Edyr Augusto's Blog, page 10
February 23, 2018
CORRERIA
Acordo com o som irritante do despertador. O quarto está escurinho, friozinho. Penso em dormir mais um pouco. Tão gostoso. Ah, ninguém vai morrer se eu chegar um pouco tarde, hoje. Não posso. Há cheques para assinar, tarefas a cumprir. Pessoas aguardando comandos. Faço a higiene matinal, visto-me rapidamente. Pra quê tanta pressa? Rápido estou na banca pegando os jornais. Todos. É preciso saber tudo o que acontece. Troco duas palavras com o jornaleiro. Tenho pressa, vou trabalhar. Falo com tomador de conta de carro, engraxates que me perguntam se desta vez nosso time vai vencer. A resposta é a mesma. Na portaria, aguardo o elevador. Penso em tomar a escada. É chato esperar elevador. Assino cheques, delego serviços, leio jornais, ligo o computador. Checo facebook, aniversários, declarações e os costumeiros haters. Leio jornais de fora pela internet. Cumpro tarefas. Volto aos jornais e blogs. É preciso saber de tudo. Caiu um elevado em Brasília. Ligo a tv. Acompanho. Cumpro minhas tarefas. Acabo de ler jornais no computador. Saio para almoçar. Vou cedo porque assim o restaurante ainda está vazio e encontro mesa fácil. Chego rápido. Como rápido. Aproveito o espaço de tempo e resolvo ir à livraria. Pode ter chegado algum livro que preciso ler. Há muitos carros circulando. Há mais carros que ruas. É horário de saída ou entrada de alunos nos colégios. Buzinas. Bikes na contramão. Motos cruzando a frente. Fila dupla. Fila tripla. Também buzino. Tenho pressa. Que pressa? Olho o relógio. Penso que até chegar e voltar da livraria posso me atrasar. Não me interesso por nenhum dos livros novos. Há algum filme lançamento? Mas quando vou assistir, se hoje há jogo na televisão? Antes, tenho uma leitura dramática, tenho a namorada. Estamos todos com muita pressa, afoitos, ansiosos. Temos fome de consumir tudo. Todos os dias há jogos na tv. No Brasil, na cidade, no mundo. Não há tempo. É preciso ter tempo. Entro no carro. Ligo o som. É no carro que ouço minha música. Pesquiso e sei o que saiu e o que me interessa. Quando não há novidade, ouço os antigos. Vou andando até o trabalho e ouço nos fones mais música. Há tarefas a cumprir, textos para criar e escrever. Sinto falta daquela roda de amigos que se reúne, todos os dias, fim da tarde, para jogar conversa fora. Hoje, quando nos reunimos, o papo dura até soarem os celulares. Há tarefas a cumprir e cada um vai pro seu lado. Conversamos mais pelo zap zap. Meu grupo de amigos dos tempos de colégio é intenso. Um envia mulheres nuas e maravilhosas. Outro, em seguida, uma oração e a imagem de Nossa Senhora de Nazaré. Normal. Checo facebook, zap zap, e-mails. Desligo a tv porque a cobertura em Brasília já acabou. Odeio mas vou à academia. Som alto, pessoas conversando aos berros, jovens marombados passando como em uma catwalk. Ninguém tem tempo para instruções. Faço meus exercícios e escapo. Em casa, ligo a tv e passa um jogo na Inglaterra. No canal de notícias, a lava jato segue. Prefiro o jogo. Checo e-mails. Tenho pressa. Por isso achamos que o tempo está passando mais rápido. É muita coisa para processar. Tenho livro novo para ler. Bom, lerei depois de mais um capítulo de uma das séries que acompanho. Seria melhor ver todos os capítulos de uma vez, a madrugada inteira? Em cenas mais lentas tenho vontade de teclar Fast Forward. Tenho pressa. Todos passam correndo. Uns pela saúde. Outros pela pressa. Pressa para o quê? Correm para onde? Chegar primeiro onde? Penso que quando me aposentar, acordarei e pensarei no que farei naquele dia. Será que me aposentarei? Somos todos muito sós, vivendo essa pressa. Fechados nos carros, ouvindo fones, cabeça dobrada vendo celular. Olho o relógio, hora de dormir. Deito, fecho os olhos e durmo. Amanhã, repete tudo. Corro para quem?
Published on February 23, 2018 06:00
February 14, 2018
CELESTE CAMARÃO PROENÇA DISSE ADEUS
Minha mãe faleceu. Prestes a completar 96 anos de idade, Celeste Magno Camarão Proença despediu-se de nós pouco depois das duas da tarde da segunda feira passada. Penso em tudo o que uma pessoa, nessa idade, viu em toda sua vida. Nasceu alguns anos depois da Primeira Guerra, da Revolução Russa, com alguns inventos surgindo. Filha da nobreza marajoara de Muaná foi irmã, entre várias outras, de Adalcinda Camarão, a grande poeta. Jovem, circulava no meio cultural como cantora, destacando-se quando passou a ser crooner de um conjunto chamado Bando da Estrela. Um de seus integrantes, Edyr Proença, tornou-se seu marido. E aí veio a Segunda Guerra Mundial, mais inventos e os filhos chegando. Cinco filhos. A cantora se tornou a grande mãe, assumindo crianças bastante danadas, envolvendo-as com a Cultura, através da poesia, da música, do teatro. Para aguentar o rojão, o pai tinha vários empregos e ela cuidava da retaguarda. Inventou até um jornal semanal que circulava com as aventuras da casa. Havia expedições à casa no Lago Azul, que àquela época parecia muito distante. E ali inventava de uma tribo de índios com um pajé que fazia mágicas incríveis. Ou então as expedições ao Mosqueiro, pelo Presidente Vargas, onde chegava levando a turma, com malas especiais, como aquela em que havia escrito “Farmácia”, muito importante, com moleques tão levados. Íamos à Ilha dos Amores e ouvíamos poemas. Nós adolescemos e os pais, também. Meu pai, antes tão assoberbado de trabalho, agora tinha mais tempo e retomou o violão. Ela retomou o canto. E tocavam, cada um dos filhos precisava cantar algo. Imagino a paciência deles, comigo. Comecei a compor letras e dar ao pai para musicar. Ela completava. Os dois saiam pela noite, circulando na casa de amigos em longas noites de seresta em que cantavam não somente clássicos, mas músicas de sua autoria. Quando cantava, sua voz tinha os volteios de uma Carmen Miranda, como estilo, o que era cheio de charme. Também compunha, letra e música. Publicava poemas amazônicos em A Província do Pará e Diário do Pará. Lançou dois livros, um deles dedicado ao primeiro neto, meu filho, Felipe Augusto. Participou de associações de escritoras e jornalistas. Mais do que tudo, reinventou-se. Os filhos casaram, bateram asas e ao invés de ficar jururu pelos quartos vazios do apartamento, tornou-se uma das mais elogiadas professoras de Redação para Vestibular, da cidade. Um sem número de jovens passou por suas mãos e até hoje lembram dela com carinho. Mais do que simplesmente ensinar as regras gramaticais, ela tinha o talento de puxar de cada um deles, a vontade de se expressar corretamente, em um aprendizado cuja vitória no vestibular era só um detalhe, pois essa Cultura, levamos para a vida toda.
A mim, deu-me tudo. Toda a imaginação que me fez escrever livros, peças teatrais, músicas, enfim, tudo, veio dela. De suas palavras, sua imaginação, seus sonhos de grandeza, talvez sem perceber que seu maior mérito, seu grande galardão foi criar cinco filhos naturais e depois, centenas de “filhos” que chegaram nervosos, temerosos à sua sala de trabalho e saíram para vencer no mundo. Isso não tem preço. E como disse no início, imagine tudo o que ela viu. Televisão, computadores, aviões a jato, foguetes para a lua, internet, ufa, Celeste, você foi demais. Como você brilhou! Você estará comigo, em meu coração, para sempre. Afinal, eu nunca passarei de ser o seu Kuí de farinha. Tudo o que faço, fiz ou farei é para você. Não quero outra coisa na vida.
A mim, deu-me tudo. Toda a imaginação que me fez escrever livros, peças teatrais, músicas, enfim, tudo, veio dela. De suas palavras, sua imaginação, seus sonhos de grandeza, talvez sem perceber que seu maior mérito, seu grande galardão foi criar cinco filhos naturais e depois, centenas de “filhos” que chegaram nervosos, temerosos à sua sala de trabalho e saíram para vencer no mundo. Isso não tem preço. E como disse no início, imagine tudo o que ela viu. Televisão, computadores, aviões a jato, foguetes para a lua, internet, ufa, Celeste, você foi demais. Como você brilhou! Você estará comigo, em meu coração, para sempre. Afinal, eu nunca passarei de ser o seu Kuí de farinha. Tudo o que faço, fiz ou farei é para você. Não quero outra coisa na vida.
Published on February 14, 2018 08:57
February 9, 2018
CEMITÉRIO DE VIVOS
O que aconteceu conosco? Nosso país vive um de seus piores momentos. Sempre achei que nossa mistura de raças era positiva e ao longo do tempo seríamos uma terra onde todos gostariam de viver. Ao contrário de alguns países que investiram em Educação e hoje já confirmam enormes melhoras na qualidade de vida, permitimos que a política, após a volta da democracia, se voltasse contra nós. Elegemos bandidos que, a partir de eleitos, passaram a pertencer a outro mundo, na capital, Brasília, onde disputam jogos de poder e enriquecimento ilícito. O resultado estamos vendo. Como escrevo para minha aldeia, não posso deixar de pensar no Pará. Em Belém. Todos os nossos números são baixíssimos, quando deviam ser altos; altíssimos quando deviam ser baixos. O Pará é potencialmente o estado mais rico e economicamente um dos pobres. Nosso tecido civilizatório está esgarçado, quase rasgando. A barbárie impera. Em todas as atividades, a corrupção é meio de sobreviver ao mercado. Liquidaram com a Cultura. Com as câmeras de segurança, assistimos diariamente a assaltos, sequestros, assassinatos, toda sorte de violência, feita com tranquilidade e autoridade. Não há o menor receio da Polícia. As pessoas que passam ao lado desviam o olhar, certas que se manifestarem qualquer gesto também serão atingidas. Há um egoísmo brutal nas classes mais favorecidas, construindo para si torres cada vez mais altas, onde vivem com grande luxo. No entanto, ao saírem em seus SUVs, trafegam em ruas de lama, buracos, sentindo-se mais seguras apenas por terem blindagem. Viajam pelo mundo, passeiam, desfrutam e, quando voltam, não trazem nada para a comunidade, somente para si. Grande parte da população, diariamente, é massacrada, humilhada, ao utilizar os meios de transporte, indo ou voltando, na região da Augusto Montenegro. Nestes dias de grandes chuvas, a cidade enche, a água invade as casas levando doença, desespero e prejuízo. De um lado, uma Prefeitura que não está nem aí para a população. De outro, o resultado dessa soma de desastres. Some a falta de emprego, alimentação, escolas, cultura, violência e o descaso das autoridades, e terá um povo conformado. Um povo que joga lixo nos piores lugares, como se suas casas, sua saúde, não fossem as primeiras a ser atingidas pelo caos e doenças resultantes. Não sei o quanto mais baixo deveremos chegar. É a ignorância. Retrocedemos. A selva invadiu a cidade, tomando de volta seu mundo, selvagem, onde a lei do mais forte impera. Já temos mortes diárias suficientes para rebaixar a nada muitos lugares que estão em guerra. O tráfico dita as leis. Os donos de ônibus, vans, táxis e motos também. Agora acabaram com o carnaval. A classe média inventou de brincar na Cidade Velha. Não se preocupou em perguntar se os moradores gostariam. Um caos. E quando deviam brincar o carnaval, nos próximos dias, viajam todos para Salinas, Mosqueiro ou Miami. Liga e Prefeitura agem contra o carnaval, humilhando a Cultura, segregando as escolas de samba a um trecho de rua invadida pela água. Antes, propositalmente, deixaram a Aldeia Amazônica apodrecer. Ódios pessoais que, mais exatamente, são contra o povo, contra a cidade. Enquanto todos ganham dinheiro em impostos e comerciantes com vendas, nos dias da festa Belém vira um cemitério. Um cemitério de vivos, se me entendem. Se o Brasil vive um momento terrível, sem saber o que virá, o Pará está pior ainda - e Belém já nem sei mais. As cidades, hoje, são organismos, sistemas complexos de administrar. Não podem estar entregues a políticos, principalmente nossos políticos incompetentes, despreparados. Eles continuam agindo tranquilamente e nós assistindo, conformados. O que os cabanos dizem, lá de cima, olhando para nós? Égua do povo frouxo.
Published on February 09, 2018 10:25
February 2, 2018
GARRA, MUITA GARRA
Juscelina e a mãe sempre sonharam com aquele concurso de fantasias no carnaval. Mas tudo às escondidas do pai que morria de ciúmes da filha. Soube de um rapaz que indicava candidatas aos clubes. Era chegado o momento. Não podia esperar mais. Tiraram o dinheiro da poupança. Pagou por um book com fotos. “Sem book eu nem começo a trabalhar”, disse o rapaz. Foi aprovada. Uma comissão do clube foi à sua casa, pedir permissão. O pai deu um show no início, mas depois, foi docemente convencido, após a promessa de uma ação de sócio do clube. O namorado foi mais difícil. Preferiu terminar. A mãe adorou. Ele poderia atrapalhar logo no início da sua carreira. Se dá problema agora, imagina mais tarde. O estilista veio com uma fantasia da fada que reinava sobre a Estrada de Ferro Bragantina. Ela protegia os viajantes. “Mas eu nunca ouvi falar que tinha trem em Belém..” Mas tinha. O coreógrafo queria uma estilização entre carimbó e funk. Uma luta. A menina gostava de sertanejo. Agora aprende carimbo. Tu não és daqui? E funk, basta esfregar a bunda no chão. Isso tu sabes muito bem.. O que tu precisas, minha filha, é garra, muita garra! No dia do concurso, no camarim, aguardavam o estilista com a fantasia e os últimos retoques. O tempo foi passando e nada. Celular fora de área. Essa biba me paga! Faltava uma hora! Chegou. Mas espera aí, esse trem com essa maria fumaça vai passar pelas costas de um braço a outro? Vai ser um choque, mana! Os jurados vão enlouquecer. Espera aí, tem de carregar essa bateria pesada, também? Te concentra, pensa nos flashes, pensa no prêmio, jornais, pretendentes cheios de dinheiro e carinho pra ti, mana. E vai! Ligaram a bateria e o trenzinho se movia com luzes piscando. Quando vestiu, deu um gemido profundo. Garra, minha filha, esse é o meu, digo, nosso grande momento! Foi pra isso que eu te criei! Vai lá e arrebenta! Quando a gente voltar com o prêmio vamos pisar na cara daquelas invejosas da rua! Gemendo, pisou na passarela. Tentou voltar. Não. Manteve o sorriso nos lábios, mas os olhos lacrimejavam. Tentava executar a coreografia, mas o peso não permitia. Olhou, buscando socorro para os bastidores, mas lá estava a mãe repetindo Garra! Garra! Então começou a sentir choques. A bateria dava choques. Aquilo a fez dar saltinhos. Poderiam pensar que faria parte da coreografia. A biba, lá dentro, gritava que isso não tinha sido ensaiado. Na plateia, diretores e parentes levantavam estandartes, gritavam pela vitória, enlouquecidos. Olhava os jurados por entre lágrimas. Havia, neles, uma curiosidade, não pela fantasia, mas pelo que poderia acontecer. Algo começou a descer pelas costas. O equilíbrio, frágil. A estrada de ferro, com o trenzinho piscando, descendo uma ladeira rumo ao chão. Por um lado tentava trazer de volta à posição. De outro, pulava a cada choque e chorava de dor. Mas foi à passarela atender ao público. Voltou aos bastidores com tudo desmanchando, após negacear duas vezes uma queda terrível. O pai queria agredir o estilista. A mãe, enfurecida. Pensa que é só chegar e ganhar? Tem de sofrer, tem de ter garra! Tu viste aquela pequena com o Teatro da Paz nas costas? Se ela aguentou, tu aguentas! Volta lá e ganha essa porra! Tira a bateria e as luzes! Mas é o meu resplendor, gritou a biba. Nào deu. Na volta pra asa, o pai dizia que tudo era carta marcada, que a filha merecia ganhar. Sabe de uma coisa, vamos viajar e relaxar em Fortaleza. Silêncio. A mãe olhou para a filha, a filha olhou para a mãe. Choraram mais.
Published on February 02, 2018 06:13
January 26, 2018
NOSSOS 15 ANOS
É impressionante como, mesmo nos dias de hoje, com redes sociais, internet e outras modernidades, ainda aconteçam festas de 15 Anos. Nem os Bailes de Debutantes passaram de moda. Então me ocorreu uma crônica divertida. Um ou dois anos antes, anunciou que queria festa de 15 Anos. No mínimo, igual a da prima. A mãe adorou, o pai enlouqueceu. Os 15 Anos da minha filha serão devidamente comemorados. Desde já começamos uma economia de guerra nesta casa. Farei pessoalmente os enfeites de mesa. Os brindes. Lista de convidados. Alugaremos o melhor buffet. Esses bregas aqui da rua vão morder a calçada de inveja!, disse a mãe. O pai tirou a poupança. Chamaram o “profissional de 15 Anos”, ao invés de um cerimonialista. Um erro. O fotografo, meu Deus, o fotografo para o book! A modista e o vestido! Ah, ela precisa emagrecer. Onde já se viu? Tranca em casa, nada de Roxy Bar, Mormaço, boates, até pra não ficar com a cara “batida”. E olha, nada de whisky nacional, viste? E a mulher circulando de braços dados com a biba profissional. E o dinheiro saindo. E a debutante, com cara de “sabe que eu mereço isso?” A avó veio do interior. Vou preparar minha famosa salada de frutas. Acho uma besteira gastar dinheiro com salão de festas. Por mim, fazia lá no quintal. Bastava passar uma vassoura.. A avó era uma preocupação. Nervosa, impressionável, adorava um escândalo. Toma conta da tua mãe. Olha que ela vai aprontar! Hum, melhor que a tua que é toda fresca e nem vem ajudar.
A festa começou. Receberam convidados. Crianças correndo e destruindo a decoração. A biba, profissional, de um lado para o outro, falando no rádio. A garotada querendo funk. Só depois da valsa! E então vem a cerimônia, tipo “Esta é a sua vida”. Passa filme. A menina desfila com modelos diferentes. Os caras fotografam e filmam. Quase duas da manhã, a ceia esfriando, todo mundo com fome e o show continua. O DJ toca “Carruagens de Fogo”, o ápice da festa. A aniversariante surge diáfana, brilhante, uma rainha e a biba corre dando ordens. O pai foi sugerir e levou safanão. Agora não, tá? Aqui mando eu. O pai contou até mil. Fumaça! Fumaça! A biba ordena e os ajudantes ligam a máquina de fumaça, para fazer o cenário. Luzes! Música! Fumaça! E lá vem a menina, obedecendo as rígidas marcações da biba profissional. Dona Menina, a avó, percebe algo acontecendo. Leva um choque. Ao ver a neta em meio àquela fumaça toda, levantou gritando Fogo! Fogo! Vocês não estão vendo que o vestido da minha neta está pegando fogo? Façam alguma coisa! As pessoas, paralisadas, sem compreender onde estava o problema. Dona Menina, célere, no salvamento da neta, pensa rápido, vai até as mesas onde a ceia e a sobremesa estavam postas. Pegou a terrina, sim, a terrina onde estava sua famosa salada de frutas. A biba percebeu em um relance. Agarrou-se às ancas de Dona Menina. Lutaram por alguns segundos. Dona Menina ganhou. A biba rolou no chão chorando de raiva. A aniversariante finalmente olhou, curiosa. Tarde demais. Dona Menina derramou a terrina sobre a neta, para apagar o incêndio. Ensopada, cabelo desgrenhado, vestido lambuzado e ante o ridículo da situação, voltou desesperada para os bastidores. A biba tinha seu décimo terceiro desmaio de raiva. Ganhou um bofetão do pai, que lavou o peito. Chorou copiosamente. A mãe foi confortar e levou esculhambação. A discussão foi geral e sobrou para a biba que saiu correndo. Acabaram todos no quintal da casa, enchendo a cara até de manhã. E olha que nem passaram uma vassoura, pensou Dona Menina, cheia de razão.
A festa começou. Receberam convidados. Crianças correndo e destruindo a decoração. A biba, profissional, de um lado para o outro, falando no rádio. A garotada querendo funk. Só depois da valsa! E então vem a cerimônia, tipo “Esta é a sua vida”. Passa filme. A menina desfila com modelos diferentes. Os caras fotografam e filmam. Quase duas da manhã, a ceia esfriando, todo mundo com fome e o show continua. O DJ toca “Carruagens de Fogo”, o ápice da festa. A aniversariante surge diáfana, brilhante, uma rainha e a biba corre dando ordens. O pai foi sugerir e levou safanão. Agora não, tá? Aqui mando eu. O pai contou até mil. Fumaça! Fumaça! A biba ordena e os ajudantes ligam a máquina de fumaça, para fazer o cenário. Luzes! Música! Fumaça! E lá vem a menina, obedecendo as rígidas marcações da biba profissional. Dona Menina, a avó, percebe algo acontecendo. Leva um choque. Ao ver a neta em meio àquela fumaça toda, levantou gritando Fogo! Fogo! Vocês não estão vendo que o vestido da minha neta está pegando fogo? Façam alguma coisa! As pessoas, paralisadas, sem compreender onde estava o problema. Dona Menina, célere, no salvamento da neta, pensa rápido, vai até as mesas onde a ceia e a sobremesa estavam postas. Pegou a terrina, sim, a terrina onde estava sua famosa salada de frutas. A biba percebeu em um relance. Agarrou-se às ancas de Dona Menina. Lutaram por alguns segundos. Dona Menina ganhou. A biba rolou no chão chorando de raiva. A aniversariante finalmente olhou, curiosa. Tarde demais. Dona Menina derramou a terrina sobre a neta, para apagar o incêndio. Ensopada, cabelo desgrenhado, vestido lambuzado e ante o ridículo da situação, voltou desesperada para os bastidores. A biba tinha seu décimo terceiro desmaio de raiva. Ganhou um bofetão do pai, que lavou o peito. Chorou copiosamente. A mãe foi confortar e levou esculhambação. A discussão foi geral e sobrou para a biba que saiu correndo. Acabaram todos no quintal da casa, enchendo a cara até de manhã. E olha que nem passaram uma vassoura, pensou Dona Menina, cheia de razão.
Published on January 26, 2018 06:30
January 19, 2018
BELÉM TEM SAMBA NO CARNAVAL
Talvez, pelo texto da semana passada, muitos pensem que fui ou sou um folião extremado. Não, acho que não. Claro que se penso no ontem com a mentalidade de hoje, posso fazer mau julgamento. Enfim, falava mais alto a juventude, o entusiasmo, as meninas e a vontade de se mostrar com mais idade do que tinha. Publiquei no Facebook, como sempre e muitos lembraram gostosamente daquele carnaval. Todos a partir de uma faixa etária. Hoje, o carnaval que brincam é completamente diferente daquele. Completamente. As pessoas se divertem, bebem, beijam e voltam para casa arrasadas. Antigamente, também, mas o que cantam, onde dançam, como dançam, tudo diferente. Quando se escreve lembrando também as Escolas de Samba, a turma de hoje duvida. Samba em Belém? Realmente, fora pequenos guetos, o samba na cidade, principalmente no carnaval, não é mais ouvido. Quando criança, morando na Presidente Vargas, dormia antes do Boêmios da Campina passar. Do alto, via aqueles paletós vermelhos, calças brancas e sapatos brancos, zanzando pela Riachuelo. Uma noite, Rosenildo Franco me levou a uma reunião na antiga Lavanderia Paraense, onde hoje está o Pátio Belém. Tramavam a volta do Quemzão. Artistas plásticos, poetas, músicos, publicitários,
atores, envolvidos em um entusiasmo maravilhoso. Lembro da construção da sede do Quem ali na Wandenkolk, essas mesmas figuras carregando tábuas. Primeiro era espaço reduzido, um corredor. Depois ficou bem maior. E eu conheci Luiz Guilherme Pereira, o eterno presidente, apaixonado por aquilo. Vi Rubão sambar e desfilar, juntamente com Margarida, a Porta Bandeira. E havia Katia, a sambista ou rumbeira, como chamavam, que tinha, como diz o Chico, “um tufão nos quadris”. E o chefe da bateria, que infelizmente no instante em que escrevo, não lembro o nome. E todos se entendiam por um bem maior. Puxa, como era bom ver aquilo funcionando. O primeiro enredo homenageou Eneida de Morais. O segundo, o Marajó. Na autoria dos sambas, grandes figuras, como João de Jesus Paes Loureiro e Waldemar Henrique. Que dupla! Então criaram o concurso de samba enredo. Meu irmão queria participar. Todas as figuras importantes estavam compondo. O tema era “Cobra Norato, Pesadelo Amazônico”. Me pediu uma letra. Meu pai fez a música e ele venceu. Uma das grandes emoções da vida é ver uma obra sua sendo apresentada. O desfile era na Presidente Vargas. Íamos na ultima ala, dos compositores. Agora lembro de mim, tentando esboçar passos de samba. Impossível. Mas ali naquela festa de cores, a bateria estourando, o povo cantando e batendo palmas, é uma das melhores coisas da vida. Você criou e estão cantando. Anos depois, quando o enredo era o ilustre Comendador Mário Sobral, os compositores se reuniram e criaram um samba conjunto. Inclui a frase “é pai dégua doutor, pai dégua é fazer amor com meu amor”. Novamente na avenida, agora na Doca, acho, passando pela emoção. E vocês me perguntam como é que um compositor de samba enredo nào é folião? Não sou. Fazia as letras. No desfile, tomava algumas e pulava de alegria. Outro orgulho foi ter desfilado quando meu pai foi enredo do Quem São Eles. Foi muito legal. Uma pena que as autoridades, por incompetência, não tenham percebido a possibilidade de lucro com o desfile. E a Cultura tenha sido abandonada, causando também o abandono das Escolas. Há, sim, possibilidade de ressurgimento, com gestão profissional de todos. Mas isso é outra história. Duas coisas são certas: não sou folião e em Belém, tem samba no carnaval, sim.
atores, envolvidos em um entusiasmo maravilhoso. Lembro da construção da sede do Quem ali na Wandenkolk, essas mesmas figuras carregando tábuas. Primeiro era espaço reduzido, um corredor. Depois ficou bem maior. E eu conheci Luiz Guilherme Pereira, o eterno presidente, apaixonado por aquilo. Vi Rubão sambar e desfilar, juntamente com Margarida, a Porta Bandeira. E havia Katia, a sambista ou rumbeira, como chamavam, que tinha, como diz o Chico, “um tufão nos quadris”. E o chefe da bateria, que infelizmente no instante em que escrevo, não lembro o nome. E todos se entendiam por um bem maior. Puxa, como era bom ver aquilo funcionando. O primeiro enredo homenageou Eneida de Morais. O segundo, o Marajó. Na autoria dos sambas, grandes figuras, como João de Jesus Paes Loureiro e Waldemar Henrique. Que dupla! Então criaram o concurso de samba enredo. Meu irmão queria participar. Todas as figuras importantes estavam compondo. O tema era “Cobra Norato, Pesadelo Amazônico”. Me pediu uma letra. Meu pai fez a música e ele venceu. Uma das grandes emoções da vida é ver uma obra sua sendo apresentada. O desfile era na Presidente Vargas. Íamos na ultima ala, dos compositores. Agora lembro de mim, tentando esboçar passos de samba. Impossível. Mas ali naquela festa de cores, a bateria estourando, o povo cantando e batendo palmas, é uma das melhores coisas da vida. Você criou e estão cantando. Anos depois, quando o enredo era o ilustre Comendador Mário Sobral, os compositores se reuniram e criaram um samba conjunto. Inclui a frase “é pai dégua doutor, pai dégua é fazer amor com meu amor”. Novamente na avenida, agora na Doca, acho, passando pela emoção. E vocês me perguntam como é que um compositor de samba enredo nào é folião? Não sou. Fazia as letras. No desfile, tomava algumas e pulava de alegria. Outro orgulho foi ter desfilado quando meu pai foi enredo do Quem São Eles. Foi muito legal. Uma pena que as autoridades, por incompetência, não tenham percebido a possibilidade de lucro com o desfile. E a Cultura tenha sido abandonada, causando também o abandono das Escolas. Há, sim, possibilidade de ressurgimento, com gestão profissional de todos. Mas isso é outra história. Duas coisas são certas: não sou folião e em Belém, tem samba no carnaval, sim.
Published on January 19, 2018 06:25
January 12, 2018
UM DOMINGO NO BANDALHEIRA
Aquele domingo de carnaval prometia. A chuva caía e parava, caía e parava. O que fazer? Afinal, é o tempo dela. Acabamos de almoçar mais cedo. Bastava calção e camisa, por cima a mortalha que era o uniforme, a fantasia do bloco e todos estavam prontos. A primeira parada era na casa do amigo, um dos líderes, para o apronto final. O ambiente era de euforia, cada um tentando se mostrar mais animado que o outro. Alguém trouxe uma garrafa de rum ou vodka, não lembro. Outro chegou com um pacote de Ki Suco, sabor morango. Pronto, a batida para garantir o pique no resto da tarde/noite estava garantida. De lá, fomos para o ponto de encontro, um bar/lanchonete que ficava na Generalíssimo, esquina com aquela rua que passa ao lado da Basílica. A galera chegava aos poucos. Pronto, agora também a banda contratada e, de repente, era hora da saída. O nome do bloco era Bandalheira. Meu amigo, um dos líderes, não lembro dos outros, mas Bosco Moisés acompanhava a turma, com um carro cheio de bebida, preferencialmente de uma marca que, penso, ele era representante. A essa altura, o teor etílico do grupo era bem alto. O percurso também não lembro, mas o destino era a Praça da República, onde milhares de jovens esperavam a passagem dos blocos, para dançar carnaval. Vários outros blocos também tinham a praça como destino. O Vila Farah, Piratas da Batucada, muitos, todos muito animados, meninos e meninas cantando as velhas marchinhas que duraram tanto tempo e até hoje, dependendo da festa, ainda causam comoção. Durante o resto da semana, os comentários dizendo que este ou aquele estava maior ou mais animado. Isso fazia com que, em outros quarteirões, vilas, ruas, enfim, a galera se animasse e constituísse outros blocos. Sim, havia muita paquera e muita gente passando mal por excesso de bebida e outros baratos. Mas a bandinha rugia um frevo e ia na base do “pega o meu cabelo pra não se perder e terminar sozinha”. Havia um cordão de isolamento para evitar que gente sem fantasia se metesse e desfigurasse a coisa. Os haters de hoje já vociferariam dizendo que era preconceito contra o povão e tal. Havia alguns seguranças, porque é claro, onde há meninas e meninos brincando e bebendo, pode haver alguma rusga. Minha prima era a mais velha. Meus velhos a encarregaram de segurar a onda de “nosotros”, por ter mais juízo. O problema é que ela emburacou na subida da Presidente Vargas. Para passar na frente do prédio e acenar para a família que estava no terraço, todos a amparamos, de tal maneira que pareceu que ela cumpria as instruções. SQN. Passei comportado e bem postado na frente da Assembléia Paraense, que começava o Baile dos Brotinhos. Na janela, a namorada. E na esquina da Carlos Gomes, pintou a Turma da Bailique para estragar a brincadeira. Meu amigo, bem forte, encarou, junto com os seguranças. Depois me contou que no meio do frege, ao dar um “balão” no oponente, ao encara-lo, percebeu que era um dos seguranças do bloco. Pior, era o “Cancão de Fogo”, famosa figura da luta livre. O negócio foi pedir desculpas, piscar um olho e procurar outras vítimas. Sem condição física para encarar um porradal daqueles, quedei-me entre uns carros e fiquei assistindo. Ainda seguramos a prima que partia em direção a uma desafeta, aproveitando para descontar qualquer parada antiga. Assim como começou, acabou. O bloco seguiu seu caminho. Nós findamos no Pronto Socorro, para uma injeção de glicose na prima, que sobreviveu. E ainda emendei para a AP, ao som do Guilherme Coutinho. Evoé!
Published on January 12, 2018 06:25
January 5, 2018
ESSE ANO NÃO VAI SER IGUAL AQUELE QUE PASSOU?
O carnaval não me desperta a paixão. Talvez seja uma certa melancolia que me domina a maior parte do tempo. Adolescente, participava de tudo, até mesmo do Bandalheira. Uma noite, Rosenildo Franco me levou a uma reunião em uma Lavanderia que ficava ao lado da Mesbla, onde hoje está o Pátio Belém. Eles começavam a reativar o Quem São Eles. Mas foi meu irmão que participou intensamente. Vai rolar um festival de samba enredo e eu quero participar. Faz uma letra e o pai faz a música. “Cobra Norato, Pesadelo Amazônico”. Ganhamos. Virei integrante da ala de compositores. Logo eu. Estive ainda em mais um enredo, sobre o ilustre Comendador Raymundo Sobral. O carnaval foi sendo minado por confusões internas, prefeitos não muito simpáticos e teve uma reanimada com a Aldeia Cabana, de Edmilson Rodrigues. Ele teve a idéia correta. No começo de tudo, os desfiles eram no Boulevard Castilhos França. Depois, na Presidente Vargas e ainda, na Doca. Eram lugares importantes, embora ocupados por classes mais altas, indiferentes à festa local, preferindo viajar. A falta de Cultura, durante mais de vinte anos, que estamos vivendo, afastou as pessoas. Os intelectuais, músicos, escritores, atores, que brilhavam nos desfiles e eram aplaudidos, reconhecidos, não passam mais, salvo alguns renitentes. Mais uma vez a onda negativa e política, deixou abandonada a Aldeia, seus projetos e crivou-a de críticas. Durante o segundo semestre, acho, a turma do carnaval reuniu pontualmente aos sábados, em uma livraria que também frequento. Tive vontade de ir lá dar uma idéia, mas sabe, os caras são do ramo, estão preocupados e fiquei intimidado em dar “pitaco”. Hoje, a maioria das pessoas acha absurdo haver samba em Belém. Deviam fazer como em Manaus com os “bois”. Aqui é diferente. Os marinheiros que estavam em terra, durante Momo, a partir da Riachuelo, tocavam samba e foram formando platéia. Havia os “Boêmios da Campina”, maravilhosos. Criança, não me deixavam assistir ao desfile, por tarde da noite. Mas via aqueles ternos vermelhos e brilhantes, as calças e sapatos brancos, maravilhosos. Talvez essa noite negra que se abateu sobre a Cultura tenha apartado os mais jovens do samba. Talvez. O Estado ou o Município também não se interessam em receber turistas. Então, quem é que se interessa pelo carnaval de Belém? O povão. Para essas pessoas ávidas por uma diversão, o carnaval é grande atração. Deixa o pessoal da Doca ir pra Salinas, sair em Escola do Rio de Janeiro, enfim. O povão precisa se divertir. Embora exista a Aldeia Cabana, ouso sugerir o entorno do Estádio Edgar Proença, o Mangueirão. As partes internas serviriam para oficinas e construção de carros. Arquibancadas do lado de fora ficariam lotadas por gente humilde, recebendo a festa da alegria genuína. Assim como o brega e o tecnobrega se espalham, é preciso começar cedo, pelas mídias alternativas. Enredos decididos, todos com prazo para apresentar o samba official. E então, divulgados os concorrentes, vamos para um concurso para decidir quem é o melhor, com a nota valendo para o desfile. Imaginem o local da festa, lotado com as torcidas de cada escola. Imaginem o concurso para a melhor sambista, passsista, rumbeira (que havia no início) , enfim, de cada escola. Isso daria outro barulho. Mais ainda, cada escola poderia realizer ensaio em espaços próximos ao Mangueirão, como forma de atrair mais simpatizantes. Isso renderia dinheiro, grana, para ficarem menos dependents das esmolas do governo. Devo ter outras idéias que não me ocorrem agora, mas finalizando, penso que os artesãos dos carros alegóricos precisam ser respeitados. Após o desfile, esses carros são deixados nas ruas, expostos a chuva e a ação de desocupados que os depredam impiedosamente. E, no entanto, quem não pôde comparecer ou assistir pela televisão, pode estar querendo conferir a riqueza e detalhes dos trabalhos. É preciso levar os carros para um espaço aberto, para que fiquem em exposição até a quarta feira de cinzas. Será mais uma crônica na direção do “Sonhos, sonhos” e a música de Lennon, “You may say I’m a dreamer”? Que bom seria se algo assim fosse acatado e a festa voltasse a ser resplandecente, como já foi, agora com um público interessado, vibrante e agora, pleno de diversão.
Published on January 05, 2018 06:43
December 29, 2017
SONHOS, SONHOS
“You may say I’m a dreamer”, cantou Lennon. Talvez devesse escrever um balanço do ano que passou e o que deveria acontecer em 2018. Quais os melhores livros, cds, peças de teatro, filmes, essas coisas todas. Mas é que ao ler a Folha de São Paulo, do sábado passado, encontrei uma reportagem, feita por Diogo Benito, a respeito de um projeto que vem sendo executado na Islândia, por mais de dez anos e que agora apresenta resultados maravilhosos, no que diz respeito à redução de índices que para nós, aqui em Belém e no resto do país, são terríveis. Jovens envolvidos em crimes, drogas e outros delitos. Nossas estatísticas são péssimas e desalentadoras. Vivemos o caos. O projeto “Juventude Islandesa”, criado por Inga Dória em 1997, já está sendo implementado em 35 cidades européias e chegando à Africa, a partir de ações em Reykjavick. Em dez anos, os índices de jovens com idade entre 15 e 16 anos, em relação ao fumo de cigarros normais, caiu de 23% a 3%. O índice de jovens fumantes de maconha, caiu de 17% para 7%. Jovens com problemas alcoólicos, caiu de 42% para 5%. Não foi milagre e sim uma saída óbvia, poucas vezes tentada e onde começava a dar frutos, em função da troca de governantes, abandonada. A aposta em Esportes e Cultura. Grandes centros foram construídos. Áreas para futebol, pista de corrida, academia, piscina, ginásio de artes marciais de um lado. De outro, área para teatro, música, literatura, cinema, pintura e outros. São mais de 600 atividades que podem ser acessadas através da internet. Mais ainda, a ação tem participação direta dos pais que também se comprometem, entre outras coisas, a não permitir que jovens abaixo de 17 anos estejam nas ruas a partir da meia noite. Imaginem isso aqui, em Belém, onde as festas começam a animar depois de 1 da manhã.. A ONG Compassiva está tentando implementar o projeto, agora com o nome “Planeta Juventude”, para São Paulo. Tendo em vista cidades muito maiores que a capital islandesa, começará bairro a bairro.
Fiquei pensando em nós. Na área cultural, somos um deserto. Desde que João de Jesus Paes Loureiro ocupou cargo nessa área ainda no que se chamava Semec, nada mais houve no setor. A cidade sequer tem um teatro. Com o tempo, ficamos cobrando mais ainda da Secretaria de Estado de Cultura, que, convenhamos tem (ou teria) que lidar com os mais de cento e tantos municípios do Pará. Mas esta, há mais de vinte e cinco anos, dedica-se a destruir qualquer manifestação local, tentando impor uma cultura de visão estritamente pessoal e desprovida de qualquer objetivo inteligente. Será que é tarde? O atual prefeito, em sua campanha, anunciou a construção de um teatro com 4 mil lugares na orla do Dudu. Só se for para Anitta se apresentar. Que tal vinte teatros com 200 lugares, nos vários bairros da cidade? Seria loucura conseguir a cessão de toda essa madeira apreendida para a construção desses centros? Bairro por bairro. Sim, diferentemente da juventude islandesa, outros fatores encaminham nossos jovens para o tráfico, por exemplo. Miséria, fome, lares desfeitos, necessidade de ganhar dinheiro fácil. Emprego para professores, monitores, sociólogos, psicólogos. Constituição de melhores cidadãos. Penso se esses milhões queimados nesse BRT infame não ficariam melhor investidos. Mas nossos politicos acham que Esportes e Cultura não dão votos. Construíram um belo ginásio ao lado do Estádio “Edgar Proença” e esqueceram de promover o esporte. O resultado é que agora é palco de festas e shows esporádicos. E a Cultura? Agora, da Fumbel, saiu a advogada que disse, ao assumer o cargo, que precisava se inteirar do assunto, porque não era sua área e agora entrou, bem, entrou quem? Enfim, posso ser um sonhador, mas me sinto melhor assim. Quem dera, não é? Feliz 2018.
Fiquei pensando em nós. Na área cultural, somos um deserto. Desde que João de Jesus Paes Loureiro ocupou cargo nessa área ainda no que se chamava Semec, nada mais houve no setor. A cidade sequer tem um teatro. Com o tempo, ficamos cobrando mais ainda da Secretaria de Estado de Cultura, que, convenhamos tem (ou teria) que lidar com os mais de cento e tantos municípios do Pará. Mas esta, há mais de vinte e cinco anos, dedica-se a destruir qualquer manifestação local, tentando impor uma cultura de visão estritamente pessoal e desprovida de qualquer objetivo inteligente. Será que é tarde? O atual prefeito, em sua campanha, anunciou a construção de um teatro com 4 mil lugares na orla do Dudu. Só se for para Anitta se apresentar. Que tal vinte teatros com 200 lugares, nos vários bairros da cidade? Seria loucura conseguir a cessão de toda essa madeira apreendida para a construção desses centros? Bairro por bairro. Sim, diferentemente da juventude islandesa, outros fatores encaminham nossos jovens para o tráfico, por exemplo. Miséria, fome, lares desfeitos, necessidade de ganhar dinheiro fácil. Emprego para professores, monitores, sociólogos, psicólogos. Constituição de melhores cidadãos. Penso se esses milhões queimados nesse BRT infame não ficariam melhor investidos. Mas nossos politicos acham que Esportes e Cultura não dão votos. Construíram um belo ginásio ao lado do Estádio “Edgar Proença” e esqueceram de promover o esporte. O resultado é que agora é palco de festas e shows esporádicos. E a Cultura? Agora, da Fumbel, saiu a advogada que disse, ao assumer o cargo, que precisava se inteirar do assunto, porque não era sua área e agora entrou, bem, entrou quem? Enfim, posso ser um sonhador, mas me sinto melhor assim. Quem dera, não é? Feliz 2018.
Published on December 29, 2017 05:49
December 22, 2017
GENTE ESQUISITA
Estava zapeando a tv e topei com um filme sobre a lendária fotógrafa Diane Arbus, que se notabilizou por retratos magníficos de pessoas “estranhas”, digamos assim. Diferentes, talvez. Fora do padrão estético. Pode ser. Bem, é precis ver algumas fotos para entender. Nicole Kidman faz Diane. O roteiro pega os dias que antecederam o surgimento da fotógrafa. Até então, Diane fora uma menina rica, que casou com um famoso fotógrafo de capas de revistas de moda. Havia duas filhinhas. Era apenas a mulher do cara, mãe das filhas, talvez assistente, digamos assim. Bela, perfeita, criada como boneca, em seu íntimo, brigava com aquela situação comum, dona de casa, mãe, esposa e tal. Muda-se para um apartamento no segundo andar um homem estranho, usando mascara cobrindo o rosto. Atiça-lhe a curiosidade. O visita. Jogo de sedução. Enfim, o vizinho sofre de hipertricose, uma doença que faz crescer pelos em todo o corpo. Todo. Quem sofre disso acaba trabalhando em circo. Leva-a a lugares onde encontra mulheres sem braços, anões, gigantes, diversas formas, digamos, fora do padrão. Os estranhos, diferentes, esquisitos. Ao invés do susto, ela parece encontrar o mundo que a interessa. O casamento desmorona, o vizinho morre e surge a fotógrafa. Eu também me interesso por pessoas diferentes. Mesmo em meus poemas, nos romances, é nesses personagens onde busco o âmago da emoção. Talvez, como artista, busque exatamente o que quebra o padrão. O mundo do futuro era, nos planos, quase asséptico. Robôs nas tarefas domésticas e mais repetitivas. Mais tempo para a diversão e a cultura. Enfim. Não é assim. Os modernos equipamentos e a internet possibilitaram a qualquer um gravar o que considera ser música, ou filmar. Certo, é democrático, mas com a falta de Educação e Cultura, a música transforma-se cada vez mais em “não música”, o fim da canção. Agora frases curtas xingam, seduzem, engessam a imaginação, com melodias da riqueza de um “atirei um pau no gato”. O ritmo é tribal. Há também death metal rock, puro noise, garotos explodindo seus hormônios em ódio contra o estabilishment. Cantoras declamam o sexo e as delícias da carne e qualquer criança repete. Facebook incentiva a escrita, mas a linguagem é péssima. Terroristas que seguem um Islã totalmente deformado explodem cidades ricas em Cultura e Memória, enquanto americanos tentam levar seu capitalismo a uma região profundamente atrasada, dominada por ditadores que escravizam as mulheres em nome de interpretação absurda do Alcorão. As máquinas, hoje, nos permitem traduções simultâneas em celulares, das diversas línguas, mas ninguém parece querer entender. A idéia de levar uma vida tranquila, seja com emprego fixo, mulher, filhos e missa aos domingos, é tomada por careta, monótona. Pode até ser, mas depende para quem. E quem gostar? É menos que qualquer coisa? Os artistas são sempre considerados “esquisitos”, como diz Sandra Perlin. Pensam à frente. São as antenas da raça. Geralmente são “fora do padrão”. Nós, lá no Cuíra, fazemos teatro para “mudra o mundo para melhor”. Parece muito, utópico, mas os artistas pensam assim. Há peças que chocam a platéia para que reflita. Outras, já propõem novas situações e muita gente torce o nariz para o nôvo. E quando digo “gente esquisita”, diferente, fora do padrão, não é somente sob o ponto de vista físico. Talvez seja o que Diane Arbus buscava. A essencia. Em muitos aspectos, acho que sou diferente, esquisito. Nos meus romances, quero sempre chegar ao âmago de cada personagem. Haroldo Maranhão dizia que, como escritor, era como um cachorro hidrófobo que saía no meio da noite à procura de uma vítima. Assim me sinto quando observo, escuto, ouço as pessoas (vítimas..) e lá adiante, me vejo compondo um personagem, indo ao seu âmago e pretendendo tirar o que há de mais profundo. É isso. Será?
Published on December 22, 2017 06:09
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