Ensina-me a Voar Sobre os Telhados Quotes

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Ensina-me a Voar Sobre os Telhados Ensina-me a Voar Sobre os Telhados by João Tordo
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“Abdicamos da vida para podermos vivê-la, abdicamos dela a toda a hora, a todos os minutos, em cada gesto, é esta a crueldade contra a qual justamente nos revoltamos, uma luta desde sempre perdida, capitulada.”
João Tordo, Ensina-me a Voar Sobre os Telhados
tags: vida
“Nascer não é, afinal, produto do livre-arbítrio, mas de uma outra liberdade, biológica ou celestial, como lhe queiram chamar, a liberdade mais arrogante de todas porque é promotora de escravidão, obrigando-nos a estar aqui, encurralados. Em suma: não tivemos escolha neste “estar”. Como tudo aquilo que não depende de nós, é uma dádiva, e uma ferida. Entender que uma não existe sem a outra é a tarefa da eternidade, e podemos decidir que essa dádiva é demasiado onerosa, que a ferida nos rasga demasiado a carne.”
João Tordo, Ensina-me a Voar Sobre os Telhados
“Às vezes, as pessoas são golpes em nossa pele, a ferida que sangra para aprendermos a fazer uma pele nova.”
João Tordo, Ensina-me a Voar Sobre os Telhados
“O meu companheiro não me avisou de que, quando um homem se rende, é como se entregasse o corpo para ser esquartejado numa arena.”
João Tordo, Ensina-me a Voar Sobre os Telhados
“A qualquer altura, e de maneiras tão cruéis, tão ridículas. Morrer a sangrar dos ouvidos. Morrer de bêbedo. Morrer por saltar de um prédio. Morrer de tristeza. Morrer, morrer. Não havia Ferrabrás para tal sorte, nenhum de nós escapava. E, contudo, existíamos como se a morte fosse um evento distante, anódino, que pertencia aos corredores dos hospitais, aos soturnos enfiamentos dos cemitérios. Vivíamos como se a vida tivesse sentido sem a morte, que nos aguardava a todos, sem excepção. Vivíamos imortais, e depois morríamos, sem apelo nem recurso.”
João Tordo, Ensina-me a Voar Sobre os Telhados
tags: morrer
“Não sei, mas sei que não é isto, não sou eu, nem o meu pai, nem o pai do meu pai, nem o pai do meu avô, nem o pai do meu bisavô, nem o pai do meu trisavô, nem o pai do meu tetravô, o destino é alguma coisa maior do que todos nós, ainda por realizar, alguma coisa de que nos fomos esquecendo, porque as gerações são tantas. Quanto estive nos ilhéus, aprendi que não somos apenas aquilo que somos, mas também as limitações que nos ensinaram a ser.”
João Tordo, Ensina-me a Voar Sobre os Telhados
“O medo impede-nos de acreditar naquilo que o medo nos diz que é impossível.”
João Tordo, Ensina-me a Voar Sobre os Telhados
tags: medo
“Temos de ser fortes, é o que dizem. Resistir à tristeza, à melancolia. Construir diques para nos protegermos dos sentimentos. Esconder os doentes da cabeça nos manicómios. É preciso andarmos em filinha, caladinhos, a toque de caixa, ao ritmo que eles querem. Para terem a certeza de que nunca nos ergueremos acima desta vulgaridade.”
João Tordo, Ensina-me a Voar Sobre os Telhados
“Porque nos fazem isto?, lamentou-se. Porque tratam os homens desta maneira? Porque temos de sofrer enquanto eles se deliciam com os repastos da eternidade? Porque somos tão frágeis, tão incapazes? Porque invejamos o que os outros têm e desprezamos aquilo que temos, porque sabemos o valor das coisas apenas quando elas nos são arrancadas das mãos, porque temos fome e sede, porque somos tão pequenos e há um universo tão grande que parece fazer troça de nós? Olha para mim, hachidori, sou o fim de qualquer coisa que já nasceu enviesada, todo eu sou dor e ausência, todo eu sou escassez, não há nada em mim que faça lembrar os deuses, nenhuma semelhança, porque se importam eles connosco, o que querem de nós?”
João Tordo, Ensina-me a Voar Sobre os Telhados
“Há quem diga que o suicídio é a forma suprema de egoísmo; que o suicida deixa, na sua esteira, um rasto indelével de dor. A verdade é que, para os que partem, as perguntas cessam. Não se prefiguram mais dramas nem angústias; igualmente nenhuma alegria ou exaltação. O Reino dos Céus é deveras silencioso. Para os que ficam, nem tanto.”
João Tordo, Ensina-me a Voar Sobre os Telhados