Há muitos, muitos, muitos, mas mesmo muitos anos atrás, m...
Há muitos, muitos, muitos, mas mesmo muitos anos atrás, mais concretamente em meados da década de oitenta do seculo passado houve uma onda de solidariedades que varreu o mundo musical.
Começou em Inglaterra com um projecto chamado “Band Aid”, algo que se pode traduzir como “penso-rápido” e esta música:
Depois espalhou-se para os Estados Unidos com o projecto USA for Africa e esta sobejamente conhecida música:
E depois foi a vez da malta do Hard’n’Heavy fazer um projecto chamado Hear ‘n Aid e lançar um hino metaleiro:
Entretanto já houve remakes do primeiro e segundo projectos, com novas gerações de artistas.
Todos estes projectos foram altamente meritórios e tiveram as virtudes de não apenas recolher dinheiro com a venda de discos para ajudar populações em risco, mas também de chamar a atenção para os problemas graves de pessoas que não tinham nada, e quando se fala de nada, é mesmo nada! Nem sequer comida ou água em muitos casos.
Passados trinta anos a situação não melhorou grande coisa!
Mas falo disto não pelos méritos ou desméritos destas acções (se bem que não veja aqui desméritos) mas porque já na altura eu dizia que estes projectos eram uma espécie de lenitivo para as pessoas que compravam os discos. E o que quero eu dizer com isto?
Bem, para muita gente comprar estes discos foi uma espécie de descargo de consciência. “O quê, há crianças a morrer de fome em Africa? É pá, eu já comprei o disco para os ajudar e estou a ouvi-lo enquanto como o meu New York Strip Steak!”. Alguns nem nunca gostaram das músicas, mas ainda assim tinham o disco e, se surgia em conversa, apregoavam aos sete ventos como tiveram de correr umas quantas lojas de discos para o conseguir porque estava esgotado em todo o lado!
E agora vou directo ao assunto, após esta nota introdutória.
A verdade é que as eleições em Portugal são um bocado como estes discos. Todos olham para a situação do país e dizem cobras e lagartos. Todos olham para os políticos e vêem claramente que a Assembleia da Republica é uma espécie de casa de alterne onde há os que apenas trabalham lá e os outros que estão à venda pela melhor oferta! Todos criticam o estado do país, o roubo que nos é feito nos ordenados, o facto de se sustentar empresas privadas, os bancos sobretudo, com dinheiro retirado do bolso dos contribuintes. Todos dizem tudo acerca das parcerias publico-privadas…
…mas depois, chegam as eleições, e há os que nem se dão ao trabalho de ir votar (e que para mim perdem todo o direito a refilar – estes são os que fazem lembrar a anedota do pastor alentejano que passava a vida a queixar-se a Deus que não lhe saia o euromilhões e um dia, estava ele nas lamentações, o céu fecha-se, escurece e das nuvens vem uma voz que diz “Ao menos joga, porra!”), os que em consciência não conseguem votar em ninguém mas vão votar, que são meia dúzia, e os restantes, os que elegem a assembleia e o governo, mas que quando as coisas correm mal (e as coisas por cá correm sempre mal) se escudam no “Mas eu não votei neles!”, sendo certo que, de certeza, alguém votou.
Para estes últimos ir votar é uma espécie de “We are the world” da política. É um descargo de consciência e não uma escolha reflectida e profunda. É como ser do Benfica ou do Sporting. Não há nenhum motivo racional para isso; É-se porque sim! Não se vota no PCP, ou no PS, Ou no BE, ou no PP, ou no PSD por se achar que as ideias que apresentam (já agora, alguém sabe quais são, concretamente, por detrás de discursos políticos ultra-floreados?) são as melhores, vota-se porque se é “do clube”!
O problema é que, tal como nestas músicas, cada vez que se comprava o single os direitos de autor iam para ajuda humanitária…
…mas as companhias discográficas, as fabricas, as distribuidoras e as lojas de discos foi quem ficou mesmo com a fatia de leão.
Na política quem fica com a fatia de leão são os grandes grupos financeiros!
Portanto, este ano, que estamos em ano de eleições, ide. Ide pôr uma cruzinha naqueles que nos roubaram, ide pôr a cruzinha nos outros que prepararam o caminho para sermos roubados cegamente, ide pôr uma cruzinha nos que não apresentam opções realistas (e eles próprios sabem disso e têm pavor a que um dia tenham votações suficientes para integrarem um governo e terem de engolir tudo o que disseram, porque os Portugueses não são os Gregos).
Vão ganhar os do costume, vai continuar tudo em família e vamos continuar a ser roubados!
Mas, temos o que merecemos! Refilar para quê?
Começou em Inglaterra com um projecto chamado “Band Aid”, algo que se pode traduzir como “penso-rápido” e esta música:
Depois espalhou-se para os Estados Unidos com o projecto USA for Africa e esta sobejamente conhecida música:
E depois foi a vez da malta do Hard’n’Heavy fazer um projecto chamado Hear ‘n Aid e lançar um hino metaleiro:
Entretanto já houve remakes do primeiro e segundo projectos, com novas gerações de artistas.
Todos estes projectos foram altamente meritórios e tiveram as virtudes de não apenas recolher dinheiro com a venda de discos para ajudar populações em risco, mas também de chamar a atenção para os problemas graves de pessoas que não tinham nada, e quando se fala de nada, é mesmo nada! Nem sequer comida ou água em muitos casos.
Passados trinta anos a situação não melhorou grande coisa!
Mas falo disto não pelos méritos ou desméritos destas acções (se bem que não veja aqui desméritos) mas porque já na altura eu dizia que estes projectos eram uma espécie de lenitivo para as pessoas que compravam os discos. E o que quero eu dizer com isto?
Bem, para muita gente comprar estes discos foi uma espécie de descargo de consciência. “O quê, há crianças a morrer de fome em Africa? É pá, eu já comprei o disco para os ajudar e estou a ouvi-lo enquanto como o meu New York Strip Steak!”. Alguns nem nunca gostaram das músicas, mas ainda assim tinham o disco e, se surgia em conversa, apregoavam aos sete ventos como tiveram de correr umas quantas lojas de discos para o conseguir porque estava esgotado em todo o lado!
E agora vou directo ao assunto, após esta nota introdutória.
A verdade é que as eleições em Portugal são um bocado como estes discos. Todos olham para a situação do país e dizem cobras e lagartos. Todos olham para os políticos e vêem claramente que a Assembleia da Republica é uma espécie de casa de alterne onde há os que apenas trabalham lá e os outros que estão à venda pela melhor oferta! Todos criticam o estado do país, o roubo que nos é feito nos ordenados, o facto de se sustentar empresas privadas, os bancos sobretudo, com dinheiro retirado do bolso dos contribuintes. Todos dizem tudo acerca das parcerias publico-privadas…
…mas depois, chegam as eleições, e há os que nem se dão ao trabalho de ir votar (e que para mim perdem todo o direito a refilar – estes são os que fazem lembrar a anedota do pastor alentejano que passava a vida a queixar-se a Deus que não lhe saia o euromilhões e um dia, estava ele nas lamentações, o céu fecha-se, escurece e das nuvens vem uma voz que diz “Ao menos joga, porra!”), os que em consciência não conseguem votar em ninguém mas vão votar, que são meia dúzia, e os restantes, os que elegem a assembleia e o governo, mas que quando as coisas correm mal (e as coisas por cá correm sempre mal) se escudam no “Mas eu não votei neles!”, sendo certo que, de certeza, alguém votou.
Para estes últimos ir votar é uma espécie de “We are the world” da política. É um descargo de consciência e não uma escolha reflectida e profunda. É como ser do Benfica ou do Sporting. Não há nenhum motivo racional para isso; É-se porque sim! Não se vota no PCP, ou no PS, Ou no BE, ou no PP, ou no PSD por se achar que as ideias que apresentam (já agora, alguém sabe quais são, concretamente, por detrás de discursos políticos ultra-floreados?) são as melhores, vota-se porque se é “do clube”!
O problema é que, tal como nestas músicas, cada vez que se comprava o single os direitos de autor iam para ajuda humanitária…
…mas as companhias discográficas, as fabricas, as distribuidoras e as lojas de discos foi quem ficou mesmo com a fatia de leão.
Na política quem fica com a fatia de leão são os grandes grupos financeiros!
Portanto, este ano, que estamos em ano de eleições, ide. Ide pôr uma cruzinha naqueles que nos roubaram, ide pôr a cruzinha nos outros que prepararam o caminho para sermos roubados cegamente, ide pôr uma cruzinha nos que não apresentam opções realistas (e eles próprios sabem disso e têm pavor a que um dia tenham votações suficientes para integrarem um governo e terem de engolir tudo o que disseram, porque os Portugueses não são os Gregos).
Vão ganhar os do costume, vai continuar tudo em família e vamos continuar a ser roubados!
Mas, temos o que merecemos! Refilar para quê?
Published on June 17, 2015 04:08
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