André Benjamim's Blog, page 52
October 10, 2013
Assistam em Directo ao Anúncio do Novo Prémio Nobel da Literatura
Anúncio oficial marcado para as 13h00 de Estocolmo (12h00 em Lisboa, 08h00 em Brasília)
12h30 (hora Paris): Faltam 30 minutos para o anúncio oficial do novo Prémio Nobel da Literatura (a esta hora, se a Academia Sueca o/a conseguiu contactar, o/a novo/a laureado/a já tem conhecimento!). Assistam aqui em directo ao anúncio: http://tinyurl.com/prwz7zp
Está a receber este conteúdo de um blog com página na internet: Ainda que os Amantes se Percam. Façam uma visita, deixem a vossa opinião, partilhem nas redes sociais, se gostaram. Visitar o blog directamente na sua página web ajuda o blog a crescer, e dá motivação ao autor para continuar a escrever.
Luiz Ruffato: discurso proferido na abertura da Feira do Livro de Frankfurt.
Leiam na íntegra o discurso de Luiz Ruffato na abertura da Feira do Livro de Frankfurt:
«O que significa ser escritor num país situado na periferia do mundo, um lugar onde o termo capitalismo selvagem definitivamente não é uma metáfora? Para mim, escrever é compromisso. Não há como renunciar ao facto de habitar os limiares do século 21, de escrever em Português, de viver em um território chamado Brasil. Fala-se em globalização, mas as fronteiras caíram para as mercadorias, não para o trânsito das pessoas. Proclamar nossa singularidade é uma forma de resistir à tentativa autoritária de aplainar as diferenças.
O maior dilema do ser humano em todos os tempos tem sido exatamente esse, o de lidar com a dicotomia eu-outro. Porque, embora a afirmação de nossa subjetividade se verifique através do reconhecimento do outro - é a alteridade que nos confere o sentido de existir -, o outro é também aquele que pode nos aniquilar... E se a Humanidade se edifica neste movimento pendular entre agregação e dispersão, a história do Brasil vem sendo alicerçada quase que exclusivamente na negação explícita do outro, por meio da violência e da indiferença.
Nascemos sob a égide do genocídio. Dos quatro milhões de índios que existiam em 1500, restam hoje cerca de 900 mil, parte deles vivendo em condições miseráveis em assentamentos de beira de estrada ou até mesmo em favelas nas grandes cidades. Avoca-se sempre, como signo da tolerância nacional, a chamada democracia racial brasileira, mito corrente de que não teria havido dizimação, mas assimilação dos autóctones. Esse eufemismo, no entanto, serve apenas para acobertar um fato indiscutível: se nossa população é mestiça, deve-se ao cruzamento de homens europeus com mulheres indígenas ou africanas - ou seja, a assimilação se deu através do estupro das nativas e negras pelos colonizadores brancos.
Até meados do século XIX, cinco milhões de africanos negros foram aprisionados e levados à força para o Brasil. Quando, em 1888, foi abolida a escravatura, não houve qualquer esforço no sentido de possibilitar condições dignas aos ex-cativos. Assim, até hoje, 125 anos depois, a grande maioria dos afrodescendentes continua confinada à base da pirâmide social: raramente são vistos entre médicos, dentistas, advogados, engenheiros, executivos, artistas plásticos, cineastas, jornalistas, escritores.
Invisível, acuada por baixos salários e destituída das prerrogativas primárias da cidadania - moradia, transporte, lazer, educação e saúde de qualidade -, a maior parte dos brasileiros sempre foi peça descartável na engrenagem que movimenta a economia: 75% de toda a riqueza encontra-se nas mãos de 10% da população branca e apenas 46 mil pessoas possuem metade das terras do país. Historicamente habituados a termos apenas deveres, nunca direitos, sucumbimos numa estranha sensação de não pertencimento: no Brasil, o que é de todos não é de ninguém...
Convivendo com uma terrível sensação de impunidade, já que a cadeia só funciona para quem não tem dinheiro para pagar bons advogados, a intolerância emerge. Aquele que, no desamparo de uma vida à margem, não tem o estatuto de ser humano reconhecido pela sociedade, reage com relação ao outro recusando-lhe também esse estatuto. Como não enxergamos o outro, o outro não nos vê. E assim acumulamos nossos ódios - o semelhante torna-se o inimigo.
A taxa de homicídios no Brasil chega a 20 assassinatos por grupo de 100 mil habitantes, o que equivale a 37 mil pessoas mortas por ano, número três vezes maior que a média mundial. E quem mais está exposto à violência não são os ricos que se enclausuram atrás dos muros altos de condomínios fechados, protegidos por cercas elétricas, segurança privada e vigilância eletrônica, mas os pobres confinados em favelas e bairros de periferia, à mercê de narcotraficantes e policiais corruptos.
Machistas, ocupamos o vergonhoso sétimo lugar entre os países com maior número de vítimas de violência doméstica, com um saldo, na última década, de 45 mil mulheres assassinadas. Covardes, em 2012 acumulamos mais de 120 mil denúncias de maus-tratos contra crianças e adolescentes. E é sabido que, tanto em relação às mulheres quanto às crianças e adolescentes, esses números são sempre subestimados.
Hipócritas, os casos de intolerância em relação à orientação sexual revelam, exemplarmente, a nossa natureza. O local onde se realiza a mais importante parada gay do mundo, que chega a reunir mais de três milhões de participantes, a Avenida Paulista, em São Paulo, é o mesmo que concentra o maior número de ataques homofóbicos da cidade.
E aqui tocamos num ponto nevrálgico: não é coincidência que a população carcerária brasileira, cerca de 550 mil pessoas, seja formada primordialmente por jovens entre 18 e 34 anos, pobres, negros e com baixa instrução.
O sistema de ensino vem sendo ao longo da história um dos mecanismos mais eficazes de manutenção do abismo entre ricos e pobres. Ocupamos os últimos lugares no ranking que avalia o desempenho escolar no mundo: cerca de 9% da população permanece analfabeta e 20% são classificados como analfabetos funcionais - ou seja, um em cada três brasileiros adultos não tem capacidade de ler e interpretar os textos mais simples.
A perpetuação da ignorância como instrumento de dominação, marca registrada da elite que permaneceu no poder até muito recentemente, pode ser mensurada. O mercado editorial brasileiro movimenta anualmente em torno de 2,2 bilhões de dólares, sendo que 35% deste total representam compras pelo governo federal, destinadas a alimentar bibliotecas públicas e escolares. No entanto, continuamos lendo pouco, em média menos de quatro títulos por ano, e no país inteiro há somente uma livraria para cada 63 mil habitantes, ainda assim concentradas nas capitais e grandes cidades do interior.
Mas, temos avançado.
A maior vitória da minha geração foi o restabelecimento da democracia - são 28 anos ininterruptos, pouco, é verdade, mas trata-se do período mais extenso de vigência do estado de direito em toda a história do Brasil. Com a estabilidade política e econômica, vimos acumulando conquistas sociais desde o fim da ditadura militar, sendo a mais significativa, sem dúvida alguma, a expressiva diminuição da miséria: um número impressionante de 42 milhões de pessoas ascenderam socialmente na última década. Inegável, ainda, a importância da implementação de mecanismos de transferência de renda, como as bolsas-família, ou de inclusão, como as cotas raciais para ingresso nas universidades públicas.
Infelizmente, no entanto, apesar de todos os esforços, é imenso o peso do nosso legado de 500 anos de desmandos. Continuamos a ser um país onde moradia, educação, saúde, cultura e lazer não são direitos de todos, e sim privilégios de alguns. Em que a faculdade de ir e vir, a qualquer tempo e a qualquer hora, não pode ser exercida, porque faltam condições de segurança pública. Em que mesmo a necessidade de trabalhar, em troca de um salário mínimo equivalente a cerca de 300 dólares mensais, esbarra em dificuldades elementares como a falta de transporte adequado. Em que o respeito ao meio-ambiente inexiste. Em que nos acostumamos todos a burlar as leis.
Nós somos um país paradoxal.
Ora o Brasil surge como uma região exótica, de praias paradisíacas, florestas endémicas, carnaval, capoeira e futebol; ora como um lugar execrável, de violência urbana, exploração da prostituição infantil, desrespeito aos direitos humanos e desdém pela natureza. Ora festejado como um dos países mais bem preparados para ocupar o lugar de protagonista no mundo - amplos recursos naturais, agricultura, pecuária e indústria diversificadas, enorme potencial de crescimento de produção e consumo; ora destinado a um eterno papel acessório, de fornecedor de matéria-prima e produtos fabricados com mão de obra barata, por falta de competência para gerir a própria riqueza.
Agora, somos a sétima economia do planeta. E permanecemos em terceiro lugar entre os mais desiguais entre todos...
Volto, então, à pergunta inicial: o que significa habitar essa região situada na periferia do mundo, escrever em português para leitores quase inexistentes, lutar, enfim, todos os dias, para construir, em meio a adversidades, um sentido para a vida?
Eu acredito, talvez até ingenuamente, no papel transformador da literatura. Filho de uma lavadeira analfabeta e um pipoqueiro semianalfabeto, eu mesmo pipoqueiro, caixeiro de botequim, balconista de armarinho, operário têxtil, torneiro-mecânico, gerente de lanchonete, tive meu destino modificado pelo contacto, embora fortuito, com os livros. E se a leitura de um livro pode alterar o rumo da vida de uma pessoa, e sendo a sociedade feita de pessoas, então a literatura pode mudar a sociedade. Em nossos tempos, de exacerbado apego ao narcisismo e extremado culto ao individualismo, aquele que nos é estranho, e que por isso deveria nos despertar o fascínio pelo reconhecimento mútuo, mais que nunca tem sido visto como o que nos ameaça. Voltamos as costas ao outro - seja ele o imigrante, o pobre, o negro, o indígena, a mulher, o homossexual - como tentativa de nos preservar, esquecendo que assim implodimos a nossa própria condição de existir. Sucumbimos à solidão e ao egoísmo e nos negamos a nós mesmos. Para me contrapor a isso escrevo: quero afetar o leitor, modificá-lo, para transformar o mundo. Trata-se de uma utopia, eu sei, mas me alimento de utopias. Porque penso que o destino último de todo ser humano deveria ser unicamente esse, o de alcançar a felicidade na Terra. Aqui e agora.»
Em Portugal estão publicados dois livros de Luiz Ruffato: De Mim Já Nem Se Lembra (Tinta da China, 2012); e Estive em Lisboa e Lembrei-me de Ti (Quetzal, 2012)
Está a receber este conteúdo de um blog com página na internet: Ainda que os Amantes se Percam. Façam uma visita, deixem a vossa opinião, partilhem nas redes sociais, se gostaram. Visitar o blog directamente na sua página web ajuda o blog a crescer, e dá motivação ao autor para continuar a escrever.
October 9, 2013
Prémio Nobel da Literatura 2013: porque é que empresas de apostas acertam onde os especialistas em Literatura falham?
Verso da Medalha entregue aos vencedores do Prémio Nobel da Literatura.
Prémio Nobel de Literatura 2013: Os favoritos costumam ganhar?
Porque é que as empresas de apostas acertam onde os especialistas em Literatura falham? É uma questão da teoria da probabilidade, um engenhoso trabalho de detective, ou fugas de informação? O jornalista sueco Axel Björklund foi investigar o jogo por detrás deste jogo de apostas. Como imagino que provavelmente a maioria dos meus queridos leitores não percebe Sueco, tive que recorrer aos meus contactos, que eu também pouco percebo. Um interessante artigo, numa tradução livre:
Quem é o cavalo misterioso deste ano, para o Prémio Nobel da Literatura? E se fosse Ngũgĩ wa Thiong'o? Eu escolhi-o para meu porquinho-da-índia; é um escritor Queniano de 75 anos de idade, que desde 1978 escreve apenas em kikuyu, a sua língua natal. Ele é relativamente desconhecido na Suécia, e razoavelmente sub-apostado pelos radares das empresas de apostas.
Numa Quinta-Feira do início do mês de Setembro apostei 200 coroas em Ngũgĩ wa Thiong'o, na companhia londrina Ladbrokes. Com a empresa a pagar 51 vezes o que se apostasse, eu tenho um ganho potencial de 10 000 coroas.
A minha tese é que as empresas de apostas vão tão longe no controlo das apostas dos seus jogadores, que isto faria com que as chances dele fossem alteradas de modo perceptível. E foi o que aconteceu. Imediatamente após a minha aposta a Ladbrokes suspendeu as apostas, facto percebido pela prestigiada revista de sociedade e cultura, a Americana The Atlantic, que escreveu um artigo longo e especulativo intitulado «Poderá ser a vez de Ngũgĩ wa Thiong'o este ano?». Isto com base no assessor de imprensa da Ladbrokes, Alex Donohue, que afirmou que existira um grande investimento de um cliente na Suécia.
Apenas por causa de uma aposta de 200 coroas, a Ladbrokes tinha suspendido as apostas, e focara-se em Ngũgĩ wa Thiong'o. Quando as apostas voltaram a abrir, o ganho potencial ainda continuava em 1/51, mas pouco depois desceram para 1/21.
Existe uma percepção generalizada que os conhecimentos de Literatura das empresas de apostas são muito baixos. Este ano ofereceram durante muito tempo a hipótese de apostar no escritor Chinua Achebe, mesmo tendo ele morrido há seis meses, e portanto não poder ganhar o prémio. O nome só desapareceu quando o DN Kultur noticiou o facto pela segunda vez, a 12 de Setembro. Por várias vezes as empresas tem estado completamente erradas, como quando ganharam Elfriede Jelinek ou Doris Lessing.
Mas a imagem das empresas de apostas não é igual para todas. A Ladbrokes, com a ajuda dos seus jogadores, tem acertado no vencedor a cada dois anos - onde estão os especialistas em Literatura ou os editores de cultura que se possam orgulhar do mesmo feito?
A chamada «lista bruta» da Ladbrokes é a mesma desde meados dos anos 2000, sofrendo apenas pequenas alterações de ano para ano: um novo nome devido à saída do vencedor do ano anterior e, se tiver tempo, a substituição de algum falecido. Foi organizada numa reunião com um pequeno grupo de interessados em Literatura, com a ajuda de alguns especialistas externos, tornando-se a figura central num editorial de cultura na Suécia, em 2003, por ter acertado em cheio no nome de J. M. Coetzee.
"Torna-se um efeito bola de neve", afirma Alex Donohue ao telefone a partir de Londres, "quando alguém coloca muito dinheiro num candidato, como em Ngũgĩ wa Thiong'o, então temos que reduzir as chances."
Esse cliente Sueco ...
- Sim, diz Donohue.
Fui eu.
- Ah, então foi você, foi isso. Magnífico, diz ele secamente.
Ele explica como funciona o processo: uma bandeira assinala no sistema que um valor acima do normal foi recebido. Aqui as apostas são pequenas, muito menores que nas apostas em corridas de cavalos ou no futebol.
- Não tem tanto a ver com a sua localização geográfica, mas com a quantidade de dinheiro, é matemática simples para equilibrar as chances. Nós não estamos a vigiar os clientes, sublinha.
Eles fazem o específico, alega Joakim Rönngren, um homem elegantemente vestido com os seus 50 anos. Anteriormente, ele trabalhou como relações públicas da Ladbrokes, para os países Nórdicos, e foi ele quem começou as apostas no Prémio Nobel da Literatura. Actualmente ele é o Gaming Board da empresa.
- Seguimos as apostas com muito cuidado. Tudo o que se destaca é verificado, e o nome dos jogadores é googlado.
É exatamente isso que ele acredita que aconteceu neste caso. Eu coloquei 200 coroas num candidato que até ali tinha tido apenas pequenas apostas. E isso tem consequências. Pesquisando o meu nome verificam que eu estou a trabalhar na secção cultural do Dagens Nyheter.
O porta-voz de imprensa da empresa Unibet é Jonas Nilsson, 35 anos, vestido com um casaco de lã cinzenta, com um grande Seiko preto no pulso esquerdo. O escritório está situado num belo e antigo apartamento, ao lado do cinema Zita, na West Higgins Road, em Estocolmo, com móveis espartanos espalhados numa grande conferência.
- Levamos todas as nossas apostas muito a sério. Não há absolutamente nada de promocional no facto das apostas no Prémio Nobel da Literatura serem reescritas, o que acontece é que os nossos clientes exigem essa capacidade.
A empresa oferece a possibilidade de apostar no Prémio Nobel de literatura desde 2004. Ele mostra a lista bruta e as probabilidades finais nos últimos anos. Normalmente, o vencedor encontra-se entre aqueles com menores probabilidades absolutas. No ano passado, Mo Yan era o favorito no final de setembro, provavelmente mesmo antes de a Academia Sueca ter feito a sua escolha. Pergunto-lhe se seria possível jogar em alguém que não esteja na lista de candidatos - o Serviço de Atendimento aos Clientes da Unibet tinha negado essa hipótese no dia anterior - e ele quis saber se eu estaria a pensar em alguém em especial. Svetlana Aleksijevitj, digo-lhe, e ele toma nota.
Quem é que você queria que ganhasse?
- Bob Dylan seria divertido. Ou Paul Auster, é o meu favorito pessoal .
Mas não pode apostar nele.
- Posso acrescentar o nome, tal como o da Aleksijevitj.
Uma hora após a entrevista, os dois nomes estão adicionados à lista da Unibet: Svetlana Aleksijevitj e Paul Auster, com 10 e 30 vezes o dinheiro. Outra hora mais tarde, as chances descem para 9 e 10, respectivamente. Na segunda-feira, quando a Academia Sueca diz que o Prémio será anunciado na próxima quinta-feira, Aleksijevitj já é a segunda mais baixa na lista da Unibet com odds de 6 vezes o dinheiro e apontada como uma dos favoritos num artigo. Ao mesmo tempo, ela aparece na Ladbrokes - 51 vezes o dinheiro. Mais tarde naquela noite, as chances caíram para 12 na Ladbrokes e 5 na Unibet.
Acompanho todos estes movimentos no ecrã do meu computador, com uma ferramenta criada por Kristoffer Orstadius, com o objectivo de seguir os movimentos das chances de três grandes casas de apostas. Está em funcionamento desde que a Betsson abriu o jogo em Novembro de 2012. A maior parte do tempo os movimentos foram discretos, mas por vezes existem grandes movimentos, como os de Ngũgĩ wa Thiong'o, Aleksijevitj, ou do norueguês Jon Fosse, cujas probabilidades caíram de 101 para 9 vezes na última semana, na lista da Ladbrokes (só que sem a minha influência).
A Ladbrokes oferece apostas sobre o Prémio Nobel de Literatura desde 2003, e muitos concorrentes acompanharam-na depois.
-Na época, nós tínhamo-nos estabelecido recentemente na Suécia, e na agenda principal estava o objectivo de encontrar novos locais para discutir o jogo sueco. Oferecer jogos no Prémio Nobel de Literatura foi uma estratégia, nós queríamos usar a marca forte do prémio, como forma de encontrar novas pessoas e popularizar algo anteriormente considerado misterioso, explica Joakim Rönngren.
Ele trabalhou nesta área até 2011. Para ele as apostas no Prémio Nobel foram um "triunfo de relações públicas" , mas jura que se tornou pior desde que ele saiu, porém não acredito que ele seja um fã de Literatura, ele seria um pássaro estranho no mundo de apostas.
- Au contraire! A indústria de jogos está cheio de pessoas com interesses variados.
No entanto, ele observa que há um problema inerente em apostas em que um vencedor é escolhido por um júri.
- Nós sempre fomos muito claros nas nossas comunicações, e dizemos quando suspeitamos que há fraude.
Em 2008, quando Jean-Marie Gustave Le Clézio ganhou o prémio, a Ladbrokes fechou o jogo quando descobriu actividade com origem em lugares estranhos, inclusive a partir da cidade de Nice, local de nascimento do escritor, e de um escritório de jogo na Maurícia, apenas a um quarteirão onde funcionava a organização anti-tabaco onde a irmã de Le Clézio trabalhava.
- Foi definitivamente uma fuga de informação, afirma Rönngren.
Também Horace Engdahl, o secretário permanente, afirmou na rádio que estava convencido que tinha havia uma fuga de informação (ele também mencionou o nome de código para Le Clézio, "Chateaubriand"). O membro Knut Ahnlund, que por muitos anos não compareceu nos trabalhos da Academia após uma briga, descreveu num artigo da revista Axess lutas internas, e a utilização das fugas de informação para tentar tirá-lo do assento número sete da Academia.
Horace Engdahl sairia mais tarde, no final de 2008. Peter Englund assumiu o lugar no ano seguinte, e começou a utilizar algumas lições da inteligência militar para acabar totalmente com potenciais fugas de informação, com regras sobre como usar o e-mail, criptografia, etc.
(...)
John, nome fictício:
- Nós não poderíamos fundamentar o termo fuga de informação no ano em que Tranströmer ganhou, mas havia indicações claras. Ao contrário de um jogo de futebol - onde você se prepara da melhor maneira possível e, em seguida, as probabilidades são o que são - neste tipo de apostas há mais trabalho de detective.
(...) A empresa foi contactada por uma pessoa da Academia Sueca; é dito que o homem pediu para examinar os computadores da empresa. Englund rejeita esta declaração:
- Não, eu nunca pedi tal coisa da Ladbrokes. (É claro que eu gostaria que os nossos especialistas verificassem os seus computadores, mas tenho a sensação de que eles iriam agradecer educadamente, mas recusar com firmeza tal pedido.) Eu não estive em contacto com eles mesmo. No entanto, um de nossos directores falou com o chefe local, mas tanto as perguntas como as respostas foram bastante vagas.
(...)
- Congratulamo-nos com a existência de jogadores privilegiados em áreas como esta. Uma vez que não há competição, como no futebol, contamos com a "inteligência". Blogs e jornalistas são uma boa fonte de inteligência, mas um palpite será mais credível se você colocar dinheiro por trás dele. Ao mesmo tempo, não corre o risco de milhões, este não é um jogo que possa ser visto numa perspectiva financeira. Acima de tudo, é uma questão de relações públicas, ele fornece um grau de seriedade, especialmente se você estiver certo.
O montante total de dinheiro apostado no Prémio Nobel da Literatura corresponde a um jogo da Primeira Divisão, em parte porque há um limite máximo para os depósitos. Joakim Rönngren supõe que seja um total de 550 mil a 600 mil coroas, talvez um pouco mais.
- O limite existe para evitar o risco de grandes perdas, mas é claro que quando se oferece este tipo de aposta também tem que se ter um pouco de jogo; se fôssemos receber 100.000 a 200.000 coroas, isso significaria uma grande tentação para pessoas que têm muito a perder. Mas eu acho que, certamente, não há ninguém na Academia que tenha feito dinheiro investindo no vencedor certo, no entanto, a alguns pontos de distância - um agente, editor ou talvez alguém em uma empresa de impressão que tem uma ordem repentina, diz John.
Uma consequência do foco das empresas de jogos no Prémio Nobel de literatura é que a escrita passou a ser discutida de forma mais irrelevante - agora fala-se de atributos externos dos autores, tais como idade, sexo, local de residência, como aponta um escritor no Boston Globe da semana passada. Peter Englund concorda e lamenta:
- Sim, completamente, a pobreza é impressionante. O mesmo escritor cita um agente de apostas que afirma que o que eles fazem é "dar aos jornalistas preguiçosos algo para discutir, onde possam alicerçar as opiniões, utilizando o nosso trabalho de fundo".
Joakim Rönngren não concorda que o jogo esgotou a discussão.
- O facto de ser possível jogar no Prémio Nobel da Literatura fez com que o este se tornasse um assunto discutido fora da elite cultural. Desta forma há mais pessoas que se sentem envolvidos na escolha da Academia Sueca, o que antes era visto como muito difícil para os entusiastas comuns da Literatura.
Englund não considera que as empresas de jogos estejam a incomodar o trabalho da Academia Sueca, "embora eu certamente preferisse responder a perguntas sobre Literatura que sobre probabilidades e apostas." Nunca lhe ofereceram dinheiro para revelar o vencedor com antecedência, e nunca ouviu falar de alguém a quem isso tenha acontecido.
Vamos continuar a acompanhar a evolução das chances, e quem quer que seja o premiado, vamos descobri-lo amanhã às 13 (diz-se, aliás, que a Academia Sueca teve uma dificuldade pouco habitual para chegar a acordo este ano, e que nada estava decidido até ao fim de semana passado).
Talvez eles tenham chegado à conclusão que é a vez de Ngũgĩ wa Thiong'o este ano. Significaria muito para o Quénia - e para as minhas finanças pessoais.
Axel Björklund
Está a receber este conteúdo de um blog com página na internet: Ainda que os Amantes se Percam. Façam uma visita, deixem a vossa opinião, partilhem nas redes sociais, se gostaram. Visitar o blog directamente na sua página web ajuda o blog a crescer, e dá motivação ao autor para continuar a escrever.
October 8, 2013
Svetlana Alexievich e Jon Fosse - fortes candidatos ao Prémio Nobel da Literatura 2013?
Nas últimas horas surgiram dois nomes como fortes candidatos a ganhar o Prémio Nobel da Literatura 2013: o Norueguês Jon Fosse, considerado um dos melhores dramaturgos da actualidade, e a jornalista e escritora Biela-Russa Svetlana Alexievich, que se foca em temas como a guerra, os desastres nucleares, e o período pós-soviético. As casas de apostas estão em ebulição, quando faltam apenas dois dias para o anúncio oficial do Prémio Nobel da Literatura 2013.
Está a receber este conteúdo de um blog com página na internet: Ainda que os Amantes se Percam. Façam uma visita, deixem a vossa opinião, partilhem nas redes sociais, se gostaram. Visitar o blog directamente na sua página web ajuda o blog a crescer, e dá motivação ao autor para continuar a escrever.
Avô deserda Filha por ter Discriminado Neto Gay
Avô deserda Filha que discriminou Neto homossexual. Via FCKH8.
Querida Christine,
Estou desapontado contigo, como filha. Tu estás correcta acerca de "termos uma vergonha na família", mas enganada acerca do que é a vergonha.
Expulsar o Chad da tua casa apenas porque ele te disse que é gay é a verdadeira "abominação" aqui. Um pai renegar os seus filhos é que é "contra-natura".
A única coisa inteligente que te ouvi dizer nisto tudo foi que "tu não criaste o teu filho para ser gay". É claro que não. Ele nasceu assim e não escolheu ser gay da mesma maneira que não escolheu ser canhoto. Tu, por outro lado, escolheste magoar, ser tacanha e retrógrada. Assim, agora que estamos no negócio de renegar os nossos filhos, penso que vou aproveitar o momento para te dizer «Adeus». Agora tenho um neto fabuloso (como dizem os gays) para criar, e não tenho tempo para palavras cruéis de uma filha.
Se encontrares o teu coração, telefona.
Pai.
(Tradução livre)
Está a receber este conteúdo de um blog com página na internet: Ainda que os Amantes se Percam. Façam uma visita, deixem a vossa opinião, partilhem nas redes sociais, se gostaram. Visitar o blog directamente na sua página web ajuda o blog a crescer, e dá motivação ao autor para continuar a escrever.
October 7, 2013
10 curiosidades sobre o Prémio Nobel da Literatura.
Mo Yan, o último Prémio Nobel, no momento em que recebe o Prémio Nobel da Literatura.
10 Curiosidades sobre o Prémio Nobel da Literatura.
Visitem o blog: Ainda que os Amantes se Percam. Partilhem nas redes sociais.
101 livros que ainda não li - e quero ler
Há um ano atrás fiz uma lista de 101 livros que ainda não tinha lido - e queria ler. Um ano depois - para quem tiver curiosidade - eis o estado da arte (a negrito os que li entretanto):
Ulysses, James Joyce
Em Busca do Tempo Perdido, Marcel Proust
Memórias de Adriano, Marguerite Yourcenar
Contos, Hans Christian Andersen
Pedro Páramo, Juan Rulfo
A Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera
A Montanha Mágica, Thomas Mann
O Jogo do Mundo (Rayuela), Julio Cortázar
Debaixo do Vulcão, Malcolm Lowry
O Mar da Fertilidade (tetralogia), Yukio Mishima
Cores Proibidas, Yukio Mishima [comprei, mas ainda não li]
Laranja Mecânica, Anthony Burgess
Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley
Mrs. Dalloway, Virgínia Woolf
O Paraíso Perdido, John Milton
Frankenstein, Mary Shelley
Grandes Sertões: Veredas, Guimarães Rosa
Drácula, Bram Stoker
Ao Amigo que não me Salvou a Vida, Hervé Guibert [lido, em francês]
Na Patagónia, Bruce Chatwin
O Velho Gringo, Carlos Fuentes
Diana Ou a Caçadora Solitária, Carlos Fuentes
Conversa n'A Catedral, Mario Vargas Llosa [comprei o livro - ainda não li]
A Maravilhosa Viagem de Nils Holgersson através da Suécia, Selma Lagerlöf
O Tambor, Günter Grass
Descascando a Cebola, Günter Grass
Ratos e Homens, John Steinbeck
Por Favor Não Matem a Cotovia, Harper Lee
O Monte dos Vendavais, Emily Brontë
Austerlitz, W. G. Sebald
Afirma Pereira, Antonio Tabucchi
A Idade da Inocência, Edith Wharton
O Céu Que Nos Protege, Paul Bowles
Herzog, Saul Below
Navegação Ponto por Ponto, Gore Vidal
Palimpsesto, Gore Vidal
Autobiografia, Mark Twain
Joseph Andrews, Henry Fielding
As Aventuras Extraordinárias do Sr. Pickwick, Charles Dickens
O Nonsense Completo, Edward Lear
Feira das Vaidades, William Makepeace Thackeray
O Homem Que Era Quinta-Feira, G. K. Chesterton
O Nascimento da Tragédia, Friedrich Nietzsche
Contos Completos, Nikolai Gogol
Os Moedeiros Falsos, André Gide
As Palavras, Jean-Paul Sartre
Os Caminhos da Liberdade (trilogia), Jean-Paul Sartre
Os Dados Estão Lançados, Jean-Paul Sartre
Palavras, Jacques Prévert
O Fio da Navalha, William Somerset Maugham
Servidão Humana, William Somerset Maugham
Pan, Knut Hamsun
O Labirinto da Saudade, Octavio Paz
Morte de um Caixeiro-Viajante, Arthur Miller
Trabalhar Cansa, Cesare Pavese
Os Nus e os Mortos, Norman Mailer
Poesia Completa, Bertolt Brecht
Teatro Completo, Bertolt Brecht
Histórias Completas, Flannery O'Connor
Contos, J. D. Salinger
O Feiticeiro de Oz, L. Frank Baum
A História de um Sonho, Arthur Schnitzler
Menina Else, Arthur Schnitzler
A Zona de Desconforto, Jonathan Franzen
Liberdade, Jonathan Franzen
Esfolado Vivo, Edmund White
Paris, os Passeios de um Flâneur, Edmund White
Mr. Norris Muda de Comboio, Christopher Isherwood
Um Homem Singular, Christopher Isherwood
Adeus a Berlim, Christopher Isherwood
Bom Dia, Tristeza, Françoise Sagan
História da Sexualidade, Michel Foucault
A Oeste Nada de Novo, Erich Maria Remarque
As Velas Ardem até ao Fim, Sándor Márai [lido]
120 Dias de Sodoma, Marquês de Sade [li em .pdf - uma perca de tempo]
Justine ou Os infortúnios da Virtude, Marquês de Sade
Contos Libertinos, Marquês de Sade
A Filosofia na Alcova, Marquês de Sade
Os Buddenbrook, Thomas Mann
A Dama das Camélias, Alexandre Dumas, filho
Os Versículos Satânicos, Salman Rushdie
As Mil e Uma Noites (versão/tradução de Joseph Charles Mardus)
Suicídios Exemplares, Enrique Vila-Matas
Os Detectives Selvagens, Roberto Bolaño
U.S.A. (trilogia), John dos Passos
District of Columbia, John dos Passos
Os Sonâmbulos, Hermann Broch
O Solitário, Eugène Ionesco
Contos, Jack London
O Apelo da Selva, Jack London
Os Meninos Diabólicos, Jean Cocteau
O Mundo que Eu Vi - Memórias de um Europeu, Stefan Zweig
Reviver o passado em Brideshead, Evelyn Waugh
Declínio e Queda, Evelyn Waugh
Três Tristes Tigres, Guillermo Cabrera Infante
A Ninfa Inconstante, Guillermo Cabrera Infante
A Linha da Beleza, Alan Hollinghurst
Fogos, Raymond Carver
Meu Destino é Pecar, Nelson Rodrigues
Núpcias de Fogo, Nelson Rodrigues
Teatro Completo, Nelson Rodrigues
Obviamente neste ano que se completa li muitos outros livros, a maioria em papel, e cada vez mais em .pdf também. Não que eu goste de o fazer, mas o dinheiro escasseia, e é muito fácil encontrar .pdf's de qualidade de autores cujos direitos de autor são do domínio público.
Visitem o blog: Ainda que os Amantes se Percam. Partilhem nas redes sociais.
October 6, 2013
10 curiosidades sobre o Prémio Nobel da Literatura.
10 Curiosidades sobre o Prémio Nobel da Literatura.
Visitem o blog: Ainda que os Amantes se Percam. Partilhem nas redes sociais.
Prémio Nobel da Literatura 2013: círculos bem informados de Estocolmo
Medalha Prémio Nobel da Literatura
Começam amanhã a ser divulgados os Prémio Nobel 2013. Primeiro a Medicina, e lá para terça ou quarta-feira chega a Literatura.
Por falar em literatura. Este ano, a Academia sueca recebeu 195 propostas de todo o mundo. A recepção fechou em Março. Desses 195 nomes, a Academia considerou 48. Este considerar não tem nada a ver com a maior ou menor relevância do autor. A formalização da proposta obedece a critérios que têm de ser respeitados. A 30 de Maio foram escolhidos os cinco nomes da shortlist. Essa shortlist é secreta mas, nos círculos bem informados de Estocolmo, especula-se que possa ser composta pelo israelita Amos Oz, 74 anos; o austríaco Daniel Kehlmann, 38 anos; os americanos Don DeLillo, 76 anos [em Novembro fará 77], e Jonathan Franzen, 54 anos; e o judeu-húngaro Imre Kertész, 83 anos [em Novembro fará 84]. A ver vamos. Por mim, tenho muita pena que o italiano Claudio Magris, 74 anos, não entre nestas contas.
Eduardo Pitta, no blog Da Literatura.
Os círculos bem informados de Estocolmo já não são nada do que eram; então não sabem eles que o judeu-húngaro (que raio de nacionalidade é esta?) Imre Kertész já ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 2002? Ah, e se a tradição se mantiver, o Prémio Nobel da Literatura é anunciado na próxima quinta-feira, dia 10 de Outubro de 2013. Terça-feira será anunciado o Prémio Nobel da Física, e Quarta-Feira será anunciado o Prémio Nobel da Química: estas datas, ao contrário da data do Prémio Nobel da Literatura, não são segredo para ninguém, e são conhecidas oficialmente desde dia 08 de Abril de 2013. Há por aí quem fale do norueguês Jon Fosse, mas se calhar são só apostas especulativas... E... em jeito de curiosidade, a último vencedor do Prémio Nobel da Literatura pela segunda vez... estava morto... Chamava-se Erik Axel Karlfeldt, era Sueco, e recebeu-o (pela segunda vez) em 1931. Tinha-o recusado em 1919 (o nome nem aparece na lista oficial) por ser o secretário permanente da Academia Sueca. Mas a Academia Sueca havia de lho dar à força - deu-lho pouco depois de ter morrido, que assim já não o podia recusar... E... também em jeito de curiosidade, já não se atribui postumamente o Prémio Nobel da Literatura, nem o da Literatura, nem nenhum outro, por decisão do Comité Nobel, em 1974. Exceptua-se esta regra se o laureado morrer entre a data do anúncio e a data da entrega.
Visitem o blog: Ainda que os Amantes se Percam. Partilhem nas redes sociais.
Rui Machete: uma mão lava a outra...
...e ambas lavam a cara: Passos segura Machete, Cavaco elogia Procuradora; António José Seguro exige a demissão, violentamente, com certeza. E no fim vão todos celebrar.
P.S. - Querem ver que um dia destes somos obrigados a pagar para poder pagar aquilo que nos extorquem? Devem querer privatizar as finanças.
Visitem o blog: Ainda que os Amantes se Percam. Partilhem nas redes sociais.


