in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 6


SEIS

- Bom dia, dorminhoca, pronta para o dia? - Maeve estendeu-lhe uma caneca de café com leite morno quando Maria entrou na cozinha. Ainda não vira ninguém. Naquele dia só lhe apetecia voltar a ser normal e se possível ir para casa e mudar de roupa, já andava com a mesma há dois dias, o que lhe valia é que Maeve lhe arranjara roupa interior lavada. Aceitou a caneca com prazer colocando um pedaço de bolo de canela na boca. Pegou num prato e sem cerimónias serviu-se de mais sentando-se numa cadeira ao lado de Maeve. - Estamos sozinhas? Maeve anuiu com a cabeça.- Felizmente teremos um pouco de sossego. - Onde foram?- A tua casa. - Porque não me levaram? - pousou a caneca tentando não cuspir migalhas enquanto falava. - Tem calma, a tia foi protegê-la e os meus primos foram protegê-la a ela. - Nesse caso, quem nos protege a nós? - a voz devia ter saído mais sarcástica do que pretendia, Maeve lançou-lhe um olhar reprovador - Acredita quando digo que vos estou muito agradecida por me terem aturado este fim-de-semana. Não quero parecer ingrata, mas hoje tenho aulas e gostava de ir. Além de que ainda tenho de encontrar as palavras certas para desancar a Rita. Resumindo, tenho uma vida fora desta casa que não posso descurar só porque caí num conto de Fadas.- Antes fosse um conto, menos de Fadas. - Maeve suspirou desanimada - Os homens estão a tratar de tudo, fica descansada que esta tarde vais ter uma nova colega. - Vou?Maeve levantou-se feliz rodopiando sobre si mesma. - Eu! - Pareces-me feliz de mais, espera até conheceres alguns dos professores.- Vai ser fantástico. Aquela família não deixava de a surpreender, mas a verdade é que depois de tudo o que vira e ouvira começava a sentir-se preparada para tudo. Acabou de comer, levantou-se arrumando a loiça suja como os vira fazer dentro da máquina. - Vou dar um passeio, queres vir comigo Maeve?- Vais onde?- Apanhar um pouco de ar fresco. – depois de toda a chuva o sol brilhava radioso, já estava cansada de estar fechada dentro daquela casa sem poder fazer nada. – Será que posso sair, minha senhora? – Maria fez uma reverente vénia.- Não deve haver problema, afinal é dia. - Maeve levantou-se passando por ela - Está frio lá fora, vou buscar-nos camisolas, depois vamos.Não lhe apetecia particularmente ir acompanhada, mas parecia que andar sozinha deixara de ser uma opção. - Despacha-te! – estava desejosa de sair dali e simplesmente respirar ar fresco - Antes que o sol desapareça.Maeve com uma singular graciosidade subiu a escadaria a correr. Não conseguia deixar de admirar a beleza de todos, mas Maeve era particularmente bonita. Um corpo perfeito, praticamente da altura dos primos, pernas bem torneadas, olhos azuis, um cabelo loiro cheio que lhe caía ao longo das costas praticamente até à cintura, rosto angular. Bastante parecida com a tia. A mãe também devia ser da mesma beleza estonteante. Sentia-se um patinho feio num lago de cisnes.Maeve regressava com uma camisola grossa vestida e outra para ela.- Toma veste, tenho a certeza de que esta cor te fica muito bem. – Maeve entregou-lhe uma camisola azul-marinho que lhe assentava que nem uma luva. Obedeceu para não perderem mais tempo.Abriram a porta deixando-a encostada. O dia estava realmente muito bonito, apesar da temperatura ter descido drasticamente. - Não podemos sair da luz. - Maeve sentia-se francamente assustada, não sabia se tinha sido boa ideia saírem de casa. Maria sentia o seu nervosismo, deu-lhe a mão apertando-lha, assegurando-a de que nada lhes aconteceria. Caminharam até ao lago onde estivera com Freya, Maeve continuava hesitante olhando constantemente para trás parecia temer que as seguissem.- Não nos devíamos distanciar de casa.Para Maria não estavam assim tão afastadas.- Tenho andado para te perguntar. Quantos anos tens Maeve? - Quantos me dás? - Maeve parecia divertida.
- Dezassete? - Pois…, - deixou a voz arrastar-se continuando em tom zombeteiro. – um pouco mais, dezanove.- Quando foi o teu aniversário?Maeve soltou uma gargalhada de puro deleite. - Já há algum tempo. - os olhos sorriam deliciada com a pergunta.Maria sorriu-lhe não insistindo, tinha a certeza que na noite anterior escutara mal quando ouvira falar em séculos. Fizeram o resto do caminho em silêncio contornando a casa, tendo o cuidado de evitar a escuridão. Com o temor que via no olhar de Maeve, Maria começava a ter a sensação de que eram observadas do cerrado bosque no exterior da propriedade. Maeve sentia o mesmo. Evitava olhar naquela direcção pois sempre que o fazia via olhos brilharem no escuro, seguindo-as. Ouviram o que lhes pareceu um rosnar, apertaram as mãos, tudo o que as separava do que tinham escutado era a luz do sol, mas já não se sentiam seguras.Pela primeira vez Maria sentia o temor que Maeve lhe tentara transmitir desde o início do passeio. Instintivamente aceleraram o passo regressando para a frente da casa. Maeve apertou-lhe o braço fazendo-lhe sinal para que olhasse para o céu. Maria apercebeu-se do que a afligia, aproximavam-se nuvens que iam deixá-las na escuridão antes de conseguirem regressar. Sem pensar, apertou com força a mão de Maeve, começando a correr, os sons que ouviam provindos do bosque também se tinham apercebido do que estava para acontecer começando a rugir mais alto. Começaram a correr com a velocidade que as suas pernas permitiam, tentando não tropeçar nos ramos caídos ao longo do caminho. Conseguiam ouvi-los cada vez mais perto quando a primeira nuvem tapou o sol, Maria apercebeu-se que algo lhes tentava cortar o caminho, instintivamente puxou Maeve para trás de si sentindo uma excruciante dor no braço direito. Não pararia, o seu único pensamento era colocarem-se a salvo, afinal era por sua culpa que se encontravam naquela situação. Maeve avisara-a e não fizera caso. O sol voltava a espreitar através das nuvens, era a oportunidade de que necessitavam. Puxou Maeve com força galgando os degraus da entrada, empurrou a porta mergulhando para dentro de casa quando a escuridão se abatia sobre Yggdrasil. Maria suspirou alto, estavam em segurança. Ouviram um uivo de raiva no exterior da porta, num misto de ódio e desespero. Maria fechou a porta com um pontapé, ainda não estava preparada para ver fantasmas ou o quer que aquilo fosse. Sabia que tão cedo não esqueceria aquele som, soara-lhe ao lamento de uma mulher. Deixou-se tombar com o olhar fixo no tecto quando sentiu a dor, um latejar ao longo do braço direito as lágrimas afloraram-lhe aos olhos a custo sentou-se reparando que tinha a manga rasgada do ombro ao cotovelo de onde lhe escorria sangue numa quantidade considerável, tendo já manchado o bonito chão de pedra. - Maria! Estás a sangrar? O grito de Maeve trouxe-a de volta. Sangrava em abundância, não percebia onde se ferira daquela maneira. - Temos de colocar pressão sobre a ferida. – Maeve levantou-se andando de um lado para o outro - Onde guardamos o kit de primeiros socorros? – sentia-se confusa.- Estou bem, parece pior do que é. Estás ferida? Maria levantou-se com dificuldade, sentia uma dor dilacerante que lhe atravessava todo o lado direito do corpo, não conseguia mexer o braço. Observou Maeve, sentia-se feliz por não estar ferida, sentia que cumprira com a sua obrigação. “Que coisa estranha, para pensar.”. A dor dava-lhe náuseas, sentia vontade de vomitar.- Vou ter de me sentar.- Estás com tonturas?Não se sentia com força para lhe responder. Apoiando-se em Maeve sentou-se no chão ao lado da poça que se formara com o seu sangue.Maeve tinha de ir buscar uma toalha limpa para pressionar a ferida, mas não a queria deixar sozinha. Ouviram barulho no exterior, viram a porta entreabrir-se, Maria com dificuldade colocou-se de pé posicionando-se à frente de Maeve.Maeve estava espantada com a sua perseverança, não sabia onde arranjara forças para se voltar a erguer, estava cada vez mais pálida. - Mantém-te atrás de mim! Maeve abraçou-a pela cintura evitando que caísse.Maria olhava à sua volta irritada, com tantas armas a decorar as paredes e não tinha nada com que as defender. Mas não cairia sem dar luta, o braço que não estava ferido teria de servir.Maeve segurava-a com determinação quando a porta se abriu e viram a cara de Eoghan. Suspiraram de alívio. Eoghan reparou de imediato no sangue avançando com a fúria no olhar pronto a atacar quem se atravessasse à sua frente. Gritou pelos irmãos que em segundos entravam a correr.Rhenan percebeu que Maria estava ferida e perante o olhar suplicante da prima tomou-a nos seus braços.- O que aconteceu? - Freya entrara por último, olhara de imediato para a sobrinha reparando que apesar de se encontrar em choque, estava ilesa. Já o braço ensanguentado de Maria pendia ao lado do corpo. Rhenan já a transportava para o sofá da sala. - Coloca-me no chão, garanto-te que não volto a desmaiar, apesar das circunstâncias sinto-me estranhamente bem. – a vontade de vomitar e a dor de cabeça tinham passado apesar de se sentir dormente.  - Isso é da adrenalina, mas não estás bem, estás a sangrar. – Rhenan sentou-se no sofá com Maria ao colo, mais do que ela necessitava daquele contacto. A ideia de a perder estava a enlouquecê-lo. - Foi só uma arranhadela, – o braço recomeçara a doer - vou sujar o sofá. Rhenan virou-se para a prima com os olhos a faiscarem de dor. - Não te tínhamos dito para não saírem de casa? - Foi só um passeio. - Maeve sentia vontade de chorar não tirando os olhos de Maria – Tivemos o cuidado de caminhar sempre na luz, mas de repente apareceram nuvens e saiu algo do bosque que nos perseguiu. Se não fosse a pronta resposta da Maria nenhuma de nós estaria aqui.  - A culpa foi minha. – fora por insistência sua que tinham saído. Não resistiu passando a mão ao de leve na barba por fazer de Rhenan que gemeu ao seu toque fechando os olhos – Insisti, estava um dia tão lindo. - Maria encostou a cabeça ao seu pescoço enquanto falava.O hálito quente de Maria de encontro à sua pele estava a enlouquecê-lo.Fionn abraçava a prima acalmando-a. - Desculpa Maeve, mas a camisola está estragada. - Estás preocupada com a camisola? - a situação de tão ridícula que era fez Maeve sorrir.Freya entrou transportando uma bandeja com uma infusão, gazes, uma tesoura e material de sutura. - Vou levar pontos? – Maria observava tudo o que Freya pousara na mesa – Não sou muito amiga de agulhas. – torceu o nariz quando viu o tamanho da agulha.Freya sorriu-lhe.- Prometo ser cuidadosa. Não vais ter mais dores do que as que sentes neste momento. Vou anestesiar-te o braço.   - Preferia que me dessem com uma marreta na cabeça. Eoghan e Maeve riram-se aliviados pela boa disposição que Maria mantinha apesar das circunstâncias.- Pode arranjar-se, mas se preferires trago-te algo forte para beberes. – Fionn já servia uma dose dupla de Jameson.- Posso começar? – Freya falava para Maria – Vamos ter de te despir da cintura para cima, tenho de ver a extensão da ferida e limpá-la bem, é capaz de doer um pouco.Maria fez-lhe sinal com a cabeça, afastando-se de Rhenan o suficiente para que Freya a ajudasse a despir-se voltando a encostar-se.Rhenan respirou fundo, o contacto da sua pele quente era uma prova à sua capacidade de resistência. Evitava olhar para a sua nudez, sentia o coração bater descompassadamente. Os irmãos observavam-no num misto de pena e gozo sabiam o que sentia com Maria seminua nos seus braços. Trocando um olhar cúmplice entre eles, sorriram.Freya concentrou-se no que fazia começando por limpar a ferida, felizmente não era funda, mas ainda era extensa. Parecia ter sido feita com uma adaga, ou uma garra, a sutura ia ser maior do que pensara inicialmente, mas faria tudo para que mal se notasse a cicatriz.Fionn entregou o copo com whisky a Rhenan que o encostou aos lábios de Maria.- Bebe devagar para não te engasgares. – a voz soou mais rouca do que o habitual.Freya olhou para o filho percebendo pela sua expressão que tinha de se despachar.   Maria bebeu, tossindo, fazendo sinal com a mão a Freya para que esperasse, ainda não se sentia preparada. Fionn voltou a encher o copo, entregando-lho.Só depois do terceiro copo se sentia pronta, confortavelmente descontraída assentiu com o polegar virado para cima. Os seus receios bem como as suas inibições caíram por terra e enquanto Freya tratava dela encostou a boca ao pescoço de Rhenan começando a beijá-lo, a sua cara roçando a dele, roçando-lhe os lábios com os seus, mordiscando-o. Os olhos de Rhenan ardiam de prazer, evitando mexer-se, segurando-a para que mantivesse o braço imóvel. - Por favor mãe, despacha-te. - a voz de Rhenan saía praticamente inaudível, transpirava por todos os poros enquanto Maria continuava a sua viagem tortuosa pelo seu pescoço. Rhenan não conseguiu evitar gemer alto. - Maria, tens de parar.  Mas Maria já não o ouvia, continuando a provocá-lo sem se aperceber que o fazia.  Com o ambiente consideravelmente desanuviado, sentados nas cadeiras do bar cada um com um copo na mão, Fionn e Eoghan apreciavam o autocontrolo do irmão limitando-se a comentar em surdina. - Acho que vou tirar a camisola, estou a suar só de olhar. - Fionn piscou o olho a Eoghan - Esta sidhe não brinca em serviço.Eoghan lamentava a situação em que o irmão se encontrava sabendo dos seus sentimentos por ela. Pelo que Maria inconscientemente lhe fazia e a mãe lhe pedia.Freya evitava encarar o filho concentrando-se, infelizmente não conseguia coser mais depressa. Maeve juntou-se aos primos no bar, não conseguia ficar mais tempo perto de Rhenan, indiferente ao seu esforço. Não se mexia apesar do que Maria lhe fazia.- Estamos a beber o mesmo? – Fionn olhava divertido para o rótulo da garrafa e para Maria.  - Acabei! - Freya suava tanto como o filho. Depois daquela manifestação de afecto tinha de o afastar rapidamente de Maria – Rhenan já a podes colocar no sofá. Foi com dificuldade que obedeceu à mãe. Não se queria separar dela, mas necessitava de um banho gelado. Maeve aproximara-se arranjando-lhe as almofadas, tapando-a com uma manta. Freya acabava de desinfectar o braço colocando-lhe um penso, embrulhando todo o material que utilizara num pano.- Rhenan vem comigo. – olhava para o filho com o pano nas mãos - Tens a certeza?- Sim mãe! – seguiu-a com o coração apertado, a vontade que tinha de beijar Maria enlouquecia-o. Abanou a cabeça numa tentativa vã de afastar os pensamentos, arregaçando a manga entrou na cozinha. Sabia o que fazia, só esperava que mais tarde Maria o perdoasse.Na sala Eoghan estendeu a mão para receber o dinheiro da aposta, contra um desconfiado Fionn.- Meu! Ainda não ganhaste a aposta o dia ainda não acabou.- Parece que não conheces a mãe. Achas mesmo que depois do que vimos, o Rhenan vai passar a noite debaixo do mesmo tecto com a Maria? Paga e cala-te. - continuava com a mão estendida, porém Fionn mantinha-se firme.- Vamos esperar para ver.Maria estava acordada e alerta desde que deixara de sentir o calor de Rhenan. - Estão a fazer apostas comigo?- Contigo? Não! Com o mano velho. - Eoghan sorriu-lhe.- Ele vai-se embora? - parecia que o álcool já não estava a fazer o efeito que devia - A Freya não o quer perto de mim?Maeve sentou-se aos seus pés. - Maria! O Rhenan está perdidamente apaixonado por ti e a tia tem medo de que qualquer distracção vos coloque em perigo… - Eu sou uma distracção?- Para o meu primo és.Maria sentou-se com dificuldade, começava a sentir dores. - Conversa de miúdas, vamos. - Fionn levantou-se, Eoghan seguiu-o. Maria continuava a olhar para Maeve, aguardava uma explicação. O braço latejava, a dor intensificava.Maeve procurava as palavras certas. - Maria, tu és a escolhida. Chegaste para nos ajudares. Segundo a minha tia para que isso aconteça tens de cumprir com certos requisitos e um deles…bem…tens de…não podes…- Ter sexo comigo até atingires a maioridade. - encostado na ombreira da porta Rhenan observava-a com os olhos a brilharem de desejo e tristeza - O que neste instante se está a tornar impossível de suportar. Vou afastar-me de ti contra a minha vontade. Combinei com a minha mãe e acompanho-a na sua viagem.- Vais-te embora? – Maria sentia o coração dilacerado.Não conseguia responder-lhe, os olhos continuavam fixos nos dela quando baixou a manga da camisa. Freya entrou na sala. Trazia um copo com um líquido vermelho escuro, espesso. Maeve sabia o que ia acontecer, levantou-se.- Falamos mais tarde se quiseres. – Maeve parou perto do primo sorrindo-lhe carinhosamente. - Vem comigo. Rhenan continuava parado a olhar para Maria e ela para ele.Maeve enlaçou-o pela cintura obrigando-o a acompanhá-la.Maria continuava a olhar para o local onde Rhenan estivera, queria-o perto dela. Olhou desconfiada para o copo que Freya lhe estendia.- Bebe querida, vais sentir-te melhor. - Porque não nos quer juntos?- Estás enganada. – Freya franziu os olhos sentia uma enorme admiração por aquela menina – O meu filho ama-te, salvaste a minha sobrinha, a partir de hoje és minha filha. - beijou-a na testa - Todos te amamos, somos a tua família, o teu futuro está para sempre ligado a nós. Agora bebe tudo.- É para as dores? - o braço latejava intensamente.- Bebe e depois descansa.Maria levou o copo aos lábios, tinha um cheiro estranho, um sabor adocicado e ao mesmo tempo ferroso. Se era medicamento não devia saber bem, bebeu tudo de um trago esticando o copo vazio. Eoghan entrou na sala sorrindo-lhe. Pegou cuidadosamente em Maria levando-a para o quarto. Maeve já lá estava para a ajudar a lavar e vestir. Reparou que a sua mala de viagem com as suas roupas estava aberta aos pés da cama.- O Rhenan? - perguntou quando viu a porta de separação fechada. Maeve sacudiu a cabeça em negação, seria menos doloroso se não falassem dele.Eoghan beijou-a na testa retirando-se.“Então era assim, tinha-se ido embora e deixara-a sozinha.” - Sinto-me zonza, podes ajudar-me a chegar à casa de banho?- É para isso que aqui estou, queres que te ajude a tomar banho?- Não é necessário. Vou tomar um duche rápido.- Tenta não molhar o penso.Maria anuiu com a cabeça entrando na casa de banho, fechando a porta. Queria ficar sozinha, chorar, não sabia quando se apaixonara por Rhenan, mas a verdade é que não queria ficar longe dele. A água morna escorria-lhe pelas costas quando as lágrimas começaram a cair livremente.
Saiu da casa de banho com uma das suas t-shirts e umas grossas meias.Maeve aproximou-se para se certificar que não molhara o penso, tinha os olhos inchados, estivera a chorar. Sabia que não era das dores do braço, mas do coração.- Queres que te traga alguma coisa?- Só quero dormir.Maeve ajudou a tapá-la com o grosso cobertor certificando-se que ficava confortável.   Não se podia esquecer de telefonar aos pais, não falava com eles há dois dias e não tardava muito para que a mãe viesse à sua procura ou pior, colocasse a Interpol no seu encalce.- Maria, se não fosses tu o mais certo era ter sido atacada e já cá não estar. - Achas que nos confundiram? – bocejou.- Levávamos camisolas com o meu cheiro talvez se tenham confundido e atacaram à toa.- Porquê tu?- Sou uma MacCumhaill. - voltou-se fechando os grossos cortinados evitando que a luz entrasse no quarto permitindo a Maria descansar. Atiçou o fogo e saiu fechando a porta silenciosamente. Maria já dormia. Observara nos olhos de Rhenan algo que nunca vira e pedir-lhe para se afastar era demasiado, mas sabia que o faria sem reclamar. Porém naquele dia a possibilidade de ficar com Maria para sempre tornara-se realidade.Sabia que Rhenan estava no quarto dele, mais uma forte prova à sua resistência.Precisava de falar com a tia antes de partir, necessitava de lhe contar a sua versão dos acontecimentos daquele dia e pedir-lhe conselhos.
- Viste bem o golpe? Tenho quase a certeza que foi feito com uma Dag’OgRhenan preparou um saco com mais roupa do que gostaria, não sabia quanto tempo a mãe pretendia mantê-lo afastado de Yggdrasil. Deu por si com a mão no manipulo da porta de separação sem coragem para o abrir para se despedir. Conseguia ouvi-la respirar descansada, apesar de se lamuriar esporadicamente com dores. Reparara que o corte tinha sido feito por uma garra, quem a atacara fizera-o propositadamente ou confundira-a com a prima? Qualquer uma das hipóteses lhe deixava os nervos à flor da pele. Sentou-se no chão de cabeça pendida, costas encostadas à porta, a única barreira que o separava dela. O seu pensamento voltava sempre àquela tarde quando a tivera nos braços. Sentira o seu calor, o sabor dos seus lábios. Desejava-a acima de tudo, de bom grado daria a sua vida pela dela. Suspirou alto. Bastava-lhe abrir a porta para a ter, deitar-se ao seu lado e reconfortá-la. Ao mesmo tempo tentava convencer-se de que um ano passaria depressa. A mãe não sabia o que lhe pedia.Encostando a cabeça à porta deixou-se ficar o resto da noite de olhos fechados envolto nos seus pensamentos.
Freya sabia que pedia demais ao filho. Observara o temor que sentira ao encontrar Maria ferida, vira o amor e desespero porque passara quando a segurara nos braços. Não queria afastá-lo dela, mas apaixonado tornava-se num alvo fácil e não estava preparada para perder outro filho.Já tinha feito o que a levara ali. Na sua ausência contava com os filhos e a sobrinha para ajudarem Maria. Gostara daquela menina mal colocara os olhos nela, da sua perspicácia, inteligência, cordialidade, sentia que a conhecia, mas acima de tudo sentia que faria o filho feliz. E Rhenan merecia. Apesar das circunstâncias sorriu feliz. Continuava a espantar-se como aceitara tão bem tudo o que lhe contara, a maneira como reagira quando fora atacada e acima de tudo a coragem demonstrada ao defender a sobrinha. Reviu mentalmente o que ainda tinha para fazer. Ficara decidido que Maria retomaria as aulas na companhia de Maeve. Passavam a dividir as dormidas entre a casa dela e Yggdrasil, estavam ambas protegidas. Eoghan e Fionn manter-se-iam sempre por perto.Nesse ano, Maria teria de saber tudo sobre o Clã e aprender a lutar. As suas características de vidente apareceriam com o tempo, como aliás já acontecera quando comunicara com Lochan. A possibilidade de voltar a abraçar o filho, enchia-lhe o coração de esperança. Fechou a mala.Preocupava-a que Maria fosse passar o Natal a casa, aí não tinha como a proteger. Faltavam praticamente dois meses, esperava que até lá conseguisse desenvolver algumas das suas capacidades. Tinha de descansar. O dia seguinte seria longo, principalmente na companhia do filho que não estaria certamente com a melhor das disposições. - Obrigada minha Deusa. - acendeu uma vela azul, para lhes dar a tranquilidade de que necessitavam. Antes de apagar a luz lembrou-se do que fizera nessa tarde a pedido do filho, não sabia durante quanto tempo o conseguiriam esconder de Maria. Só esperava que entendesse que era a maior prova de amor que o filho lhe poderia dar.Sentia-se estafada. Dentro de poucas horas estaria novamente a pé, partiam no primeiro voo.




 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on March 22, 2020 03:00
No comments have been added yet.