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— Mariana é vegetariana, aliás. — Daniel apontou, como se aquilo fosse um grande fato a ser sinalizado. Pelo sorriso que cresceu no rosto de Bruno, provavelmente era, porque ele empurrou levemente o ombro de Ivan. — Eu falei que eu não seria o único. — Duas pessoas. Em uma festa com duzentas. — E eu sou o aniversariante, se eu quiser obrigar todos a comerem comida de fast food ruim e de preço mediano, eu vou.
Eles eram adoráveis.
— Sabe, quando saíram as notícias de que você estava namorando, achei que era mais uma dessas jogadas da mídia ou, sei lá, mais uma das suas ficantes casuais. — O mais velho ergueu uma sobrancelha, analisando-o. — Mas você está namorando. Daniel suspirou. Ele sabia que não adiantaria mentir para Campos. — É falso. — Obrigado, isso faz muito mais sentido.
E eu achando que esconder um relacionamento por quase quatro anos fosse a coisa mais estranha que alguém poderia fazer.
— Você não parece feliz com isso — Bruno observou, pegando duas taças de uma bandeja entre um corredor e outro do Instituto, entregando uma para o loiro. — Essa é sem álcool. — Não é que eu não esteja feliz. — Ele balançou a cabeça, fazendo uma careta ao experimentar a bebida. Era horrível. Ou era apenas a falta de costume, ele não sabia. — Só penso que, em uma situação diferente, eu teria interesse em tentar algo. — Mais do que você já parece ter? — Certo, eu vou corrigir. Eu teria determinação em tentar algo. — O loiro suspirou. — No momento, tenho mais contras do que prós. — Eu achava que o
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— Olha, você tem todo esse charmezinho de galã do futebol, músculos e tudo mais. Use-o pra alguma coisa. — Tentei. — Seja romântico. — É, eu também tentei. — Então desista. — Obrigado, era o empurrão de segurança que eu precisava.
— Então, o ponto é… — Deixe rolar. Se for pra ser, vai ser. — Papo brega de destino
— Essa merda é horrível. — A bebida ou o papo de destino? — Os dois. Mas gosto de me contentar com o pensamento de que tudo na minha vida está naturalmente destinado a dar errado.
— Olhe, o Ivan gostou dela. Tá aprovada. — Você tinha que aprovar algo? — É claro, sou seu responsável ilegal.
Quando um garçom passou oferecendo bebida, ele aceitou. Mariana não precisaria saber, e nem seria muito.
Antes que pudesse levar a bebida até os lábios, alguém tomou a taça de sua mão. Não alguém, Mariana. A morena sorriu falsamente em sua direção, sentando-se em uma de suas pernas antes de virar o conteúdo em um gole. Daniel genuinamente não sabia se deveria prestar mais atenção no fato de que ela havia casualmente sentado em sua perna ou no ponto em que ela provavelmente estava puta para um caralho porque ele esteve a alguns centímetros de beber.
Mariana deu de ombros, pegando um refrigerante na primeira oportunidade, e entregando para Daniel. Tudo bem, ele tinha entendido o recado. Sem bebida.
— Henrique, você que também é goleiro, pode ajudar Mariana com uma dúvida. — Daniel se inclinou na direção do colega, sorrindo inocentemente. Mariana franziu o cenho. — Como foi no dia em que você deixou a Alemanha marcar sete gols? O sorriso no rosto do rapaz sumiu quase imediatamente. — Ah, não. — Tobias suspirou. Porque qualquer um sabia do temperamento ruim do goleiro, assim como sua mania de arranjar brigas. — Você é um filho da puta. — Dúvida genuína. — O loiro deu de ombros.
— Você está com ciúmes. — Mariana ergueu uma sobrancelha. — Ele deu em cima da minha namorada, qualquer um faria isso. — Ele desviou o olhar, dando um longo gole em seu refrigerante ao recostar-se na parede do corredor. — Namorada falsa — Mariana corrigiu. Como se não soubesse disso. — Eu preciso fingir, não é?
— Achei que treinar fosse ferrar ainda mais com as minhas pernas. — E é, mas estou falando sobre você seguir com a sua vida. Você é um treinador agora, e é assim que as pessoas precisam te ver. Consegue me entender? — Treinador de qualidade duvidosa. Ela sorriu um pouco, balançando a cabeça. — Se alguém me perguntar, eu digo que você é o melhor que eu já conheci. E o melhor que eu já conheci foi o meu pai, então seria um elogio e tanto. Daniel suspirou, assentindo. — Foi mal. Você tá absurdamente bonita, sabia? Mariana o fitou por alguns segundos, antes de balançar a cabeça. — Não mude de
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Agora, peça desculpas por quase beber. Disse que não faria isso. — Era só pra descontrair um pouco… — Peça desculpas. — Desculpa, princesa — ele cedeu, revirando os olhos. Mariana sorriu um pouco mais, e Daniel quase sentiu uma parte de si derreter por completo. A outra parte ainda estava na fase da negação.
— Bruno te aprovou, aliás. — Como assim? — Ele é meu responsável ilegal. — Ótimo, já tenho a aprovação da sua mãe e dos seus pais adotivos. — Mariana riu baixo, e estendeu a mão na sua direção em seguida. — Vem, eu ainda não provei todas as opções do cardápio vegetariano de gente rica. E você vem comigo.
Daniel odiava cada vez que Mariana o chamava por seu segundo nome. O que, no início, foi estranho, porque o mundo inteiro o chamava daquela forma. Era o nome em seu uniforme, o nome pelo qual ficou conhecido. As únicas pessoas a fazer o contrário eram Marcos e sua filha. Demorou algum tempo para que o ex-jogador percebesse que era isso que o incomodava. Tanto Mariana quanto Marcos tinham acesso a ele de uma forma que ninguém mais tinha — até mesmo a psicóloga que costumava frequentar.
Quando a Dias o chamava de William, era como se estivesse se afastando. Afastando-o. Ele não sabia se o mais assustador nessa situação era seu medo diante da possibilidade ou o fato de que realmente tremia só de pensar em afastar Mariana de si.
Não que fosse uma surpresa. Ela conseguia conquistar qualquer pessoa onde quer que fosse.
— Você tá com uma cara de bosta. Daniel franziu o cenho, confuso. — Foi mal, o certo seria panaca apaixonado
— Estou me divertindo muito do meu jeito, não precisa se preocupar. — Observando a garota que você gosta dançar com o meu noivo? Parece mesmo interessante. — Bruno virou o rosto para onde Mariana e Ivan dançavam animadamente, como se não fossem quase quatro da manhã. — Tudo bem, ele é uma visão incrível. — Não é ele que eu estou olhando. — O loiro fez uma careta. — Que bom, eu teria que te expulsar da minha festa. — Depois que ela já acabou? — Ela só acaba quando eu disser que acabou.
Já teve algum momento em que você percebeu que faria de tudo para ser cada vez melhor por causa de alguém? — o mais novo murmurou, girando uma taça de refrigerante distraidamente. — Sabe, como se essa pessoa tivesse te mostrado um jeito diferente de ver as coisas. Tudo, na verdade. — Metanoia. — O piloto balançou a mão no ar, recostando-se preguiçosamente na cadeira. Daniel piscou. — Hm?! — Nada, uma brincadeira com o meu noivo
— Por que é tão importante? — Porque eu quero. Boa jogada.
O que ela não pediria sorrindo que ele não faria chorando?
— Da próxima vez, me lembre de jogar o meu salto na cara do… — Ela fez uma careta, tentando lembrar-se do nome. — Daquele lá. — Henrique. — Esse feio aí. — Acha que ele é feio? — Acho. Ele não é, tipo, igual você. Daniel riu, balançando a cabeça. — E eu sou bonito? — Não me faça perguntas burras, Dani.
— Tem certeza que não está nos perdendo? — Eu já errei alguma vez na minha vida? — Me recuso a inflar seu ego gigantesco. — Tá me confundindo com você. —
Quando as portas se fecharam, Mariana o fitou. — Ela não gosta de mim. — Por que você acha isso? — Porque ela gosta de você. — Ela deu de ombros, mas franziu o cenho, continuando em seguida. — Gostar é uma palavra muito forte. Ela quer que você rasgue a roupa dela e a chame de baby. — Por Deus. — Daniel revirou os olhos. — É sério! — Mariana exclamou, entre uma risada. — Ser você e ainda usar essas camisas deveria ser proibido, qualquer um iria contra qualquer regra trabalhista se tivesse você como chefe. — Mariana. — Hm? — Você perde todos os filtros quando bebe. — Eu sei, me lembre de nunca
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Antes de dormir, Daniel não deixou de pensar que não tinha como aquela noite ter sido melhor.
Daniel fingiu uma normalidade impressionante enquanto lia um artigo qualquer no celular em sua mão. Sobre o que era o artigo? Ele não fazia a menor ideia. Não quando Mariana estava tão absurdamente perto.
— Se alguém me pedisse pra assinar um contrato antes de um beijo, eu sairia correndo. — Eu também.
— Como assim? — Ela ergueu o tronco para observá-lo melhor. Ainda absurdamente perto. Deveria ser proibido. Criminalizado.
Daniel balançou a cabeça, e gastou mais tempo do que deveria olhando para o rosto da morena ao seu lado.
— Acho que é por isso que eu não quero que faça parte dessa vida tanto quanto eu — ele confessou, baixo. Foi como soltar um segredo, algo que deveria ser mantido para ele, e apenas para si mesmo. Provavelmente deveria mesmo. Mas saiu antes que ele pudesse se conter. Mariana comprimiu os lábios. — Por quê? — Porque você é boa demais, e eu tenho medo do quanto disso vão tentar tirar de você. Por um breve momento, Mariana pareceu surpresa demais com a sua resposta para reagir. Ela apenas o encarou, entreabrindo a boca como se fosse dizer algo, mas a fechou novamente. Então, ela se aproximou mais.
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Ela se esticou para alcançar o armário com medicamentos, procurando por qualquer coisa para a dor de cabeça. Ela não sabia se a tontura era parte da ressaca ou um resultado do momento anterior.
Sua mente estava em Daniel, e ela odiava isso. Ela estivera a alguns centímetros de beijá-lo, o que era vergonhoso. Ia contra seus princípios — se é que possuía algum — e contra o detalhe de que, puta merda, Daniel nunca tinha demonstrado qualquer interesse nela que fosse além da amizade. Foi o hálito de menta, os dedos entre o seu cabelo e o momento de proximidade. Poucas pessoas resistiriam, e Mariana era humana. Não havia do que se envergonhar. Não, Mariana. Vergonhoso. Muito vergonhoso. Depois do momento em questão, eles não trocaram uma palavra sequer. Paulo percebeu, obviamente. Mas não
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cabeça. — Nunca mais vou beber champanhe. — Você é uma celebridade, não pode mais beber cerveja. É para os pobres
Como tá o Paulo? Mariana ergueu uma sobrancelha. — Por quê? — Ué, só perguntando. — Bem. Acho que ele viaja na semana que vem pra um jogo em outro estado. — Legal. Manda um abraço pra ele.
Dormir na sala da cobertura estava começando a ser mais familiar do que aquele quarto.
Ela avisou para Daniel que estava saindo de casa, e não se surpreendeu ao ver o pai e a vizinha ainda conversando na sala. Mas gostou, e muito. Se seu pai não se tocasse de que a mulher tinha um penhasco por ele, ao menos teria alguém com quem conversar.
— Nesse caso, se sua irmã perguntar, meu livro favorito é Crepúsculo. Ele a fitou e, em seguida, sorriu. — Você tem um péssimo gosto pra livros. — Apego emocional. — Ela deu de ombros. — O meu é o Manifesto Comunista. Ela riu, empurrando o seu ombro. — Besta. — Não estou brincando! — Daniel exclamou, mesmo entre uma risada. — Mas o seu diário tá quase no mesmo nível. — Eu te odeio. — Meu gosto literário é excepcional, amor. E sua escrita se compara aos grandes clássicos.
— Sabe, eu jurava que você odiava futebol quando era mais nova — Daniel comentou. — Eu nunca odiei futebol, odiava ver os treinos. — Por minha causa? — O sorriso no rosto do loiro alargou-se. — Sem comentários. — Você tem um jeito bem estranho de reagir quando gosta de alguém.
— Eu tive o meu primeiro beijo no meu aniversário de dezoito anos, não é como se eu tivesse muita experiência antes disso. — E como você faz quando se interessa por alguém hoje? Mariana apertou os dedos ao redor do volante. Se não estivesse dirigindo, olharia para Daniel. Mas podia sentir com facilidade os olhos do rapaz a fitando atentamente. — Sei lá, eu só chego na pessoa? — Ela deu de ombros. — Mesmo? — Por quê? — Curiosidade. — Daniel balançou a cabeça. Mariana conteve, dentro de si, a vontade de devolver a pergunta. Mesmo que a resposta parecesse ser óbvia; Daniel não parecia hesitar em
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— Eu era um pouco esquelético. — Era bonitinho, nunca gostei de muitos músculos — ela provocou, dando de ombros ao passar por ele para olhar outras fotos. Daniel franziu o cenho. — Hm, e quanto é muito pra você? — Sei lá, se malhar demais já é ruim.
— Você trouxe um presente pra mim? Ele revirou os olhos, abaixando-se para ficar na altura da menina. — A minha namorada vale? Ela fitou Mariana, analisando-a demoradamente. A Dias conteve uma risada com a situação. — Ela é bonita, mas não é pra mim, né. Eu esperava um cachorrinho. — A mamãe me bateria se eu te desse um cachorrinho, Sofia. — Mas ela não poderia devolver! Não se devolvem presentes. — Nesse caso, não é o seu aniversário. Não tenho motivos pra te dar um presente. — Você não me via há um tempão, o mínimo pra pedir desculpas por isso é me dar um presente.
— Então você também é mágico? — A morena ergueu uma sobrancelha, em uma expressão divertida. Daniel se aproximou e, imitando o mesmo movimento de antes, tirou uma moeda de Mariana. — Sou o que você quiser, amor — ele provocou, jogando a moeda para ela.
— Meu Deus, elas fizeram churrasco — Daniel grunhiu, soltando uma respiração quase aborrecida demais. — Eu avisei que você é vegetariana. Nós podemos pedir algo de algum restaurante, e…
— Vocês vão casar? — Ah, meu Deus. — Ele suspirou. — Não. — Por que você namora um monte de gente se não vai casar com nenhuma? Mais uma vez, Mariana riu. Ela parecia estar realmente se divertindo com o diálogo. Não apenas ela, como sua mãe e sua tia também. — Não namoro um monte de gente. — A mamãe disse que você namorava umas cinco pessoas diferentes toda semana antes de conhecer a Mari. — Porque, antes de conhecer a Mari, eu não gostava de ninguém de verdade
— Não precisa se preocupar, ele é ótimo. — Mariana dizia, balançando a cabeça. — Só é engraçado brincar sobre o contrário, mas eu não poderia estar com alguém melhor. Mesmo fugindo de possíveis beijos, ele pensou, suspirando ao se aproximar da mesa novamente. — Até porque, se eu não fosse bom o bastante, ela já teria me dispensado — ele completou. Mariana apenas confirmou, exibindo um sorriso divertido.
— Ela é legal, parabéns. — Obrigado, meu gosto sempre foi ótimo. — Só não aprendeu a fazer durar, né? — Disse a que teve três maridos — Daniel rebateu. — Se você não tivesse quase trinta anos, eu jogaria minha chinela bem no meio da sua cara