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a Ayla sorriu. Um sorriso tão amplo, tão verdadeiro, que foi como se meu mundo inteiro se iluminasse. Caramba, era a Ayla. Era a Ayla de verdade. Meu coração acelerou enquanto eu olhava para ela num misto de alegria e espanto.
Seus olhos puxados e castanho-claros cintilavam de nervosismo ao encarar o Leo.
E eu olhava admirada para Ayla, me sentindo péssima, rejeitada e muito apaixonada.
— É verdade, poxa! Sabe quantas vezes eu imaginei esse momento? Da gente se conhecendo? Mas nunca acreditei que fosse acontecer de verdade. E tão rápido! — Abri um sorriso enorme. Queria pular no pescoço do Leo e ficar agarrada até domingo acabar, mas me contive.
O sorriso de Ayla se iluminou enquanto avançava um passo para me abraçar e dar um beijinho no rosto. O toque dela me deixou vermelha. Nos poucos segundos em que nos abraçamos, eu me permiti fechar os olhos e sentir o calor da sua pele, e seus cabelos lisos pinicaram meu rosto. Ela tinha cheiro de baunilha; levemente adocicado, mas não o suficiente para ser enjoativo. Em seu abraço, era como se nada pudesse me atingir, como se minhas inseguranças não existissem. Tentei guardar aquela sensação para nunca esquecer.
Tenho certeza de que, no fundo de todas as coisas ótimas que ele fala de você, tem muito amor envolvido.
Eu levei a mão ao coração, como se estivesse emocionada. — Puxa, obrigada, Ayla. — Deixei a cena durar alguns segundos, fazendo-a rir e deixando escapar um ronco baixinho. Caramba, como a risada dela era gostosa de ouvir!
— Justo — Ayla disse, com um sorriso. — O importante é que no fim das contas todos conseguimos vir, certo? Estamos todos aqui! E vai ser incrível! — Já está sendo! — concordei com uma empolgação que não sentia enquanto o Leo me encarava com um sorriso de provocação.
Quase me bati por estar sugerindo continuar acompanhando os dois. Mas agora que eu estava ali, não queria me afastar dela. Queria estar do seu lado e conhecer melhor seus trejeitos, seus traços, aproveitar sua companhia enquanto podia. — Já deve fazer umas três horas desde que a gente chegou e não comemos nada. Eu pelo menos não comi.
Ayla comentava do meu cosplay. Ela parecia tão feliz…
Nos últimos tempos, parecia que todos os meus sorrisos eram falsos e toda a minha felicidade vinha pela metade.
Será que em algum momento próximo meu coração conseguiria se acalmar? Porque enquanto esperava minha vez na fila do banheiro, podia senti-lo batendo forte, ameaçando pular para fora do peito. Aquele dia estava sendo surreal demais! Quando acordei e lembrei que a feira ia começar e que eu não estaria lá, o mundo tinha me parecido mais sombrio e triste do que nunca. Horas depois, ali estava eu, e ainda por cima ao lado do Leo! Caramba, quantas vezes eu já não tinha imaginado esse momento? Mas por mais empolgante que tudo fosse, também havia algo de estranho na situação.
mas Raíssa abriu um sorriso largo, que iluminou todo o seu rosto. Ela era bem fofa, de um jeito um tanto diferente do Leo.
Você segura a mesa aí? A Raíssa e eu vamos lá escolher. — Eu? Raíssa olhou assustada de mim para o irmão, e abri um sorriso simpático. Eu estava tentando amenizar o clima, apesar de o constrangimento inicial já estar se dissipando. Tenho certeza de que tudo pareceria um pouco menos estranho se simplesmente agíssemos como três amigos, e não como uma garota conhecendo o garoto por quem está apaixonada, mas não sabe se a recíproca é verdadeira. Além disso, eu queria conhecer Raíssa melhor. Ela era irmã dele, afinal. E me aproximar dela era me aproximar da vida dele, fazer parte do que o cercava.
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— Como se você tivesse atravessado o guarda-roupa e se visse dentro de um mundo quase irreal de tão incrível? Ela olhou para mim, e senti como se seus olhos estivessem dançando de tanta alegria. — É exatamente isso. — Acho que entendo perfeitamente o que você tá sentindo. Nós nos entreolhamos e sorrimos. Eu tinha me preocupado à toa, no fim das contas. Conversar com a Raíssa era fácil, como se já fôssemos velhas amigas. A insegurança foi embora em poucos segundos, ficando apenas a sensação boa que aquela afinidade instantânea deixou em mim.
A Ayla tinha me abraçado. Bem, estava mais para um meio abraço, mas ainda assim… Ela tinha passado o braço ao redor do meu ombro, me puxado para andar com ela e me perguntado o que eu estava achando da feira. Ela estava interessada em me conhecer melhor. Eu sei que era só como amiga e que ela podia muito bem estar fazendo isso para ganhar pontos com o Leo, mas eu não estava me preocupando no momento. Pelo contrário: enquanto comíamos e conversávamos, meu estômago se revirava de alegria, o frio na barriga incapaz de abandonar meu corpo. Ainda podia sentir a mão dela tocando meu ombro e a
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eu conhecia a Ayla bem o suficiente para saber que era melhor não forçar nada. Daria mais certo tentar animá-la e aproveitar as próximas horas para estreitar nossos laços e deixá-la mais confortável com a minha presença — para só então, quem sabe, ela se abrir comigo, se estivesse pronta. Se isso já era uma premissa importante na nossa relação como Leo e Ayla, era primordial agora. Afinal, para ela, eu era uma completa desconhecida. — O que você já viu por aqui? Tem um mundo de possibilidades. — Estiquei o braço acima da mesa e, com a palma virada para o teto, fiz um gesto apontando para tudo
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A Ayla segurou minha mão enquanto tomava a dianteira, costurando entre as mesas para voltar ao centro do pavilhão. Meu coração quase saiu pela boca. Eu a segui, meio entorpecida, encarando nossas mãos unidas.
Tinha a impressão de que aquele final de semana ia ser o melhor e o pior da minha vida. Mas, por enquanto, preferi focar na parte boa.
— Mordi o lábio, tentando conter o sorriso, mas devo ter falhado porque a Ayla olhou para minha boca, depois para os meus olhos e arqueou a sobrancelha. — E aí, vai aguentar o tranco? Ela levou a mão à cintura. — Olha, não sei o que o Leo já te contou sobre mim, se é que já contou alguma coisa, mas… Eu sou bem durona. As freiras da minha escola devem ter uma foto minha na parede pra jogarem dardo.
A Ayla era uma garota incrível e inteligente e parecia gastar energia demais tentando ser alguém que não era.
Estava curiosa para ver ao vivo. Apertei os lábios, fazendo cara de descrença. — Ah, para. Duvido! Você tem cara de santinha e tímida! — Revirei os olhos. — Deve ser daquelas puxa-saco de professor. Ou das freiras, no caso. Ayla deu uma risada tão alta que ela até roncou. Sua mão foi à boca na mesma hora. — Des… — Não pede desculpa pela risada — interrompi antes que pudesse terminar a frase, apontando para ela em alerta. Me arrependi no mesmo instante, com medo de que tivesse falado mais do que devia, mas Ayla apenas ergueu as mãos à frente do corpo, com as palmas viradas para mim, como se
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O Leo tinha sido o meu maior apoio dos últimos meses. Se eu não tinha sucumbido à guerra fria que permeava cada canto da minha casa nem às constantes ameaças de ser expulsa do Santa Helena, foi tudo graças a ele. Ele foi meu motivo para seguir em frente desde que nos conhecemos.
Por sorte ela acabou mostrando um talento nato para me ajudar nisso. Na verdade, por mais que me doesse admitir, eu estava me sentindo mais à vontade com Raíssa nos poucos minutos que estávamos sozinhas do que tinha me sentido nas últimas horas com o Leo.
Ela era muito boa em me resgatar da espiral de autocomiseração em que me enfiava toda vez que ficávamos um instante sequer em silêncio.
— Se quiser amarelar pode dizer, não vou julgar, prometo — brincou, dando uns pulinhos animados. Ela parecia não conseguir ficar quieta, como se estivesse empolgada demais para se manter parada no mesmo lugar. Revirei os olhos de brincadeira e dei um passo à frente, estufando o peito e empinando o queixo
Mas eu não era boba de negar a experiência de um simulador, ainda mais depois da Raíssa me desafiar. Era quase como se ela soubesse o que dizer para me provocar. Como se a gente estivesse em sintonia. Pelo menos com um dos irmãos eu tinha isso. — É claro que não vou amarelar! Você tá me subestimando, garota? Ela deu um sorriso travesso, fazendo seus olhos reluzirem de alegria, e eu não pude evitar rir junto. Havia alguma coisa nela que era incrivelmente cativante. Como se fosse uma das fadas da noite de Feéricos, com seus olhares puros e envolventes. Estar com ela era fácil. — Vamos ver,
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Era um pouco assustador, mas fascinante ao mesmo tempo. Eu tinha visto seu vídeo vencedor do concurso de cosplay e precisava admitir que foi mais do que merecido. Ela era incrível. E atuava absurdamente bem. Mesmo interpretando o papel de Arlamian, um elfo de voz grossa e porte elegante de rei, ela conseguiu captar a verdadeira essência do personagem. Não era para qualquer um.
A gente já tinha ido a vários lugares, jogado diversos jogos e assistido a alguns vídeos rápidos, mas ela continuava voltando àquele assunto só para implicar comigo.
Raíssa voltou a rir, levando a mão livre à boca para abafar o som. Sua risada era muito parecida com a risada do Leo que eu ouvia nas chamadas de áudio. Aproveitei sua distração para tentar tirar o celular dela e apagar o vídeo, mas acabei quase derrubando nós duas no chão enquanto ela devolvia o aparelho ao bolso de trás da calça. — Nem pensar! Vou guardar isso para a eternidade — ela exclamou, sorridente. — Aff, você é muito malvada. — Cruzei os braços, tentando parecer irritada, mas Raíssa apertou minha cintura, me obrigando a desfazer o olhar fulminante que lançava a ela e começar a rir de
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Eu a encarei, observando-a com curiosidade. Havia alguma coisa em sua expressão que eu não conseguia decifrar. Era quase como se ela conseguisse enxergar em mim algo que ninguém mais conseguia. Por fim, ela desviou o olhar, as bochechas avermelhadas.
— E não é brigar, sabe — tentei amenizar o clima, baixando o tom de voz. — É dizer o que você quer. Priorizar você mesma às vezes. Conversar para chegar a um acordo.
Mas você não acha que seria menos doloroso pra ela se você contasse a verdade?
Bem, isso não era exatamente verdade. Eu tinha sentido essa sintonia. Mas não com o Leo, só com a irmã dele.
Eu tinha amado a companhia dela e queria encontrá-la de novo no dia seguinte.
Raíssa estava sendo incrível comigo, e eu tinha me sentido muito mais à vontade com ela do que com seu irmão.
Usar homem pra tapar buraco emocional nunca dá certo. Tudo que acontece é o que você tá vivendo: você cria expectativas demais, e a pessoa não consegue suprir essas expectativas, porque elas são completamente irreais para um ser humano normal. Então, assim, tenta relaxar. Se não for pra ser, não vai ser.
Até porque elas estavam certas.
— Obrigada, meninas — foi tudo o que eu disse. — Eu mantenho vocês informadas. — Por favor. — A gente tá aqui, viu? — Drica disse. — Qualquer coisa só chamar. — Obrigada. Amo vocês — acrescentei, quase que para mim mesma, antes de desligar. Eu não sabia como isso tinha acontecido, mas Vick e Drica pareciam já ter derrubado a barreira que coloquei entre nós para evitar que criássemos um laço mais forte.
Mas Vitória e Adriana me provaram que eu estava errada. Elas foram chegando, devagar, e agora estavam lá, cutucando as feridas que eu não queria reabrir.
Em compensação, logo Vick e Drica, as duas pessoas de quem menos esperava, estavam não apenas me ajudando a enxergar essa realidade, como também sendo exatamente o que eu precisava no momento: amigas de verdade.
Como tinha feito naquelas poucas horas com Raíssa. Abri um sorriso ao pensar nela. Deitei na cama e puxei a coberta, sentindo um frio na barriga enquanto me livrava do peso das expectativas que eu tinha criado.
Agora, a Ayla e eu estávamos conversando por mensagem, e isso fazia eu me sentir querida, me sentir desejada,
Ela abriu um sorriso enorme assim que nos viu, e senti alguma coisa diferente nela, como se estivesse mais leve.
Para a minha surpresa, Ayla me abraçou primeiro, um abraço forte e apertado, que deixou em mim a essência do perfume doce que usava.
Hoje ele estava vestindo um daqueles shorts masculinos na altura da coxa e uma blusa larguinha, e parecia mais confortável consigo mesmo do que eu jamais o tinha visto antes.
a Ayla estava ali, cheia de esperança, cheia de expectativas com relação a nós duas… quer dizer, a ela e o Leo… e o Leo simplesmente não era… eu.
Não que eu me achasse a última bolacha do pacote, mas, bem, era comigo que a Ayla esteve conversando nos últimos tempos. Eu sabia seus medos, seus sonhos, seus segredos. Era eu quem ela esperava encontrar ali.
E o jeito como Ayla tinha falado comigo agora… meu coração se apertou.
Seu olhar parecia transmitir um turbilhão de sentimentos, que eu queria desesperadamente decifrar. Era como se eu precisasse entender tudo sobre ela, absorver o que podia para quem sabe descobrir uma forma de resolver a confusão em que eu tinha me metido sem que ela me odiasse.