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Os dias mais estranhos - 35. Mudança (mutação, transformação, metamorfose)

Claro que, como não podia deixar de ser, toda a atenção que eu dava à Mónica tinha repercussões no resto da minha vida. A minha atenção para a banda, bem como para os meus amigos diminuía drasticamente. A partir daquele momento passava cada momento que podia ao lado dela. Não me queixava. Antes pelo contrário. Era notório, sobretudo para quem melhor me conhecia, que pela primeira vez não me limitava a estar num estado de alguma felicidade. Pelo contrário. Sentia-me feliz e bem comigo próprio. A minha nova e descoberta segurança reflectia-se em muitos campos da minha vida. A maior parte das repercussões era positiva. Mas nem todas o eram.A minha relação com a minha banda começou a deteriorar-se. Não com os membros da banda pessoalmente. Entre todos éramos quase como uma família. Não posso dizer que tivesse com eles uma relação no mesmo grau que tinha com o Raul e com o Zeca. Não com todos pelo menos. Mas a relação que se deteriorava era com a banda em si enquanto entidade.Se por um lado a minha estada em palco era mais segura, sentindo-me muito mais à vontade, por outro a minha falta de tempo começou a ser notória. Tenho a certeza agora, que isso aconteceu devido ao facto de eu deixar de ter na música um veículo de afirmação. Antes pelo contrário, via-a como um forma de expressão. Claro que, numa banda de bares onde tocávamos exclusivamente músicas de outras bandas, isso tornava-se problemático. A minha vontade era completamente diferente. No entanto e sobretudo pela amizade que tinha aos membros do grupo, lá ia fazendo um esforço. Mas a minha quebra de rendimento era notória. No entanto, afirmo que não era só eu a criar os problemas. Algumas fricções de ideias começaram a surgir. Era normal. Mas as discussões, sobretudo nos ensaios, começaram a surgir o que gerava, por vezes, mau clima. Curiosamente, apesar dessas discussões, sempre conseguimos deixar tudo fora do palco, e depois de um concerto, sobretudo quando corria bem, encontrávamos aquela sensação de união que sempre nos soube bem.Não era só com a banda que as coisas corriam de maneira diferente. O espaçamento com que me encontrava agora com os meus amigos era enorme, e essa distancia tinha, como sempre tem, o condão de afastar as pessoas.Já a nível positivo, posso afirmar que a minha relação com o sexo oposto estavam agora completamente diferentes. Em primeiro lugar parecia conseguir perceber melhor as mulheres, pelo menos na medida do possível que é permitido a um homem. Em segundo, perdera parte da timidez que sempre me caracterizara, sendo que a minha auto-confiança me permitia encarar quem não conhecia com uma atitude bastante afirmativa. De uma maneira subtil estes novos traços de personalidade faziam com que eu, ainda mais a seguir aos concertos, depois de ter estado exposto num palco, atraísse mais atenções. Como era óbvio, o meu ego sentia-se bem com este novo estado.Mas mais óbvio era isto ainda quando eu saia com a Mónica. De facto, quando íamos a qualquer lado eu sabia, e ela também, creio, que eu era alvo das invejas de todos os homens por que nos cruzávamos. Mas era também alvo da cobiça de todas as mulheres. A inveja …
Mas era aí que a Mónica demonstrava a sua classe, encarando a situação com uma naturalidade e calma quase sobre-humanas. Aquilo que faria provocar uma cena de ciúmes a qualquer outra mulher era olhado por ela com não mais que um sorriso superior. Por vezes chegava a chamar-me a atenção para as atitudes de uma ou outra mulher que de alguma forma olhavam para mim. Depois riamo-nos com estas situações. Ela sabia que eu não sairia do seu lado e isto dava-lhe uma confiança absoluta em mim. Eu sabia que estas situações se deviam ao facto de eu estar com ela, e não por mim. Não podia deixar de anotar para mim mesmo este facto curioso. A rivalidade feminina era, sem dúvida, a natureza humana no seu melhor. E pior…
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Published on November 11, 2015 05:53
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