in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 7
SETE- Seis séculos? Seis séculos? – Maria saía do quarto a falar alto chocando com Fionn que já corria na sua direcção – Au! Vê lá por onde andas. – acordara com a impressão de que tudo não passara de um sonho até sentir as dores. Fionn olhava espantado para Maria sem saber o que fazer ou dizer o que até para ele era estranho. Maria agarrou-o pelos ombros movendo-lhe a cabeça de um lado para o outro - Que idade tens Fionn?Fionn parecia divertido.- Quantos? - Maria insistia, lembrava-se da conversa deles e do que Maeve lhe dissera. Não conseguia tirar da cabeça que eram todos muito mais velhos do que aparentavam, mas séculos? Só a ideia era absurda.- Vinte e dois.- Queres dizer seiscentos e vinte e dois? – deitou a pergunta para o ar esperando.- Mais coisa menos coisa. – Fionn sorria divertido, não o deixava de espantar a astúcia e ouvidos apurados de Maria. A verdade é que descobrira a sua verdadeira idade e ainda não desmaiara, era muito bom sinal.- Seiscentos e vinte e dois?- Na realidade deixei de fazer anos ao atingir os vinte e dois.- Seis séculos? – só podia estar a gozá-la, o que acabara de dizer não fazia sentido - Seis séculos?- Devias comer, pareces-me mais pálida do que ontem, talvez estejas com falta de açúcar. - Quem são vocês? – Maria agarrou o pescoço com as mãos tapando-o.Fionn não aguentou mais rindo alto. - Estás com um ar esgazeado, não te penteaste? Deve ser isso. Começou a andar lentamente para trás afastando-se dele até chocar com Eoghan, sem que se tivesse apercebido da sua presença. Maria gritou quando ele a agarrou evitando magoá-la.Fionn não conseguia parar de rir, as lágrimas caíam-lhe pela cara perante um espantado Eoghan apontando na direcção de Maria sem conseguir falar.Enquanto o irmão se ria como um louco Maria já se afastava deles colocando-se de costas para a parede com as mãos a envolverem-lhe o pescoço. Eoghan não percebia e também ninguém lhe explicava o que se passava.- Diz-lhe a tua idade Eoghan. – já lhe doía o estômago, mas Fionn não conseguia parar.- Vinte e cinco. Mas o que tem isso a ver com a tua loucura? – olhava para os dois sem entender o que se passara entre eles.- Agora já podes fazer as contas. E para ficares com o registo completo a Maeve tem dezanove anos e o Rhenan vinte e sete. Assustada? O teu querido é o mais velho, se calhar devias repensar a tua escolha.- Enlouqueceram? – Eoghan continuava sem perceber o rumo daquela ridícula conversa - Maria dói-te o pescoço?Com a pergunta Fionn deixava-se cair no chão a rir. - Pára! Ainda me matas.Eoghan mantinha distância porque quando se tentava aproximar reparava que Maria se encolhia. Não queria que se sentisse desconfortável com a sua presença apesar de não compreender o que se passava.- Maria, diz-me só se te sentes bem. Maria anuiu com a cabeça.- Então, porque continuas a agarrar o pescoço? Fala comigo, se tens algum mal-estar deves dizer-me. - Sim, por favor diz-lhe. – Fionn levantava-se do chão segurando-se ao corrimão.Eoghan continuava à espera de uma resposta e Maria começava a sentir-se ridícula.- Seis séculos?- O que queres dizer com seis séculos? – não percebera a pergunta dela nem o motivo pelo qual o irmão agia como um idiota chapado. Maria parecia-lhe particularmente estranha naquela manhã.- E depois o idiota sou eu. Permite-me que te explique o estranho comportamento da nossa sidhe.- Também não me pareces muito normal, isto tendo em conta que nunca foste.Fionn ignorou propositadamente o comentário do irmão.- A Maria chegou à brilhante conclusão da nossa real idade.O olhar de Eoghan fixou-se no do irmão que lhe sorria divertido, levantou as sobrancelhas começando a compreender o porquê de todo aquele drama, voltou-se para Maria falando-lhe com a calma que o caracterizava. - É verdade! – sorria-lhe - Temos esses séculos todos em cima e continuaremos por muitos mais, mas podes largar o pescoço que ninguém te vai morder ou sugar-te o sangue. Não somos vampiros. - estendeu-lhe a mão - Agora deixa-me ver se o penso está sujo, ordens da minha mãe. Maria sentia-se ridícula, avançou confiante deixando que a ajudasse. - Está limpo, é muito bom sinal. - Não seria melhor levar uma injecção contra o tétano, tomar um antibiótico?- O que a minha mãe te deu a beber ontem faz isso tudo. Não te preocupes que numa semana tiro-te os pontos.- Tu?- Sabemos fazer quase tudo ou já te esqueceste que somos muito velhos? – Eoghan piscou-lhe o olho apertando-lhe a mão - Por acaso não queres regressar às aulas? A mãe disse que devias. - Onde está o Rhenan? - olhava para Eoghan esperançada.- Partiram esta madrugada. – Eoghan esticou-lhe um envelope que trazia no bolso do casaco - O Rhenan pediu-me que te entregasse isto. Maria olhava para o pedaço de papel sem lhe conseguir pegar.Eoghan sentia o sofrimento dela e vira como o irmão estava abatido quando o deixara no aeroporto naquela madrugada.- Vamos descer, tens de comer. – colocou-lho na mão sem que Maria oferecesse resistência apesar de lhe ter visto uma lágrima. Duvidava que a decisão da mãe tivesse sido a melhor - Sabe que estaremos sempre por perto. A Rita está avisada, não lhe disse o que aconteceu, limitei-me a justificar a tua ausência com o facto de estares perdida com a nossa biblioteca e que ficarias aqui os dias que achasses necessários para consultares os livros.- Claro que achou normal. – Maria sorriu apertando-lhe o braço que lhe estendera para a ajudar a descer - Quero que saibas que toda esta informação está a dar cabo da minha sanidade. A parte racional do meu cérebro diz-me que tive uma concussão e estou em coma algures num hospital de Dublin. A parte sensitiva, diz-me, que tudo isto é verdade. Mas vou precisar de tempo e de toda a ajuda que me puderem dar.- Somos a tua família desde o momento que o meu irmão te viu. É connosco que deves contar.Maria sorriu-lhe triste com a lembrança de Rhenan longe.- Nunca vi o meu irmão feliz e apaixonado como está por ti. Conseguiste fazer o impossível que foi dar-lhe uma razão para viver. Ficou emocionada com as palavras de Eoghan. - Sei que estou apaixonada por ele, mas tenho medo.- Dos seis séculos? – Eoghan apertou-lhe a mão.- Não! Tenho medo de o perder.- Isso não acontecerá. – Maria acabava de lhe dar a confirmação de que necessitava para saber que era a mulher certa para o irmão - A verdade é que andávamos perdidos até apareceres. Graças a ti, finalmente temos uma hipótese de sermos uma família. Maria parou quando chegaram ao vestíbulo obrigando-a a encará-la.- Teremos muito tempo para falar. - Tenho medo de envelhecer e perdê-lo.- Confia em mim quando te digo que isso nunca acontecerá. - Promete que não contas a ninguém o que te disse. - O teu segredo fica seguro comigo. – Eoghan beijou-a na face.Freya deixara-lhes a mesa preparada. Maria reparou num livro com a capa virada para baixo. Sentou-se, virou-o e…- FIONN! – tinha-lhe deixado um original de “Drácula” de Bram Stoker. Eoghan sorria enquanto lhe aquecia uma caneca de café com leite. Maria ainda sofreria muito às mãos do irmão mais novo, com eles passava-se o mesmo e há muito mais tempo.
Published on March 23, 2020 03:00
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