Nuno R.'s Blog, page 107
September 24, 2022
#### #001115 - 19 de Setembro de 2022
A foz do Sousa é luxuriante. Quase escondido está o rio de caudal abundante, entre árvores imensas e muitos tons de verde. Uma selva sem mordomos humanos, é o que ali desagua no Douro.
September 23, 2022
#### #001114 - 18 de Setembro de 2022
Quase tudo o que me interessa ganha um lugar ficcional na minha cabeça. Para ser mais explícito, se uma ideia me diverte ou intriga, se me surpreende, resumo-a numa premissa para uma narrativa. Muitos contos começaram assim, depois de algo me espicaçar a curiosidade, cristalizou numa semente de história. Tenho um imenso depositório de sementes, convenientemente catalogadas. Algumas plantei e não brotaram, outras deram plantas tortas ou pouco nutritivas. E um número reduzido são as histórias que terminei, revi, deixei de lado, voltei a pegar mais tarde e, depois disto tudo, tentei publicar.
#### #001113 - 17 de Setembro de 2022
Num mundo em que todos produzem conteúdo, todos publicam, é o leitor a raridade. A pessoa que se detém numa história, que segura nas mãos as páginas da sua desmedida atenção. E que abre espaço dentro de si a todas as possibilidades. Dá-me vontade de escrever um conto em que os leitores, raros e ilustres, se tornaram celebridades, com imensos fãs entre os milhões que publicam.
#### #001112 - 16 de Setembro de 2022
Subir o Douro. Ir até Crestuma, passar para a outra margem. Descer, ainda longe do mar. A proximidade da água diz que estou a ir bem, que a viagem faz sentido. Teremos peregrinado assim, ao longo dos cursos de água, antes ainda de haver estradas, ou história. Como com outros animais, talvez a repetição do caminho fizesse trilhos, leves marcas na geografia, a indicar padrões.
#### #001111 - 15 de Setembro de 2022
A maior parte das viagens no tempo, na ficção científica, são descritas como viagens entre sítios distintos. O futuro e o passado são lugares, que convivem com o presente. Esta concepção recorre à ideia de linhas temporais diferentes. Há teoria suficiente na ciência, por exemplo a Interpretação de muitos mundos da física quântica, para alimentar a verossimilhança desta abordagem. É esta forma de pensar que gera espontaneamente a ideia dos paradoxos temporais. Se viajar no tempo fosse entrar numa máquina e sair no futuro ou no passado, isto não aconteceria. Mas estas histórias fazem do passado e do futuro lugares reais, que ainda existem ou que já existem. E por isso o teletransporte para lugares onde estivemos, mais novos, ou onde estaremos, mais velhos, é possível. Segundo a interpretação de muitos mundos, sempre que há escolhas, cada uma se realiza, num mundo diferente. Na ficção isto ajuda a dar uma estrutura teórica aos paradoxos, explorados por exemplo, na comédia Regresso ao Futuro. O título já sugere a teoria. A personagem principal, depois de interferir com o seu próprio passado, coloca o presente em perigo. E as suas peripécias são uma tentativa de restauras as coisas, de voltar à linha temporal de que saiu, para viajar. A ideia de que linhas temporais diferentes, ou mundos diferentes, coexistem é explorada em algumas das séries mais recentes de Star Trek. Versões da humanidade diferente cruzam-se, versões diferentes das personagens conhecem-se e interferem nos respectivos mundos.
#### #001110 - 14 de Setembro de 2022
As histórias sobre viagens no tempo não são todas iguais. Desde logo, parece-me, a maior parte confunde tempo com espaço. Na maior parte das narrativas o que acontece é que as personagens encontram forma de se teletransportar de um tempo para o outro, muitas vezes mesmo de um lugar específico no tempo, para outro lugar e outro tempo específicos. Lembro que numa das histórias fundadoras sobre viagens no tempo, The Time Machine, de 1895, a máquina de viajar no tempo não teletransportava ninguém. Entrava-se na máquina e o tempo fora da máquina andava para trás ou para a frente. Esta noção sobre viagens no tempo foi retomada no filme de culto recente Primer, de 2004. Mas há poucos exemplos desta forma de pensar no que seria viajar no tempo.
#### #001109 - 13 de Setembro de 2022
Se removermos os elementos de body-horror, podemos ver o Alien do Ridley Scott como parte de um género dentro do sci-fi. Há muitas histórias assim. Um grupo de astronautas viaja, com todos os constrangimentos de terem de partilhar pouco espaço e de conviver durante muito tempo. As coisas começam a correr mal e, geralmente morrem todos ou quase todos. Um exemplo excelente do género é o Nightflyers, do George R.R. Martin. A série que adaptou a história começa de forma genial, precisamente com o desfecho típico destas histórias, o caos assassino em que os astronautas se viram uns contra os outros. Toda a história é contada como um grande flashback que explica a cena inicial. Sabemos já para onde a história se dirige e vamo-nos surpreendendo na mesma, talvez ainda mais, porque conhecemos as personagens que na cena inicial estão tão alteradas e antes de tudo correr mal nada fazia prever o horror que se seguiria. Em Alien a ameaça é externa, mas torna o próprio corpo humano terreno de incubação do monstro. Estas histórias todas me parecem ser sobre uma mesma coisa: a claustrofobia. Ou de outra forma, o extremo da visão negativa de que não conseguimos viver uns com os outros, quando os recursos são limitados, o espaço é pouco e tudo depende da estreita colaboração de todos.
#### #001108 - 12 de Setembro de 2022
Grupos diferentes preparam-se para a guerra e no final, lutam. Assim se poderia resumir a história quer do Game of Thrones quer do Senhor dos Anéis. Talvez aqui se torne evidente o que eu mais gosto na ficção científica. Quando resumimos uma história sci-fi, não é o enredo que fica depois da redução. Não me lembro do enredo do As Intermitências da Morte. Mas resumiria o livro assim: um dia a Morte deixou de matar pessoas. Não me lembro do enredo de O Fim da Eternidade. Resumiria como: um grupo controla as viagens no tempo e evita a todo o custo os paradoxos temporais. Quando penso numa história sci-fi, penso na premissa. No fundo, quando leio a última de frase de uma história, tudo está ainda a começar. Ao contrário de qualquer enredo, que tem os seus picos e um desfecho. Os mundos destas histórias são a personagem principal e não acabam, vivem na imaginação.
#### #001107 - 11 de Setembro de 2022
Os rios não são caminhos. Fazemos estradas e trilhos para ligar povoações. Túneis e pontes ajudam a fazer travessias que de outro modo seriam difíceis ou impossíveis. Os rios são como veias da natureza, parte de um só sistema, em que a água circula e alimenta a vida toda. A nossa história, como a história de qualquer outro animal está ligada a esta forma de o mundo natural gerar e alimentar vida. Pedalar ao longo dos rios é ter o privilégio de confundir caminhos humanos com o ritmo da natureza. É uma forma bela de me iludir, encontrando uma verdade mais que metafórica.