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Kindle Notes & Highlights
— Deixa de ser boba, sua mãe te ama. E eu também — acrescentou, me puxando para mais perto, de modo que eu me virasse completamente para ele. — Você sempre vai ser nossa garotinha.
— Você nunca decepcionaria a gente, filha. — Ele hesitou. — A não ser que cometesse um crime. Ou se drogasse. Ou jogasse pelos humanos em Feéricos. Não pude evitar abrir um sorrisinho em meio ao choro, um soluço irrompendo de repente. A sensação de alívio foi como me enrolar num cobertor numa noite gelada. Ela me acalmou o suficiente para que eu respondesse: — Eu nunca jogaria pelos humanos, pai. Tenho princípios. Retribuindo o sorriso, ele me puxou para um abraço. Enlacei-o pela cintura, minha cabeça batendo na altura do seu peito, e inspirei o cheiro familiar de desodorante masculino. As
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O final de semana podia ter sido uma confusão, mas cada momento que eu tinha passado com Ayla me encheu de certeza de que o amor que eu sentia era real. Estar com ela me trazia uma clareza que eu nunca tive antes. Eu não queria perder isso. Eu não ia perder isso.
Foi quando percebi que elas me conheciam melhor do que eu tinha suspeitado. — Eu tô chocada — disse Drica, sentada na cadeira da escrivaninha. — Eu também — concordou Vick da cama. — Nunca vi a Ayla falar tanto na minha vida. Revirei os olhos e taquei uma almofada nela, mas, infelizmente, não podia dizer que ela estava mentindo.
— Bom, pelo menos agora esse Leo faz mais sentido — comentou Drica, quebrando o silêncio. Olhei para ela com uma expressão questionadora. — Esse homem tava bom demais pra ser verdade. Uma risadinha escapou da minha boca. Vick e Drica riram do ronquinho que saiu, e eu me peguei lembrando o quanto o Leo achava fofa a minha risada. O Leo não… A Raíssa.
— A pessoa por quem você tá apaixonada é a Raíssa. Achei que era simples.
Mas você mesma disse. Vocês se deram bem, você gostou dela, vocês se beijaram. Tá tudo aí na sua cara, Ay. Só falta você querer enxergar — Vick disse.
— O que importa aqui é: você está apaixonada pela Raíssa.
Mas as conversas que vocês tiveram, a química, tudo isso foi real. A mentira dela não anula seus sentimentos.
Por mais bobo que pudesse parecer, essa era a primeira vez que Drica me chamava de “amiga”. Ela só chamava a Vick assim. Nesse momento eu percebi que eu tinha cruzado um limite. Elas também sentiam isso. Eu estava me abrindo de verdade e me permitindo ser a amiga que elas precisavam. E a Raíssa tinha tudo a ver com essa mudança.
Você estava certa. Histórias românticas até que podem ser bem legais.
(Mas ter Orgulho e preconceito como livro preferido é muito clichê da sua parte)
(Pelo visto, eu sou bem clichê também)
Não me surpreende que o ego do homem hétero cis branco seja tão grande. Ele vem sendo cultivado desde antes do século XVIII! Contive uma risada, ciente de que Vick e Drica me observavam. Eu devia estar parecendo uma boba. Ainda que a Raíssa e eu estivéssemos de fato conversando desde abril, isso agora parecia completamente novo. Talvez porque tivéssemos nos encontrado pessoalmente. Talvez porque tanto eu quanto ela tivéssemos nos livrado das coisas de que mais tínhamos medo — ou pelo menos estivéssemos tentando. Agora tudo parecia ainda mais real.
O trecho marcado era: “Você é generosa demais para brincar comigo. Se os seus sentimentos ainda são como eram em abril, diga-me de uma vez. Minha afeição e meu desejo permanecem inalterados, mas diga uma palavra e me calarei para sempre sobre esse assunto”. Mordi o lábio, surpresa com a coincidência na menção ao mês que nos conhecemos. Então deixei o livro de lado e abri a carta. Meu coração pareceu se apertar a cada linha enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto, alheias à minha vergonha, alheias a qualquer coisa ao meu redor, exceto às palavras da Raíssa. Ay, Você lembra aquele primeiro
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mas se teve uma lição que aprendi depois dessa viagem foi que ficar se omitindo só te faz infeliz. Gabi abriu um sorriso discreto. — Já te falei que tô muito orgulhosa de você? — Acho que você mencionou — falei, rindo. — Que bom. Porque eu tô mesmo muito orgulhosa. — Ah, como vocês duas são fofas — Leo brincou, se esticando para alcançar minha bochecha com uma mão enquanto apertava a da Gabi com a outra. Eu fugi dele me inclinando para trás e afastando a mão. — Sai daqui, deixa minha bochecha! Ele só desistiu quando quase caiu do banco. Não consegui conter a risada.
O nome da Ayla, estampado na tela de bloqueio, era como música aos meus ouvidos, ainda que tudo e todos ao meu redor estivessem em silêncio. Era um fio de esperança. A melhor parte daquele momento suspenso no tempo era a sensação do celular em minhas mãos. Do meu celular.
— Vai logo, a gente vai ficar por aqui conversando. Qualquer coisa chama a gente. Leo abriu um sorriso, tentando me incentivar, e eu retribuí. — Tá bom. — Senti uma corrente de adrenalina percorrer meu corpo. — Obrigada! — falei, já começando a correr em direção ao interior do prédio. — Amo vocês!
Liguei o computador apressada e cada segundo que passava parecia uma eternidade. Quando finalmente abri Feéricos e o Skype, uma notificação de ligação apareceu no meio da tela. Era uma chamada de vídeo. Da Ayla. Eu ajeitei o cabelo e respirei fundo antes de aceitar.
A missão era fácil demais para ela estar tendo dificuldade sozinha. Foi aí que eu percebi que tinha sido só uma desculpa para me ligar. Não consegui conter o sorriso.
— Nada. Só tô feliz por estar jogando com você de novo.
E eu estava mais do que preparada para isso. — O.k. Mas será que você me permite o direito de defesa? — Vá em frente — ela disse, tentando não parecer ansiosa demais. Abri o navegador e entrei numa pasta do meu Drive, que eu tinha deixado preparada para esse exato momento.
— São prints de todas as vezes que eu falei pro Leo que ia contar a verdade pra você, que disse que me odiava por estar mentindo ou qualquer coisa do tipo. — Mas tem mais de cem imagens aqui… — Eu sei.
Eu sei que isso não justifica o que eu fiz, mas queria que você soubesse que eu me arrependia todos os dias da mentira. Não fiz nada disso tentando te enganar intencionalmente. Eu queria contar, mais do que tudo no mundo, mas gostar de você meio que me desestabilizou. — Abri um sorriso triste, pensando no quão difícil tinham sido os últimos meses desde que conheci a Ayla. Ao mesmo tempo também foram os mais incríveis da minha vida. — A nossa relação mudou muito a minha relação comigo mesma. Porque o fato de eu gostar de você dificultava um pouco que eu continuasse a negar minha sexualidade.
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— O Leo é meu melhor amigo, como te expliquei na carta. Ele não é meu irmão, mas é como se fosse.
— Aquela tarde que a gente passou junta… Eu acho que nunca me senti tão feliz na minha vida.
Quando eu vi o quanto a gente tinha se dado bem, mesmo que você não fizesse nem ideia de que era comigo que conversava todos os dias…
Mas, antes que eu conseguisse criar coragem, você me beijou.
Ainda assim eu me sentia mais ligada a você, que eu achava que nem conhecia direito, do que ao Leo e…
Ela deu um sorrisinho sem graça. Eu quis tocar na tela, tocar nela, e sentir seu calor de novo.
Acho que eu entendo o que você sentiu esses meses, porque eu também me sentia assim quando a gente estava junta. A verdade é que eu te beijei porque eu queria comprovar se o que eu estava sentindo por você era verdade. Que não era só minha frustração com o Leo. Mas era verdade mesmo. E eu fiquei assustada com quão certo foi. — Eu também — respondi num sussurro. — Mas ao mesmo tempo foi libertador. Conhecer você mudou a minha vida, Ayla. Uma sombra de sorriso se instalou na boca dela.
Há duas semanas, se alguém tivesse me dito que eu ia te conhecer pessoalmente, te beijar e me assumir pra minha família, acho que eu teria xingado a pessoa. A Ayla riu, e senti o gelo entre nós começar a se dissolver. Tudo começava a parecer normal outra vez. Mas não como antes. Melhor. — Se alguém tivesse me dito que eu iria conhecer o Leo e, no dia seguinte, beijar uma garota, acho que essa pessoa teria apanhado. Abri um sorriso, agora mais abertamente. — Eu tava quase esquecendo como você é agressiva. A expressão de ultraje no rosto da Ayla me provou que estávamos mesmo nos acertando. Ela
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Quando tirei o aparelho do bolso e vi o nome da Ray estampado, o sorriso que abri foi involuntário. — Ah, não… Lá vem a melação — Drica reclamou, revirando os olhos. Eu mostrei a língua para ela antes de atender. — Oi, amor! — Oi, bonita. Tá em casa? — A voz dela parecia animada. — Não… tô indo no cinema. — Por um instante, pensei que ela queria me chamar para jogar, mas então notei o barulho de rua ao fundo. — Onde você tá? — Vim no cinema também. — Hmmm, sozinha? — perguntei, parecendo mais ciumenta do que eu realmente pretendia. Sabia que provavelmente ela estava com o Leo e com a Gabi, que
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