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A Procura (II)

O ronco do motor da minha mota enquanto deslizávamos pelas avenidas sempre me reconfortou e deu uma sensação de liberdade quase inexplicável. Hoje não era diferente.
Acelerei pelas avenidas sem destino, deixando-me levar apenas pelo gozo de conduzir. Num acto de rebeldia tirei o capacete para sentir o vento na cara. Não era meu objectivo chegar a lado nenhum depressa, deslizava apenas tomando atenção ao que me rodeava.
Ocasionalmente pelas ruas observava os locais do costume cheios de profissionais da noite, via os carros a passar devagar e ocasionalmente a parar. Palavras trocadas num ápice com elas por vezes a entrarem, outras não.
Fui andando. A verdade é que o “algo” que procurava era completamente indefinido.
Acabei por estacionar a mota num parque subterrâneo, e sai a pé até um bar. Estive, vi música ao vivo, o bar estava cheio de gente gira, mas deu-me a sensação que todos eles procuravam também algo indefinível, embora não se tenham dado conta disso.
Acabei por sair, como tinha entrado. Voltei ao estacionamento, e cheguei ao pé da mota com a sensação de vazio de não ter encontrado nada do que procurava.
Sentei-me na mota enquanto ganhava coragem para ir para casa. Um carro entra na garagem. Um Porsche. Admirei o carro enquanto este se dirigia com um ronco surdo para um lugar bem perto de mim. O motor desligou-se, a porta abriu e vejo sair de dentro do carro umas pernas longas, bem desenhadas, a que se seguiu todo o resto de um corpo de mulher absolutamente fenomenal. Produzida, mas sem excessos, elegante, esbelta, com o cabelo comprido, liso, loiro a cair-lhe até ao meio das costas e a emoldurar o rosto.
Olhei-a, não como um homem olha para uma mulher, mas sim como alguém admira uma obra de arte. Admirei-a.
Ela olhou para mim e sorriu.
Puxei de um cigarro, acendi-o, dei uma baforada lenta.
Ela fechou a porta do carro e accionou o alarme. Em seguida guardou as chaves e procurou algo na mala que levava a tiracolo. Tirou um cigarro. Aproximou-se. Passos calmos e seguros. Firme.
-Tem lume? – Perguntou-me.
Puxei do isqueiro e acendi-o. Ela aproximou-se a acendeu o cigarro. Puxou também uma baforada longa e lenta. Olhou para mim com olhos penetrantes.
-Obrigada!
-De nada.
Ia para se afastar. Deu dois passos. Parou. Voltou-se para mim.
-Sozinho?
-Sim.
-De partida?
Limitei-me a encolher os ombros.
-Alguém à espera?
-Não. Ninguém.
Ela sorriu.
-Então porquê partir?
-Não encontrei o que procurava…
Ela olhou-me como se tentasse adivinhar os meus pensamentos.
-Se calhar não encontrou ainda.
-Pois, se calhar é isso.
-E o que procura?
-Não sei…
-Então como é que pode saber se encontrou ou não?
-Acho que sei quando encontrar.
Ela sorriu.
Aproximou-se ainda mais, perigosamente mais, colou o seu corpo ao meu, passou a mão por detrás do meu pescoço, puxou-me para ela, colou os seus lábios aos meus…
…e foi um beijo dado com vontade, desejo, paixão, doçura, tesão, tudo…
…e depois acabou.
Ela afastou-se com o ar de uma miúda que tinha acabado de fazer uma travessura.
-Venha… - disse-me.
Deixei a mota no sítio e segui-a…

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Published on July 02, 2015 02:24
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