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Tudo tem seu tempo certo. Dito popular
Por acaso aquele babaquinha achava que Jack deixaria o filho brincar em um sótão cheio de ratoeiras, móveis velhos e sabia lá Deus mais o quê?
— Sim. Tudo o que ele tocava parecia se transformar em ouro… exceto o Overlook.
A solidão em si pode ser prejudicial. É melhor para um homem estar junto de sua família.
A sensação de claustrofobia é exteriorizada na forma de aversão pelas pessoas que estão confinadas em sua companhia.
Quando a neve chega, não tem nada para fazer, a não ser assistir à televisão ou jogar paciência e trapacear quando não consegue liberar todos os ases. Não tem nada para fazer, a não ser encher o saco da mulher e resmungar para as crianças e beber.
O sorriso de relações-públicas se iluminou novamente, mas Jack ficou feliz por Ullman não ter estendido a mão. Havia ressentimentos. De todos os tipos.
As crianças eram manipuladas como marionetes, com noções muito vagas dos porquês.
— Seu pai… às vezes faz coisas de que se arrepende. Às vezes não pensa como deveria. Isso não acontece sempre, mas às vezes sim.
— Você quer morar naquele hotel no inverno?
O pensamento oscilava entre o rosa mais claro e o preto mais escuro.
— Eu acho que quero — disse Danny por fim. — Não tem ninguém pra brincar comigo aqui.
Era um menininho tão sério, e às vezes ela imaginava como é que Danny conseguia sobreviver tendo ela e Jack como pais.
Danny gritou um pouco… não… não… diga a verdade… ele berrou.
O som foi apenas suficiente para abrir uma fenda na névoa vermelha como uma flecha… Mas, em vez de deixar entrar a luz do sol, aquela fenda deixou entrar uma nuvem escura de vergonha e remorso, o terror, as agonizantes convulsões da alma.
Um momento de silêncio absoluto do outro lado, em respeito ao futuro que iniciava, talvez todo o resto da sua vida.
A própria voz de Jack, fraca e bêbada, arrastada, tentava voltar atrás e encontrar um caminho para contornar aquele som não tão alto do osso se partindo, um caminho para o passado (existe um statu quo nesta casa?), dizendo: “Você está bem, Danny?”.
nenhum braço deveria estar pendurado daquela forma em um mundo de famílias normais.
Ele estava ali parado, seus olhos se encontraram com os da mulher e ele viu que Wendy o odiava.
Era a lembrança que fazia aquilo, era a soma de todos os fatores que faziam aquela noite de dois anos atrás parecer como se tivesse acontecido duas horas antes.
Teria ele, em algum momento, uma hora — não uma semana ou mesmo um dia, entenda, mas apenas uma hora — de consciência em que o desejo de beber não o surpreendesse daquela forma?
Isso foi quando eles estavam começando aqui e aquela porra gorda do Ullman contrataria até o Estrangulador de Boston se ele aceitasse o salário mínimo.
— Todo grande hotel tem seus escândalos. Assim como todo grande hotel tem um fantasma.
Pelas minhas contas, mais ou menos umas quarenta e cinco pessoas morreram neste hotel desde que foi inaugurado pelo meu avô em 1910.
Jack Torrance olhou por cima dos ombros aquela escuridão impenetrável e com cheiro de mofo, e imaginou que aquele seria o lugar ideal para fantasmas.
Pobre Grady, cada dia mais sufocado e consciente de que a primavera nunca chegaria para ele. Ele não deveria estar ali. E não deveria ter perdido o controle.
Parecia melhor esperar sozinho por qualquer coisa que pudesse acontecer.
Entendia uma porção de coisas sobre seus pais e sabia que muitas vezes eles não gostavam que ele compreendesse ou se recusavam a acreditar nisso.
Danny sabia muito bem o que era a Coisa Feia, desde que Scotty Aaronson, seis meses mais velho do que ele, havia lhe explicado. Scotty já sabia, pois seu pai também já havia feito a Coisa Feia.
O maior terror na vida de Danny era o DIVÓRCIO, uma palavra que surgia sempre em sua mente como um cartaz escrito em letras vermelhas e coberto de sibilantes cobras venenosas.
A coisa mais terrível sobre o DIVÓRCIO era que Danny compreendia que a palavra (ou o conceito, ou seja lá qual fosse seu entendimento) pairava na cabeça dos próprios pais algumas vezes como uma ideia difusa e distante, outras vezes tão intensa, sombria e aterrorizante quanto um trovão.
Mamãe havia pensado nisso com mais frequência, e Danny sentia um medo constante de que ela arrancasse a palavra do cérebro e a concretizasse pela boca. DIVÓRCIO.
O eixo dos pensamentos de mamãe sobre DIVÓRCIO estava centrado no que papai fizera com seu braço e no que acontecera em Stovington quando papai perdeu o emprego.
Papai parecia pensar que tudo melhoraria se ele fosse embora. A dor acabaria. As dores que papai sentia quase o tempo todo eram por causa da Coisa Feia.
Às vezes o ato de pensar intensamente fazia algo acontecer com ele. Fazia as coisas (coisas reais) desaparecerem, e em seguida o menino via coisas que não estavam ali.
por um breve momento sua própria consciência mergulhou nas trevas do pai até chegar a uma palavra incompreensível, muito mais apavorante do que DIVÓRCIO. E essa palavra era SUICÍDIO.
Estava feliz por ter seus papéis e sua “PEÇA”, mas nada disso teria importância se Danny caísse na escada e quebrasse… uma perna.
Mas Danny sabia que se preocupavam com Tony, sobretudo mamãe, e por isso ele tomava cuidado para não pensar daquele jeito que fazia Tony aparecer em uma hora em que ela pudesse ver.
— Profundo demais — disse Tony da escuridão, e havia uma tristeza em sua voz que amedrontava Danny. — Profundo demais para poder sair.
Do outro lado da sala havia um espelho, e nas profundezas daquela bolha prateada uma única palavra aparecia em uma chama verde, e essa palavra era: REDRUM.
Uma voz rouca, a voz de um louco, era ainda mais terrível por ser familiar:
O monstro estava em cima dele, o descobrira agachado diante de uma parede nua. E o alçapão no teto estava trancado.
Podia ver aquela mão flácida balançando no canto da banheira, com o sangue pingando do dedo médio, e aquela palavra inexplicável muito mais terrível do que todas as outras: REDRUM.
Ao lado do pai, no banco do carona, estava um curto taco de croquet com a cabeça coberta de sangue e de cabelo.
Tudo estava bem. Papai estava em casa. Mamãe o amava. Não havia nada ruim. Nem tudo o que Tony lhe mostrava acontecia.
Mas o medo tinha se instalado em volta do coração do menino, profundo e terrível, em volta do coração e daquela palavra indecifrável que vira no espelho de sua alma.
Nos últimos tempos, quase sempre escutava o que seu orgulho lhe ditava, pois, além da esposa e do filho, seiscentos dólares em uma conta bancária e um cansado Volkswagen 1968, o orgulho era tudo o que lhe restava. A única coisa que era realmente dele.
Viu-se parado à porta de um bar, e a única coisa que o impediu de entrar foi a consciência de que, se fizesse isso, Wendy o abandonaria, levando Danny. Ele estaria morto no dia em que eles partissem.