in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 5
CINCO
Acasa estava adormecida, reinando finalmente a paz depois de Freya a proteger com uma infusão de ervas. Rhenan encostou a testa à janela do quarto olhando para a escuridão do exterior, sabia o que ali se escondia. O mesmo mal que lhe levara o pai, o tio e o irmão e que continuava à procura de vingança. Sendo o mais velho dos irmãos, sentia ser sua a responsabilidade de manter a família e Maria protegidos. Maria dormia descontraída no quarto contiguo ao seu. Tinha deixado a porta de separação encostada, conseguia ouvir-lhe a suave respiração, finalmente descansava depois do longo dia que tivera. Levou o copo aos lábios encostando a testa à janela, as últimas palavras que a mãe lhe dirigira antes de se recolherem estavam bem presentes na sua memória. Estava proibido de levar Maria para a sua cama até que atingisse a maioridade. Tremia ao pensar no esforço que teria de fazer durante aquele ano, porém a mãe afiançara-lhe que era a única forma se queriam ser bem-sucedidos. Inspirou fundo, amava o irmão e não faria nada que colocasse em risco o seu possível regresso, cumpriria com as suas obrigações.Naquela noite ficara decidido que se manteriam dentro da protecção que a casa lhes conferia quando começasse a escurecer. A sua prioridade era a segurança de todos. Maria refilara. Não se queria mudar para Yggdrasil, deixar Rita a viver sozinha na casa delas, nem faltar às aulas que acabavam maioritariamente quando já anoitecera. Ficara decidido que Maria lhes deixaria o seu horário. Nos dias em que saía depois de escurecer estariam à sua espera e seriam a sua escolta. Freya prometeu proteger-lhe a casa que coabitava com Rita, com a condição de aceitar que um deles estivesse sempre por perto na eventualidade de necessitar de ajuda. Rhenan voltou-se ao ouvir a porta do quarto abrir. Os irmãos traziam vinho e três copos. Tinham muito que conversar e pouco tempo para o fazer. Fionn olhou para o copo que o irmão levava aos lábios.- Mas é que nem penses, temos de nos manter alerta e o malte não é a melhor opção.- Então para nos manteres lúcidos trazes vinho? – Rhenan pousou o copo vazio aceitando o que Eoghan lhe estendia.- Porque será que passados tantos séculos a beber, a mãe ainda não nos internou nas FA.- FA? - Rhenan olhava-o curioso.- Sim meu! As Fadas Anónimas. – Fionn ria-se divertido - Quem melhor para nos tratar os problemas alcoólicos do que um bando de Fadas neuróticas.Eoghan ria-se com vontade, só mesmo o irmão mais novo para nos momentos mais negros de desalento conseguir encontrar algo que ajudasse a desanuviar o ar. Entre os três despacharam as garrafas que Maria trouxera. Tinham de conversar e as mentes começavam a ficar toldadas.“No vernáculo das Fadas eram um caso perdido”, Fionn limitou-se a pensar. Observava atentamente Rhenan, conseguia sentir a atracção que crescia entre ele e Maria, gostava que o irmão conseguisse encontrar finalmente a sua tão merecida felicidade. - Telefonei à Rita e podia jurar que ficou aliviada por a Maria ainda não ir para casa hoje. - Eoghan soava divertido – Pareceu-me que tem mais medo da reacção dela, do que teve da mãe. Onde é que a miúda tinha a cabeça? Ao menos esperava que a casa acalmasse, nessa altura até eu ia ter com ela. - Desde que não fosses nu. Continuo a preferir ver uma bela mulher a desfilar nestes corredores. – Fionn sorria irónico saboreando o vinho que ainda tinha no copo – Tenho pena que não tivesses sorte com a Rita.- Quem te disse isso? – Eoghan levantou o copo piscando-lhes o olho – Já te esqueceste quem a levou a casa?- Deve ter sido uma rapidíssima. – Fionn reclinava-se no cadeirão esticando as pernas.- Fala o experiente em relações longas e satisfatórias. – Eoghan sorria divertido.- Satisfatórias é garantido, nunca deixo ninguém mal servido. Já longas…é quanto baste.Rhenan escutava divertido os irmãos trocarem experiências. O vinho ajudava-os a descontrair. Não se lembrava da última vez que o tinham feito, mas continuava a faltar-lhes Lochan.
No quarto ao lado, Maria acordara com vozes de homens, riam. Tinha sido uma sensação agradável, durante o pouco tempo que passara com a família ainda não os ouvira tão descontraídos. Dava para perceber como eram unidos. Queria sonhar com Rhenan, beijá-lo, sentir que o seu lugar era nos seus braços e que nada os separaria. Abraçou a almofada suspirando. Conversavam num delicioso dialecto que lhes tornava as vozes mais fortes. Seria embalada por aquele som que voltaria a adormecer. Quando os irmãos saíram, Rhenan espreitou, queria certificar-se que Maria dormia descansada. Não passou do limiar da porta, tinha receio de se aproximar e quebrar a promessa que fizera à mãe.
O sol brilhava, os animais brincavam na cascata de água tépida que atravessava Tara
Published on March 21, 2020 03:00
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