Kindle Notes & Highlights
O destino do Espírito é a vida espiritual, porém, nas primeiras fases da sua existência corpórea, só lhe cumpre satisfazer às exigências materiais e, para tal fim, o exercício das paixões constitui uma necessidade para a conservação da espécie e dos indivíduos, materialmente falando.
Todas as paixões têm, portanto, a sua utilidade providencial, pois, se assim não fosse, Deus teria feito coisas inúteis e até nocivas. É o abuso que constitui o mal, e o homem abusa em virtude do seu livre-arbítrio. Mais tarde, esclarecido pelo seu próprio interesse, livremente escolhe entre o bem e o mal.
O instinto é a força oculta que impele os seres orgânicos a atos espontâneos e involuntários, tendo em vista a sua conservação.
A inteligência se revela por atos voluntários, refletidos, premeditados, combinados, de acordo com a oportunidade das circunstâncias.
Todo ato maquinal é instintivo. O ato que denota reflexão, combinação, deliberação é inteligente. Um é livre, o outro não o é. O instinto é um guia seguro, que nunca se engana; a inteligência, pelo simples fato de ser livre, está por vezes sujeita a errar. Se o ato instintivo não tem o caráter do ato inteligente, revela, todavia, uma causa inteligente, essencialmente apta a prever. Se se admitir que o instinto procede da matéria, será forçoso admitir que a matéria é inteligente, até mesmo bem mais inteligente e previdente do que a alma, pois que o instinto não se engana, ao passo que a
...more
Sabe-se, além disso, que o instinto, que por si mesmo produz atos inconscientes, predomina nas crianças e, em geral, nos seres cuja razão é fraca. Ora, segundo esta hipótese, o instinto não seria atributo nem da alma nem da matéria; não pertenceria propriamente ao ser vivo, mas seria efeito da ação direta dos protetores invisíveis que supririam a imperfeição da inteligência, provocando atos inconscientes necessários à conservação do ser.
Diz-se providencialmente que há um deus para as crianças, para os loucos e para os ébrios. Esse ditado é mais verdadeiro do que se crê. Aquele deus não é senão o Espírito protetor, que vela pelo ser incapaz de se proteger, utilizando-se da sua própria razão.
Por intermédio da mãe, o próprio Deus vela pelas suas criaturas que nascem.
A missão dos Espíritos protetores é um dever que aceitam voluntariamente e lhes é um meio de se adiantarem, dependendo o adiantamento da forma pela qual o desempenhem.
O instinto se aniquila por si mesmo; as paixões só se domam pelo esforço da vontade.
É necessária a luta para o desenvolvimento do Espírito. Na luta é que ele exercita as suas faculdades.
Entretanto, a luta é sempre necessária ao desenvolvimento do Espírito, pois mesmo chegando a esse ponto que nos parece culminante, ele ainda está longe de ser perfeito. Só à custa de sua atividade que o Espírito adquire conhecimentos, experiência e se despoja dos últimos vestígios da animalidade. Mas, nessa ocasião, a luta, de sangrenta e brutal que era, se torna puramente intelectual. O homem luta contra as dificuldades, e não mais com os seus semelhantes.
a Ciência é chamada a constituir a verdadeira Gênese, segundo as leis da natureza.
os olhos se fecharam, mas fechar os olhos ao perigo não é evitá-lo.
não é possível que Deus, sendo todo verdade, induza os homens em erro, nem consciente, nem inconscientemente, sem o que não seria Deus.
Há coisas com cujo sacrifício temos de resignar-nos, queiramos ou não, quando não consigamos evitá-lo.
Uma religião que não estivesse, sobre nenhum ponto, em contradição com as leis da natureza nada teria que temer do progresso e seria invulnerável.
O que lhe importa saber, antes de tudo, é de onde veio e para onde vai, se já viveu, se ainda viverá e qual a sorte que lhe está reservada. Sobre todas essas questões, a Ciência se conserva muda. A Filosofia apenas emite opiniões que concluem em sentido diametralmente oposto, mas que, pelo menos, permitem a sua discussão, o que faz com que muitas pessoas se coloquem do seu lado, de preferência a seguirem a religião, que nada discute.
Todas as religiões estão de acordo quanto ao princípio da existência da alma, sem, contudo, o demonstrarem. Entretanto, não concordam quanto à sua origem, nem com relação ao seu passado e ao seu futuro, nem, principalmente, e isso é o essencial, quanto às condições de que depende a sua sorte vindoura. Em sua maioria, elas apresentam como o futuro da alma, e impõem à crença de seus adeptos, um quadro que somente a fé cega pode aceitar, mas que é incapaz de suportar um exame sério. Como o destino que elas fazem da alma está ligado aos seus dogmas, às ideias que se faziam nos tempos primitivos
...more
No Espiritismo, é inteiramente experimental. Com o auxílio da faculdade mediúnica, hoje mais desenvolvida e, sobretudo, generalizada e mais bem estudada, o homem se achou de posse de um novo instrumento de observação. A mediunidade foi, para o mundo espiritual, o que o telescópio representou para o mundo astral e o microscópio para o dos infinitamente pequenos. Permitiu que se explorassem, estudassem, por assim dizer, de visu,34 as relações daquele mundo com o mundo corpóreo; que, no homem vivo, se destacasse do ser material o ser inteligente e que se observassem os dois a atuar separadamente.
...more
Por se acharem em incessante contato, os mundos espiritual e material são solidários entre si, e ambos têm a sua parcela de ação na Gênese. Sem o conhecimento das leis que regem o primeiro, seria tão impossível constituir-se uma Gênese completa, quanto a um escultor dar vida a uma estátua.
Quão grande é o universo em face das mesquinhas proporções que nossos pais lhe assinavam! Quanto é sublime a obra de Deus, quando a vemos realizar-se segundo as eternas leis da natureza! Mas também, quanto tempo, que esforços do gênio e quantos devotamentos se fizeram necessários para descerrar os olhos das criaturas e arrancar-lhes, afinal, a venda da ignorância!
o tempo é uma gota de água que cai da nuvem no mar e sua queda é medida.
O tempo é apenas uma medida relativa da sucessão das coisas transitórias. A eternidade não é suscetível de medida alguma, do ponto de vista da duração; para ela não há começo nem fim: tudo lhe é presente. Se séculos e séculos são menos que um segundo, relativamente à eternidade, que vem a ser a duração da vida humana?
o fogo, longe de ser também um elemento principal, é apenas um estado da matéria, resultante do movimento universal a que se acha submetida, e de uma combustão sensível ou latente.
quer a substância que se considere pertença aos fluidos propriamente ditos, isto é, aos corpos imponderáveis, quer revista os caracteres e as propriedades ordinárias da matéria, não há, em todo o universo, senão uma única substância primitiva: o cosmo, ou matéria cósmica dos astrônomos.
Há um fluido etéreo que enche o espaço e penetra os corpos. Esse fluido é o éter, ou matéria cósmica primitiva, geradora do mundo e dos seres. São inerentes ao éter as forças que presidiram às metamorfoses da matéria, as leis imutáveis e necessárias que regem o mundo.
Se bem compreendemos a relação, ou antes, a oposição entre a eternidade e o tempo, se nos familiarizamos com a ideia de que o tempo não passa de uma medida relativa da sucessão das coisas transitórias, enquanto a eternidade é essencialmente una, imóvel e permanente, e não suscetível de qualquer medida, do ponto de vista da duração, compreenderemos que para ela não há começo nem fim.
se fazemos uma ideia justa, embora necessariamente muito fraca, da infinidade do poder divino, compreenderemos como é possível que o universo haja existido sempre e sempre exista. Desde que Deus existiu, suas perfeições eternas falaram. Antes que houvessem nascido os tempos, a eternidade incomensurável recebeu a palavra divina e fecundou o espaço, igualmente eterno.
Deus é o sol dos seres, é a luz do mundo.
Saibamos que atrás de nós, como à nossa frente, está a eternidade, que o espaço é teatro de inimaginável sucessão e simultaneidade de criações. Tais nebulosas, que mal percebemos nos mais longínquos pontos do céu, são aglomerações de sóis em vias de formação; outras são vias lácteas de mundos habitados; outras, ainda, são sedes de catástrofes e de perecimento. Saibamos que, assim como estamos colocados no meio de uma infinidade de mundos, também estamos no meio de uma dupla infinidade de durações, anteriores e ulteriores; que a criação universal não se acha restrita a nós, e que, portanto, não
...more
A matéria etérea mais ou menos rarefeita que se difunde pelos espaços interplanetários; esse fluido cósmico que enche o mundo, mais ou menos rarefeito, nas regiões imensas, ricas de aglomerações de estrelas; mais ou menos condensado onde o céu astral ainda não brilha; mais ou menos modificado por diversas combinações, de acordo com as localidades da amplidão, nada mais é do que a substância primitiva onde residem as forças universais, a partir da qual a natureza tirou todas as coisas.
Esse fluido penetra os corpos como um imenso oceano. É nele que reside o princípio vital que dá origem à vida dos seres e a perpetua em cada globo, conforme a sua condição, princípio que, em estado latente, se conserva adormecido onde a voz de um ser não o chama. Toda criatura, mineral, vegetal, animal ou qualquer outra — visto que há muitos outros reinos naturais, de cuja existência nem sequer suspeitais45 — sabe, em virtude desse princípio vital e universal, apropriar as condições de sua existência e de sua duração.
É muito importante nos convencermos da noção de que a matéria cósmica primitiva se achava revestida não só das leis que asseguram a estabilidade dos mundos, como também do princípio vital e universal que forma gerações espontâneas em cada mundo, à medida que se apresentam as condições da existência sucessiva dos seres e quando soa a hora do aparecimento dos filhos da vida, durante o período criador.
Nada de imobilidade, nada de silêncio, nada de noite! O grande espetáculo que então se desdobraria ante os nossos olhos seria a criação real, imensa e cheia da vida etérea, que abrange no seu imenso conjunto o olhar infinito do Criador.
o deserto celeste, que envolve o nosso universo sideral e que parece estender-se como os afastados confins do nosso mundo astral, é abarcado pela visão e pelo poder infinito do Altíssimo que, além desses céus dos nossos céus, desenvolveu a trama da sua criação ilimitada.
Além dessas vastas solidões, com efeito, irradiam mundos magnificentes, tanto quanto nas regiões acessíveis às investigações humanas; para lá desses desertos, vagam esplêndidos oásis no éter límpido, renovando incessantemente as cenas admiráveis da existência e da vida. Sucedem-se lá os agregados longínquos de substância cósmica, que o profundo olhar do telescópio entrevê através de regiões transparentes do nosso céu e a que dais o nome de “nebulosas irresolúveis”, as quais vos parecem ligeiras nuvens de poeira branca, perdidas num ponto desconhecido do espaço etéreo. Lá se revelam e se
...more
Já sabemos que essas leis presidem à história do Cosmo; o que agora importa saber é que elas presidem igualmente à destruição dos astros, visto que a morte não é apenas uma metamorfose do ser vivo, mas também uma transformação da matéria inanimada. Se é exato dizer-se, em sentido literal, que a vida só é acessível à foice da morte, não é menos exato dizer-se que para a substância é de toda necessidade sofrer as transformações inerentes à sua constituição.
Desse modo, a eternidade real e efetiva do universo se acha garantida pelas mesmas leis que dirigem as operações do tempo; dessa maneira, mundos sucedem a mundos, sóis a sóis, sem que o imenso mecanismo dos vastos céus jamais seja atingido nas suas gigantescas molas. Onde os vossos olhos admiram esplêndidas estrelas sob a abóbada da noite, em que o vosso espírito contempla irradiações magníficas que resplandecem nos espaços distantes, há muito tempo o dedo da morte extinguiu esses esplendores, há muito o vazio sucedeu a esses deslumbramentos e já recebem mesmo novas criações ainda
...more
a Terra e o homem nada são em confronto com o que existe e que as mais colossais operações do nosso pensamento ainda se estendem apenas sobre um campo imperceptível, diante da imensidade e da eternidade de um universo que nunca terá fim. E, quando esses períodos da nossa imortalidade houverem passado sobre as nossas cabeças; quando a história atual da Terra nos aparecer qual sombra vaporosa no fundo da nossa lembrança; quando, durante séculos incontáveis, houvermos habitado esses diversos degraus da nossa hierarquia cosmológica; quando os mais longínquos domínios das idades futuras tiverem
...more
Que as obras de Deus sejam criadas para o pensamento e a inteligência; que os mundos sejam moradas de seres que as contemplam e lhes descobrem, sob o véu, o poder e a sabedoria daquele que as formou, são questões que já não nos oferecem dúvida. O que importa saber, contudo, é que as almas que os povoam sejam solidárias.
É belo, sem dúvida, haver reconhecido quão ínfima é a Terra e medíocre a sua importância na hierarquia dos mundos; é belo haver abatido a presunção humana, que nos é tão cara, e nos termos humilhado ante a grandeza absoluta; entretanto, ainda será mais belo que interpretemos em sentido moral o espetáculo de que fomos testemunhas. Quero falar do poder infinito da natureza e da ideia que devemos fazer do seu modo de ação nos diversos domínios do vasto universo.
Que os vossos estudos possam ser aplicados aos seres que adejam nos ares; que desçam até a violeta dos prados, mergulhem nas profundezas do oceano e em tudo e por toda parte lereis esta verdade universal: a natureza onipotente age conforme os lugares, os tempos e as circunstâncias; ela é una em sua harmonia geral, porém múltipla em suas produções; brinca com um Sol, como com uma gota de água; povoa de seres vivos um mundo imenso com a mesma facilidade com que faz eclodir o ovo posto pela borboleta.
É notável que em toda parte a vida se manifesta tão logo lhe sejam propícias as condições, nascendo cada espécie desde que produzam as condições próprias à sua existência.
As camadas dos períodos primário, de transição e secundário, formadas sobre uma superfície pouco acidentada, são mais ou menos uniformes na Terra toda; as do período terciário, ao contrário, formadas sob base muito desigual e pela ação transportadora das águas, apresentam caráter mais local.
Este período é marcado por um dos maiores cataclismos que convulsionaram o globo, mudando por mais de uma vez o aspecto de sua superfície e destruindo uma imensidade de espécies vivas, das quais apenas restam despojos. Por toda parte deixou traços que atestam a sua generalidade.
Um dos vestígios mais significativos desse grande desastre são os rochedos chamados blocos erráticos. Dá-se essa denominação a rochedos de granito que se encontram isolados nas planícies, repousando sobre terrenos terciários e no meio de terrenos diluvianos, algumas vezes a muitas centenas de léguas das montanhas de que foram arrancados.
Foi também por essa época que os polos começaram a cobrir-se de gelo e que se formaram as geleiras das montanhas, o que indica notável mudança na temperatura do globo.
O deslocamento repentino das águas também pode ter sido ocasionado pelo levantamento de certas partes da crosta sólida e pela formação de novas montanhas dentro dos mares, conforme se verificou no começo do período terciário.
Na tormenta provocada pelo deslocamento das águas muitos animais pereceram; outros, para escaparem à inundação, se retiraram para os lugares altos, para as cavernas e fendas, onde sucumbiram em massa, ou de fome, ou entredevorando-se, ou ainda, quem sabe, pela irrupção da água nos lugares onde se tinham refugiado e de onde não puderam fugir.