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O ensaio fotográfico foi marcado para a manhã do dia seguinte, um sábado. Mas a ficha de que puta merda, era um ensaio fotográfico para uma grande marca de roupas esportivas só caiu sobre Mariana no instante em que ela pisou no estúdio.
— Ainda dá tempo de desistir? — Dá, mas você não vai. — Quem vai me impedir? — Eu. Vamos.
Do outro lado do estúdio, ela pegou Daniel rindo da sua expressão. Mesmo entre todas aquelas pessoas, Mariana ergueu o dedo do meio para ele.
— Ei, William — Bruna chamou a atenção dele em um determinado momento. — Eu estava pensando, você quer participar? — Eu? — Ele pareceu surpreso, guardando o celular no bolso da calça. — É, acho que um ensaio oficial do casal que é… bom, a cara do futebol atualmente seria bom. Ficaria incrível, na verdade. — A mulher deu de ombros. — Se Mariana concordar, eu não vejo problemas. — Daniel passou os dedos pelos cabelos, limpando a garganta. Mariana piscou, atônita. Ensaio do casal. Cara do futebol. Puta merda.
— Certo, o que exatamente é um ensaio de casal? — ela perguntou, quando a porta foi fechada. — Acho que você sabe exatamente o que significa, princesa. — Daniel balançou a cabeça, enquanto olhava as roupas que foram levadas para ele. — Olha, isso é legal. — Vou ter que… — Me beijar? Não. Encostar excessivamente em mim? Talvez. Tente não vomitar. — Eu não vomitaria — ela bufou. — Só é… Você sabe. — É, eu sei. Ainda pode dizer que não quer. — Não, eu vou. Daniel a fitou mais uma vez, o que a fez revirar os olhos. — É sério, William. Tudo bem. — Odeio quando você me chama assim — ele murmurou. E,
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— Enfie o rosto no meu pescoço, será uma foto incrível. — É um pedido? — Ele ergueu uma sobrancelha em sua direção, parando no centro do ponto onde as fotos eram tiradas. — É uma ideia de foto. — Mariana balançou a cabeça, inocentemente, posicionando-se na frente dele. Antes que Bruna ou qualquer pessoa da equipe indicasse algo, a morena passou os braços ao redor do seu pescoço. — Gostou?
Mariana o mataria. Ele estava muito certo disso. Mais cedo, antes que ela acordasse, ele tivera uma conversa com Paulo, enquanto nadava na piscina da cobertura. O ruivo parecia perfeitamente confortável tomando um sol enquanto falava sobre o quão desgraçada era a sua vida amorosa — ou o que quer que aquilo poderia ser.
— Pare de falar como se eu fosse um adolescente, isso não vai destruir a minha vida. — Ela é uma mulher, pode destruir a sua vida em cinco segundos.
— Will, você tem um panic interior toda vez que ela encosta em você. Inclusive, você parece um adolescente quando tá com ela.
— Cara, você sabe que um beijo só iria piorar as coisas. Daniel sabia. Daniel estava no estado de negação da coisa toda.
— Bom dia, princesa. — Vai se foder.
— Quero ser desempregada… — a morena bufou. — Viver da grana do meu namorado. — Seu namorado vai te dar um pé na bunda em algumas semanas, então não é um bom investimento a longo prazo.
— Então eu vou ter que descobrir o número da sua conta bancária antes disso.
Agora, porém quando Mariana passou os braços ao redor do seu pescoço em um estúdio de fotografia cheio de pessoas, ele pensou seriamente na possibilidade de dar o número de sua conta bancária, de seu cartão de crédito e até a senha do cofre em seu quarto. Ela nem precisava pedir. Ridículo. Já tinha fotografado com outras pessoas, até usando menos roupa que aquilo. Ele realmente tinha um panic interno toda vez que ela se aproximava.
— William, amor, pode colocar as mãos ao redor dela. Porra. Ele ergueu uma sobrancelha na direção da morena, posicionando as duas mãos na cintura de Mariana — que claramente continha uma risada. Era bom que ela estivesse se divertindo com a situação.
Daniel percebeu que Mariana parecia ser excepcionalmente boa em disfarçar como se sentia em determinadas situações — mesmo que ela sempre tenha sido aberta o suficiente para nunca esconder o quanto abominava qualquer tipo de contato ou relação a mais com ele —, mas se deixava revelar por detalhes menores.
Quando seus dedos pararam ao redor da garganta dela para o que a mais velha chamou de “algo mais provocante”, os dedos de Mariana se fecharam ao redor da camisa de Daniel. — Dias. — Ele ergueu uma sobrancelha. — Pela milésima vez, se eu não me sentir confortável com algo, vou dizer — ela murmurou, bem baixinho. Havia um sorriso divertido em seu rosto e, por fim, ele se permitiu pensar que poderia estar se preocupando demais. Que, talvez, ela realmente não se importasse tanto assim. — Só me pergunto quem resolve comprar roupas esportivas depois de ver a foto de um casal se agarrando. Fetiche em
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— Seu pai vai me matar. — É claro que ele vai — ela concordou, passando os dedos pelo cabelo escuro para a foto que veio a seguir. — Torça para que ele não veja essas fotos. Você perderia seu emprego. — Perderia a namorada? Ela ergueu uma sobrancelha. Daniel imitou o gesto, entrando na brincadeira. Outra foto foi tirada. — Possivelmente. — Não acho que eu possa sobreviver a isso. — O loiro tentou engolir em seco quando Mariana se inclinou para mais perto dele, deslizando os dedos pelo seu cabelo. Sim, daria uma boa foto. Dois centímetros, e ele poderia beijá-la facilmente. Poderia. — Sabe,
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Ele fazia o mínimo para conhecer minimamente a pessoa antes de tirar a roupa e se esfregar nela para algumas fotos. Mas, bom, ele já conhecia Mariana. E isso definitivamente não estava tornando as coisas mais fáceis dessa vez.
— Tímido? — ela provocou quando ele se aproximou novamente. — Achei que o mundo inteiro já tivesse te visto de cueca. — Calada — Daniel bufou. — Flexione esses músculos para mim, William — Mariana continuou, fazendo uma péssima imitação da voz de Bruna. Desta vez, ele precisou conter uma risada. Eles se aproximaram de novo. Então, ele sentiu Mariana tremer. Daniel já estava prestes a perguntar o que estava acontecendo. Mas ele percebeu antes que precisasse. Mariana estava rindo. Ou melhor, tentando segurar uma risada. — Meu Deus, você é uma criança. — Daniel se afastou, revirando os olhos
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O loiro balançou a cabeça, passando os dedos pelos fios claros. Mariana tinha feito questão de bagunçá-los e, uau, foi difícil não pensar em qualquer coisa que não fosse os dedos dela segurando seu cabelo.
— Seguir a sua correnteza. — Daniel se virou para terminar de se vestir. Mariana fez o mesmo em seguida. — Quando algo chega para você, não deve ir contra o que é seu. Ele não precisou dizer muito para que Mariana soubesse o que havia por trás daquele significado. Dez anos atrás, Daniel seguiu sua correnteza. Ele seguiu o que era dele. E ela o odiou por anos por isso.
Ela foi acordada por batidas em sua porta, e mal teve tempo de levantar-se antes que o ruivo entrasse no quarto. — Certo, você tem meia hora para se arrumar. Mariana o fitou, levando alguns segundos para processar que não, não estava mais dormindo, e que aquilo não era um sonho. — Mari? — Paulo ergueu uma sobrancelha. — Desculpa, preciso de alguns minutos pra reaprender a existir.
— Precisamos comprar algo pra usar na festa. Enchi o saco do seu namorado e ele até deu o cartão dele. Nem foi difícil, na verdade. — Paulo deu de ombros. — Enfim, não vem ao caso. Também quero aproveitar e comprar algo com a grana dele.
— Sabe, qualquer pessoa no seu lugar já teria levado um sapato na cara — ela murmurou ao se levantar. — Significa que você me ama? — Significa que hoje eu estou cansada demais para me dar ao trabalho.
— O Daniel entregou mesmo o cartão dele? — Junto com um discurso gigantesco sobre eu não poder usar pra comprar roupas ou comida pra mim. — O ruivo deu de ombros, entregando o cartão para ela. — Mas, se você passar no meu lugar, tecnicamente não serei eu comprando.
Mariana revirou os olhos, pegando o celular assim que ele deixou o quarto. Daniel atendeu à chamada no segundo toque. — Bom dia, princesa. Imaginei que fosse ligar. — A morena não precisava vê-lo para saber que havia um daqueles sorrisos preguiçosos em seu rosto. Era previsível até demais. — Não, não vou aceitar um não, e sim, você vai usar o cartão.
Veja como um presente. — Depois de um carro, não acho que ainda precise me dar um presente. — E se eu pedir com carinho?
— Dan… — Continue me chamando assim, princesa. Vou me apaixonar. — Eu te odeio.
— Se eu usar o seu inferno de cartão, promete não fazer mais isso? — Por uma semana, apenas. Depois disso vai ter que me dar algo mais em troca. — Daniel soltou um grunhido, o que Mariana já conhecia bem como uma tentativa do loiro disfarçar algum desconforto. O papo de estar perfeitamente bem não era uma verdade, mas ela não estava surpresa. Havia notado, no dia anterior, que ele estava pendendo o peso do corpo mais para um lado do que para o outro. — Tipo…? — Vou decidir. Ela suspirou. — Fechado. — Bom negociar com você — ele brincou.
— Você é cruel, gosto disso.
Esse era um daqueles momentos em que ela sentia todo o estômago queimar de nervosismo ao falar com o ex-jogador. E tornava-se pior quando ele fazia aquilo — aqueles resquícios do que ela chamaria de flerte, se não soubesse que não havia qualquer chance de Daniel querer algo com ela.
— Não sei. Acha que vão gostar? — Depende. Você gostou? — É, sim. — Então pronto.
— Por que todo mundo me chama de dramática? — Porque você é. Na mesma medida em que o seu namorado é teimoso. — Acho um exagero comparar. — Se você passasse um dia no meu lugar, concordaria comigo. Talvez. Não era algo que ela iria admitir.
— Então, você gosta dele? Mariana riu. De verdade, como se aquilo fosse uma pergunta ridícula. — Somos colegas, é claro que sim. Um pouco. — Só colegas? — Paulo, não. — Mariana balançou a cabeça. — Não tem nada assim, e nem vai rolar. — Por quê? — Porque eu não quero — ela disse, simplista, como se devesse ser óbvio. Paulo piscou. Bom, ela era bem mais direta que Daniel. E também parecia determinada.
— Três de outubro. O que é isso, Meninas Malvadas?! — ele ironizou, com uma voz exageradamente dramática. Não, não, não. Ele já tinha lido. — Para! — Ela tentou tapar a boca dele, em um movimento desesperado. Foi o suficiente para fazê-lo rir ainda mais. — Ele estava lindo hoje — ele continuou, ao se livrar de sua mão. — É o garoto mais lindo que eu já vi em toda a minha vida, mesmo todo suado e sujo. Aposto que ele nem mesmo fede. — Daniel! — ela exclamou, exasperada. — Ele é como os príncipes dos contos de fada, só que real.
— Eu nunca te odiei tanto na minha vida. — Eu sei, você costumava me amar — ele rebateu, o que lhe rendeu outro soquinho no peito. — Ai! — Se você mexer nas minhas coisas outra vez, eu vou te matar. — Em minha defesa, eu não sabia que era um diário. Abri em uma página aleatória e, coincidentemente, era a mesma em que você falava sobre o quanto queria que eu cantasse Levo Comigo do Restart pra você. Aliás, você era fã do Restart?
— Boa sorte para lidar com seus sentimentos, eles parecem estar em conflito — ele provocou, antes que a porta fosse fechada em sua cara. Sim, eram conflituosos pra caralho. Mariana precisou de um momento para respirar antes de voltar a pensar na maldita festa que teria que ir ao lado do cara que, além de seu namorado falso, também sabia quanto ela era perdidamente apaixonada por ele, dez anos atrás.
Nem mesmo Fernando sabia sobre aquilo. Afinal, não eram amigos na época, e o assunto nunca fora importante depois que se aproximaram. Mas Daniel sabia. Não deveria parecer tão desesperador assim. Não era importante. Era? Não, definitivamente não.
Daniel estava jogado sobre o sofá, vestindo mais uma de suas camisas sociais — dessa vez, preta — que pareciam ficar perfeitamente ajustadas em seu corpo. Chegava a ser desrespeitoso. Um ultraje.
— Nossa… — É. — Não tá mostrando muito as suas costas? — O mais velho fez uma careta. — Tá ótimo. — Daniel balançou a cabeça, mas engoliu em seco quando Marcos lhe dirigiu um olhar quase acusatório. — Com todo o respeito, é claro.
— Não fique até tarde na rua, e se alimente direito — Marcos instruiu. — Eu me pergunto se você se esqueceu que eu tenho vinte e cinco anos… — Mas tá com o Daniel. — Votos de confiança, eu os amo — o loiro ironizou.
— Se você tocar no assunto, meus saltos vão fazer um estrago na sua cara. — Merda, eu li tudo aquilo pra nada? — Vai se ferrar. — Para, é fofo. — É ridículo. Crianças de quinze anos não deveriam ter permissão pra escrever coisas assim. — Ah, o primeiro amor… — Não exagere, eu só te achava bonitinho. — Eu não usaria bonitinho pra descrever como você parecia me ver naquela época, princesa… — Não me chame assim. — A Mariana de quinze anos interior fica feliz demais?
— Ei — Daniel a chamou, puxando a sua atenção. — Você tá linda.
— Bom, nesse caso, espero que consigam comida vegetariana pra sua namorada. — Mariana deu de ombros. — Acho que todo o buffet é. — Ele balançou a cabeça, olhando ao redor como se procurasse por alguém em especial. — O Bruno é vegetariano. — Estou começando a desejar que ele seja o meu novo melhor amigo. Não deixe Fernando saber disso. — Vai ser a primeira coisa que eu vou dizer quando encontrar ele. — É claro, eu deveria me acostumar com você sendo meio babaca. — É tão recorrente assim? — Ele a olhou, seu tom de voz falsamente afetado. — Mas me sinto lisonjeado pelo “meio”. Mariana desviou o
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Havia algo sobre Daniel que ele odiava admitir. Ele tinha uma queda inenarrável por qualquer pessoa inteligente o bastante para acabar com a vida dele em poucas palavras. E Mariana era inteligente pra caralho.
Fazia com que ele quisesse enfiar a língua na boca dela. Educadamente, é claro.
ele havia chegado à conclusão de que a mandaria para o inferno na próxima vez em que ela dissesse que tiraria uma nota ruim em uma prova.
— Certo. Adoro evitar jogadores de futebol mesmo. — Você me ama. — Tá uns dez anos atrasado.
Mas foi legal organizar tudo. — Degustação de champanhe? — Dá pra acreditar que eu bebi por um dia inteiro só pra decidir o que eles serviriam aqui?! — Eu sei, é a melhor parte. Mariana ergueu uma sobrancelha em sua direção, e ele limpou a garganta. — Não que eu faça isso sempre. Enfim. — O loiro comprimiu os lábios.