Os dias mais estranhos - 24. Francisco

Nos tempos seguintes passava cada momento livre que tinha com ela, sempre que o Francisco estava fora. Falávamos imenso, na ânsia que tínhamos de obtermos um profundo conhecimento mutuo. Era assim que passávamos os pedaços de tempo que tínhamos.À medida que a confiança ia crescendo as conversas tornavam-se mais íntimas e as confidências mútuas mais profundas.Foi assim que soube que ela já tinha sido casada antes do Francisco. Casara-se jovem, com 18 anos, bastante influenciada pelos pais. Era-me particularmente difícil imaginar esta mulher, tão segura de si, a ser influenciada por alguém. Os pais achavam que o homem que tinham escolhido para a filha era o ideal. Era alguém com posição, financeiramente estável. Ela, que o via apenas raramente durante o namoro, deixara-se iludir pelo que ele parecia ser.Algum tempo depois do casamento veio a desilusão e a traição. Veio também a Raquel. O casamento tinha-se desfeito logo no começo, praticamente. No princípio ela ficou com a Raquel, mas depois, vivendo apenas num quarto, estava sem condições para a ter consigo. A Raquel ficou com o pai, enquanto ela tentava reorganizar a vida. Foi o que foi fazendo, até conhecer o Francisco. Conhecera-o através de amigos mútuos, numa altura em que ele estava numa situação precária, quer a nível financeiro, quer pessoal. Com as suas empresas à beira da falência, ele dispersava-se. Estava deprimido e sem saber o que fazer. Ela tinha-o ajudado o melhor que podia, oferecendo-lhe a sua amizade. Ajudou a recuperar a sua auto-estima. Ajudou-o com alguns contactos que tinha. Criaram uma amizade especialA medida que as empresas dele começaram a dar melhores resultados, ele foi nutrindo uma paixão por ela. Apaixonou-se completamente.Ela, julgando conhece-lo e pensando na sua filha, acabou por ceder.A Raquel começou a passar cada vez mais tempo junto com a mãe, embora nem a Mónica nem o pai quisessem que a mudança fosse repentina. Mas estava para breve a mudança definitiva, com a chegada do fim do ano lectivo.Entretanto, Francisco percebera já que a Mónica não o amava, embora soubesse o quanto era inabalável a sua amizade e dedicação. Mas isso amargurou-o de alguma forma, e ele começou a trata-la de maneira diferente, exibindo-a como um troféu, como se ela fosse sua propriedade. Um verdadeiro símbolo do seu sucesso. Testando cada vez mais os limites da sua relação, e intuindo que Mónica nada faria por causa do desejo que nutria de ter consigo a sua filha, começou a fazer jogos com ela, a todos os níveis.A Mónica nunca quis entrar em pormenores acerca do que se passava na sua vida conjugal, e eu sempre respeitei isso. Mas era notório que havia cada vez mais problemas entre os dois. Com uma maior frequência foram aflorando às nossas conversas algumas atitudes que ele ia tomando, mas eu sempre me escusei a comenta-las. No entanto ela sabia que tinha sempre em mim um bom ouvinte, e creio que isso lhe chegava.Entretanto eu fazia tudo para não a pressionar e ela apreciava isso. A maior parte do nosso tempo era perdido em conversas sem fim que tinham lugar em locais públicos onde aparecia sempre alguém conhecido por algum de nós. Raramente nos dávamos sequer à liberdade de um beijo, apesar de os olhares que trocávamos frequentemente expressarem o desejo que sentíamos. Creio que em parte foi isso que foi fazendo com que a paixão se fosse tornando cada vez mais intensa. O fruto proibido…
Mas no meio de tudo isto foi o Francisco que acabou por precipitar uma série de situações, sem sequer o saber.
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Published on November 05, 2015 06:43
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