Os dias mais estranhos - 20. Deusa (divindade, diva, beldade, deia)
Houve alguns motivos para deixar o meu apartamento e voltar para casa materna. Embora a coisa que eu mais prezasse fosse a minha independência, o facto de eu saber que ela não a comprometeria e que se encontrava e sentia algo sozinha pesou de sobremaneira na minha decisão. Claro que houve também considerações monetárias que forçaram esta situação, mas a decisão não me desagradou. O facto de o estúdio onde ensaiava a minha banda se encontrar num barracão anexo à moradia que ela tinha na Quinta do Conde e a deslocação quase diária para lá começava a tornar-se penosa, sendo que as visitas esporádicas que fazia a casa já não justificavam a sua manutenção.Além disso, fiquei também com tempo livre para começar a dar mais atenção à minha música, sendo que foi por esta altura que comecei a fazer algumas composições originais.Por vezes saía à noite com a Magdalena para bebermos um copo e uma boa conversa. Nunca passamos daí. Não o queríamos. Tínhamos o que tínhamos, a amizade um do outro, e chegava.A Magdalena começou a tornar-se “casamenteira” convidando-me para tudo quanto é jantar ou festa para me puder apresentar às amigas, convite que sempre recusei. Na verdade, estava ocupado em muitas ocasiões sendo que noutras não contrariava a minha vontade de estar só, como direito que me assistia.A minha vida tinha dado uma volta, mas nos meus pensamentos a Mónica continuava viva, agora posta num pedestal, intocável como uma Deusa grega.
Published on November 04, 2015 05:41
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