Ulysses
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Read between September 7 - December 7, 2018
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Os homens matavam-se uns aos outros e mutilavam seus corpos em nome de virtudes abstratas, então Joyce decidiu escrever um “épico do corpo”, materialista, com um relato minucioso das suas funções e frustrações.
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Você não acha a busca por heroísmo uma baita vulgaridade? […] Tenho certeza, no entanto, de que toda a estrutura do heroísmo é, e sempre foi, uma baita mentira e de que não há substituto para a paixão individual como força motriz de tudo.
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O Ulysses é o resultado dessa carta e de seus sentimentos. É um protesto contra os sórdidos códigos do militarismo cavalheiresco e contra o triste machismo da conquista sexual.
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“Como é que as pessoas podem mirar uma arma na cara da outra? As armas às vezes disparam. Coitadinhos”.
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Cúchulainn,
Alisson Santana
Revival celta
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Cúchulainn, o guerreiro épico que defendera até a morte o norte da Irlanda contra tudo e todos.
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Um tema central dessas fábulas era a habilidade de Cúchulainn em combates gloriosos e sua capacidade de fazer com que a violência parecesse redentora.
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Joyce acreditava que o maior dever de um escritor era insultar, mais do que bajular, a vaidade nacional.
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terminara Um retrato do artista quando jovem com a promessa de forjar “a consciência incriada de minha raça”. Essas palavras solenes sugerem que Joyce via a si mesmo como um patriota nacional, e não um nacionalista, com algo mais interessante do que os códigos cúchulainnoides de Pearse e Yeats para ensinar a seus concidadãos.
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Joyce criticava o mito do irlandês guerreiro e, sobretudo por meio de seu protagonista Bloom, pintava seus conterrâneos como um povo quieto, sofredor, mas astuto, muito similar em mentalidade aos judeus.
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Desde sua juventude, ele se sentiu mais atraído pela humanidade calorosa de Ulisses. O herói épico não queria ir a Troia, recordava Joyce, porque considerava que a guerra não passava de um pretexto empregado pelos mercadores gregos em sua busca por novos mercados. A analogia com a Europa contemporânea mergulhada na carnificina para garantir lucros aos barões da indústria do aço não se perderia naquele que se autointitulava um “artista socialista”.
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Radek estaria talvez num terreno mais firme se censurasse o livro com base no fato de que poucos personagens cumprem uma jornada de trabalho.
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A necessidade humana de criar mitos é profundamente enraizada, uma vez que os mitos são projeções simbólicas dos valores culturais e morais de uma determinada sociedade, figurações de seu estado psíquico.
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O resultado foi seu famoso diagrama, publicado por Stuart Gilbert com a colaboração do autor em James Joyce’s Ulysses (1930). Ele mapeia os dezoito episódios, delineando para cada um deles sua determinada arte, cor, símbolo, técnica e órgão do corpo. No início de cada capítulo há um título retirado de um episódio ou personagem da Odisseia (ver “Esquema do Ulysses” na página 92).
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Talvez não tenha sido uma boa ideia. Durante muito tempo, a crítica do Ulysses tornou-se pouco mais que um jogo literário de detetive.
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Depois disso, o momento hilário no pub de Barney Kiernan, quando Bloom brande seu charuto sobre o cidadão chauvinista, ficava incompleto sem o conhecimento adicional de que se trata de uma paródia da cena homérica em que Ulisses usa um galho de oliveira incandescente para cegar o Ciclope.
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Joyce gosta de apontar que Helena, cuja beleza fora a causa da guerra de Troia, já devia estar sem viço e enrugada quando a guerra terminou. Seu impulso era sempre o de rebaixar as afirmações mais grandiosas até a dimensão humana, domesticar o épico.
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Odisseia é, no entanto, uma celebração do militarismo, que Joyce considerava suspeito, quer o encontrasse numa lenda antiga ou nos espólios do exército britânico.
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O charuto brandido por Bloom acaba sendo mais digno que ridículo, uma crítica às forças que podem levar até mesmo um pacifista como Ulisses a ferir. Para Joyce, a violência é apenas outra forma de pretensão odiosa, porque nada justifica um combate sangrento, nem terras, nem mares, nem mulheres.
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— Uma mulher trouxe o pecado ao mundo. Por uma mulher que não valia um merréis de mel coado, Helena, a esposa fujona de Menelau, por dez anos os gregos guerrearam contra Troia. Uma mulher infiel trouxe os primeiros estrangeiros aqui às nossas praias, a esposa de MacMurrough e seu amásio O’Rourke, príncipe de Breffni. Uma mulher também derrubou Parnell […].
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Para Eliot, o método do Ulysses tinha “a importância de uma descoberta científica”, e assim ele teve a ousadia de declarar que “em vez de um método narrativo, agora nós podemos usar um método mítico”.
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Joyce sugere que o heroísmo real, tal como a verdadeira santidade, nunca é consciente de si mesmo.
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Ao incorporar à sua estrutura autocrítica um sentido de sua possível obsolescência num mundo pós-letrado, o Ulysses é ao mesmo tempo a consumação e a badalada fúnebre da era da imprensa.
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Joyce foi um dos primeiros artistas modernos a perceber que estilo era menos a marca da personalidade de um escritor do que um reflexo da prática linguística aprovada em um determinado período histórico. O que parecia um estilo pessoal num escritor era em geral nada mais que a descoberta de uma nova convenção, tal como quando Hemingway descobriu que era mais eficaz descrever ações numa linguagem de telegrama do que em lentos circunlóquios vitorianos.
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O fundamento básico do Ulysses está posto quando a verdade da maternidade se apresenta para desacreditar o mito da paternidade. Os pais inadequados do mundo de Joyce são expoentes de uma bravata embriagada e de uma falsa masculinidade que Stephen evita em favor de uma estratégia mais feminina de silêncio e ardil.
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O que se testemunha aqui é a instituição conhecida na Irlanda como “casamento silencioso”, quando duas pessoas conseguem partilhar uma casa, mas não uma vida.
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“tolerância mútua”,
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Bloom demonstra uma capacidade rara e admirável de ver o mundo com olhos e mente alheios e de imaginar, por exemplo, como o vinho ou os cigarros teriam um sabor mais acentuado para um cego. É isso, bem como qualquer coisa, que Lenehan saúda como o toque de artista em Bloom.
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Ele parece ter um desejo subconsciente de ser dominado.
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O comportamento de sua esposa no café da manhã é um tanto quanto imperioso; e ele é descrito pelos homens em luto do Cemitério Glasneviv como um ninguém que se casou com a Madame Marion Tweedy, a bela soprano. Em sua imaginação ele tem fantasias com senhoras aristocráticas e mulheres cavalares que se pavoneiam, bebem e montam “que nem homem”.
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pois mais tarde veremos que Bloom gosta de acariciar as nádegas de Molly e fingir que são melões — um prazer que depois pensará em ofertar a Stephen.
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Ellemire Zolla,
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“Circe”
Alisson Santana
Androginia de Bloom
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Para Bloom, a androginia não é uma opção (que poderia curar o sentimento de que cada sexo é uma aberração aos olhos do outro), mas um donné.
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Assim sucede que a cena da maior abjeção de Bloom em “Circe” — na qual ele voyeuristicamente se imagina guiando Boylan até o leito de sua própria esposa
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dissolve-se num momento de estranha redenção, quando Stephen começa a entrever o fim de sua busca.
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“Christus ou Bloom é seu nome ou no final das contas qualquer outro […]” — uma expressão semelhante à fala de Molly ao aceitá-lo (“tanto faz ele quanto outro”)
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Porém Bloom dá testemunho ao fato de que a androginia (que é intrafísica) não é bissexualidade (que é interpessoal).
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“Todas as mulheres acabam sendo como as suas mães. Eis sua tragédia. Não é o caso de nenhum homem. Eis sua tragédia”.
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O aparente sexismo da primeira metade do gracejo é brilhantemente anulado pela aguda inteligência feminista da conclusão.
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Tal como na arte e na vida de Joyce, também na de Shaw a revolta do filho nunca é a rebelião-clichê contra um pai tirânico, mas uma revolta mais complexa contra a recusa ou incapacidade de um pai inútil para oferecer qualquer orientação.
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Wilde, que ensinou que todos devem formar uma concepção estilizada de si próprios, ou seja, “conceber a si próprio” no sentido literal da expressão.
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O prodígio, demandava não tanto o assassinato do pai, mas sua conversão numa versão revisada do filho (Stephen, no Ulysses, como era de esperar insiste que seu pai tem “minha voz”).
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Joyce também buscou reproduzir um Shakespeare celta, e no Ulysses fez Stephen reinterpretar todas as obras como uma narrativa em desenvolvimento sobre o exílio e a perda.
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Friedrich Engels havia lastimado que o objeto da política britânica fosse fazer com que os irlandeses se sentissem estrangeiros em sua própria pátria, mas ele subestimara sua capacidade de colonizar a cultura que os colonizava.
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Em segundo lugar, o sonho nacionalista de um retorno absoluto à fonte mítica gaélica era — como já demonstramos — praticamente impossível. O nacionalismo que Joyce ataca em todo o Ulysses é em grande parte uma cópia de seu pai inglês, ainda que uma cópia cunhada em ocasionais frases gaélicas.
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“cristalizar o nacionalismo numa tradição; é verdade que gloriosa e heroica, mas ainda assim apenas uma tradição”. Essa precaução era compreensível, já que o passado heroico adorado pelos nacionalistas era só uma concessão do poder imperial britânico.
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O escritor romântico diz: há uma Irlanda essencial que se deve servir, e uma mente irlandesa definitiva que se deve descrever. O modernista retorque: não há uma Irlanda apenas, mas um campo de forças sujeito a renegociações constantes; nem há uma mente irlandesa, mas mentes irlandesas formadas por uma situação difícil que gera certas características comuns naqueles que são pegos dentro dela. Aquele diz: “esta é Rosie O’Grady — ame-a”; mas este repete o conselho de Stephen Dedalus em Um retrato: “Quero ver Rosie
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Chrysostomos.
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Ele quer a chave. É minha. Eu paguei o aluguel. Agora como seu pão e sal. Dar a chave também. Tudo. Ele vai pedir. Estava nos olhos dele.
Alisson Santana
Stephen projeta pensamento empatico de Mulligan, que pagou o aluguel e deveria se sentir no direito de ficar em posse da chave.
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