Cómo me hice monja / La costurera y el viento Quotes

Rate this book
Clear rating
Cómo me hice monja / La costurera y el viento Cómo me hice monja / La costurera y el viento by César Aira
276 ratings, 3.92 average rating, 23 reviews
Cómo me hice monja / La costurera y el viento Quotes Showing 1-17 of 17
“Sólo un loco podía renunciar a un status quo imaginario. Sólo un loco podía adoptar lo real de la realidad.”
César Aira, Cómo me hice monja / La costurera y el viento
“Ahí estaba nuestra diferencia clave, el abismo que nos separaba. Yo tenía una vida real totalmente separada de las creencias, de la realidad general conformada por las creencias compartidas...”
César Aira, Cómo me hice monja / La costurera y el viento
“Ahí estaba nuestra diferencia clave, el abismo que nos separaba. Yo tenía una vida real totalmente separa de las creencias, de la realidad general conformada por las creencias compartidas...”
César Aira, Cómo me hice monja / La costurera y el viento
“Entonces renunciaba a imitarlo, renunciaba a tener personalidad, y adivinaba oscuramente que en la renuncia estaba mi única posibilidad de ser alguien.”
César Aira, Cómo me hice monja / La costurera y el viento
“El mentiroso experimentado sabe que la clave del éxito está en fingir bien la ignorancia de ciertas cosas. Por ejemplo, de las consecuencias de lo que está diciendo. Es como hacer que sean los otros los que inventen.”
César Aira, Cómo me hice monja / La costurera y el viento
“[...] cayó en la trampa de la intuición que vuela a oscuras y da en el blanco antes de que el entendimiento pueda empezar a hacer lo suyo...”
César Aira, Cómo me hice monja / La costurera y el viento
“Pero había que creer. Había que simular no creer, y en realidad creer.”
César Aira, Cómo me hice monja / La costurera y el viento
“La mera negativa era demasiado aleatoria, porque a veces la nada puede ser la respuesta acertada, y yo jamás habría dejado mi suerte en manos del azar.”
César Aira, Cómo me hice monja / La costurera y el viento
“Era inevitable, porque yo había entrado para siempre en el sistema de la acumulación, en el que nada, nunca, queda atrás.”
César Aira, Cómo me hice monja / La costurera y el viento
“– Ontem à noite – começou Ventarrón –, saí para dar uma volta, depois que você dormiu, e vi uma luz por aí, e me aproximei para olhar. Naquele lugar existe um hotel, no alto de uma pequena montanha, e num primeiro momento acreditei que tinha se incendiado, de tanto brilho. Mas não havia fogo algum. Desci e me aproximei das janelas. Também não era uma festa. Era uma luz radioativa, que pulsava, e pulsava tanto que sacudia todo o hotel… Uma luz vermelha, horrível, e a temperatura tinha subido vários milhares de graus… Como não tinha nenhuma intenção de me transformar num vento atômico, me afastei e fiquei olhando. Aquilo ia de mal a pior. Eu mesmo comecei a ficar assustado. E olhe que sou o mais eficaz que há numa fuga. Mas sei que existem sustos a distância dos quais não vale a escapatória. E então, de repente, o hotel inteiro caiu, derretido como um floco de neve ao sol. E lá estava, livre, aceso e horrível, o Monstro… o menino que não deveria ter nascido.
Sua voz, que já era grave, tinha adquirido uma ressonância de além-túmulo, muito pessimista. Suas últimas palavras fizeram um arrepio correr pelas costas de Delia.
– Que menino…? Que monstro…?
– Existe uma lenda que diz que um dia vai nascer, num hotel termal da zona, um menino dotado de todo o poder das transformações, um ser que será a cápsula de todos os ventos do mundo, o molde do vento, e, portanto, feio de espantar… pelo menos para mim, e para você, porque o que em mim está do lado de fora, nele está do lado de dentro, impulsionando todas as deformações. Já percebe que isso que eu estava vendo me dizia respeito.
– E o que aconteceu?
– Nada. Saí correndo e aqui estou. O problema é que agora o Monstro está solto e à sua procura.
– Eu? Por que eu?
– Porque assim diz a lenda – respondeu o vento, críptico. – E é óbvio que a lenda se transformou em realidade.”
César Aira, Cómo me hice monja / La costurera y el viento
“Não se move no silêncio, mas no canto. É quase como uma ópera: o canto se faz gesto, e destino, e argumentação (incoerente, louca), e as pessoas que o cercam também se fazem destino e fatalidade. Avança carregado de signos, levando a carroça no seu ritmo, que na realidade ele é o único a perceber. Abre caminho ao abrir sua vida com a insana falta de jeito de alguém furioso ao abrir o embrulho de um presente. Só que ele não encontra o presente e continua abrindo sempre, cantando sempre. É um melodrama perpétuo. Aí está o que seus achegados podem se perguntar: por que insiste? Na realidade, o que perguntam é o que vem antes: o movimento ou o canto? Canta para caminhar ou caminha para cantar? Pois bem, não existe resposta, como não existe resposta para o enigma da ópera. Porque não existe anterior ou posterior, não há uma sucessão, mas uma espécie de simultaneidade sucessiva.”
César Aira, Cómo me hice monja / La costurera y el viento
“Delia Siffoni já era louca, e o desaparecimento de seu filho único a deixou louca. Entrou num frenesi. Espetáculo prodigioso, cartão-postal perene, cinema transcendental, cena das cenas: ver uma louca ficar louca. É como ver Deus.[...]”
César Aira, Cómo me hice monja / La costurera y el viento
“Além dessas, escutávamos todo tipo de programas: informativos, de perguntas e respostas, humorísticos, e, é claro, de música. Nicola Paone me dominava. Mas não havia distinções: toda música era a minha favorita, pelo menos enquanto a estava ouvindo. Até dos tangos, que em geral entediam as crianças, eu gostava. A música me parecia maravilhosa pelo vigor com que tomava posse de seu presente, e dele expulsava tudo o mais. Qualquer melodia que escutasse me parecia a mais bonita do mundo, a melhor, a única. Era o instante elevado à sua máxima potência. Era uma fascinação do presente, um hipnotismo (outro!). Eu me obstinava em colocá-lo à prova sempre; queria pensar em outras músicas, outros ritmos, comparar, recordar, e não podia, estava inundada por esse presente transformado em música,”
César Aira, Cómo me hice monja / La costurera y el viento
“Neste caso, e talvez também em todos os outros, tive o maravilhoso consolo de saber que era um anjo. Isso transformava a situação, tornava-a sonho, mas como realidade. Era uma transformação da realidade. Os delírios cruéis que havia sofrido durante a febre eram uma transformação, mas de signo oposto. O sonho real era a forma da realidade como felicidade, como paraíso. No mesmo movimento, a realidade se tornava delírio ou sonho, mas o sonho também se tornava sonho, e isso era o anjo, ou a realidade.”
César Aira, Cómo me hice monja / La costurera y el viento
“O pátio [da prisão] era cercado de entradas e saídas. Não dava a impressão de hermetismo, como se deveria esperar. É inevitável que se tenha uma ideia romântica de uma prisão, embora, como era o meu caso, não soubesse o que era o romantismo. Nem uma prisão, para ser sincera. Esta passava uma sensação de realismo exacerbada e destruidora; as ideias prévias, embora não as tivesse, ruíam.”
César Aira, Cómo me hice monja / La costurera y el viento
“Eu a havia desconcertado.
– Sonhei com uma anã que tinha um espinho cravado no coração.
– Mas qual anã?
– Uma anã.. uma anãnãnã… nuãnãnããnã…
“Qual” estava fora de questão… Minha manobra consistia em lhe dar a entender que eu tinha algo “difícil” a expressar. Devia recorrer à indireta, à alegoria, à ficção pura e simples. E ela se via arrastada a isso também, a investigar essa sutileza… que lhe escapava… E então comecei a mentir com a verdade (e viceversa), não sei como… Também me escapava… Minhas estratégias morriam em
minhas mãos… mas ressuscitavam agigantadas… No desespero de se fazer entender numa matéria indócil por uma menininha completamente estupidificada pela miséria física, Ana Módena começou a se auxiliar com gestos… o gesto tomava a dianteira… Era uma mulher precipitada, sem método: caiu na armadilha da intuição que voa às cegas e atinge o alvo antes que o entendimento possa começar a funcionar… E a pressa, a falta de habilidade, fizeram todos os gestos se jogarem uns por cima dos outros… por sua vez. Pela minha, o desmembramento me fazia gesticular em espelho… mas era uma vertigem, a acumulação de significados das caretas e olhares e entonações se tornava excessiva… parecia se aproximar de um limite, de um umbral… se aproximava mais e mais…”
César Aira, Cómo me hice monja / La costurera y el viento
“Mas me chamavam na porta da rua! Batiam nela como se a quisessem derrubar! Não só chamavam: queriam entrar… Para que iriam querer entrar se não para me assassinar? E eu estava sozinha… Deveriam saber… sabiam perfeitamente, por isso tinham vindo… Eram ladrões, vinham saquear a casa, na mais benévola das hipóteses… Estava em minhas mãos impedir isso, mas minhas mãos eram tão fracas… Tremia feito gelatina, detrás da porta… Por que tinham me deixado sozinha? O que era tão importante para que eles tivessem que me abandonar?
O pior é que… eram eles… Eram papai e mamãe os que estavam chamando na porta! Os dois monstros tinham assumido a forma de papai e mamãe… Não sei como os enxergava, suponho que pelo buraco da fechadura, que eu alcançava ficando na ponta dos pés… Eu me arrepiava dos pés à cabeça, me congelava… ao vê-los tão idênticos… tinham roubado seu rosto, a roupa, o cabelo... de papai muito pouco, porque era careca, mas os cachos ruivos de mamãe… Eram símiles perfeitos, sem erros… O trabalho que tiveram! Esses seres que não tinham forma, ou que não a revelavam para mim… esses simulacros… suas péssimas intenções… O espanto me gelava o sangue, não podia pensar…”
César Aira, Cómo me hice monja / La costurera y el viento