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— Você vai se dar bem. A vida de estrela dos esportes sempre foi pra você. — No caso, estou sendo a namorada da estrela dos esportes. — É só uma questão de tempo até isso mudar, linda. — Fernando piscou, acenando antes de sair.
— A notícia saiu de madrugada, e eu já tenho o meu próprio cartão-chave — ela anunciou quando entrou no apartamento. Daniel estava esparramado no sofá, e Paulo, no chão. Ambos pareceram precisar de um momento para processar que ela estava mesmo ali. — Tipo, nem sabem quem eu sou, mas eu já tenho livre acesso?
Em segundo lugar, você não vai sair falando sobre mim como a sua namorada incrível e perfeita que faz coisas maravilhosas por aí, quero saber quando for me mencionar em entrevistas. — A parte de ser incrível e perfeita já seria impossível de qualquer modo. — Vai tomar no cu. Em terceiro lugar, você vai me tratar como gente nos treinos. — Que sacrifício — ele ironizou.
— Também não vai beber na minha presença. — Calma lá. — Eu te amo — Paulo sorriu, jogando uma almofada no rosto de Daniel. — Agora toma jeito. — Estou falando sério. Não quero ter que lidar com você da forma como tive que lidar na noite em que te encontrei. — Aquele foi um momento de fraqueza. Não é tão comum — ele bufou. — Acontece duas vezes por semana, no mínimo. — Paulo rebateu. — De que lado você está, porra? — Da minha cunhada, é claro — o ruivo sorriu.
— Tanto faz — ele grunhiu, e a estudou por um momento, antes de ceder. — Fechado, Dias. — Como é lindo ver vocês se dando bem
— Ei, Mari, eu fiz lasanha. Você quer? — Ela é vegetariana — Daniel respondeu antes que ela precisasse negar. Ele o fez sem nem perceber, e Paulo sorriu. — Fofo, já conhece tanto a namorada.
Ela teve o pressentimento de que aqueles poucos meses seriam muito, muito mais longos do que o normal.
Conviver com Daniel não era exatamente difícil. Difícil era passar mais do que cinco minutos sem querer socar aquele nariz empinado.
— Você tem carteira de motorista? — ele perguntou, chamando a atenção também de Paulo. — Tenho, por quê? — Nunca te vi dirigindo. — Meu pai vendeu o carro porque precisava de dinheiro. — Ela deu de ombros, voltando a atenção para a televisão. Ele jogou algo no espaço ao lado dele. Quando olhou o que era, Mariana ergueu uma sobrancelha. — O que é isso? — É a chave do meu carro. — Beleza. Por que tá me entregando isso? — Porque eu não posso dirigir, e não gosto que fique voltando pra casa com quem não conhecemos. — Você está me dando um carro — ela concluiu, ainda sem uma reação. Quando pegou
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— Bom, pelo menos ele faz a parte de te bancar. Queria um namorado assim. — Você tem dinheiro o suficiente para comprar um Audi. — É muito mais legal ganhar um Audi.
— Não posso aceitar isso. — Não acho que ele vá aceitar um não. — Em uma discussão comigo? Ele vai, sim.
— Não posso ficar com o carro. O loiro balançou a cabeça no momento em que ela deixou a chave sobre a cômoda ao lado da cama. — O carro está parado desde que eu deixei de ter um motorista, prefiro que fique com você. — Mas é um Audi. — Se você não aceitar o Audi, ainda vou comprar outro carro, talvez só um pouco mais barato. — Ele deu de ombros.
— Na semana passada, um dos motoristas ficou te enchendo de perguntas sobre mim, não é? — Ele pegou a chave da cômoda e estendeu para ela outra vez. — Não quero que isso ou coisa pior aconteça por minha causa. É da sua segurança que estamos falando. Por isso, você vai aceitar essa chave, nem que eu tenha que amarrar no seu pescoço. — Imagino o inferno que deve ser te namorar de verdade — ela bufou, pegando a maldita chave. — Mas é sobre a minha segurança, não sobre o Audi. — enfatizou. — Perfeitamente — ele assentiu. — Terminamos nossa conversa? — Vai me expulsar do seu quarto? — Já que não
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— Isso é ótimo… — Eu avisei — ela sorriu, e empurrou levemente seu ombro. — Você não quis acreditar. — Mas acreditei! Só achei que fosse ter mais gosto de planta. — Você é ridículo. — Eu banco o seu jantar! — Vai ter que se esforçar pra superar o doador de carros em presentes —
— Por que você está há dez minutos no estacionamento? — Havia uma risada contida na voz dele. Foi inevitável não revirar os olhos. — Você está me vigiando? Como? — A recepcionista me ligou. Você não tá na lista de quem pode usar o meu carro. Tinha mesmo uma lista de quem poderia usar o carro dele? É claro que sim. — Todos os funcionários daqui puxam o seu saco? Porque eu poderia muito bem... — Por favor, não termine — Daniel a interrompeu.
— Então você gostou? — Tem como não gostar de um Audi? — Você realmente gosta muito de Audis. Quando realmente namorar alguém, lembre-se de dizer isso. Meu ex-namorado me deu um Audi, e você? — Com um namorado de verdade, eu não precisaria de um Audi para evitar que me enchessem o saco na rua. — Nunca se sabe, tantos jogadores por aí que se interessariam por alguém como você… — Como assim? — Boa noite, Dias — ele riu ao desligar. Mariana precisou de mais alguns minutos encarando o painel para tentar processar o que ele queria dizer. Conclusão: nenhuma. Mesmo pensando naquilo enquanto ia para
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— Ei, linda. — Ele atendeu no quarto toque da chamada. — Bom dia. Tudo bem? — Você quer ser o sol do dia horrível de uma pobre camponesa? — Mariana enfiou-se sob os cobertores. — O que aconteceu? — Quero ser uma fracassada desconhecida outra vez.
Com um suspiro ridiculamente doloroso, Mariana se inclinou para pegar o celular novamente, comprimindo os lábios. Ainda havia uma última pessoa, um número que ela não podia acreditar que estava mesmo digitando. E que, surpreendentemente, atendeu ao primeiro toque.
Sua missão, no momento, era não foder completamente até mesmo a sua vida de mentira, depois de foder com a verdadeira. Isso envolvia fingir ser um bom namorado, sem confirmar se estava ou não namorando, e evitar que a vida de Mariana se tornasse um inferno. Ele vinha falhando miseravelmente na segunda parte. Mesmo sabendo bem que não era algo que poderia evitar, porque seria impossível controlar a imprensa do mundo inteiro. A questão era: Daniel se culpava pra cacete, o que tornava as coisas muito mais pessoais para ele. Primeiro, porque estava falando da filha do seu primeiro treinador, com
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Não saiu para as noitadas para o qual foi convidado por seus amigos — conhecidos, era como Paulo os chamava, porque odiava ficar no mesmo nível de quem o fazia passar mal durante o dia seguinte inteiro.
Ele estava na academia — contra todas as broncas e indicações de Paulo — quando viu o contato de Dias na tela de seu celular. Foi o bastante para quase o fazer tropeçar e pensar que, puta que pariu, tinha feito alguma merda, o que não seria uma completa surpresa. Ele apenas achava que demoraria mais alguns dias até ferrar com tudo.
— Tem algo que eu possa fazer por você? — Sumir. — Ele não se ofendeu com a resposta. Na verdade, poderia até dizer que desejava por isso também, mas seria deprimente demais para o momento. — Mas já que não tem como, aceito uma torta de chocolate de algum lugar caro.
— Mas o mínimo que você deveria fazer por mim era me dar uma torta de gente rica.
— E eu não vou para o treino hoje. Mariana faltando a um treino?! Nem fodendo.
Precisa de mais alguma coisa, princesa? — Que você se foda — ela rebateu. — Você é um amor.
Tudo bem, ela só queria uma torta. Poderia lidar com isso. Não era como se tivesse sequer passado pela sua cabeça que ela queria a sua companhia.
— Uma parte muito grande de mim quer te chutar — ela disse, quando ele assentiu de forma afirmativa. — A outra também, mas tá triste demais pra tomar atitude. — Acho que a parte preguiçosa ganhou, se você ainda não me chutou.
— Acha que eu tenho cara de oportunista? Malditos comentários em redes sociais. — Seu único oportunismo até o momento foi se aproveitar de mim pra conseguir torta de chocolate.
— Me entregue o seu celular. — Ele estendeu a mão. — Por que eu te daria o meu celular? — Não confia em mim? — Não. — Sua sinceridade é o que eu mais gosto em você
— Pense pelo lado bom, quem te chama de puta oportunista adoraria estar no seu lugar, enfiando a língua na boca do melhor do mundo — ele brincou, em uma tentativa de fazer a situação menos pior. Mesmo que tentar animar alguém que o odiava parecesse uma missão impossível. — Mas eu não enfio a língua na sua boca. — Bom, essas pessoas acham que sim. — Vou espalhar por aí que você tem cheiro de esgoto. — Tenho cheiro de esgoto? — Não, seu perfume é muito bom — ela fungou outra vez, limpando o rosto com a ponta do cobertor. — Mas seria engraçado ver o que diriam se eu falasse que sim. — Pare de
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— Vai ficar me encarando igual um panaca? — Ah, você quer que eu dê o fora…? — Nah, você pode ficar. — Ela deu de ombros. — Preciso de alguém pra pegar outra fatia quando eu terminar essa. Daniel revirou os olhos. — Sabe, colocar a culpa em mim não vai me fazer virar seu subordinado. Sim, iria. Ele mesmo se culpava o suficiente para isso, por mais que tentasse negar. — Cala a boca e senta. Ele suspirou antes de sentar-se ao lado dela. Mariana lhe entregou um garfo para que dividissem a torta. — Você vai assistir novela comigo — ela decretou. — É uma sessão de tortura? — Seria se eu não
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— Da próxima, compre da esquina. Ele resolveu ignorar a insinuação de que haveria uma próxima vez.
Daniel não conteve um sorriso, mas se manteve em silêncio. Depois de duas horas de novela, ele percebeu que talvez também gostasse daquilo mais do que esperava. Depois de três horas, Mariana havia dormido e ele continuava assistindo. Não que tivesse muita escolha — e, mesmo se tivesse, ele provavelmente ainda não pararia. Em algum momento, Mariana havia apoiado a cabeça em seu ombro e esticado as pernas sobre as suas, e ele não iria acordá-la para se levantar. Mesmo que lhe causasse um certo incômodo, uma pontada que ele conhecia bem para os dias ruins, mas ainda não ruim o suficiente para que
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— Ela tá mesmo mal, né? — o mais velho perguntou. — Pra ficar assim em mim, imagino que sim.
— Ei, Dan — Dias o chamou, quando já estava prestes a passar pela porta. — Muito obrigado por tudo.
— Meu pai disse que eu deveria avisar que, se você encostar um dedo em mim, ele vai te bater. — Ela se aproximou, parando diante dele. Havia sido uma brincadeira de Marcos, ela sabia muito bem disso. Mas a expressão confusa de Daniel foi impagável. — Se eu quisesse encostar em você desse jeito, já teria tomado atitude há muito tempo. Diga que ele não precisa se preocupar.
Ela se sentiu uma idiota por realmente ter considerado que o dia anterior teria mudado alguma coisa entre eles. Que talvez pudesse dizer que havia qualquer resquício do que poderia ser uma amizade, ou que a convivência entre os dois melhorasse dali pra frente. Não que ele merecesse a sua amizade, é claro. Mas não a impedia de ter pensado nisso.
— Você xinga bastante quando fica irritada, não é? — Vai se foder. — Mais uma vez — o loiro cantarolou, e Mariana precisou se segurar para não ofender até a sua décima geração. — Você veio no seu carro? — Sim, porra. Por quê? — Nós vamos juntos, ora. Ela o fitou, quase atônita. — Você conseguiu processar uma palavra sequer do que eu te disse? — Consegui, e não é uma novidade que você pense tudo isso. E eu já disse que quero que vá, então não vejo mais motivos para continuar esse debate. Vamos? — Não! Daniel suspirou, claramente exausto. — O que você quer? Um pedido de desculpas? — Não seria o
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— Porra. Eu sei que você me odeia e que você só espera o pior de mim, e, acredite, eu também. Mas você poderia, por um momento, parar de confirmar que não é um sentimento só meu?!
Ele sabia que perderia aquela discussão, e qualquer outra que tentasse ter com Mariana.
Ela deu de ombros, e Daniel quis socar a cara na parede outra vez por ter dado a entender que não queria nem mesmo a amizade dela. Ainda assim, não abriu a boca para contestá-la.
— Eu não te entendo — ela murmurou, quando ele se sentou no banco de passageiros. — Eu também não — Daniel confessou, balançando levemente a cabeça. A frase seguinte soou tão baixa quanto a primeira. — Mas gosto quando você me faz pensar nisso.
Se teria que atuar como a namorada de Daniel publicamente pela primeira vez, preferia que ele estivesse por perto. Nem se fosse para segurá-la caso acabasse prestes a socar a cara de Daniel na areia.
— Ei, Paulo — ela o chamou, inclinando-se para um pouco mais perto de onde o ruivo estava no chão. Ela abaixou o tom de voz antes de continuar. — Daniel já falou algo sobre mim quanto aos treinos? — Já, algumas vezes. Ele fala muito bem da sua defesa. — Paulo deu de ombros, tornando a se esticar para alcançar o pé como se o assunto não fosse grande coisa. — E do seu chute. Ele tem medo do dia que você acabe chutando ele por isso.
— Ela é bonita. — Mariana deu de ombros. — Mas esse vestido é horrendo. — Ela é modelo. Entende de moda. — O mais alto revirou os olhos. — É algum tipo de indireta, William? — A morena o encarou. — Não é como se você tivesse alguma formação nisso para, sabe, opinar. — Quando eu tiver grana para me vestir mal em algo da Gucci, talvez esteja ao seu nível. — Ela se inclinou, roubando o último pedaço de pizza, ignorando o olhar mortal que Daniel lhe lançou.
— Você odeia compromissos tanto assim? — Não odeio, só não me importo o suficiente para sair procurando por aí ou achar que qualquer um que queira me beijar possa ser o amor da minha vida — ele bufou. — Tipo, foda-se, namoros nem são tão importantes assim. — É você quem está fingindo um namoro. — Por falta de opção. — Ele franziu o cenho.
Daniel abriu a boca para responder, mas não pareceu conseguir formular qualquer coisa. — Não comece com essa merda. — O quê? — De agir como se você não fosse bonita. Mariana o examinou, analisando mentalmente se ele estava falando sério ou não. — E eu sou? — questionou, por fim. — É claro. É claro. Certo. — Isso não faz parte do nosso teatro. — A morena se levantou com um suspiro cansado. — Você não precisa mentir pra fazer com que eu me sinta melhor nessa situação. — Dias, para. — Ele se apressou, parando na sua frente. — Quero tomar um banho. Posso? — Retire o que você disse. Ela riu, seca.
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ela riu, tentando não olhar demais na direção do loiro. Talvez fosse uma parte da Mariana de quinze anos se manifestando dentro dela. O que era ridículo, uma besteira. Não havia nada grande demais na Mariana de quinze anos.
— Eu me recuso a dormir na mesma cama que você dorme. — Eu troquei os lençóis, garota. Não sou tão largado assim. — Não me chame de garota! — Durma na porra do quarto. — Por que eu não me surpreendo que estejam brigando outra vez? — Paulo cantarolou, aumentando o volume da televisão. — Não vou dormir no seu quarto — Mariana deliberou, cruzando os braços. — Tudo bem, princesa. Fique e me observe dormir no sofá pelo resto da noite. Ela precisou respirar fundo. — Tudo bem. — Mariana assentiu, por fim, acomodando-se no sofá. Se ele queria que aquilo fosse outra disputa, então seria. — Sério?! —
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