir Lenin, Josef Stalin e Leon Trotsky.
Sendo eu uma curiosa pela história mundial, os mistérios escondidos em documentos antigos e tendo uma forte ligação familiar à Rússia tive o privilégio de falar com o autor para tentar perceber um pouco melhor o que o leva a sentir esta mesma atração. Porquê Nicolau II, os Romanov, a Revolução Russa, sem nos esquecermos da carismática figura de Rasputin, odiado, temido e incompreendido por tantos, e da sua influência sobre a família do czar. Robert Service conseguiu fazer com que deixasse de lado as minhas ideias pré-concebidas sobre este homem e o visse à luz dos acontecimentos sociais da época.
Durante o tempo que amavelmente me disponibilizou tivemos ainda a oportunidade de trocar algumas ideias sobre os momentos curiosos que todas as suas investigações acabam por revelar. Um documento esquecido nos arquivos de uma biblioteca que por sorte ou por estar assim destinado lhe vem parar às mãos e que prova vir a ser de grande utilidade, uma bibliotecária que é a única pessoa capaz de ler a caligrafia de um documento esquecido no meio de tantos outros e que acaba por trazer à luz do conhecimento aspectos perdidos no tempo e no pensamento. A descoberta, por acaso, de um arquivo nunca antes estudado proporcionar-lhe-ia respostas a muitas das suas questões, mas também à descoberta de novos temas que ficarão para já a aguardar uma resposta mais estudada.
Informou-me que presentemente está a escrever sobre Putin, o entusiasmo deste com os Romanov e em particular com os factos políticos, históricos e sociais que conduziram ao trágico fim do último dos czares.
Sentados na livraria Buchholz na manhã do passado dia 09 de junho, começámos por falar sobre algumas curiosidades que envolveram Nicolau II e das quais vos deixo aqui dois desses exemplos: primeiro, o facto do primeiro czar da dinastia Romanov, Mikhail I, ter sido eleito czar pelos boiardos em assembleia nacional no Mosteiro Ipatiev enquanto que o último czar da dinastia Romanov, Nicolau II, era assassinado com a sua família na adega da casa Ipatiev. E, ainda, o facto de Nicolau II ter estado 23 anos no poder e para se descer até à adega onde foi assassinado com a sua família na casa Ipatiev ter que se descer 23 degraus.
MBC - Sabendo das questões que levanta em todos os seus trabalhos sejam elas de foro político ou histórico, combinando todas estas vertentes tornando-as intrigantes para os seus leitores gostava que me desse a sua visão sobre Nicolau II, o homem, o pai, o czar.  RS – Nicolau II era acima de tudo um obstinado, dificilmente mudava de ideias. Ninguém sabia realmente o que pensava ou o que esperar dele. Principalmente aqueles com quem deveria trabalhar directamente para governar aquele imenso país que era a Rússia. A política não lhe interessada por esse motivo era muito pouco informado sobre o que se passava no mundo, era militar de coração, mas era acima de tudo um homem simples. O seu lado mais negro era possivelmente o ódio que sentia pelos judeus. Ao mesmo tempo que era um pai e marido extremoso. Penso que teria sido mais feliz se tivesse vivido uma vida mais simples, adorava trabalhos manuais, o contacto com a terra. Testemunhas afirmavam que nunca o tinham visto mais feliz do que desde que abdicara, teria vivido feliz como um homem do campo ao invés de imperador. É verdade que era um ser humano complexo, mas afinal todos nós somos complexos, por esse motivo achei que era minha obrigação mostrá-lo como um ser humano.
MBC – A forma como se relacionava com os seus captores desde o primeiro dia dizia muito a respeito dessa personalidade?RS – Durante o seu cativeiro em Tsarskoye Selo, Nicolau II encontrou vários livros que lia fervorosamente sobre assuntos que até então ignorava. Falava amiúde com os seus carcereiros sobre temas de interesse geral, sobre a Rússia, o Mundo, mas principalmente sobre as dificuldades com que a classe mais baixa da sua sociedade tinha que se confrontar diariamente. Foi deste modo que se apercebeu de que vivera numa bolha até aquele momento.  
MBC –Qual era o seu maior receio?RS – Que os comunistas os levassem para Moscovo e que o obrigassem a assinar um qualquer tipo de acordo.
MBC - Sempre me deixou curiosa o facto do czar ter tantas ligações familiares na Europa e ninguém ter vindo em seu auxílio. Principalmente o seu primo o Rei Jorge V de Inglaterra?RS – Aqueles que defendiam o czar internamente estavam fracturados e levaram algum tempo até se conseguirem reagrupar. O governo britânico chegou a oferecer asilo a Nicolau e à sua família, mas o rei Jorge V, seu primo, revogaria a mesma por querer ficar de bem com a esquerda. Nesta altura falava-se de uma conspiração entre Inglaterra, França e Moscovo para destituírem Lenine. 
MBC - Já tendo abdicado, porquê matá-los? Não os poderiam ter mantido sobre apertada vigilância ou quem sabe até exílio forçado?RS - Existiam vários indivíduos, e estamos a falar de bolcheviques, dispostos a matar Nicolau, com ou sem aprovação da liderança, e aqui falo de Lenine, até à presente data não foi encontrado nenhum documento que o envolvesse directamente neste bárbaro assassinato. Manter o czar e a família vivos tornara-se um risco pois as forças que o apoiavam já vinham em seu auxílio para os libertar. Estavam mesmo muito perto da casa dai o precipitar dos acontecimentos.
MBC – Pensa que se o czar e a sua família tivessem sobrevivido a Rússia seria a que temos hoje ou ainda teríamos uma Rússia com czares?RS – Infelizmente nunca saberemos porque a história assim não o quis.


O meu agradecimento a Robert Service, fico ansiosamente a aguardar o seu próximo livro e quem sabe uma nova conversa. E à editora Desassossego do Grupo Saída de Emergência por me terem proporcionado este momento único.
Texto: MBarreto Condado
Fotos: Mário Ramires

In Jornal Nova Gazeta, 14 Junho 2017
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Published on October 03, 2017 02:00

October 2, 2017

À conversa com a pintora Armanda Alves e com a autora Luisa Fresta


“Há momentos em que nos apetece abraçar o mundo”, foi desta forma que a poetisa Regina Correia apresentou a autora Luísa Fresta e a pintora Armanda Alves no seu mais recente trabalho a quatro mãos, estou a falar do livro “Contexturas”, publicado pela editora Livros de Ontem.
“Contexturas", é uma confortável viagem através de um universo de emoções. Um livro composto por vinte pequenos contos todos eles emoldurados por uma tela única. Sentimos ao folhear as suas páginas que a respiração acelera como um despertar dos nossos próximos sentimentos tal é a harmonia existente entre a pintura e os contos.Através das suas páginas somos conduzidos numa viagem ímpar por terra e por mar, onde a imaginação encontra no extraordinário o banal, sentimo-nos parte de todo aquele teatro narrativo, imersos nas suas páginas de onde nos recusamos sair por querermos sempre mais. De imediato notamos a ligação das autoras à mãe natureza, à língua, ao cheiro do oceano angolano, aos sabores, às cores de África num intrincado puzzle onde a lusofonia tem a sua mais forte expressão na língua, também esta sempre presente nos quadros de Armanda Alves.
Se para a Luísa os contos nasceram a olhar para os quadros, já para a Armanda saber que as suas telas onde existe um universo que se encaminha para o enrodilhado do tecido social e humano foi a fonte de inspiração necessária para o nascimento de “Contexturas” é por si só motivo de rejubilo.
Gostava ainda de vos deixar uma pequena nota biográfica das autoras antes da entrevista que gentilmente me cederam.
Armanda Alves é luso angolana, artista plástica vive há alguns anos em Portugal e, durante muito tempo pintou por prazer, para si e para os seus amigos. Com vasta obra reconhecida a nível internacional mostra toda a sua energia que passa de uma maneira extraordinária para a tela, com o seu jogo de cores numa linha marcadamente abstrata.
Luísa Fresta, autora, nascida em Portugal, viveu a maior parte da sua infância e adolescência em Angola, país com o qual mantém laços de cidadania bem como familiares, estando radicada em Portugal desde 1993. Estudou engenharia civil em França. Os pequenos contos foram pensados e escritos a olhar para os quadros nunca se esquecendo das suas raízes.

MBC – Para quem ouve falar do vosso trabalho somente agora, como gostariam que vos reconhecessem?LF – Tenho gostos ecléticos, não gosto de limitações a nível criativo. Sou engenheira civil e só comecei a escrever há cerca de cinco anos. Para além da poesia os contos sempre me fascinaram. Adoro escrever tendo sempre Angola no pensamento, costumo dizer que o sotaque é como as vivências nunca se perde.AA – Como pintora, considero-me uma fazedora de formas. Não pinto em cavalete, gosto de pintar no chão ou na mesa. Sou autodidata, indisciplinada quando encontro vida pura.
MBC – Há quem diga que os quadros deram vida ao livro, ou terá sido o oposto?LF – Para mim a obra já existia, a vontade que tive de escrever surgiu porque os quadros ganharam vida perante os meus olhos. Sem eles os contos não existiriam.AA – Os quadros por si só falavam.
MBC – Como surgiu este projecto em conjunto?LF – A parceria surgiu do nada. A Armanda foi-me apresentada por uma amiga comum a Maria que achou que tínhamos tudo para dar certo e não estava de todo errada. Deixamos correr esta nossa parceria sem pressões pelo que sempre que sentir as mesmas emoções perante uma tela da Armanda continuarei a escrever.AA – Foi uma brincadeira que surgiu do nada. Uma coisa é certa na altura não pensei que os meus quadros fizessem alguém apaixonar-se e entregar-se como o faço. O meu mundo é pintar, é desta forma que me exprimo, que faço o que melhor sei, é por esse motivo que ver os meus sentimentos transformados em palavras é por si só um engrandecimento de tudo aquilo em que acredito.
MBC – Uma frase que descreva o vosso trabalho?LF – Fusão.AA – Coesão.
Texto e fotos: MBarreto CondadoIn Jornal Nova Gazeta, 01 Outubro 2017
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Published on October 02, 2017 02:00

September 27, 2017

À conversa com o autor Manuel do Nascimento

Tenho conversado regularmente com novos autores portugueses que tentam vingar no competitivo panorama literário português, sem me esquecer de todos os outros que vivem fora de Portugal.  
No ano passado conheci alguns desses autores e cheguei mesmo a ter a oportunidade de apresentar o meu trabalho em Paris por intermédio deles.
Deixo-vos aqui a conversa que tive com o Manuel do Nascimento para que o possam conhecer um pouco melhor e saber o que tem feito pela divulgação da nossa história. A altura para o fazer foi a ideal na medida em que o Manuel publicou o seu primeiro romance no passado mês de agosto.
MBC – Para quem ainda não te conheça, gostava que te apresentasses.MN - Nasci numa vila da região do Dão no distrito de Viseu. Aos 11 anos completei o exame da 4ª classe, e como os meus pais tinham poucos recursos. Vi-me obrigado a vir para Lisboa viver com familiares de forma a poder continuar os meus estudos. A verdade é que podia ter ido para Lamego ou Viseu, mas infelizmente os meus pais não podiam comportar tamanho encargo. De 1962 até 1970, estudei e trabalhei na capital. Quando completei 20 anos, estava na eminencia de ser chamado para o serviço militar que implicava a minha partida para as colónias. Como não conseguia entender a finalidade das guerras coloniais, decidi partir para Paris, onde resido desde então.
MBC – Há tanto tempo fora da Portugal e sabendo que voltas todos os anos para “matar” saudades, pensas regressar definitivamente um dia?MN - Estou radicado em Paris desde 1970, mas após o 25 de Abril, volto todos os anos, uma ou mais vezes por ano. Aproveito e dou sempre uma volta de norte a sul, mas gosto particularmente de Lisboa, onde a minha família ainda hoje reside. Venho por assim dizer matar saudades. Quanto à questão de voltar um dia definitivamente, posso dizer-te que para já a prioridade não é essa.
MBC – Os teus livros são o espelho da nostalgia que sentes pela nossa história? Ou uma forma de a dares a conhecer em França?MN - Eu diria que não é nostalgia, mas sim a paixão pela história em geral. Mas é claro que adoro dar a conhecer a nossa história em França. Principalmente para os de terceira geração, os luso-descendentes que têm muito pouco conhecimento da história do país dos seus pais. Grande parte dos meus livros são em francês, não só para colmatar a falta de conhecimento da nossa história dos nossos luso-descendentes, mas também para que os franceses a conheçam um pouco melhor. Uma das coisas que notei aquando da minha chegada a Paris foi a falta de conhecimento do grande país que somos. Falar-lhes do pai do nosso primeiro rei, das invasões francesas em Portugal ou até mesmo da batalha de La Lys, no quadro da participação de Portugal nesse conflito mundial é o mesmo que nada. Parte dos franceses desconhecem esta parte da história tal como desconhecem a própria história de França. Sempre me incomodou muito tanto desinteresse por aquilo que nos torna Portugueses ou até mesmo Franceses. Esse foi talvez o principal motivo que me levou a escrever.
MBC – Soube que escreveste pela primeira vez um livro fora daquilo a que estás habituado. Queres falar-nos um pouco dele e do porquê de o fazeres neste momento? MN - É verdade. Desta vez é um romance, “Nem tudo acontece por acaso”. Não te vou dizer que tenha sido por acaso, acredito mais que tenha sido o destino! Aconteceu numa das minhas viagens, na esplanada de um café em Lisboa tive uma conversa muito interessante com um sábio mendigo e com uma senhora. É uma estória em flashes que nos vai conduzir para um antiquíssimo mistério familiar. Aqui é-nos permitido viajar desde os tempos mais antigos até aos nossos dias. Revivemos duas guerras mundiais, as guerras de África, o Estado Novo, falo da ordem social onde os ricos tinham tudo e os pobres tão pouco, da chamada emigração de sonho onde muitos pensavam deixar a miséria para trás para encontrar uma outra nos países de acolhimento, de lendas, tradições, dos jardins e miradouros lisboetas, do vinte cinco de abril de 1974. Este livro acaba por ser uma viagem pela própria cidade de Lisboa, que tanto amo e para onde volto sempre que posso.
MBC – Os teus livros escritos em francês tendo em conta que alguns deles como já disseste relatam acontecimentos envolvendo os dois países em tempo de guerra, qual é a aceitação dos mesmos por parte dos franceses?MN – Tenho que explicar um pouco o meu processo criativo. Desde o momento que decido escrever sei de imediato em que língua o vou fazer, mas sei também a que público se destinará. A maioria deles é em francês pois pretendo não somente dar a conhecer ao povo francês a nossa história como deixar testemunhos em França.  Todas as minhas obras editadas em Paris têm estado a cargo da mesma editora que tem apostado no meu trabalho, e, por conseguinte, uma grande parte das bibliotecas universitárias e públicas de França já os adquiriram.
MBC – Sei que és um dos responsáveis pela SALF. Queres explicar-nos o que significa a sigla, como surgiu? O que fazem pela divulgação dos artistas portugueses? Têm planos futuros para integrar os autores portugueses no fechado mundo artístico francês?MN – A SALF - Sociedade dos Autores Lusófonos de França, é uma associação sem fins lucrativos, que foi fundada em 2011 por um grupo de autores lusófonos do qual faço parte. Exerço atualmente a função de Presidente. Esta associação tem por objectivo ajudar os autores lusófonos desde a criação à divulgação das suas obras sejam elas em português ou francês. Uma outra nossas outras componentes é a organização de encontros literários que inclua todos os nossos membros. Tivemos já a oportunidade de acolher escritores portugueses não residentes em França que participaram nos nossos encontros culturais,
MBC – Apresentações em Portugal? Tens feito? Tens alguma agendada para breve?MN - Fiz duas apresentações em Portugal em 2013, uma em Lisboa outra em Viana do Castelo, para apresentar a obra História de Portugal-Uma Cronologia. Foi um trabalho que me levou 10 anos a concluir e que se compõe de três volumes. Não tenho nada previsto para breve, mas quando o meu romance “Nem Tudo Acontece por Acaso” for colocado nas livrarias e se estas mostrarem interesse numa apresentação, tudo pode Acontecer! Posso neste momento adiantar que no próximo mês de outubro, este meu último livro será apresentado no Consulado Geral de Portugal em Paris.
MBC – Uma frase que utilizas: “Só é vencido quem desiste de lutar” Aplica-se de alguma forma a ti?MN - Não se aplica só a mim. Há tanta gente no mundo que luta das mais diversas formas. O meu combate em França tem sido, e continua a ser, dar uma imagem diferente daquela que têm dos portugueses e de Portugal. A forma que encontrei para lutar foi relatar a nossa história e cultura, deixar uma marca neste país, deixar para os meus filhos e netos uma lembrança escrita de quem somos, de quem sou. Temo que se parar de escrever tudo possa voltar a ser como dantes.Gostava de deixar aqui o que me foi escrito um dia, numa dedicatória: Ao Manuel do Nascimento, autor contra o obscurantismo e pela história do povo português.
MBC – Para terminarmos gostarias de deixar alguma mensagem aos nossos leitores?MN - Dizer que a história de um país e a de Portugal em particular sendo tão rica não tem fim é através dela que aprendemos quem somos e de onde vimos. Se não se conhece o passado não se pode avançar no futuro. E é com os nossos próprios erros que aprendemos a não os repetir.

In Jornal Nova Gazeta, 27 Setembro 2017 
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Published on September 27, 2017 02:00

September 24, 2017

Férias de Verão, Casamento e Emigração

Acabaram as férias que para muitos continuam a ser repartidas entre o mês de junho e o mês de setembro, em grande parte para evitar o afluxo de emigrantes que regressam sempre nos fortes meses de verão. A simples ideia de praias atulhadas de “Michel vien ao pai”, horas nas filas, o ouvir as habituais reclamações de que em Portugal é sempre a mesma coisa, que este nosso país parece um daqueles do terceiro mundo, continuam a ser motivo mais do que suficiente para muitos portugueses continuarem a fazer férias fora do característico período emigrante.
Se esta é a realidade do nosso país nos dois fortes meses de verão, também é verdade que os emigrantes não são mais do que os nossos portugueses regressados numa tentativa de aplacarem o saudosismo que se acumula nos longos e frios meses, nos países de acolhimento. Voltam para recarregar baterias com a boa comida, o vinho, o clima, a família e os amigos antes de serem uma vez mais obrigados a regressar.
Passei a entender esta movimentação de gentes da terra quando no passado mês de agosto conheci a Milene Paulo e o Hugo Joaquim, dois jovens emigrantes que fizeram de Inglaterra a sua nova morada, e que desta feita voltavam a casa para se casarem.
Tudo começou quando me mudei de Lisboa para um simpático lugarejo no Oeste, daqueles onde entramos e já não queremos voltar a partir, onde a única família que aqui habita nos considera uma parte do seu núcleo.Foi confrontada com esta realidade que aprendi a olhar para os nossos emigrantes com novos olhos.
A Milene e o Hugo fazem parte da estatística de portugueses que deixam o país em busca de uma vida melhor. Deixam tudo o que têm como garantido para trás e partem na esperança de um trabalho, de uma casa, de um futuro, nunca esquecendo quem cá deixam. Com eles percebi que existe um forte motivo para o regresso dos emigrantes em particular nestes meses e que não se deve ao calor e às fantásticas praias que temos para oferecer, é sim um regresso às origens, um reencontro com a sua família.
Por todos esses motivos sinto que a história da Milene e do Hugo deve ser contada.Com eles, o “Era uma vez…” toma um significado diferente.

“Era uma vez uma jovem rapariga chamada Milene que vivia numa pequena aldeia do oeste português. Não muito longe, numa aldeia vizinha vivia um jovem, Hugo de seu nome. A verdade é que se conheciam, já se tendo cruzado por diversas vezes em festas nas aldeias vizinhas. Mas, foi somente quando o destino decidiu que o amor aconteceu.Porém a vida daria uma reviravolta e Milene partia para Inglaterra. Hugo passava os dias a pensar na falta que a ausência daquela jovem mulher a quem já entregara o coração lhe fazia. Não demorou muito a segui-la. Em breve aterrava em Londres com um único intuito, ficarem juntos para sempre. O amor cresceu e como prova desse profundo sentimento eram abençoados com o nascimento de Emily.”
Assim como na história deles também a de tantos outros portugueses que partem na esperança de um dia regressarem, nem que seja somente durante os meses que tanto incómodo gera àqueles que têm o privilégio de cá viver em permanência. Não nos podemos esquecer de quem fica e que os espera ansiosamente todos os anos, falamos dos seus pais.

Para tentar perceber melhor o que os motiva a voltarem particularmente agora e no caso da Milene e do Hugo para se casarem, coloquei-lhes na véspera algumas questões tendo o cuidado de o fazer separadamente, perguntei-lhes o que mais gostavam no outro. Para a Milene, a capacidade que o Hugo tem de correr atrás daquilo em que acredita, da sua persistência para alcançar todos os objectivos independentemente da dificuldade que os mesmos possam acartar. Já para o Hugo, não há nada que não goste na Milene. Tudo! Foi a sua pronta resposta.

Pedi-lhes que me descrevessem o que significava o amor para cada um deles. Se para a Milene era a felicidade que sentia por estar com a pessoa amada e ter a vida que desejava para o Hugo era o carinho que só ela e a filha de ambos lhe conseguiam dar.
Porém ainda me faltava colocar-lhes a pergunta que maior curiosidade me despertava. Porquê o casamento nesta altura e em Portugal? Para a Milene era o momento ideal pois assim conseguiam reunir as pessoas que mais amavam naquele momento inesquecível, era a única altura do ano em que conseguiam estar todos juntos. O Hugo acabaria por completar o pensamento da noiva sem o saber ao afirmar que estão finalmente perto de quem mais gostam pelo que é a altura perfeita, sem nunca se esquecer que este momento ganha mais significado pelo valor que tem para a Milene.
Por todos estes motivos confesso que passei a ter mais respeito por quem regressa nem que seja somente durante um curto período nas férias, afinal não somos emigrantes, somos todos portugueses e se voltamos é porque este país nos corre nas veias independentemente de muitos de nós não saberem se algum dia voltarão de vez.
De uma coisa tenho a certeza, a história da Milene e do Hugo teve o seu inicio de conto de fadas no casamento e se começou com o “Era uma vez…” terminará certamente com o “Foram felizes para sempre.”

Obrigada aos dois.
Texto: MBarreto CondadoFotos: Hugo Joaquim
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Published on September 24, 2017 11:01