Joca Reiners Terron's Blog, page 6
November 11, 2013
Em ritmo de desventura: RC na estrada
As chances de o amo...
Em ritmo de desventura: RC na estrada
As chances de o amor se realizar sobre rodas se intensificaram a partir de Marlon Brando em “O Selvagem” (The Wild One, 1954). Antes disso o desejo tinha outro nome e só era possível sobre os trilhos de um bonde e nos fordecos de Bonnie & Clyde, chacoalhando nas cabines de trens e transatlânticos, sacudido em carruagens ou perseguido por índios a cavalo em diligências flamejantes. As motocicletas de Brando & seu bando foram cruciais para a consolidação do engenho mecânico como extensão periférica do homem no ato da conquista amorosa e, muito antes de vibradores se tornarem assistentes masculinos no projeto de conduzir a mulher amada ao orgasmo, pistons e amortecedores das Harley-Davidsons elevavam a trilha sonora dos amantes a mil por hora.
Esse movimento atingiria o paroxismo com “Juventude Transviada” (Rebel Without a Cause, 1955), onde o puro emblema do desejo da inadequação suburbana da jaqueta vermelha de Jim Stark (James Dean) rouba em definitivo as atenções de Judy (Natalie Wood), mas somente após Stark se submeter ao desafio ritualístico da aprovação social sobre pneus, sobrevivendo ao abismo onde seu oponente Buzz Gunderson (Corey Allen) sucumbe. Não dominar o volante àquela altura já designava o trágico final do sujeito em desacerto com as próprias rodas. E era assim que a solidão se precipitava, despenhadeiro abaixo.
Os motores também logo rugiram no rock and roll, que atualizava andanças rurais de bluesmen nos vagões abandonados dos trens, transladando-as para os centros urbanos, às avenidas iluminadas em cujas calçadas gingavam os teenagers, de início nas cidades norte-americanas, logo depois em toda a banda capitalista do mundo ocidental do pós-guerra, e muito mais rápido do que um chevy 55 pousando na rua Augusta. O sucesso da composição do maestro Hervé Cordovil (“Rua Augusta”), gravada por seu filho Ronnie Cord em 1960, inaugura a vertente menos açucarada do rock nacional (ainda vinculada às origens americanas dos anos 50 e antecipando o iê-iê-iê de extração beatle dos 60), irrompendo assim a 120 na broadway paulistana e dando a bandeirada para o arranque da futura Jovem Guarda. Para permanecer nas metáforas automobilísticas, a canção dos Cordovil “abre vácuo” para Roberto Carlos (vindo de temporada tão efêmera quanto mal sucedida na Bossa Nova) retornar ao rock e explodir em 1963 com “Parei na Contramão”, sua primeira canção a explorar o tema. A conquista amorosa com apoio hidráulico e pneumático era enfim inaugurada no imaginário romântico nacional, e em ritmo de contravenção (“Vinha voando pela rua/ Quando vi pela frente/ Na beira da calçada um broto displicente/ Joguei pisca-pisca pra esquerda e entrei/ A velocidade que eu vinha, não sei/ Pisei no freio obedecendo ao coração e parei/ Parei na contramão”), conduzida pelo tesão. Turbinados por aditivos de caráteres tão explosivos, como hoje reeducar para o trânsito corações e mentes brasileiras, embaladas há tanto tempo pelas expectativas do amor abençoado pelas benesses da velocidade criminosa?
Crônica de uma abordagem impossível em décadas anteriores àquela, “Parei na Contramão” demarca novos tempos para os jogos de sedução onde o broto “de família” (ainda uma noviça dos posteriores movimentos de liberação feminina — estamos nos early sixties) pode enfim ser abordado com ênfase e espalhafato nas ruas, sem ter sua moral ofendida (ou confundida) com a de uma profissional do ramo. O assunto renderia ainda mais louras e dividendos a Roberto no hit seguinte, “O Calhambeque”, versão de Erasmo Carlos para “Road Hog”, de Gwen & John Loudermilk. A história (e Erasmo certa vez afirmou não ser um poeta e sim um contista), de resto em tudo diferente da letra original, narra a desventura do proprietário de um Cadillac avariado que recebe a contragosto um calhambeque como estepe. O rapaz, cético das qualidades do carrinho, — playboy pragmático e sportsman do amor, indisposto a perder tempo sem o carrão — aos poucos se convence: o calhambeque é tiro e queda na paquera (“E logo uma garota fez sinal para eu parar/ e no meu calhambeque fez questão de passear”). Depois de descartar o Cadillac consertado (“Meu coração ficou com o calhambeque”), a canção se conforma de vez ao utilitarismo da simpática ximbica (“Mas agora eu vou-me embora/ Existem mil garotas querendo passear comigo”). Porém, ainda que pese alguma humildade do intérprete (“Mas é só por causa desse calhambeque, sabe/ Bye,bye”), é inquestionável que a canção não demarque a gênese da Maria Gasolina, essa Geni de beira de estrada, cujo corpo é dos roqueiros errantes sem destino.
Maldita Maria Gasolina, a assombrar avenidas e autopostos do mundo, parida sem querer numa canção de Erasmo. Em 1965, Roberto Carlos grava “Os Sete Cabeludos”, consagração e apogeu desta bad girl e uma constatação por parte do “conquistador” de que aquelas garotas pelas quais ele vinha se arriscando destrambelhado na via oposta (em automóveis novos ou velhos), não eram assim lá tão desavisadas. A Lili de “Os Sete Cabeludos” é o estereótipo da mulher livre, para o bem e para o mal (sendo Maria Gasolina ou não), aquela que sabe escolher o que bem entende e também a quem pretende: “Um cara esquisito seu braço segurou/ E um beijo da Lili o atrevido roubou/ Eu vinha em meu carro em doida disparada/ Com sete cabeludos pra topar qualquer parada/ Foi quando, de repente a cena eu avistei/ E o freio do carango bruscamente eu pisei/ Sem mesmo abrir as portas e sem botar as mãos/ Pulamos todos sete para entrar em ação/ Brigamos muito tempo/ (…)/ Porém maldita hora que eu fui olhar pra trás/ A cena que eu vi não esqueço nunca mais/ Lili toda contente na esquina conversava/ Com o cara esquisito que a pouco lhe beijava/ Estava indiferente àquela confusão/ Lili era bonita mas não tinha coração/ Então juramos todos sete/ Palavra de rapaz que por garota alguma/ Não brigamos nunca mais”. A inocência dos rapazes se apagou feito uma brasa, mora?
À essa altura o que havia de espontâneo na cultura teen havia sido absorvido e empacotado em mercadoria por todo o mundo. Em 1959 Elvis já fora “desarmado” ao ser enviado para o exército. Pouco depois mães e filhas ouviriam Frankie Avalone juntas, sem mais conflitos. E foi então que (em 1964) os Beatles invadiram os EUA.
No Brasil, as tardes de domingo derretem sob os holofotes do programa Jovem Guarda. Entrentanto, a dromomania de Roberto — sua compulsão para caminhar — se expande, migrando das ruas da grande cidade moderna para as estradas, num inequívoco movimento de fuga. Nasce então uma série de canções registradas entre 1969 e 1971 (“As Curvas da Estrada de Santos”, “Sentado à Beira do Caminho” — esta gravada por Erasmo —, “120…150… 200km Por Hora” e “Eu Só Tenho um Caminho”) cujas temáticas são a solidão e o abandono (“Você vai pensar que eu não gosto nem mesmo de mim/ E que, na minha idade, só a velocidade anda junto a mim/ Só ando sozinho e no meu caminho o tempo é cada vez menor/ Preciso de ajuda, por favor me acuda, eu vivo muito só”), aliados ao desespero (“Esse sol que queima no meu rosto um resto de esperança”). Não à toa, algumas das músicas de maior longevidade estética do Rei são daquele período. Simultâneo à perda dos sentidos e da perspectiva, surge um afunilamento em direção à estrada, escapando do passado (“O tempo diminui/ As árvores passam como vultos/ A vida passa, o tempo passa/ Estou a 130/ As imagens se confundem/ Estou fugindo de mim mesmo”), em busca do verdadeiro amor no final de tudo (“Escureceu demais e eu não vi você/ Eu só tenho um caminho/ E não vou sozinho/ Vou mudar meu rumo”). Nos primeiros jogos de atração do auge da Jovem Guarda e antes, Roberto seduzia de maneira pueril (com a exceção do namorado com síndrome de abstinência de “Por Isso Corro Demais”), através de sua arma mecânica sobre rodas, porém são nestas canções que surge a quintessência de seu romantismo. Algum tempo depois o melado entornaria, sem chances de limpeza posterior.
O cume do alto destino determinado pela presença da estrada e dos automóveis na lírica madura de Roberto Carlos parece se cristalizar na letra de “Proposta”: “Eu te proponho não dizer nada/ Seguirmos juntos a mesma estrada/ Que continua depois do amor”. Depois disto vieram as canções de volta à mulher amada, sempre em carros cada vez mais pesados e lentos (como caminhões ou táxis), num inequívoco retorno ao estilo de “o bom marido à casa torna”. Melhor teria sido ouvir música no vento das rodovias e o silvo dos motores de Cadillacs ecoando nas formações rochosas por todo o sempre.
[ Uma mini-biografia do Rei sobre rodas, publicado no extinto suplemento Mais! da Folha de S.Paulo em mil novecentos e antigamente ]

EM RITMO DE DESVENTURA: ROBERTO CARLOS NA ESTRADA
As chan...
EM RITMO DE DESVENTURA: ROBERTO CARLOS NA ESTRADA
As chances de o amor se realizar sobre rodas se intensificaram a partir de Marlon Brando em “O Selvagem” (The Wild One, 1954). Antes disso o desejo tinha outro nome e só era possível sobre os trilhos de um bonde e nos fordecos de Bonnie & Clyde, chacoalhando nas cabines de trens e transatlânticos, sacudido em carruagens ou perseguido por índios a cavalo em diligências flamejantes. As motocicletas de Brando & seu bando foram cruciais para a consolidação do engenho mecânico como extensão periférica do homem no ato da conquista amorosa e, muito antes de vibradores se tornarem assistentes masculinos no projeto de conduzir a mulher amada ao orgasmo, pistons e amortecedores das Harley-Davidsons elevavam a trilha sonora dos amantes a mil por hora.
Esse movimento atingiria o paroxismo com “Juventude Transviada” (Rebel Without a Cause, 1955), onde o puro emblema do desejo da inadequação suburbana da jaqueta vermelha de Jim Stark (James Dean) rouba em definitivo as atenções de Judy (Natalie Wood), mas somente após Stark se submeter ao desafio ritualístico da aprovação social sobre pneus, sobrevivendo ao abismo onde seu oponente Buzz Gunderson (Corey Allen) sucumbe. Não dominar o volante àquela altura já designava o trágico final do sujeito em desacerto com as próprias rodas. E era assim que a solidão se precipitava, despenhadeiro abaixo.
Os motores também logo rugiram no rock and roll, que atualizava andanças rurais de bluesmen nos vagões abandonados dos trens, transladando-as para os centros urbanos, às avenidas iluminadas em cujas calçadas gingavam os teenagers, de início nas cidades norte-americanas, logo depois em toda a banda capitalista do mundo ocidental do pós-guerra, e muito mais rápido do que um chevy 55 pousando na rua Augusta. O sucesso da composição do maestro Hervé Cordovil (“Rua Augusta”), gravada por seu filho Ronnie Cord em 1960, inaugura a vertente menos açucarada do rock nacional (ainda vinculada às origens americanas dos anos 50 e antecipando o iê-iê-iê de extração beatle dos 60), irrompendo assim a 120 na broadway paulistana e dando a bandeirada para o arranque da futura Jovem Guarda. Para permanecer nas metáforas automobilísticas, a canção dos Cordovil “abre vácuo” para Roberto Carlos (vindo de temporada tão efêmera quanto mal sucedida na Bossa Nova) retornar ao rock e explodir em 1963 com “Parei na Contramão”, sua primeira canção a explorar o tema. A conquista amorosa com apoio hidráulico e pneumático era enfim inaugurada no imaginário romântico nacional, e em ritmo de contravenção (“Vinha voando pela rua/ Quando vi pela frente/ Na beira da calçada um broto displicente/ Joguei pisca-pisca pra esquerda e entrei/ A velocidade que eu vinha, não sei/ Pisei no freio obedecendo ao coração e parei/ Parei na contramão”), conduzida pelo tesão. Turbinados por aditivos de caráteres tão explosivos, como hoje reeducar para o trânsito corações e mentes brasileiras, embaladas há tanto tempo pelas expectativas do amor abençoado pelas benesses da velocidade criminosa?
Crônica de uma abordagem impossível em décadas anteriores àquela, “Parei na Contramão” demarca novos tempos para os jogos de sedução onde o broto “de família” (ainda uma noviça dos posteriores movimentos de liberação feminina — estamos nos early sixties) pode enfim ser abordado com ênfase e espalhafato nas ruas, sem ter sua moral ofendida (ou confundida) com a de uma profissional do ramo. O assunto renderia ainda mais louras e dividendos a Roberto no hit seguinte, “O Calhambeque”, versão de Erasmo Carlos para “Road Hog”, de Gwen & John Loudermilk. A história (e Erasmo certa vez afirmou não ser um poeta e sim um contista), de resto em tudo diferente da letra original, narra a desventura do proprietário de um Cadillac avariado que recebe a contragosto um calhambeque como estepe. O rapaz, cético das qualidades do carrinho, — playboy pragmático e sportsman do amor, indisposto a perder tempo sem o carrão — aos poucos se convence: o calhambeque é tiro e queda na paquera (“E logo uma garota fez sinal para eu parar/ e no meu calhambeque fez questão de passear”). Depois de descartar o Cadillac consertado (“Meu coração ficou com o calhambeque”), a canção se conforma de vez ao utilitarismo da simpática ximbica (“Mas agora eu vou-me embora/ Existem mil garotas querendo passear comigo”). Porém, ainda que pese alguma humildade do intérprete (“Mas é só por causa desse calhambeque, sabe/ Bye,bye”), é inquestionável que a canção não demarque a gênese da Maria Gasolina, essa Geni de beira de estrada, cujo corpo é dos roqueiros errantes sem destino.
Maldita Maria Gasolina, a assombrar avenidas e autopostos do mundo, parida sem querer numa canção de Erasmo. Em 1965, Roberto Carlos grava “Os Sete Cabeludos”, consagração e apogeu desta bad girl e uma constatação por parte do “conquistador” de que aquelas garotas pelas quais ele vinha se arriscando destrambelhado na via oposta (em automóveis novos ou velhos), não eram assim lá tão desavisadas. A Lili de “Os Sete Cabeludos” é o estereótipo da mulher livre, para o bem e para o mal (sendo Maria Gasolina ou não), aquela que sabe escolher o que bem entende e também a quem pretende: “Um cara esquisito seu braço segurou/ E um beijo da Lili o atrevido roubou/ Eu vinha em meu carro em doida disparada/ Com sete cabeludos pra topar qualquer parada/ Foi quando, de repente a cena eu avistei/ E o freio do carango bruscamente eu pisei/ Sem mesmo abrir as portas e sem botar as mãos/ Pulamos todos sete para entrar em ação/ Brigamos muito tempo/ (…)/ Porém maldita hora que eu fui olhar pra trás/ A cena que eu vi não esqueço nunca mais/ Lili toda contente na esquina conversava/ Com o cara esquisito que a pouco lhe beijava/ Estava indiferente àquela confusão/ Lili era bonita mas não tinha coração/ Então juramos todos sete/ Palavra de rapaz que por garota alguma/ Não brigamos nunca mais”. A inocência dos rapazes se apagou feito uma brasa, mora?
À essa altura o que havia de espontâneo na cultura teen havia sido absorvido e empacotado em mercadoria por todo o mundo. Em 1959 Elvis já fora “desarmado” ao ser enviado para o exército. Pouco depois mães e filhas ouviriam Frankie Avalone juntas, sem mais conflitos. E foi então que (em 1964) os Beatles invadiram os EUA.
No Brasil, as tardes de domingo derretem sob os holofotes do programa Jovem Guarda. Entrentanto, a dromomania de Roberto — sua compulsão para caminhar — se expande, migrando das ruas da grande cidade moderna para as estradas, num inequívoco movimento de fuga. Nasce então uma série de canções registradas entre 1969 e 1971 (“As Curvas da Estrada de Santos”, “Sentado à Beira do Caminho” — esta gravada por Erasmo —, “120…150… 200km Por Hora” e “Eu Só Tenho um Caminho”) cujas temáticas são a solidão e o abandono (“Você vai pensar que eu não gosto nem mesmo de mim/ E que, na minha idade, só a velocidade anda junto a mim/ Só ando sozinho e no meu caminho o tempo é cada vez menor/ Preciso de ajuda, por favor me acuda, eu vivo muito só”), aliados ao desespero (“Esse sol que queima no meu rosto um resto de esperança”). Não à toa, algumas das músicas de maior longevidade estética do Rei são daquele período. Simultâneo à perda dos sentidos e da perspectiva, surge um afunilamento em direção à estrada, escapando do passado (“O tempo diminui/ As árvores passam como vultos/ A vida passa, o tempo passa/ Estou a 130/ As imagens se confundem/ Estou fugindo de mim mesmo”), em busca do verdadeiro amor no final de tudo (“Escureceu demais e eu não vi você/ Eu só tenho um caminho/ E não vou sozinho/ Vou mudar meu rumo”). Nos primeiros jogos de atração do auge da Jovem Guarda e antes, Roberto seduzia de maneira pueril (com a exceção do namorado com síndrome de abstinência de “Por Isso Corro Demais”), através de sua arma mecânica sobre rodas, porém são nestas canções que surge a quintessência de seu romantismo. Algum tempo depois o melado entornaria, sem chances de limpeza posterior.
O cume do alto destino determinado pela presença da estrada e dos automóveis na lírica madura de Roberto Carlos parece se cristalizar na letra de “Proposta”: “Eu te proponho não dizer nada/ Seguirmos juntos a mesma estrada/ Que continua depois do amor”. Depois disto vieram as canções de volta à mulher amada, sempre em carros cada vez mais pesados e lentos (como caminhões ou táxis), num inequívoco retorno ao estilo de “o bom marido à casa torna”. Melhor teria sido ouvir música no vento das rodovias e o silvo dos motores de Cadillacs ecoando nas formações rochosas por todo o sempre.
[ Uma mini-biografia do Rei sobre rodas, publicado no extinto suplemento Mais! da Folha de S.Paulo em mil novecentos e antigamente ]

May 21, 2013
Mem��ria
A mem��ria �� a lembran��a sob um ��nico ponto d...
Mem��ria
A mem��ria �� a lembran��a sob um ��nico ponto de vista, no caso o do narrador do romance. Tenho impress��o que esse tema percorre todos os meus livros, sou intrigado pela capacidade humana de deformar a realidade para superar a dor. Todos somos constru��dos pelas mentiras que contamos a n��s mesmos e nesse aspecto todo adulto �� uma obra de fic����o.
S��o Paulo
S��o Paulo �� um lugar que permite essas misturas. E com a crise econ��mica europeia uma nova leva de imigrantes tem se juntado ao caldo grosso de variedade humana da cidade, tornando-se a Babel ideal. No livro, uso essa imagem das camadas de tinta sobrepostas. O narrador cava com as unhas a parede de um lugar que reconhece at�� encontrar a tinta que estava ali quando era crian��a. O tempo �� a mat��ria prima do escritor e do meteorologista.
O lugar da trama
Acredito que seja mais o lusco-fusco do crep��sculo. Sou m��ope, ent��o essa �� a hora em que n��o enxergo nada. Mas o livro todo oscila entre a noite e o dia, o sono e a vig��lia. Talvez o lugar dele seja essa zona lim��trofe onde todos os gatos s��o pardos.
Inadequa����o
Cem por cento. Definitivamente eu n��o perten��o a esse lugar a��. Por isso mesmo estou decidido a reinvent��-lo.
A marca da pantera
Adoro os filmes dos irm��os Schrader, eles fazem parte do meu imagin��rio de adolesc��ncia. Nastasja Kinski deve ter sido a mulher mais bonita da hist��ria do cinema, ou ao menos da minha hist��ria do cinema. E da sua, pelo visto.
M��todo
De v��rias formas, como nos livros anteriores. Prefiro n��o falar da marcenaria suja de serragem que �� o trabalho de escrever. �� preciso preservar algum mist��rio. Minha fam��lia n��o tem segredos, pois abdicou totalmente de sua hist��ria. Mas, como toda fam��lia, �� composta de gente boa, loucos e ladr��es. Eu tamb��m sou um, por isso me sinto na obriga����o de mentir e invent��-la do modo que bem entender.
Novela
Sempre ambicionei escrever uma novela perfeita, assim como s��o “Estrela Distante”, de Roberto Bola��o, ou “Viver Faz Mal �� Sa��de”, de Jamil Snege. Se consegui ou n��o, s�� o leitor pode dizer. Mas o escritor deve ser dotado de ambi����o. Sem isso, melhor nem sentar para escrever.
[ Fragmentos de uma entrevista����]

Memória
A memória é a lembrança sob um único ponto de vis...
Memória
A memória é a lembrança sob um único ponto de vista, no caso o do narrador do romance. Tenho impressão que esse tema percorre todos os meus livros, sou intrigado pela capacidade humana de deformar a realidade para superar a dor. Todos somos construídos pelas mentiras que contamos a nós mesmos e nesse aspecto todo adulto é uma obra de ficção.
São Paulo
São Paulo é um lugar que permite essas misturas. E com a crise econômica europeia uma nova leva de imigrantes tem se juntado ao caldo grosso de variedade humana da cidade, tornando-se a Babel ideal. No livro, uso essa imagem das camadas de tinta sobrepostas. O narrador cava com as unhas a parede de um lugar que reconhece até encontrar a tinta que estava ali quando era criança. O tempo é a matéria prima do escritor e do meteorologista.
O lugar da trama
Acredito que seja mais o lusco-fusco do crepúsculo. Sou míope, então essa é a hora em que não enxergo nada. Mas o livro todo oscila entre a noite e o dia, o sono e a vigília. Talvez o lugar dele seja essa zona limítrofe onde todos os gatos são pardos.
Inadequação
Cem por cento. Definitivamente eu não pertenço a esse lugar aí. Por isso mesmo estou decidido a reinventá-lo.
A marca da pantera
Adoro os filmes dos irmãos Schrader, eles fazem parte do meu imaginário de adolescência. Nastasja Kinski deve ter sido a mulher mais bonita da história do cinema, ou ao menos da minha história do cinema. E da sua, pelo visto.
Método
De várias formas, como nos livros anteriores. Prefiro não falar da marcenaria suja de serragem que é o trabalho de escrever. É preciso preservar algum mistério. Minha família não tem segredos, pois abdicou totalmente de sua história. Mas, como toda família, é composta de gente boa, loucos e ladrões. Eu também sou um, por isso me sinto na obrigação de mentir e inventá-la do modo que bem entender.
Novela
Sempre ambicionei escrever uma novela perfeita, assim como são “Estrela Distante”, de Roberto Bolaño, ou “Viver Faz Mal à Saúde”, de Jamil Snege. Se consegui ou não, só o leitor pode dizer. Mas o escritor deve ser dotado de ambição. Sem isso, melhor nem sentar para escrever.
[ Fragmentos de uma entrevista ]

Dami��n Tabarovsky recomenda autores brasileiros em sua c...
Damián Tabarovsky recomenda autores brasileiros em sua co...
Resenha – Valor Econ��mico.
Resenha – revista Rolling Sto...
Resenha – Valor Econ��mico.
Resenha – revista Rolling Stone.
Entrevista ao G1.
Mat��ria na Gazeta do Povo (PR).
Entrevista – jornal O Tempo (MG).
Resenha – Di��rio de Maring�� (PR).
– blogue Os Livros que Eu Li.
Entrevista – site Tyrannus Melancholicus.
Resenha – Jornal do Commercio (PE).
Resenha – jornal Rascunho (PR).
Entrevista- Folha de Pernambuco.
Entrevista e resenha (parte 1) (parte 2)��– jornal O Povo (CE).
Entrevista��– A Tribuna (Santos)

Resenha – Valor Econômico.
Resenha – revista Rolling Ston...
Resenha – Valor Econômico.
Resenha – revista Rolling Stone.
Entrevista ao G1.
Matéria na Gazeta do Povo (PR).
Entrevista – jornal O Tempo (MG).
Resenha – Diário de Maringá (PR).
– blogue Os Livros que Eu Li.
Entrevista – site Tyrannus Melancholicus.
Resenha – Jornal do Commercio (PE).
Resenha – jornal Rascunho (PR).
Entrevista- Folha de Pernambuco.
Entrevista e resenha (parte 1) (parte 2) – jornal O Povo (CE).
Entrevista – A Tribuna (Santos)

Resenha��–��Folha de S.Paulo.
Resenha – Folha de S.Paulo.
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