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— Se cure.
Paulo anunciou, jogando uma almofada na direção de Daniel. Também lançou-lhe o que Mariana poderia jurar que era algum tipo de aviso silencioso. Que tipo de aviso, ela não sabia. E provavelmente não deveria mesmo querer saber.
Por fim, Daniel se levantou, indo para o quarto. Mariana quase suspirou em alívio ao vê-lo desistir. Ou, pelo menos, ela achou que ele tivesse desistido. Porque mal demorou mais do que alguns minutos para que ele aparecesse no corredor novamente, com o colchão em mãos. — Se você não vai dormir no quarto — ele disse, soltando o colchão no chão da sala —, ao menos durma na porra do colchão. — E onde você vai dormir? — No sofá. A morena piscou. — Eu te odeio. — Foda-se. No fundo, ela sabia que ele não desistiria daquilo. Talvez porque, dessa vez, ele tivesse uma certa porcentagem de razão
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— E você poderia estar treinando? — Teoricamente, não. Mas vou todos os dias e continuo vivo. — Claro, é uma questão de tempo até suas pernas não funcionarem mais.
— Eu vou, no mínimo, poder segurar a sua mão?
— Vá se arrumar. Você tá com uma cara péssima. — Não tem nada diferente na minha cara… — Exatamente, ela é sempre assim. Tente melhorar. — Você é um saco. — Daniel bufou, passando por ela.
E vê se não demora, princesa. O Paulo tá esperando a gente — ela lembrou, colocando a bolsa que levaria a tiracolo e jogando-se no braço do sofá para analisar seu conteúdo enquanto esperava. — Ele vai sobreviver — o loiro devolveu, de algum lugar dentro do quarto. — É, mas eu não. — Você é fodidamente dramática, sabia? — Daniel cruzou os braços, no corredor. — Não sou! — ela rebateu. — Não tenho culpa se você é o meu pior pesadelo. — Dramática — ele repetiu, antes de ir para dentro do banheiro.
Por que Mariana sentia que não se surpreenderia se Daniel tivesse reservado um andar inteiro para eles? Porque, bom, foi quase o que ele fez.
— Não vale a pena. — O quê? — Tudo isso. Perder toda a liberdade. — Mariana fitou as suas mãos por um momento, antes de afastar a sua para pegar seus óculos escuros na bolsa. — Não é o que eu quero. — É uma consequência que vem com o talento para jogar. — Acha que eu tenho talento? Foi a vez de Daniel recostar-se na cadeira. — Tenho certeza. — Ele passou os dedos calmamente pelo cabelo loiro, antes de olhar na direção da praia e acenar para algumas pessoas que tentavam chamar sua atenção. Era quase cômico. Mariana estava ocupada demais tentando digerir as duas palavras ditas por ele. — Se
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— Não dá para ouvir uma discussão do lado de fora, acho que é um avanço. — O ruivo, que já vestia o uniforme do time nacional, sentou-se ao lado da morena. Ele passou um braço ao redor do seu ombro. — Como foi a manhã de vocês? — Bem. — Daniel puxou o cardápio para si. — Não sei qual é o conceito de bem que vocês compartilham, mas espero que seja algo realmente bom. — Paulo puxou os óculos do rosto de Mariana, que mal teve tempo de protestar. — Pare de se esconder, e tire essa cara fechada do rosto.
Quero o prato vegetariano. — Vou querer o mesmo. — Vai deixar ela te converter ao veganismo? — Daniel ergueu uma sobrancelha. — Não tenho culpa se é bom pra cacete. — Paulo entregou o cardápio novamente para ele. — Você deveria experimentar. — É uma ofensa para mim. — Eu dizia a mesma coisa. — Mariana mostrou a língua para ele. — Fresco.
— Vocês têm tesão em brigar quando eu estou por perto? — Paulo acenou para que um garçom se aproximasse. — Porque, porra, é insuportável.
— Eu sempre fui o melhor. — Daniel deu de ombros. — Eu nunca tentei competir contra os jogadores do meu próprio time. — Fernando fingiu um sorriso, também se recostando na cadeira de forma relaxada. Daniel não conteve uma careta. — Porque, sabe, é um time.
— Se ele reclamar do meu alongamento, diga que eu aceito aulas particulares — Paulo sussurrou, fazendo Mariana engasgar em uma risada. — Estou falando muito sério. — Vou me lembrar disso. — A morena assentiu, esforçando-se para conter uma risada. — Quer que eu diga mais alguma coisa? — Que eu adoraria ver até onde ele tem tatuagens.
Daniel chutou a perna do amigo, erguendo uma sobrancelha. — Por que vocês estão sussurrando? — Não é da sua conta. — Mariana balançou a cabeça, fingindo um sorriso simpático. Daniel apenas estreitou os olhos. — Qual é, você não precisa saber de tudo. — Mas você está falando com o meu melhor amigo. Paulo bufou. — Quieto, estou falando com a sua namorada.
— Uhum, e você ainda joga em algum time? — Paulo se inclinou, apoiando o rosto sobre a mão. — O pai da Mari é o meu treinador. — Fernando deu de ombros, puxando o celular do bolso. Porque, bom, Fernando era Fernando. E é claro que ele não perceberia ou não daria a mínima para um cara tentando flertar com ele. Daniel percebeu, no entanto, e fez uma expressão enojada imediatamente. — Ele é um pouco fechado com pessoas novas. — Mariana sussurrou para o ruivo. — Acho que me apaixonei — Paulo suspirou. — Você esquece daqui uma semana. — Quero casar com ele.
— Anote o que eu estou falando, Mari. Ele ainda vai se apaixonar perdidamente por mim.
Daniel não duraria mais do que um mês nas mãos de Mariana. Ele sabia disso desde o primeiro momento, mas se tornava uma certeza maior a cada dia. Porque, porra, ela era irritante para um caralho. Na maioria das vezes, irritante por estar certa. Daniel não queria saber se sua vida melhoraria se ele parasse de encher a cara sempre que algo desse minimamente errado, mas ela era a prova diária disso. Aliás, não apenas ela sabia provar isso, como também a mídia.
Mariana era boa demais com ele, e isso era tão irritante quanto os momentos em que ela fazia questão de ser irritante — mesmo que tais momentos fossem, bom, a maioria. Paulo sabia disso, e vivia lhe relembrando a cada oportunidade. Como nos momentos em que ele lhe lançava olhares acusatórios que diziam silenciosamente para pegar leve e não a irritar demais. Porque era impossível não a irritar ao menos um pouco, e até mesmo Bragança sabia disso. Era como um caminho sem saída — ou com uma saída que ambos não estavam dispostos a tentar seguir, já que tudo aquilo acabaria em breve. Por que se
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— Vamos, Marcos, você sabe que ela merece mais. Eu não via alguém defender um gol tão bem há anos, e eu já estive em muitos times, joguei contra muitos times.
Paulo estreitou os olhos na direção dele, antes de se afastar. Mais um dos malditos olhares que dizia que ele estava estritamente proibido de fazer merda com Mariana. Como se já não tentasse o suficiente.
— Ele disse isso? — E precisava? Fiquei com medo que ele pudesse tentar comer outra coisa no almoço.
— Ele faz o mínimo, pelo menos? — E o que seria o mínimo? — Te tratar bem. Se não, eu adoraria dizer umas verdades na cara dele. — Ele tenta. — Ela deu de ombros. — Ainda é irritante, mas não é como se eu pudesse transformá-lo em uma nova pessoa. E não nos falamos na maior parte do tempo. Podemos parar de falar sobre o meu namorado falso? — Ele tá te chamando, aliás. — Fernando apontou para o loiro, que acenava para que ela se aproximasse. Mariana arregalou os olhos, surpresa. Mas não tinha outra escolha senão ir até onde ele estava.
No momento em que o homem se afastou, ele grunhiu. — Eu o odeio. — É isso que você considera como um pai? — Ora, por favor. Até o seu pai ainda consegue ser mais uma figura paterna do que ele. — Ele passou os dedos nervosamente pelo cabelo antes de virar o resto de energético que havia em sua latinha, jogando-a no lixo em seguida. — Ele é um saco.
— Estou surpreso que tenha conseguido passar o jogo inteiro sem jogar Daniel da arquibancada — ele comentou, ainda um pouco ofegante. — Não foi tão difícil. Ele ficou bem quieto depois de falar com o seu pai.
— Será que dá pra você parar de secar a sua namorada? Ele franziu o cenho. — Não estou secando. Talvez estivesse. Não que fosse admitir.
Ele continuaria explicando seus milhares de motivos para não, não ter qualquer segunda intenção com Mariana, por mais que a admirasse e a achasse bonita pra cacete. Não era o suficiente para fazê-lo tentar ultrapassar qualquer linha além da que tinham estabelecido entre si — a linha profissional, no máximo a de amizade. E ele pensava bem sério quanto a esse tópico.
Daniel assentiu, antes de olhar na direção em que os dois estavam. Para a sua surpresa, os dois conversavam entre algumas risadas enquanto Paulo comia um churros. Paulo odiava churros, mas estava comendo um. Ele, sim, era inacreditável.
Quando Mariana terminou de se secar, ela jogou a toalha diretamente no seu rosto. — Dignamente seca para sentar no meu próprio carro, senhor? — ela ironizou, abrindo os braços. Ainda estava suficientemente molhada para colocar seus bancos de couro em risco, Daniel sabia. — É, dá pro gasto — ele disse, por fim.
Aos quinze anos, Mariana fazia tudo que estava ao seu alcance para não ter que sequer olhar no rosto de Daniel William.
E era incrível como, dez anos depois, ela queria ter a capacidade de poder fazer o mesmo.
mas a vontade de fugir toda vez que se lembrava de que teria que conviver com Daniel permanecia.
Enquanto o observava conversar animadamente com o pai na cozinha, com Paulo ao seu lado, ela se deu conta de que não importava mais o que aconteceria depois do campeonato. Quando se separassem de seu relacionamento falso, estaria sempre ligada a ele de alguma forma. Já sabia disso, na verdade. Talvez fosse apenas a ficha caindo.
Fernando disse ao sair do banheiro, enquanto secava o cabelo platinado com uma toalha da Hello Kitty emprestada. Mariana, por sua vez, estava com uma da Barbie enrolada nos fios escuros. Apenas porque, ao chegar em casa, a primeira coisa que Marcos Dias fez foi ordenar que as duas crianças fossem tirar a água salgada e a areia do corpo.
— Você e Paulo parecem ter se dado bem. — Não comece, eu só estava sendo legal porque você me colocou na situação de pagar algo para ele. — O rapaz revirou os olhos. — Mas ele não é ruim, eu nunca achei que fosse. — Ele é um amor. — Mariana. — Fernando ergueu uma sobrancelha. — Tudo bem, tudo bem, parei.
Ela chutou levemente o pé de Daniel ao passar por ele, contendo-se para não rir. — Peste — ele grunhiu, puxando uma mecha do seu cabelo. — Vou te deixar sem jantar — ela ameaçou, apontando a colher na cara dele. — Se comporte, você está no meu território. — Como se você se comportasse quando está no meu — ele rebateu, com um sorriso. — Quem faz as ordens lá sou eu — Paulo interviu. — E, nas minhas ordens, a Mari pode dar ordens. — Eu nunca me senti tão traído em toda a minha vida. — O loiro bufou, revirando os olhos. — Vocês são ridículos. — Conclusão, você não tem autoridade em lugar algum —
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— Parece que não é só o Daniel que sabe cozinhar, afinal. — Ele se acha demais — Mariana disse, enquanto pegava os pratos para arrumar a mesa. — Aposto que não ganharia uma disputa culinária contra mim. — Eu estou bem aqui — ele murmurou. — Eu sei. É bom que também saiba. — Convencida. — Realista — ela corrigiu. — Minha comida é incrível. E ganha mais pontos por ser vegetariana. — Convencida, de qualquer forma. — Ele pegou os talheres, a ajudando-a com a mesa. — Seja mais humilde, princesa. — Perto de você? Impossível. — Mariana deu de ombros. Quando ela olhou para o pai, Marcos a encarava com
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O jantar poderia ser resumido em poucas palavras: risadas, bagunça e caos. A Dias perdeu a conta de quantas vezes quase se engasgou com o suco. Ela se sentiu bem. Havia sido um dia bom, apesar de tudo. Se todos os dias fossem assim, ela talvez não se importasse em fingir um namoro. Apenas talvez.
A morena empurrou seu peito. — Está me expulsando? — Estou — ela sorriu, como se fosse realmente algo positivo. — Tchau, William. — Vai se desfazer do privilégio de me chamar pelo primeiro nome também? — Não é bem um privilégio te conhecer desde a adolescência. — Se não fosse pela parte em que você mal olhava na minha cara. — Daniel ergueu uma sobrancelha, fazendo a morena arregalar os olhos. — O quê? Eu era um pouco menos idiota naquela época, é claro que percebia. — Engano seu. — Ela o empurrou de leve mais uma vez. — Tchau. O sorriso no rosto do loiro cresceu enquanto ele se afastava,
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— Ele é chato. — Concordo. — Não parece concordar, vocês estão bem amigos.
— Você com ciúmes é muito fofo, sabia? — Seu cu. — Fofo — ela repetiu, prolongando a última letra enquanto o observava sumir cozinha adentro.
— Que tipo de conteúdo vazio e de baixa qualidade vocês vão me obrigar a assistir hoje?
Eles têm preguiça de cozinhar e ciúmes da cozinha. — Ciúmes? — É, eu não posso usar. — Ela deu de ombros, como se não fosse grande coisa. — Não que seja um problema. Adoro ter o meu jantar bancado todos os dias, e também teria ciúmes caso tivesse uma cozinha daquelas. Na verdade, teria ciúmes de todo o apartamento se morasse em uma cobertura.
— Se continuar bebendo tanto energético, vai morrer em cinco anos. — Mal posso esperar
— Meu sonho é ter um treinador legal que me libere do treino… — Não vai rolar, Dias. — Eu sei, por isso disse que é um sonho. — Ela virou o resto do conteúdo da latinha antes de jogá-la fora. — Você é o meu pior pesadelo. — Eu já comentei que você é extremamente dramática?
— Vá vestir o seu uniforme, Dias. — Me obrigue. Daniel revirou os olhos. Em seguida, empurrou a garota para frente, desequilibrando-a. — Filho da puta — ela grunhiu. — Uniforme — ele repetiu.
E sempre que ela olhava em sua direção para mandá-lo se fuder silenciosamente, havia um sorriso largo nos lábios do loiro. Estava começando a odiar os dias em que ele aparecia de bom humor também, porque não aguentava mais olhar aquele sorriso ridículo.
— Você não vai passar das sete ou oito horas. — É um desafio? — É uma tentativa de te fazer descansar, princesa. — Hm. — Ela balançou a mão no ar, revirando os olhos. — Besteira. — Se chegar para o treino amanhã mal conseguindo correr mais uma vez, vou te colocar para fazer flexões. — Isso é tortura, faria isso com a sua namorada? — Esse namoro te serve bem quando convém, não é? A morena ergueu uma sobrancelha. — Não me serve em momento algum, acredite. Ela o ouviu suspirar pesadamente, mas ele não respondeu nada. E também não abriu a boca durante todo o percurso de carro até seu apartamento.
— TPM? — Paulo se recostou na bancada, apoiando o rosto sobre a mão. — Não! Talvez um pouco. — Tá explicado. — Daniel revirou os olhos. — Eu odeio vocês.
— Se preocupa com a opinião dela? — Me preocupo com a opinião de todo mundo, na verdade. É bem sufocante — ela confessou, por fim, se aproximando da mochila para pegar uma toalha e roupas limpas. — Merda, eu nem trouxe uma roupa legal. — Ei, Dias — Daniel a chamou. Quando ela não o olhou, ele o fez outra vez, seu tom de voz um pouco mais duro. — Mariana. — O quê, porra? — Dá pra você se acalmar? — o loiro pediu. — É sério, você não deve absolutamente nada à minha mãe, e ela é tranquila. Eu disse que não é grande coisa, porque realmente não é. Ela vem comer e logo vai embora. Só isso. Não é um
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