Edyr Augusto's Blog, page 11
December 15, 2017
A MPB MANDA LEMBRANÇAS
Felizmente não estava assistindo ao “Programa do Faustão”, semana passada, que conferiu ao cantor trans Pablo Vittar o prêmio de melhor música do ano. É curioso que qualquer crítica feita a ele/ela é respondida como um preconceito contra sua condição, o que é uma bobagem. Todo apoio aos trans e que sejam felizes e aceitos pela sociedade da melhor maneira, como merecem. Mas o cantor é péssimo. A música também é péssima. Sua vitória vem ressaltar o profundo mau momento que vivemos com os artistas atuais. Uma situação clara do abismo em que o país se encontra, por conta de sua Educação e Cultura. Um poço sem fundo. Trabalho com música, profissionalmente, desde os 16 anos. A curiosidade sempre me moveu. Ouvir o novo. Perceber sua chegada. E foram tantos artistas! Tinha um programa na Rádio Clube, “Gente da Pesada”. Lembro de ter lançado o “Acabou Chorare”, dos Novos Baianos, percebendo ali, o futuro sucesso. E foi assim até alguns anos atrás, quando percebi que algo não ia bem. Cantores inexpressivos, letras inócuas, músicas frágeis. Pior, isso atinge inclusive artistas que ao invés do sucesso fácil, tentam propor novos sons. Não gosto de nada. Isso me dói muito. Como se finalmente ficasse velho, lembrando somente do passado. E os chamados artistas mainstream? Sertanojos, Ivetes, funks. Cada vez pior. A não melodia, a não letra, com riqueza inferior ao simples “Atirei o pau no gato”. Onde foi parar a música popular brasileira? Nos anos 80, o rock brasileiro veio com nova proposta poética, mais direta, simples. Era criativo e bom. Daí em diante, degringolou. Mas a mpb ainda respira. Ou seria a mcb, Música Culta Brasileira, aquela que tem variações harmonicas, instrumental, intérpretes e letras poéticas? Será que é coisa de velho?Em um momento em que a internet domina a distribuição musical e os cds passaram ao pen drive e sei lá mais quê, ainda queremos ouvir albuns inteiros ou somente nos interessa o hit?
Zélia Duncan, que há muito não lança músicas de sua autoria, uniu-se a Jaques Morelenbaum e lançou um cd onde interpretam jóias de Milton Nascimento. O contraste entre a voz médio grave de Zélia e o violoncello de Jaques é maravilhoso. Escolher qual? “Ponta de Areia”, “O que será?”E quem ouvirá essa beleza toda? Nós, os velhos?. Interessante. E o que há com Lulu Santos? Esse show de ruindades do The Voice Brasil o influenciou? Homenageia Rita Lee em “Baby, Baby”, errando em todas. Arranjos ruins. Voz abaixo do tom, sem inspiração. E olha que canta todos os hits de Lee. “Desculpe o auê”, “Lança Perfume”, tudo. Chato, Lulu, um dos maiores hitmakers surgidos nos anos 80. Gal Costa, mais de 70 anos, arrebenta com “Estratosférica ao vivo”, onde cercada por novos músicos, mistura sucessos de seu melhor momento, no início da carreira, com os bem recentes. A cantora é ótima, mas quando vem “Mal Secreto”, “Hotel das Estrelas” e outras, onde Lanny ou Pepeu Gomes registraram altíssimo padrão instrumental, os garotos de Gal ficam inferiores. Em tempos normais, o hit “Quando você olha pra ela, teu rosto te entrega” estaria em todas as premiações. Maravilhoso é “Paulo Jobim e Mario Adnet, Jobim, Orquestra e convidados”, onde são apoiados por Antonia Adnet, Luiz Pé, Daniel Jobim, Julia Vargas, Alice Caymmi e Yamandu Costa. Como era maravilhosa nossa música! E não há mais espaço para registrar “Campos Neutrais”de Vitor Ramil, “Mano, que Zuera”, sensacional volta de João Bosco e parcerias com o divino Aldir Blanc. E eu lá quero saber de Pablo Vittar? Estarei ranzinza, velho, ultrapassado ou nosso Brasil que emburacou?
Zélia Duncan, que há muito não lança músicas de sua autoria, uniu-se a Jaques Morelenbaum e lançou um cd onde interpretam jóias de Milton Nascimento. O contraste entre a voz médio grave de Zélia e o violoncello de Jaques é maravilhoso. Escolher qual? “Ponta de Areia”, “O que será?”E quem ouvirá essa beleza toda? Nós, os velhos?. Interessante. E o que há com Lulu Santos? Esse show de ruindades do The Voice Brasil o influenciou? Homenageia Rita Lee em “Baby, Baby”, errando em todas. Arranjos ruins. Voz abaixo do tom, sem inspiração. E olha que canta todos os hits de Lee. “Desculpe o auê”, “Lança Perfume”, tudo. Chato, Lulu, um dos maiores hitmakers surgidos nos anos 80. Gal Costa, mais de 70 anos, arrebenta com “Estratosférica ao vivo”, onde cercada por novos músicos, mistura sucessos de seu melhor momento, no início da carreira, com os bem recentes. A cantora é ótima, mas quando vem “Mal Secreto”, “Hotel das Estrelas” e outras, onde Lanny ou Pepeu Gomes registraram altíssimo padrão instrumental, os garotos de Gal ficam inferiores. Em tempos normais, o hit “Quando você olha pra ela, teu rosto te entrega” estaria em todas as premiações. Maravilhoso é “Paulo Jobim e Mario Adnet, Jobim, Orquestra e convidados”, onde são apoiados por Antonia Adnet, Luiz Pé, Daniel Jobim, Julia Vargas, Alice Caymmi e Yamandu Costa. Como era maravilhosa nossa música! E não há mais espaço para registrar “Campos Neutrais”de Vitor Ramil, “Mano, que Zuera”, sensacional volta de João Bosco e parcerias com o divino Aldir Blanc. E eu lá quero saber de Pablo Vittar? Estarei ranzinza, velho, ultrapassado ou nosso Brasil que emburacou?
Published on December 15, 2017 06:37
December 8, 2017
A CAÇA DO RÈVEILLON
O ônibus chegou no Terminal Rodoviário pouco depois das dez da noite. A cidade vivia a efervescência de um 31 de dezembro. Muita gente já festejava. Foguetes aqui e ali. Casas cheias. Pediu ao motorista do táxi a indicação de um hotel no centro da cidade. Médio, em termos de qualidade. Fora uma viagem longa. Apontara no mapa, olhara para a bilheteira em São Paulo e decidira. Seria Belém. As coisas estavam difíceis para ele. Tinha bom senso. Sabia o momento de se retirar. Agora, havia desfrutado de bons momentos, vida boa, mas sabia que nunca durava o suficiente. Era assim, mesmo. Estava com uma barba rala que veio retocando. Cortou o cabelo bem rente, deixando para trás longa cabeleira. No hotel, tomou um longo banho, escolheu a melhor roupa e desceu. Deu uma rápida olhada nos jornais locais. Queria saber onde aconteceria o reveillon mais badalado, mais chique. Perguntou o endereço. Pegou outro táxi.
Agora estava na porta daquela casa noturna, examinando as pessoas que chegavam, alegres, felizes, algumas já acima do normal, para participar do reveillon. Vinham sempre em turma. Em casais. Decidiu esperar mais um pouco. Atravessou para um famoso bar, pegou uma mesa na janela, pediu uma cerveja e ficou. Aproveitou para jantar uma boa comida, o que não fez durante toda a viagem. Acompanhou a passagem de ano. Buzinas, fogos, um brinde coletivo no bar. Estavam em 2017. Estava na hora. Voltou. Não havia mais ingressos, mas a boa aparência e o bom papo resolveram tudo. Entrou. A festa estava animadíssima. Música dançante. Gente dançando, gente circulando, nas mesas, falando alto. Como um bom caçador, ficou à espreita da vítima. Observou cuidadosamente quem lhe interessava. Umas cinco ou seis. Foi eliminando, eliminando, até que se fixou em uma mulher. Do bar, onde se instalara, percebeu quando ela se levantou para ir até o banheiro. Estava sozinha, em uma mesa cheia de casais. Bonita, discreta, não era das mais alegres, o que demonstrava, sabia, timidez. Usou um de seus inúmeros truques, infalíveis e teve sucesso na abordagem. Ficaram conversando. Atento, sabia que o pessoal da mesa olhava, comentava e tal. Veio um rapaz. Ela lhe apresentou. Como é mesmo o seu nome? Tão simpático que ele lhe convidou para ir se juntar a eles. Charmoso, dominou a conversa, sem deixar de dar atenção exclusiva a ela que, sentia, o analisava, admirava, avaliava. Era hora de sair. O dia clareava. Alguém sugeriu comer alguma coisa no restaurante em frente. Agora até o apelidavam. Ela não reagiu quando, andando, ele a envolveu com o braço. Sentaram juntos. Roçando corpo com corpo. Na hora de sair, fez questão de pagar a conta. Sim, ela tinha seu carro. A aposta era correta. Fez o número de procurar um táxi. Todos se ofereceram para dar carona, mas abriram caminho para ela, sem que fosse preciso dizer nada. Somente o olhar. Ficou claro que ela era uma mulher de negócios bem sucedida, bonita, mas sem grandes aventuras românticas, por conta da timidez e excesso de trabalho. Ficou claro que eles adoraram sua corte a ela. E que o aprovaram com seu charme, seu sotaque paulista, sua aparência, suas roupas e o interesse por ela. Na porta do hotel, uma longa conversa, que ele soube manobrar muito bem. Agora, a caça estava à sua disposição, ansiosa, tremenda, ansiosa. Mas ele sabia que não devia assustar. Sabia jogar. Enfim, ela se entregou. Subiram juntos. O caçador faturava mais uma. Não sabia o tempo que iria durar, mas sabia que ia passar muito bem.
Agora estava na porta daquela casa noturna, examinando as pessoas que chegavam, alegres, felizes, algumas já acima do normal, para participar do reveillon. Vinham sempre em turma. Em casais. Decidiu esperar mais um pouco. Atravessou para um famoso bar, pegou uma mesa na janela, pediu uma cerveja e ficou. Aproveitou para jantar uma boa comida, o que não fez durante toda a viagem. Acompanhou a passagem de ano. Buzinas, fogos, um brinde coletivo no bar. Estavam em 2017. Estava na hora. Voltou. Não havia mais ingressos, mas a boa aparência e o bom papo resolveram tudo. Entrou. A festa estava animadíssima. Música dançante. Gente dançando, gente circulando, nas mesas, falando alto. Como um bom caçador, ficou à espreita da vítima. Observou cuidadosamente quem lhe interessava. Umas cinco ou seis. Foi eliminando, eliminando, até que se fixou em uma mulher. Do bar, onde se instalara, percebeu quando ela se levantou para ir até o banheiro. Estava sozinha, em uma mesa cheia de casais. Bonita, discreta, não era das mais alegres, o que demonstrava, sabia, timidez. Usou um de seus inúmeros truques, infalíveis e teve sucesso na abordagem. Ficaram conversando. Atento, sabia que o pessoal da mesa olhava, comentava e tal. Veio um rapaz. Ela lhe apresentou. Como é mesmo o seu nome? Tão simpático que ele lhe convidou para ir se juntar a eles. Charmoso, dominou a conversa, sem deixar de dar atenção exclusiva a ela que, sentia, o analisava, admirava, avaliava. Era hora de sair. O dia clareava. Alguém sugeriu comer alguma coisa no restaurante em frente. Agora até o apelidavam. Ela não reagiu quando, andando, ele a envolveu com o braço. Sentaram juntos. Roçando corpo com corpo. Na hora de sair, fez questão de pagar a conta. Sim, ela tinha seu carro. A aposta era correta. Fez o número de procurar um táxi. Todos se ofereceram para dar carona, mas abriram caminho para ela, sem que fosse preciso dizer nada. Somente o olhar. Ficou claro que ela era uma mulher de negócios bem sucedida, bonita, mas sem grandes aventuras românticas, por conta da timidez e excesso de trabalho. Ficou claro que eles adoraram sua corte a ela. E que o aprovaram com seu charme, seu sotaque paulista, sua aparência, suas roupas e o interesse por ela. Na porta do hotel, uma longa conversa, que ele soube manobrar muito bem. Agora, a caça estava à sua disposição, ansiosa, tremenda, ansiosa. Mas ele sabia que não devia assustar. Sabia jogar. Enfim, ela se entregou. Subiram juntos. O caçador faturava mais uma. Não sabia o tempo que iria durar, mas sabia que ia passar muito bem.
Published on December 08, 2017 05:39
December 1, 2017
TENHO UM MEDO DE MORTE DA VIDA
Caetano Veloso, na letra que fez para a melodia de Beto Guedes, diz “o medo de amar é o medo de ser livre”. Concordo, mas gostaria de emendar e dizer “o medo de viver é o medo de ser livre”. Isso me ocorreu após assistir a um filme onde a mocinha, que desafiara a família conservadora, morreu de Aids. Já não sou mais criança e posso dizer que até agora, vivi sem medo da vida. Fui educado para fazer o que quisesse e respondesse por isso. Mesmo assim, ainda demorei um tanto para encontrar meu caminho. Hoje, olho para trás, contemplo as minhas peripécias, minhas aventuras, desafios, vitórias e derrotas e fico satisfeito. Talvez quisesse fazer um pouco mais ainda. E penso em dizer aos meus filhos, que sejam amigos, protejam-se uns aos outros para que possam viver e ser livres. Sejam amigos. Sejam bons. Ao longo do tempo, vi garotos, nem bem com 16 anos e já preocupados, sem viver a melhor fase da vida, estudando para se formar com 22 anos. E vão se matar de trabalhar, porque realmente nada está fácil, mas esqueceram de viver. Ganham dinheiro, compram carros gigantescos, apartamentos, viajam para Miami, tudo de maneira sôfrega, como quem quer compensar um tempo não vivido plenamente. Gente rica e infeliz na profissão. Um médico que gostaria de ter sido filósofo, engenheiro que gostaria de ter sido músico. Ao contrário, conheço médicos que apenas são felizes em seus consultórios ou salas de cirurgia, onde seu mundo está perfeito, com os aparelhos e sua técnica. Aqui fora, a vida é muito complicada. Há outra música que lembro, diz “de vez em quando me vou a algum lugar”. Sim, precisamos respirar. Ouso dizer, que mesmo a imensa quantidade de brasileiros que enfrenta terríveis dificuldades para viver, no dia a dia, também precisa respirar. E assim, afogueados de tanta luta, não há onde desabafar, dar um tempo, viver para ser livre. Os compromissos nos prendem como grilhões. A sociedade cobra comportamentos, atitudes. Engolimos e cumprimos o papel que já está escrito. Não sou expert, tampouco pesquisei em livros, inclusive de auto ajuda, para escrever isso. Convivi com minhas dúvidas, lutei, trabalhei incessantemente, mas vivi e consegui ser livre. Esse caminho encontrei na arte. Fiz música, escrevi peças de teatro, livros. Em todos esses gêneros, apresentei meu trabalho ao público, me expus. Fui e sou livre. Conheci e frequentei grupos de pessoas dos mais diferentes comportamentos e opiniões. Hoje, posso dizer que não pertenço a nenhum grupo específico, mas a todos eles. De cada um, tiro o melhor para a minha liberdade de espírito e pensamento. Procuro contribuir não com críticas, mas com argumentos na direção daquilo em que acredito. Sou imperfeito, erro muito, como todos nós, mas a idade me deu a condição de refletir a respeito de meus atos. Por isso, neste instante, escrevo como diriam “ao sabor da pena” ou “ao sabor dos dedos nas teclas”, que nosso principal compromisso deve ser este, de viver para ser livres. E de vez em quando escapo para Mosqueiro, Farol e ali reencontro uma vida inteira, no cenário, em todas as pessoas que ali estavam na minha infância/adolescência. Olho para o nada e as vejo na praia, jogando futebol, empinando papagaios, dançando no Netuno Iate Club e namorando. Fico no Hotel Farol e aproveito para respirar, desanuviar, lembrar, contemplar e sorver um tempo sem tempo para nada a não ser viver o dia, carpe diem, naquele vento que despenteia e o sol que se põe tendo a Ilha dos Amores como moldura. Como é bom!
Published on December 01, 2017 06:04
November 24, 2017
A OUTRA IRMÃ
Sempre fui fã de Saulo Sisnando, desde as primeiras peças, lá no Teatro Cuíra, onde ainda tateava uma linguagem que agora está sólida e pronta. Talvez por ser tão urbano quanto eu, ou pela influencia clara dos filmes em p&b, da década de 40, das grandes estrelas de Hollywood. Gosto do humor de seus textos, sutil, ferino, elegante. Não tem medo do melodrama e até do efeito engraçado que gera, quando misturado a tentativas do gênero “Terror”. Saulo já surgiu dentro da escuridão cultural em que vivemos há mais de vinte anos. Por isso, acho, o nome de seu grupo é “Teatro de Apartamento”, pois é lá que ensaia, com sua turma, seus espetáculos. Já foi encenado com sucesso no Rio de Janeiro e suas series, filmadas e postadas no Facebook também são ótimas, corajosas, ousadas. Eu próprio já escrevi um texto, que se juntou a outros dois em uma peça. A parceria com a Casa Cuíra já estava anunciada há tempos. Logo que a Casa foi aberta, ali na Cidade Velha, Dr. Malcher 287, conversamos a respeito de um texto que iniciaria com um personagem entrando na casa e caindo, ensanguentado, em frente à platéia. Crime, assassinato, mistério. Ele se encantou. Quando voltou, já foi com um texto que reúne todas essas possibilidades. É preciso pensar na Casa. Em seus espaços. Até pode ter um palco italiano, mas pode muito mais. Salas amplas, pé direito alto, tábuas compridas, um mundo de possibilidades. Chamaram Patrícia Gondim, Grazi Ribeiro, Alexandre Baena, Dani Cascaes, Maria Luiza Marillac e Gisele Guedes e a coisa foi tomando forma. Junta, como somente o Teatro é capaz de juntar, generosamente, gerações diferentes de atores. Olinda Charone, Zê Charone e Sônia Alão, contracenam com Leoci Medeiros, Leonardo Moraes, Flávio Ramos, Pauli Banhos e o resultado é maravilhoso. Tem ator fazendo personagem feminino e vice versa. Tem ator fazendo dois personagens. Tem trecho filmado, projetado na parede da casa. Saulo, que adora Agatha Christie, foi influenciado pelo livro “O Caso dos Dez Negrinhos”. Saiu um texto de mistério, vingança, ciúme, crime e ambição. A famosa escritora de livros de terror, Elizabeth Wilcox, há muitos anos vive enfurnada em uma mansão à beira mar, próxima a Los Angeles. Tem a companhia de alguém, muito misteriosa, criada e tratada como serviçal, mas que ainda poderá herdar toda a fortuna da escritora. Mas há mais mistério envolvendo a morte de uma das filhas, o nascimento de duas netas, playboys e caçadores de dotes ambiciosos. Convidada, essa malta estará presente em um fatídico final de semana, com Wilcox. É claro que contracenar com duas atrizes famosas na cidade, deixou inicialmente nervosos Leoci Medeiros e Leonardo Moraes. Mas a troca de energias, o tal famoso processo que permeia toda montagem teatral, fez com que o elenco formasse novamente o que chamamos de “família do teatro”. Ali, todos ficam tão unidos, confidentes, que às vezes os colegas sabem mais de suas vidas do que a própria família. E no entanto, após a temporada, provavelmente vão se separar, seguindo para novos compromissos, “novas famílias”, em outras montagens. “A Outra Irmã” é, principalmente, mais um grito do teatro paraense, que mesmo com toda a maquina trabalhando contra, continua e se mostrar. O show não pode parar. Os espetáculos são em Casas, como a Casa Cuíra. São em praças, até em ônibus, com foi recentemente em “Auto do Coração. Não temos acesso aos palcos da cidade, destinados a qualquer coisa que não artistas paraenses. Ano que vem está chegando. Amanhã vai ser outro dia. Enquanto isso, te convido a assistir “A Outra Irmã” e garanto diversão e entretenimento. Sobretudo, a mágica ali, na sua frente, à distância do tato. O Teatro.
Published on November 24, 2017 06:25
November 17, 2017
O LUGAR DA EMOÇÃO
Estava ouvindo o último cd de Guinga, com o Quarteto Carlos Gomes e devaneando, pensando na emoção que seria ouvir músicas de minha autoria, a maioria trilhas de teatro, por um quarteto de cordas. Uma de minhas melhores recordações foi assistir, no Teatro da Paz, Nilson Chaves e Vital Lima, cantando e sendo acompanhados por uma orquestra. A casa de meus pais sempre esteve envolta em música. Havia discos em 78rpm e ouvíamos algumas árias lindas e inesquecíveis. Adiante, apaixonado pelo tal rock progressivo, após Emerson, Lake & Palmer gravar “Quadros de uma Exposição”, de Mussorgsky, corri para ouvir o original. Fui atrás de “A Sagração da Primavera”, de Stravinsky, após o Yes abrir seus concertos com um trecho.
Não queria ser David Gilmour, que inventou e gravou o solo de “Comfortably Numb”, clássico do Pink Floyd em “The Wall”, mas queria ser o guitarrista trazido por Roger Waters, que assisti em São Paulo. Do alto de um cenário onde estava o “muro”, ele sola deliciosamente, apaixonadamente para profunda emoção de todos os que ouvem e assistem. A construção da cena é perfeita e atinge nossos corações. Me pergunto a respeito da emoção pessoal desse músico, que executa com maestria, várias vezes, nos shows realizados, o tal solo. Lá em cima, sentindo o vento da noite, iluminado por potentes holofotes e tendo abaixo uma multidão emocionada, será que ele sente arrepios ou apenas executa profissionalmente, com precisão? Uma vez, em NY, assistia ao musical “Tommy”, na primeira fila. Dava para ver, no fosso, os músicos da orquestra. Entre eles, uma violinista, que lia um livro, até aguardar seu momento de tocar, o que fazia perfeitamente. Qual o distanciamento ideal para o artista, porque sem emoção, tudo vira automático e o público, mesmo sem perceber, sentirá. Um ator, muitas vezes, durante a peça que interpreta, “assiste” ao público. Sabe quem está dormindo, bocejando, conversando. Mas são momentos em que sabe que pode fazer isso. Sabe dosar. Quando vem aquele momento em que é necessária a emoção, ele tem técnicas para buscar dentro de si a motivação que encantará a plateia. Não sou músico. Se estivesse no alto do cenário de “The Wall”, aguardando para solar “Comfortably Numb”, provavelmente cairia lá de cima, as pernas tremendo, o coração pulsando, os olhos lagrimando de emoção. E o músico? Tanto no show quanto na peça de teatro, repetem as mesmas notas e textos, mas cada noite, cada show, é diferente. Somos humanos. Temos motivações diárias e particulares. O público também vibra diferente, em conjunto. Dizem que a plateia de sexta é curiosa, a de sábado é crítica e a de domingo é ótima. Eu fazia sonoplastia em “Toda minha vida por ti”, do Cuíra, dirigida por Cacá Carvalho. Havia o que chamamos de “golpe teatral”. Magistralmente, ele preparou uma cena intensamente hilariante, seguida de outra, profundamente emotiva. Trabalhamos em conjunto. Atores, iluminação e som. Naquele instante, tal como no show de Nilson Chaves, no TP, lembrei de meu pai, que havia morrido há pouco tempo e me emocionei. No palco, um dos atores, por exemplo, dizia palavras bonitas, mas objetivamente, para ele, sem que o público soubesse, estava repetindo uma cena pessoal e emotiva, de sua vida. Assim, havia organicidade em sua fala. A plateia que ria, agora chorava. Onde colocar a emoção? Pensei nisso e resolvi dividir com vocês.
Não queria ser David Gilmour, que inventou e gravou o solo de “Comfortably Numb”, clássico do Pink Floyd em “The Wall”, mas queria ser o guitarrista trazido por Roger Waters, que assisti em São Paulo. Do alto de um cenário onde estava o “muro”, ele sola deliciosamente, apaixonadamente para profunda emoção de todos os que ouvem e assistem. A construção da cena é perfeita e atinge nossos corações. Me pergunto a respeito da emoção pessoal desse músico, que executa com maestria, várias vezes, nos shows realizados, o tal solo. Lá em cima, sentindo o vento da noite, iluminado por potentes holofotes e tendo abaixo uma multidão emocionada, será que ele sente arrepios ou apenas executa profissionalmente, com precisão? Uma vez, em NY, assistia ao musical “Tommy”, na primeira fila. Dava para ver, no fosso, os músicos da orquestra. Entre eles, uma violinista, que lia um livro, até aguardar seu momento de tocar, o que fazia perfeitamente. Qual o distanciamento ideal para o artista, porque sem emoção, tudo vira automático e o público, mesmo sem perceber, sentirá. Um ator, muitas vezes, durante a peça que interpreta, “assiste” ao público. Sabe quem está dormindo, bocejando, conversando. Mas são momentos em que sabe que pode fazer isso. Sabe dosar. Quando vem aquele momento em que é necessária a emoção, ele tem técnicas para buscar dentro de si a motivação que encantará a plateia. Não sou músico. Se estivesse no alto do cenário de “The Wall”, aguardando para solar “Comfortably Numb”, provavelmente cairia lá de cima, as pernas tremendo, o coração pulsando, os olhos lagrimando de emoção. E o músico? Tanto no show quanto na peça de teatro, repetem as mesmas notas e textos, mas cada noite, cada show, é diferente. Somos humanos. Temos motivações diárias e particulares. O público também vibra diferente, em conjunto. Dizem que a plateia de sexta é curiosa, a de sábado é crítica e a de domingo é ótima. Eu fazia sonoplastia em “Toda minha vida por ti”, do Cuíra, dirigida por Cacá Carvalho. Havia o que chamamos de “golpe teatral”. Magistralmente, ele preparou uma cena intensamente hilariante, seguida de outra, profundamente emotiva. Trabalhamos em conjunto. Atores, iluminação e som. Naquele instante, tal como no show de Nilson Chaves, no TP, lembrei de meu pai, que havia morrido há pouco tempo e me emocionei. No palco, um dos atores, por exemplo, dizia palavras bonitas, mas objetivamente, para ele, sem que o público soubesse, estava repetindo uma cena pessoal e emotiva, de sua vida. Assim, havia organicidade em sua fala. A plateia que ria, agora chorava. Onde colocar a emoção? Pensei nisso e resolvi dividir com vocês.
Published on November 17, 2017 07:53
November 10, 2017
FEIOS, RUINS, CAFONAS E POBRES
Fui assistir “A Mulher de Bath”, com Maitê Proença, dirigida por Amir Haddad, semana passada, no Teatro da Paz. Apenas a plateia e uma ou duas frisas ocupadas. Direção correta, atriz esplêndida, usando de todos os seus recursos, sobre um texto literário, em versos, longo e difícil. Que memória! Mas exatamente por ser mais literário, não funciona como teatro, mesmo com tanta gente boa. E nosso público de TP, hoje, ou vai para ver o galã da Globo ou para rir. Houve discretas risadas, mais pela ansiedade em rir do que pelo texto. Fiquei ali pensando em quantas vezes esteve ali uma peça de minha autoria, com teatro lotado. Já em minha estréia com “Foi Boto, Sinhá”, depois com “Angelim, o outro lado da Cabanagem” e, finalmente, com “Convite de Casamento”, esta última já dentro do período negro que atravessamos há mais de vinte anos. Fomos recebidos pela direção com alguma ironia. Quando topamos pagar o preço por noite, risinhos sem graça. Menos dos funcionários que pareciam torcer por nós. Pois lotamos o final de semana. Uma peça paraense. Muitos vinham perguntar se éramos de fora ou daqui, mesmo. Imaginem. Naquele mesmo domingo, nos jornais, uma pesquisa sobre as preferências culturais do povo paraense. Que bom que a Literatura apareceu mais ou menos. Mas o Teatro, no rabo da fila. É claro que o Teatro sempre esteve em crise. Mas eu lotava o Teatro da Paz, como fiz no Schivazappa, Líbero Luxardo e quem mais se apresentou. No decorrer desses anos todos, a concorrência aumentou muito em atrações artísticas. A música, se resolverem ligar os aparelhos na hora e se apresentar em improviso, conseguem. O Teatro é mais artesanal, mas é a base de tudo. Infelizmente, o povo paraense foi apartado do Teatro. Hoje, vamos ao TP para assistir espetáculos por artistas globais e principalmente, comédia. “Se não é comédia, não vou. De problemas, já bastam os meus”, pareço estar ouvindo. E o funcionário público incompetente, que há mais de vinte anos destrói nossa Cultura, considera que somos feios, ruins, cafonas, pobres, enfim. Incapazes de pisar no TP. Essa é boa. Mas hoje, realmente não dá. Não porque não tenhamos condições, ou sejamos feios, ruins, cafonas, mas pobres, certamente. O preço do aluguel é alto. E sem global no elenco... Mas o Teatro não morreu. Estamos em locais alternativos. Saulo Sisnando, um dos ótimos novos autores está ensaiando um espetáculo para estrear no fim do mês, na Casa Cuíra, chamado “A Outra Irmã”, excelente. Será que lhe fará levantar da poltrona em casa, sair da novela das nove, ou dez, botar uma roupa e ir assistir? Ou também acha que somos feios, pobres, ruins e cafonas?LES VALSEUSES
Maiween Le Nedellec, diretora da Aliança Francesa, matou a charada que perseguia há anos, querendo saber o título de um filme que aqui se chamava “Loucos de Amor”. Eu o assisti no Cinema 1, creio, anos 70, quando tudo era possível. Gerard Depardieu cabeludo, magérrimo e Patrick Dewaere, lindos, em uma corrida louca por Paris e arredores, como um easy rider francês, dirigidos por Bertrand Blier e música de Stephane Grapelli, ainda com participações de Miou Miou, Jeanne Moreau e Isabelle Ruppert. Que time! Hoje parece um tanto naïve, mas na época era tudo de bom. Sair por aí, sem lenço, sem documento, sem hora para nada, sem lugar para ficar, aproveitando a juventude, cometendo pequenos roubos, pequenos delitos e rindo, rindo muito. Sim, eu sou da turma dos 70’s, que ajudou a revolucionar o mundo em costumes. Aprecio a turma dos 80’s, sobretudo em Belém, na área do Teatro. Grandes nomes, hoje, ainda, mas precisando, novamente, quebrar tudo e mostrar uma direção para jovens de agora que me parecem acomodados, preferindo estar na plateia do que no palco, fazendo o mundo girar.
Maiween Le Nedellec, diretora da Aliança Francesa, matou a charada que perseguia há anos, querendo saber o título de um filme que aqui se chamava “Loucos de Amor”. Eu o assisti no Cinema 1, creio, anos 70, quando tudo era possível. Gerard Depardieu cabeludo, magérrimo e Patrick Dewaere, lindos, em uma corrida louca por Paris e arredores, como um easy rider francês, dirigidos por Bertrand Blier e música de Stephane Grapelli, ainda com participações de Miou Miou, Jeanne Moreau e Isabelle Ruppert. Que time! Hoje parece um tanto naïve, mas na época era tudo de bom. Sair por aí, sem lenço, sem documento, sem hora para nada, sem lugar para ficar, aproveitando a juventude, cometendo pequenos roubos, pequenos delitos e rindo, rindo muito. Sim, eu sou da turma dos 70’s, que ajudou a revolucionar o mundo em costumes. Aprecio a turma dos 80’s, sobretudo em Belém, na área do Teatro. Grandes nomes, hoje, ainda, mas precisando, novamente, quebrar tudo e mostrar uma direção para jovens de agora que me parecem acomodados, preferindo estar na plateia do que no palco, fazendo o mundo girar.
Published on November 10, 2017 06:42
November 3, 2017
GIL ENGENDRA EM GIL ROUXINOL
Leio no Estadão que Gilberto Gil vai lançar uma caixa contendo três gravações de shows que realizou no começo dos anos 70, pouco depois de retornar do exílio na Inglaterra, para onde foi “delicacamente” enviado pelos militares, no poder, naquele tempo. No primeiro deles, Gil vem de guitarra elétrica em punho, um band leader, cantando “Back in Bahia”. Ao contrário de Caetano Veloso, dedicado ao violão, Gil gravou em inglês um álbum já com a guitarra e seguia o caminho. Um grande momento. Meu herói de geração foi Caetano Veloso. Me identificava com suas ações, cabelo grande, roupas coloridas e influencias musicais. Mas, sem dúvida, Gil, além de ser ótimo, com uma voz maleável e perfeita, violão certeiro, letras e músicas, foi mais atuante, sem dúvida. Mesmo nos primeiros discos, antes da Tropicália, era Gil que arrebentava com “Roda”, que dizia “não é obrigado a me ouvir, quem não quiser escutar”. Assumia posições. “Domingo no Parque” era super incisiva, misturando guitarras, orquestrações sensacionais de Rogério Duprat e viola. E no disco seguinte, havia “Coragem pra suportar” e, principalmente, “Marginália 2”, esta, um primor de colagem, frases emblemáticas, melodia e arranjo. No disco do movimento, lá estava Gil em “Geléia Geral”, o grande hino. No movimento da “abertura política”, gravou a versão de “No Woman no Cry”, cantada por todos. Eu me lembro de alguns shows aqui em Belém. Lembro do “Momento 68”, maravilhoso happening, no Teatro da Paz, misturando moda, teatro e música, patrocinado pela indústria Rhodia. Em outro momento, bem ensaiado, Gil coçava a cabeça, ensejando algum comentário racista, como se um macaco. Bingo, alguém se manifestava e ele abria o discurso, pertinente toda a vida. Mas, tenho certeza, a delícia de Gil é cantar. Sua voz se moldando a qualquer tipo de ritmo e harmonia. Alongava-se em improvisos. Chamava a platéia a participar. Agora estão festejando 40 anos de “Refavela” onde mergulhou ainda mais na cultura negra, provocado por uma viagem à Angola. E depois veio “Refazenda”, que reputo, um de seus melhores momentos. Foi antes ou depois dos “Doces Bárbaros”? E a prisão por porte de maconha? Ele se mostrou, se apresentou, desafiou com argumentos, antenado com a mudança dos costumes. Ali nos anos 80, voltou à guitarra, ao bandleader e houve “Palco”, “Realce”, “Toda Menina Baiana”, e várias outras. E adiante, “Nos Barracos da Cidade”, “O Eterno Deus Mudança”, “Extra”, sempre à frente de tudo, botando a cara pra bater. Chegou a internet e ele fez o “Parabolicamará”. A experiência política, veio junto com problemas na garganta. Adiante, nos rins. No começo do ano que vem, mostra disco novo. De verdade, e talvez seja absurdo cobrar tanto, caiu um tanto a potencia de sua produção musical. Exigentes, cruéis, ouvimos seus novos trabalhos querendo a genialidade de sempre. Nos decepcionamos com a voz rouca, sem grande alcance, não mais as evoluções vocais deslumbrantes, o grande e orgulhoso vocalmente Gilberto Passos Gil Moreira. Seu par, Caetano, apesar de manter a performance vocal excelente, também caiu em sua produção autoral. Estão lá pelos 75 anos! E ainda exigimos a mesma genialidade, jovialidade e agressividade de antes! Crueis, somos todos. Admito, sou cruel. Hoje, ao ler a notícia no Estadão, fui ouvir “Domingo no Parque”, “Back in Bahia”, “Chuckberry fields forever”, “Extra” e outras tantas maravilhas que ele compôs e gravou, para o país inteiro ouvir, dançar e cantar. Aos mais jovens, sob todo o risco de um tiroteio em favor das músicas atuais, minhas desculpas, mas a turma dos anos 60 e 70 foi demais. Ainda está muito difícil chegar perto.
Published on November 03, 2017 06:59
October 27, 2017
NOS OLHOS, A LIBERDADE
Há alguns meses, a convite da professora Olga Silva, estive no prédio da Defensoria Pública para o lançamento do Projeto de Remição de Pena pela Leitura, uma parceria entre a Seduc, Defensoria Pública e Susipe. Fiquei fascinado. Lá mesmo, um coral formado por internas se apresentou. Doei alguns livros e também convidei meu amigo Salomão Laredo a fazê-lo. Acredito no poder da leitura. Ela está na base da minha formação e tudo aquilo que conquistei. Um dos problemas mais sérios do nosso país - talvez o mais sério - é a falta de Educação, que faz com que várias gerações não se expressem corretamente, não consigam escrever sequer um bilhete e pior: não tenham capacidade de reflexão sobre seus problemas. Com isso, não conseguem bons postos de trabalho e, sem atividades, acabam, no pior caso, cometendo crimes. Na sexta-feira passada, eu e Salomão, convidados, participamos, no Centro de Recuperação Feminino, do “1o Sarau Literário Flores, Sabores e Belezas do Meu Jardim”, onde fomos homenageados e nos emocionamos com tudo o que foi apresentado. O local é um belo jardim, com direito a lago para criação de peixes ornamentais, certamente onde as detentas podem “respirar” um ambiente diferente das celas que ocupam. O projeto Remição de Pena pela Leitura garante a redução de quatro dias da pena por livro que for lido e feito resumo. Há outras iniciativas culturais como coral e balé, educação e panificação, por exemplo. A programação constou de apresentação do coral, seguido por balé, tendo como tema “Fênix” e, finalmente, uma entrevista, contato direto com as internas. O primeiro detalhe que me impressionou foi na dança, realizada em um pedaço do jardim da melhor maneira possível, com plantas sendo pequenos obstáculos. A solista tinha nos olhos a Liberdade. Imagine-se, por um dia, horas que sejam, privada de sua liberdade, obrigada a conviver com outras pessoas que nunca viu. Deixar aqui fora filhos, mães, famílias e até companheiros - estes, infelizmente, em minoria. De mais de 500 detentas, apenas estão cadastrados uns 20 homens que fazem visita regularmente. Que pena! A Cultura tudo pode. Ali, naquele palco improvisado, no belo jardim, driblando plantas, ela tinha em seus olhos a Liberdade. Assim como na Leitura ou no Canto. Quando estamos lendo, nossa mente vagueia, habita outros mundos, outras realidades, como um longo voo feliz e livre, absolutamente livre. Outro detalhe que me impressionou muito foi o português correto empregado pelas detentas. Muitas vezes elas se expressaram de improviso e o que ouvimos foi o emprego correto das palavras, o que hoje raramente ocorre aqui fora. É claro que no dia a dia há muita tensão. Há a TPM das moças, quase todas com idades entre 18 e 22 anos, quase todas deixando os filhos lá fora, quase todas presas por tráfico. É o que lhes resta aqui fora, sem Educação, sem porvir, sem trabalho e o dinheiro do tráfico, parecendo fácil, dando sopa. Para encerrar, apresentaram uma enorme colcha de retalhos. Cada uma apontou o seu retalho ali costurado e sua significação. E ainda houve roda de carimbó e degustação de pães fabricados internamente. Curioso, apesar de ser partícipe do projeto, a Seduc mandou apenas uma representante, a professora Idajane Monteverde. A Superintendência do Sistema Penal e a Defensoria Pública estavam presentes. Como resultado, saibam que é muito pequeno o percentual de mulheres que retorna ao presídio. O que a Cultura não faz? O projeto está presente em outros presídios masculinos. Se você se interessar, procure a Seduc e doe livros. A ideia é muito boa.
Published on October 27, 2017 07:37
October 20, 2017
DEPOIS DO ÍRIOC, ACABOU O ANO
É o que dizemos, aqui no Pará. O resto de outubro, novembro e dezembro vai num piscar de olhos. O comércio já esta “dressado” de Natal, e os papais noel, contratados, já já estarão sob aquele traje pesado, vermelho, o gorro, a barba, distraindo crianças, cada vez menores, pois poucas ainda acreditam no “bom velhinho”. Apesar da turma do tempo garantir que as chuvas só chegam em janeiro, as tardes têm sido gris ou com chuva. Um ambiente natalino, para nós que não temos neve. Comecei a usar, após muito tempo, esses fones de ouvido para ouvir música, na rua. Sempre tive implicância. Parecem não se acomodar nas minhas orelhas, causando desconforto. Esses agora estão bem melhores. E o som, uma maravilha. Se já é inverno, se está gris e faltam poucos dias para 2018, ouço Beatles, uma lembrança forte dos dias de infância e pré adolescência quando, de férias escolares, passávamos as tardes de chuva ouvindo os caras de Liverpool. Uma sensação maravilhosa, essa que a música nos apresenta, trazendo de volta sentimentos tão puros. Caminho pelas ruas, até meu trabalho, na hora do almoço, até o restaurante e o som que ouço é “hold me tight, let me be the only one”, cantada por Paul McCartney. Antes, estive com meu neto, brincando de carrinhos. Gosto de provocar as crianças, sua imaginação. O meu era uma moto, dessas com o carrinho de passageiro ao lado. O dele, DJ, com som atrás, felizmente sem funcionar, claro. Fiz de conta que o piloto da moto era ele e o passageiro, seu primo. Vozes diferentes, passeios, corridas, festas onde ele, como DJ tocava guitarra e piano. E ria, deliciado, quando o passageiro (seu primo), caía no chão. “Levanta, cara”, “ele”, dizia ao primo. E ria. Será que um dia lembrará disso? O fato é que sou apaixonado pelo Natal. Pelo clima, pelas lembranças de família, a reunião com os irmãos, a distribuição dos presentes. Já contei que acordei meu irmão menor de madrugada e ficamos escondidos para mostrar a ele que eram papai e mamãe a deixar os presentes. Já era a curiosidade que marca minha personalidade, falando alto. Do Papai Noel que “descia de helicoptero” no alto do edifício e ia descendo, para deleite da garotada, na Presidente Vargas, em ação da loja Salevy, do Tio Samuca. Em cada andar, tomava um drink. O mais velho veio dizer, porque nós nos escondemos, com medo, que Noel conhecia nosso pai. Pior, Papai Noel bebe! Ou da vez em que troquei meu “papafilas” maravilhoso com o filho do caseiro, que me deu um caminhão artesanal, em lata de querosene, com rodas de tampinhas de refrigerante. Ah, meu pai e minha mãe! Ainda armo árvore de natal, embora passe o dia e a noite na rua. Acho que representa a árvore da vida, luzes piscando, enfeites, a árvore-família, uma história, um percurso gravado em minha alma, de um tempo feliz. Hoje as pessoas parecem muito ocupadas. As crianças, também. Nem ligo para quem diz que Natal virou consumo. Gosto de dar presentes. Me faz bem. Mas não esqueço o Dono da festa. O significado da nova vida, do recomeço e de seus ensinamentos. Sim, sou mais cristão do que católico, o que é bem difícil. E gosto do Natal. À medida em que os anos passam, ficamos mais velhos, filhos adultos, cada um com sua comemoração e sinceramente, ao final, mesmo emocionado com as lembranças, sinto saudade daqueles tempos. É como se tivesse o meu natal pessoal, a festa dentro do meu coração. Nós parecemos ter dificuldade em ser felizes, mostrar felicidade, nos dias de hoje. Saí hoje de casa, olhei para o prédio, lembrei do Noel descendo, lembrei de mim. Eu e as minhas lembranças de datas felizes. E segui, falando com meus amigos da rua, ouvindo “I wanna hold your hand”, murmurando e acertando o passo no ritmo. Gente, depois do Círio, o ano acabou!
Published on October 20, 2017 07:21
October 13, 2017
FLIPA 2017
Neste final de semana, na Livraria Fox, na Dr. Moraes, acontece mais uma Feira Literária do Pará, promovida pelo grupo Pagés, de escritores paraenses. A idéia inicial foi de Salomão Laredo. Estou junto a ele, mais Andrei Simões e Roberta Spindler. Formamos uma turma bem heterogênea. Diferenças de idade e principalmente de estilo. Salomão vai no regional, como sabem. Eu vou no romance policial. Andrei escreve livros no gênero Terror e Roberta é da Ficção Científica. O que nos une é o amor pela escrita e a vontade de sermos lidos. Cansados de esperar um apoio que nunca veio, nem virá, ao menos até o ano que vem, quando a gente da Sectaria de Cultura sair, decidimos fazer por nós. Contamos com a ajuda crucial da equipe da Fox, comandada por Deborah Miranda, Marquinhos e Zé, única livraria da cidade a vender livros de autores paraenses. Nas demais, de cadeias nacionais, somos absolutamente desconhecidos, invisíveis. Oferecemos aos cidadãos, nossos trabalhos. Nossos e de todos os escritores da terra incluindo os que aqui realizam suas obras. Outra ajuda essencial é da Editora Empíreo, de Filipe Laredo, jovem editora e já corajosamente lançando novos autores. Fazemos mais uma Flipa, mesmo com o agravamento da crise nacional que atinge todos os setores e claro, mais fortemente a Cultura. Durante dois dias, todos os escritores que se apresentarem terão suas obras vendidas e estarão presentes para conversar com o público e assinar dedicatórias. Mas não queremos apenas para nós o reconhecimento do público. Nossos patronos são sempre grandes autores cujos livros já não estão mais à venda e que precisam que seus nomes sejam novamente homenageados, comentados, falados e sobretudo, suas obras sejam lidas. A escritora paraense, natural de Castanhal, Lindanor Celina é a patrona da Flipa 2017. Na tarde de sábado, na Fox, haverá o que chamamos de Garapa Literária, com Madelèine Bedran e João de Jesus Paes Loureiro falando sobre seu trabalho. E aproveito para dizer que Paulo Nunes, entre outros, aproveitará o relançamento de “Ponte do Galo”, de Dalcídio Jurandir para conversar sobre esses grandes nomes. Mais ainda, além de homenagear esses grandes escritores, também temos o Prêmio Fox/Empíreo, quando escolhemos entre previamente inscritos, o melhor romance de escritor estreante, apostando no futuro. E é uma vencedora, neste 2017, Giuliana Paixão com “Guardiões do Império”. Aposto que você não tinha idéia que havia jovens escritores no Pará, principalmente em gêneros como “Terror” e “Ficção Científica”. Aposto. Pois há. E um grande número de jovens comprando seus livros, atendendo a debates a respeito, todos muito interessados. Ano passado, mais de mil livros de autores paraenses foram vendidos. Uma beleza. Posso, como autor local, escrever a respeito. Um único livro meu foi vendido em Belém, em livrarias de cadeias nacionais. “Pssica”, meu ultimo trabalho, que obteve boas críticas no sul do país, veio, não por indicação dos vendedores locais que nada apitam sobre isso, mas meramente por esse brilhareco no RJ e SP. Vendidos os exemplares enviados para cá, agora somente por encomenda. E quem vai procurar livros de autores paraenses, que nunca estão presentes nas prateleiras? Exatamente para combater esse bloqueio à Literatura Paraense, que realizamos a Flipa. Fazemos por nós. Fazemos para convencer a UFPa, curso de Letras, a estudar a Literatura Paraense. Uma Universidade que não tem contato com a cidade em que está instalada, não é Universidade. É uma estrangeira. Que tal fazer algo diferente e neste sábado e domingo, visitar a Flipa? Estaremos aguardando.
Published on October 13, 2017 06:59
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