Pedro Guilherme Moreira's Blog, page 62
February 18, 2012
Hugomatógrafo
Apresentem-se as críticas e as reservas que se apresentarem, diga-se que o 3D, apesar de deslumbrante e usado com propriedade, é a anti-natureza do próprio filme, que os actores podiam ter densidade - e não apenas beleza (no caso dos pequenos) e classe (no caso dos maiores), por aqui só se consegue dizer que "Hugo" é cinema pleno e que até para a magia dos primóridos desta arte, que retrata, era irrelevante o primor e fundamental a paixão e o empenhamento. Scorcese e o empenhamento são irmão gémeos, e o mestre debita. Seria pena que, por mais que a própria indústria não esteja com muita vontade de o consagrar, este filme não fosse o vencedor da noite dos óscares. Porque às vezes o simbolismo, sendo arrojado e corajoso, conta. E este filme merecia ser um símbolo. E depois darem-me a Paris dos anos 20 e 30 e ainda por cima a gare de Montparnasse ao tempo em que o meu bisavô a usava é demais para o coração. Já tenho preparada a carta: "Senhor Scorcese, o modelo do Paris do pós-guerra mandava-se aos amigos que estão com a ideia de situar um romance aí e nessa data, não?"PG-M 2012fonte da foto
Published on February 18, 2012 01:34
February 17, 2012
Casal de labradores
Vá, Literatura, senta.Deita.
Busca.
Come.
Bebe.
Vende.
Quieta.
Anda cá, Break-even.
Paga.
Lindo.
Sai, Literatura,
sai.
Vai, Literatura,
Vai.
(informação: a criação de labradores vende as literaturas com três meses
e adopta break-evens de todas as idades; há animais com outros nomes: músicas, dignidades, jovens, professores, advogados, jornalistas, arquitectos, portugais, etc, etc)
PG-M 2012
fonte da foto
Published on February 17, 2012 15:58
February 14, 2012
campo de júlias
Published on February 14, 2012 01:12
February 13, 2012
Os que vão morrer saúdam-vos
A propósito desta sucessão de mortes perto e longe de nós, que culminou com a de Withney Houston, é curioso observar como a morte se constitui como uma virtude e não devia. Quantas pessoas, na véspera da morte da cantora, ao ser-lhes pedido um comentário à dita, diriam bem ou falariam dos tempos em que ela os tomou pelos pés de arrebatamento? Também assim os prémios, que de repente nos recordam a existência do premiado. Não tinha morrido, já? E depois cai-se num choro ou numa exaltação colectiva, porque se sente que é a oportunidade de libertar as palavras que não guardamos para os vivos não premiados. Nada contra velar os mortos com propriedade, nada contra os obituários, epitáfios, editoriais. Mas a verdade é que, se não andássemos com a cara virada à morte ou à normalidade dos dias - e os tesouros encontram-se em dias regulares, não no meio de festas, barulho e exaltação, talvez tivéssemos a percepção clara do efémero e não desperdiçássemos a oportunidade de dedicar palavras mais contidas no tempo certo às pessoas certas. E contássemos as nossas histórias de vida, que os outros estão disponíveis, pelo menos, para ler quando lhes apetecer. A da Withney deu-se há vinte anos, quando saíamos com um casal do Lumière, no Porto, onde tínhamos ido ver "O Guarda-costas" e o Fernando comprou o single "I will allways love you" (ainda hoje o mais vendido de sempre por uma mulher), que ouvimos na aparelhagem brutal do seu Honda Civic vermelho durante toda a noite, em "repeat" - claro que ela já não tem o Honda, nem o Cd (já era Cd, estava nos princípios, e como a música era cheia de silêncio, pareceu-nos tudo perfeito), nem nós temos o Lumière, mas temos ambos as mesmas mulheres. A semana passada morreu o meu colega Zé Maria, pelo qual eu tinha passado sem dar um abraço ou um aceno três dias antes, num centro comercial. Esta semana morreu o meu colega e vizinho Coelho dos Santos, grande advogado e ex-deputado, que eu via passar há trinta e quatro anos na mesma rua do anjo a norte, de mão dada com a sua namorada, estariam ambos a meio dos oitenta. Só por uma vez tive coragem de lhe dirigir a palavra, estávamos sozinhos os três na Casa Barbot e eu procurava os tectos de que era suposto o meu bisavô ser o autor. O doutor não me conhece mas sou seu vizinho há trinta e quatro três, colega há dezasseis, o doutor foi advogado da minha mãe e do meu avô, é uma honra cumprimentá-lo. Vi na cara dele que talvez a honra lhe passasse fina entre os dedos, que ele era pessoa de coisas grandes e eu de pequenas, mas, caramba, disse. E também está bem que nos indignemos uma vez ou outra pela morte que nos choca e pela revolta que nos toma por não termos sabido dizer antes as coisas que queríamos dizer e dizemos com tanta força no luto. Mas não está pior viver com a morte ao lado, com ela e com a garantia e naturalidade do sofrimento que, dando-nos um peso indesejado no olhar e tirando-nos amplitude à inocência, é o que levamos desta vida, só por acidente neste sorriso em que insistimos e bem. Vamos todos morrer e é bom que estejamos a fazer o mais possível aquilo que gostávamos de fazer à morte, seja praticando a solidão, seja semicerrando os olhos de charme por irmos felizes a qualquer momento. Manuel António Pina escreveu este poema nas suas desconcertantes sabedoria e simplicidade, e, se é certo que sem prémio ou morte muitos lhe ofereceriam trejeitos, eis na forma pura o que penso:OS MORTOS
Eu sei, é preciso esquecer,
desenterrar os nossos mortos e voltar a enterrá-los,
os nossos mortos anseiam por morrer
e só a nossa dor pode matá-los.
Tanta memória! O frenesim
escuro das suas palavras comendo-me a boca,
a minha voz numerosa e rouca
de todos eles desprendendo-se de mim.
Porém como esquecer? Com que palavras e sem que palavras?
Tudo isto (eu sei) é antigo e repetido; fez-se tarde
no que pode ser dito. Onde estavas
quando chamei por ti, literalidade?
E todavia em certos dias materiais
quase posso tocar os meus sentidos,
tão perto estou, e morrer nos meus sentidos,
os meus sentidos sentindo-me com mãos primeiras, terminais.
Manuel António Pina
In "Poesia,Saudade da Prosa"
(Uma antologia pessoal)
PG-M 2012fonte da foto
Published on February 13, 2012 00:16
February 11, 2012
Abrazos (variações em lá maior)
não lhe chames infelicidadeé antes uma incerteza nas caras
sempre melhor do que a forma como te desfazes na boca
em cubos de alcaçuz com óleo de anis
demasiado doces demasiado outros
para subitamente dizeres larga-me
tenho de ir
- porque é que as fotografias deles estão sempre bem
e as nossas não?
- serão felizes mesmo?
lá estás tu do pedestal
é terrível a forma como sobes todas as
noites
só porque te dirijo aquela frase sem advérbio de modo
és bonita de qualquer maneira
e tu sobes protestando
que um cavalheiro diria especialmente
especialmente qualquercoisa
- e depois estão sempre em todos os lados do
mundo,
é estranho, marido, que só naqueles sábados
fechados em casa
por um estar doente ou não haver o que gastar
a pressentir o teu sorriso à vista do meu corpo nu
completo e imperfeito
eu chegue ao pico da forma?
que a minha plenitude seja a tua mão
de manhã?
a cama do teu vulto no prelúdio
do meu?
estão sempre a sorrir nas revistas
a dançar nas televisões
a brilhar nas rádios
gargalhadas sinfonias rímel base cheiro pele
e tu que és bonita de qualquer maneira
não lhe chames
infelicidade
é antes uma incerteza nas caras
sobe em vez de ao pedestal
comigo neste abraço
até roçarmos as nucas
no tecto
as costas dobradas sobre o caule do outro
macanudo ao largo com o lápis de despir
bajamos que tengo que ir a trabajar
sí, you también
después nos vemos?
dale.
PG-M 2012
exercício sobre desenho de Macanudo
Published on February 11, 2012 12:28
February 7, 2012
Nostalgia do cumprimento de um sonho
É verdade que estou profundamente grato a todos os que me aturaram no processo de promoção turística da ponta do meu icebergue (ou seja, a edição profissional do primeiro livro visivel). É verdade. Claro que todos os círculos profissionais têm a sua dose de autismo e vaidade, claro que o círculo literário português é mais pequenino e se torna mais doloroso porque o experimentamos com pretensa pulsão artística e metade dos nossos novos amigos nos vêm alertar que aquilo é uma coisa séria e profissional, não atreita a romantismos. Claro que não há só bons profissionais: há alguns funcionários de mangas de alpaca que sabem tudo e ditam sentenças em vez de reflectirem, verdadeiramente, nos dias seguintes do fenómeno livro, e claro que o escritor é, hoje em dia, uma figura menor e chatinha - ainda que não para todos. Claro que me senti desconfortável e burro nas televisões, nas rádios, nas revistas, mas mesmo assim fui bem divulgado por quem não tem obrigação nenhuma de me divulgar e tenho de agradecer, como agradeci, a todos. Agradeço também, sem qualquer ironia, aos que optaram por não me divulgar, mas o ponderaram. Não desengraço com os que deliberadamente me excluíram: eu tenho um feitio especial, uma mania de que as pessoas ou são autênticas comigo ou podem ir dar uma volta ao bilhar grande. Isso é estúpido e mesquinho, e por isso também cometi alguns erros de diplomacia, que assumo. Mas só isso. De facto, no momento em que é preciso optar, que é este preciso momento, e eu agradeço o sossego de voltar à escrita e tenho quase o meu quinto romance pronto, eu opto por estar de bem com deus e com o diabo - no melhor sentido, porque há um bom sentido para este cliché -, até porque acho que todas as pessoas mal intencionadas são bem intencionadas, desde que fiquem à frente dos outros. Repito: não é ironia. Acredito verdadeiramente na bondade como reduto último da natureza e do carácter humano. Não vejo mal nenhum em sorrir e abraçar os que nos anunciam como piores: bem vistas as coisas, ou estão a ser vítimas de uma injustiça, ou, se são mesmo piores não nos querem verdadeiramente mal - querem apenas bem demais a si próprios. Já contei muitas vezes a história do tipo mais pérfido que se fez meu amigo e nunca me traiu porque eu sempre o tratei bem. Ao princípio, por desconhecimento. Depois, porque - mesmo avisado - já tínhamos entrado numa roda de mimos e favores de parte a parte. Esse rapaz, até hoje, só foi bondoso comigo. Porque hei-de eu querer mal a quem é maldoso? Este é o fim de uma reflexão prolongada: esta foi a primeira função da minha vida em que houve algumas pessoas a disparar com maldade pura. Tenho já um pedacito mais de quarenta anos, pelo que não me posso queixar. Não, não é a maldade que vence, tampouco o egocentrismo. O egoísmo sim. Mas se houver paciência para os egoístas somos capazes de lhes exaltar algumas virtudes. E a mediocridade? O que fazer da mediocridade? Bom, é ela que batalha pelo poder: temos mais é de a suportar, tentando que nos ouça de vez em quando, porque nunca seremos capazes de usar das mesmas baixezas. E esperar que alguém faça o mesmo, com paciência, se nós próprios tivermos algum mau momento. Tolerância, acima de tudo. Portanto, a decisão é muito simples, e equivale ao que os melhores amigos sugerem ser a atitude "zen": aceitar com gratidão tudo o que vem à rede, lidar com a possível lucidez e sabedoria todos os que se cruzam connosco e aprender com eles. Nunca passear superioridade.Devo dizer que os meus treze leitores em Portugal (juntando livros, blogue e facebook), quatro no Brasil, três em Moçambique, dois em Angola e um em Goa merecem um pedido de desculpas: continuo a ter emoções em excesso, mas agora escondo quase todas nos livros do futuro. Para este parágrafo há uma conclusão bonita: quando por brincadeira escrevi o número de leitores fiquei todo orgulhoso. Mesmo que sejam só esses. Confesso também que não foi de propósito, mas por limitação, que fiz render as minhas sessões de autógrafos - todas duraram horas, não pelo número de pessoas, mas pelo tempo que passei com cada pessoa. Creiam ou não, sinto-me em dívida para com todos. Da próxima farei como o grande Saramago - só assino- mas introduzo uma inovação: olho-os nos olhos. Que tal? Até 2013.
PG-M 2012
Published on February 07, 2012 16:10
February 5, 2012
The Charlize one woman show
QueridaCharlize,Jánão vale a pena clamar que não gostamos das mulheres pelo queaparentam. O próprio Matt (Patton Oswalt), no filme de que aquicuramos, Young Adult/ Jovem Adulta, treplica quando tu lhe respondesque gostavas do Buddy (Patrick Wilson) porque era um bom homem: "Eos outros homens não eram?". Pois, se o Buddy fosse feio talveznão adiantasse ser bom homem. Também não adianta mentir: foi o teurabo no reclame da Martini que nos deu uma espécie de contrapontopara o teu trabalho como actriz. O problema é que durante anos sepensou que tu te afirmaste porque todos esperavam pouco de ti.Transportei a tua bandeira quando ninguém dava cinco tostões por ela, como a da Hale Berry (para a qual tive de me livrar da tua), como a da MarionCotillard (para a qual tive de me livrar da da Hale). Preocupava-me seconseguirias algum dia igualar o filme em que tens o teu desempenhomais brilhante (não, não é o que te deu o óscar, Monster, massim TerraFria/ North County), e aqui está ele: porque tenho a regra deconsiderar sempre mais difíceis os papéis em que o actor,basicamente, faz de si próprio (no sentido social, claro), nãotenho dúvida de que este foi o teu melhor desempenho de sempre.Autêntico, focado, inspirado, tu, que és esteticamente sublime efazes sorrir por seres esteticamente sublime (sempre que punhas umtrapinho ou um tracinho no filme), também consegues serdramaticamente perfeita, ao ponto de ser quase impossível apontar-teum erro, um overacting, um underacting, enfim, o que quer que seja. O Jason Reitmannão esteve com grandes rodeios: temos um "one woman show e nãovale a pena disfarçar: centremos a câmara na Charlize a ver se elase aguenta. O teu olhar possesso no bar, quando te apercebes de que a"tua" música era também a música deles (TheConcept - Teenage fanclub) ficará sempre, na minha bitola eespero que na de muitos, como um momento de grande cinema de actor.Não me costumo queixar das não-nomeações para óscar e tu jáestiveste nos globos, mas não se deixa passar à conta de filmezinhosimpático o espectáculo de uma grande actriz. Queria Charlize, comeste ganhaste um jantar. Podes cobrar quando quiseres.:)
PS:permitam-me recomendar, quase no sentido inverso deste (de como asaparências pouco importam e de como é possível ser-se feliz numambiente quase niilista), um que me passou pelas mãos estefim-de-semana e onde o conhecido pequeno grande actor PG-M2012fonteda foto
Published on February 05, 2012 23:41
February 2, 2012
Pedro
Nota prévia: não é meu costume expor o meu filho pelas melhores razões. Pelas piores nenhum pai expõe. Tenho uma fotografia em toda a rede em que se vê a cara dele, ainda pequenino. E este poema que ele escreveu com nove anos, e que a Prof.Dra Ana Maria Chaves, emérita tradutora, traduziu espontaneamente assim e me enviou por email, o que deu início à nossa amizade. Não escreveu mais nenhum. Até hoje. Lê pouco, não escreve, mas quando escreve escreve assim. Sinto-me obrigado a publicá-lo, não por ser pai, nem sequer pela qualidade do texto, mas pelo testemunho de um processo raro: ele não é de letras nem se interessa por elas. Mas escreve aos doze a um amigo imaginário, que insiste em dizer não ser o próprio pai, que também se chama Pedro - e o que as palavras encerram é profundo e belo.
Pedro
Pedro, és agora a minha estrelaa que brilha lá no céu lá no escurocada vez eu morro mais, cada dia mais um poucopor não estares aqui connosco.Cada vez brilho mais à tua beira e no isolamento total de quemnos ama
E agora na torre estás tu pendurado cada dia, cada diapenso em ti como a luz para iluminar o meucaminhocada dia morro em paz a olhar essa paixão
e a estrela agora é a tuaalma
Guifonte da foto
Pedro
Pedro, és agora a minha estrelaa que brilha lá no céu lá no escurocada vez eu morro mais, cada dia mais um poucopor não estares aqui connosco.Cada vez brilho mais à tua beira e no isolamento total de quemnos ama
E agora na torre estás tu pendurado cada dia, cada diapenso em ti como a luz para iluminar o meucaminhocada dia morro em paz a olhar essa paixão
e a estrela agora é a tuaalma
Guifonte da foto
Published on February 02, 2012 19:39
February 1, 2012
Chuva
Quando se acorda menos disposto, o facto de estar a chover não ajuda, excepto quando a chuva é, em si, o objecto do dia. E quando se descobre que vem de sul e o vento é suave e a temperatura na praia é sequência do corpo, ou seja, não corta a pele, há quase um ânsia por aquela corrida da hora do almoço. E se a corrida vem e começa a chover torrencialmente logo nos primeiro metros e se pode abrir os braços ou dançar ou cantar sem parecer louco - e isso é possível nos passadiços de madeira abandonados em dias como este - a palavra "purificação" passa de metáfora a facto. Ainda por cima reparei, pela primeira vez, nos pequenos seres que andam a correr desesperados sob o passadiço quando passo: não são ratos, são pequenos pássaros que se abrigam dos pingos mais grossos. Quando se aproxima o meu corpo de bem mais de cem quilos, o passo pesado, e quando passa o meu vulto de quase dois metros, uma ave do tamanho de uma noz não pode ficar. E são muitos que levantam voo. Sorrio, volto para trás na linha da capela sobre o mar e passo à areia, o vento é doce pelas costas, e embora a coluna se ande a queixar da areia que afunda, a que a chuva molha é a mais fácil de todas. Se eu não gostasse de fugir para a espuma, de sentir o mar em cima, não custava nada. Mas é no mar que se dissolve o lado mau e se sintetiza o bom.E pelos milhares de quilómetros que corri à chuva, houve sempre, mais ou menos de cem em cem, um corpo misterioso a libertar-se do guarda-chuva e a enfrentar o cinzento escuro, onde os piores pensamentos dão lugares aos mais leves e tudo se organiza na ordem devida.PG-M 2012fonte da foto
Published on February 01, 2012 15:03
January 31, 2012
Nenhuma "Separação" (e Sareh Bayat)
Primeiro esta Sareh Bayat. Ela já nos está a doer antes de acontecer alguma coisa de relevante.Estejam atentos, é a empregada, e Hollywood, já que se prepara para juntar o óscar de melhor filme estrangeiro ao globo de ouro, devia arranjar-lhe uma nomeaçãozita. Tem uma interpretação portentosa.Curiosamente, os menos bons são os protagonistas, o casal no processo de separação que dá nome ao filme, "Uma Separação". Os muito bons são a dita empregada, o pai senil (só consegui acreditar que ele não estava mesmo doente quando o vi receber o urso de prata em Berlim: chama-se Ali-Asghar Shahbazi), e as filhas, a maiorzita, Sarina Farahdi e a notável (notável!) pequenina Kimia Hosseini. Aliás, Berlim teve uma decisão muito sensata: deu o prémio de melhor actor e actriz a conjuntos: o conjunto de actores e de actrizes do filme. É arrebatador como nos sentimos próximos de uma cultura que devia estar nos antípodas da ocidental. Não está. A questão religiosa nem sequer é o cerne da questão, embora seja verdade que o sufoco e a sensação de estranheza que a sucessão de pequenas (mas inúmeras) más decisões provoca é exponenciada e acelerada pela religião de Razieh (Sareh Bayat). O exemplo da sucessão de más decisões que pode levar à tragédia é também para nós e para as nossas vidas. Mas o maior exemplo para pode ser para o cinema português: uma vez mais fica a certeza de que não é a falta de meios que afasta o cinema português dos grandes palcos: é a falta de escrita. Este argumento é simples. Não pretende enfiar num filme as coisas típicas do Irão. Narra dois ou três dias muito simples e quase rotineiros. Mas ninguém consegue tirar os olhos do ecrã.Principalmente quando Sareh Bayat olha para nós.Nada nos prepara para aquele olhar.Nada nos separa daquele olhar.
Sareh Bayat
PG-M 2012fonte da foto 1fonte da foto 2
Published on January 31, 2012 15:48


