Nuno R.'s Blog, page 102
November 7, 2022
#### #001163 - 07 de Novembro de 2022
É melhor a tristeza que aciono ao escrever. Porque a sinto diante de mim, em performance, distancio-me do mal que me causa. Vejo com mais nitidez o que me falta, onde não chego, quem me magoou. E sou sobretudo eu que me magoo. Revejo-me, assim, no que sinto. Preparo a lucidez que cicatrizará as feridas que ainda não começaram a doer.
#### #001162 - 06 de Novembro de 2022
Para a cabeça: uma consulta de psiquiatria. Para o corpo: o ginásio aqui perto. Para o coração: aceitar que não sou desejado. Para a alma: retomar a meditação.
#### #001161 - 05 de Novembro de 2022
Férias de mim, é o que mais preciso. Dias sem o peso do ego.
#### #001160 - 04 de Novembro de 2022
Não consigo dormir. Nem as lágrimas lavam a poeira do dia.
#### #001159 - 03 de Novembro de 2022
Sabe bem a chuva lá fora, dói-me este vento frio na alma.
#### #001158 - 02 de Novembro de 2022
Invernou cedo dentro. Coração ressequido, avalio a ferrugem das asas. Sem fôlego para sonhar com o degelo, abro a gaveta para guardar as metáforas. No canto mais escuro, encontro a esperança, bolorenta e sem cor. Trago-a para a luz. Irei testá-la, inflingir-lhe a minha fragilidade.
November 6, 2022
#### #001157 - 01 de Novembro de 2022
O inferno de A. J. Hackwith é intrigante. Os humanos têm uma vida depois da morte à medida do que a sua alma necessita. Não se trata de castigo nem de recompensa. Um humano nasce mesmo como demónio, outra das personagens principais é bibliotecária da Library of the Unwritten, a biblioteca dos livros que não foram escritos. Quando estas almas acordam para a vida eterna, a vida terrena é uma memória difusa. Descobrem-se a meio de desígnios construídos por forças incompreensíveis. Depois, mesmo não havendo livre arbítrio, há uma forma preciosa de consciência que emerge da acção, uma espécie de autonomia, ao menos da narrativa pessoal. O inferno de A. J. Hackwith é estranhamente parecido com a vida mortal dos humanos neste planeta.
#### #001156 - 31 de Outubro de 2022
Há algo de reconfortante numa viagem de comboio. Esta partilha de um rumo, numa fileira de carruagens que apontam em frente. Este sossego que atravessa a paisagem, a proximidade colectiva de tantos destinos pessoais. Um comboio permite-me, de facto, usar a palavra destino sem nenhuma tonalidade supersticiosa.
November 5, 2022
#### #001155 - 30 de Outubro de 2022
Mucho Flow, capacete abanado. Frio mas nenhuma chuva. Sushi e a seguir dança. E um desconforto com multidões que me nasceu no confinamento e que restou, efeito secundário pegajoso e persistente.
#### #001154 - 29 de Outubro de 2022
Curiosamente, muito novo, imaturo e sem saber nada do mundo, comecei por escrever crónicas. Só depois me virei para a poesia e bem mais tarde para a ficção. A confiança de escrever opiniões sobre assuntos que desconhecia teve uma existência frágil, sustentada por uma ignorância optimista. Foi a falta de intimidade com a língua que me fez perceber não ter talento para a poesia. Não sei ainda se alguma revelação sobre outra incapacidade me fará passar da ficção para outra área da escrita. Muito melhor resultado seria aprender com as historias o que não tinha, e voltar à poesia e, muito inesperadamente, à opinião.