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Mas, ao ver toda aquela quantidade de comida fresca, comparada a seu orçamento de trinta dólares para compras de mês, ficou tão atordoada que nem pôde dizer qual era sua opinião.
O velho ficou obcecado com este lugar. Deixou isto tudo o abater, eu acho. Tinha dois filhos, e um morreu num acidente quando cavalgava na propriedade durante a construção do hotel. Acho que em 1908 ou 1909. A mulher morreu de gripe, e então restaram só o velho e o filho mais novo. Terminaram como zeladores do hotel que o próprio velho construiu.
tava pensando se o velho fez algum sacrifício usando a vida da própria família pra prosperar o hotel... mas nao deu muito resultado então
— Se gosta de beber, espero que tenha trazido suprimento próprio. Este lugar está zerado, não sobrou absolutamente nada. Festa dos empregados ontem à noite, sabe?
Surpreendeu-se desejando entrar no fusca e voltar para Boulder… Ou qualquer outro lugar.
— Última chance, rapaz. Quer ir para a Flórida?
— Você é iluminado, garoto. Mais do que qualquer outro que já conheci em minha vida. E veja que vou completar sessenta anos janeiro que vem.
— Sempre chamei isto de iluminação. Era como minha avó chamava. Ela também tinha.
Muitas pessoas têm um pouquinho dessa iluminação. Elas não sabem que têm, mas são aquelas que sempre aparecem com flores quando as esposas estão com TPM, fazem boas provas na escola sem terem sequer estudado, conseguem ter uma boa ideia de como os outros estão se sentindo logo ao entrar numa sala.
Mas talvez só uma dúzia deles, contando minha avó, sabiam que eram iluminados.
E o pensamento foi: (OI, DICK!!!)
— Tem alguma coisa errada? — gritou. — Está me perguntando tudo isso porque está preocupado, não é? Por que se preocupa comigo? Por que se preocupa conosco?
— Entendo, mas não entendo! As pessoas… sentem coisas, e eu sinto, mas não sei o que sinto!
— O que você tem, filho, eu chamo de iluminação, a Bíblia chama de visões, e alguns cientistas chamam de premonição.
— Mas o que você precisa lembrar, meu garoto, é o seguinte: Essas coisas nem sempre acontecem.
Tony lhe mostrara um bebê deitado num berço em sua casa em Stovington. Ficara feliz com aquilo e aguardara, sabendo que levaria tempo, mas não viera bebê algum.
Era o apartamento 217, e quero que me prometa que não vai entrar lá, Danny. O inverno inteiro. Fique bem longe.
Os iluminados às vezes podem ver coisas que vão acontecer, e acho que, às vezes, podem ver coisas que aconteceram.
Não sei por quê, mas parece que todas as coisas ruins que já aconteceram aqui ainda têm pedacinhos espalhados, como pedacinhos de unha cortada ou melecas que alguém muito porco limpou debaixo de uma cadeira.
— Portanto, se enxergar alguma coisa, num corredor, quarto ou lá fora perto dos arbustos… Vire para o outro lado e, quando olhar de novo, já terá desaparecido. Certo?
— Sua mãe é um pouquinho iluminada. Acho que todas as mães têm um pouco de luz, sabe?
Bisbilhotar o pai de Danny era… estranho, como se Jack Torrance tivesse alguma coisa — alguma coisa — que escondesse.
(Dick, para os amigos.) (Sim, Dick, tá bem.)
— Se houver problemas… dê um sinal. Um chamado forte como o que você deu minutos atrás. Pode ser que eu o escute até mesmo lá da Flórida. E, se isso acontecer, virei correndo.
Mas, e se Hallorann estivesse errado?
Com os dois, às vezes, sentia-se como uma intrusa, um pouco como uma atriz de papel pequeno que de repente interrompe, no palco, a cena mais importante de uma peça.
De repente caiu em si e notou que estava com ciúme da proximidade entre o marido e o filho.
Isso se parecia muito com o que sua mãe deve ter sentido… parecido demais para servir de consolo.
Para os hóspedes, doce como açúcar, e um tirano com a equipe nos bastidores.
Danny fitava, com olhos fixos, não a paisagem, mas o papel de parede de seda, com listras vermelhas e brancas, onde uma porta à esquerda dava para um quarto.
Placas grandes de sangue seco, salpicadas de pedacinhos de um acinzentado tecido humano, estavam grudadas no papel de parede.
(O sr. Hallorann havia visto o sangue, ou coisa pior?)
Papai e mamãe se amavam, e aquilo era uma coisa real. O resto era como desenhos de um livro. Alguns eram assustadores, mas eles não podiam machucar.
O pai dizia que era uma questão de JEITO. Algumas pessoas tinham JEITO, outras não.
No entanto, ele se sentia incomodado em ver a mangueira enrolada junto ao papel de parede azul-claro, parecendo uma cobra adormecida.
Não havia ninguém para ver as folhas de outono correndo furtivas, só os três.
As três semanas que já haviam passado ali tinham sido de dias dourados.
No telhado, ele sentia que estava se curando das feridas sofridas nos últimos três anos.
Nesse período, a ânsia de beber era tanta que só com muito esforço conseguia se concentrar nas atividades da sala de aula, quem dirá suas ambições literárias extracurriculares.
Pensou que pudesse terminar o rascunho em duas semanas e ter o original definitivo da maldita peça até o Ano-Novo.
Chamada A pequena escola, a obra narrava o conflito básico entre Denker, um estudante privilegiado que fracassara ao se tornar o diretor estúpido de uma escola preparatória,
e Gary Benson, o aluno que Jack via como uma versão de si mesmo.
A pequena escola estava indefinidamente — e talvez definitivamente — parada entre a mão e a página, “naquele imenso Deserto de Góbi intelectual, conhecido como bloqueio criativo do autor”.
Sentia-se como se a peça em si, a obra como um todo, fosse uma síntese, um símbolo colossal dos anos tristes na escola preparatória de Stovington, do casamento que quase destruíra.
parte do seu problema com a bebida resultara de um desejo inconsciente de se ver livre de Stovington e da segurança que a escola representava,
Havia parado de beber, mas a necessidade de se libertar era igualmente grande. Então aconteceu George Hatfield.
Lera em algum lugar — num suplemento de domingo ou em algum artigo de revista — que sete por cento de todas as fatalidades automobilísticas são inexplicáveis.
O artigo incluía uma entrevista com um policial; ele teorizava que muitos desses tais “acidentes inexplicáveis” resultavam de insetos no carro.