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É óbvio que Shara Wheeler está ótima. Shara Wheeler não está desaparecida. Shara Wheeler está fazendo o que sempre faz: fingindo ingenuidade e inocência, o que leva todos a pensar que ela deve ser muito profunda, complexa e encantadora, quando, na verdade, é a chata mais sem graça de toda esta cidade insuportavelmente chata e sem graça.
Aonde Shara vai quando não está tendo encontros pitorescos na Starbucks com seu namorado quarterback ou compondo trabalhos de literatura comparada estranhamente bons? Quem é ela quando, finalmente, não tem ninguém olhando?
Se Chloe tentasse sumir desse jeito, haveria uma milícia de gays shakespearianos arrombando todas as portas da cidade de False Beach.
Por que ela liga? Porque ela e Shara passaram todos os dias de suas carreiras do ensino médio dedicadas ao único objetivo de ser a melhor aluna e oradora da formatura, e a única coisa que Chloe queria mais do que esse título era a satisfação de saber que Shara Wheeler não poderia tê-lo. Porque Shara Wheeler já tinha todo o resto.
Porque, dois dias atrás, Shara a encontrou sozinha no elevador do Edifício B antes da quinta aula, a puxou pelo cotovelo e a beijou até ela esquecer um semestre inteiro de francês. E Chloe ainda não sabe o porquê.
E se você passar o resto da vida sem saber por que, em nome de Deus, Shara Wheeler te beijou?
Ela levou um beijo e um fora de Shara Wheeler. E nem foi a única.
Prova de que, à noite, em seu quarto azul-bebê, enquanto penteia o cabelo e pinta as unhas e dá três voltas de elástico para prender uma pilha de fichas de estudos, Shara pensa em Chloe.
O que significa que, na segunda de manhã, todos só querem saber aonde Shara pode ter ido.
— Eu também — Chloe diz. — O que quer dizer que, se quiser saber onde sua namorada está, precisa superar o fato de que ela nos beijou. Tipo, rápido.
— É difícil dizer sobre a Shara às vezes — Smith diz. — Às vezes, ela simplesmente some. Tipo, fica o fim de semana inteiro sem responder mensagem, ou coloca o celular no modo avião, sem explicação, e dois dias depois é como se nada tivesse acontecido.
Chloe mudou o nome do grupo para “Eu beijei Shara Wheeler”
— E acho que ela é… é uma menina presa no mesmo lugar desde que nasceu, tão entediada com a própria vida que precisa brincar com a das outras pessoas pra se distrair. É uma boa personagem.
Embora goste de meninos, Chloe normalmente acha as características de um bom vilão — arrogância, maldade, um passado sofrido — tediosas nos homens.
Tenho curiosidade sobre você desde antes de te conhecer, mas, pelo jeito como as coisas funcionam em Willowgrove, nunca consegui chegar perto o suficiente de você para sacar qual era a sua.
E agora eles precisam se contentar em ser empurrados de um lado para o outro como pecinhas idiotas de xadrez, porque Shara os beijou, e o tabuleiro é dela.
Ela beijou Shara Wheeler, e isso não mudou absolutamente nada.
Ela vai derrotar Shara no próprio jogo. E depois ainda vai acabar com ela.
— Você vai escrever um filme universitário pra mim ou não? — Benjy pergunta. — Estou pronto pra fazer o Timothée Chalamet se aposentar. — Desculpa, não escrevo roteiros — Georgia diz, tomando um gole de sua garrafa d’água.
Você sempre pareceu estar bem ao meu lado, embora nunca conseguíssemos nos aproximar uma da outra.
Essa é a vida de Shara e, por meio segundo, parece que poderia ser a de Chloe também. Uma menina com um histórico escolar perfeito e mais amigos do que cabem numa piscina.
— Não é porque eu sou sáfica que me apaixono por qualquer menina bonita que me dá atenção.
Tem uma menina de olhos castanhos que me faz lembrar do primeiro livro que eu amei. Quando olho para ela, sinto que pode haver um outro universo nela.
— Chloe, a gente é gay. A gente não sabe fazer conta.
Ela meio que entende o que ele quer dizer. Se Willowgrove é o mundo, e todas as pessoas lá se veem como o personagem principal da sua história, e Shara é a outra protagonista obrigatória, ou ela é o interesse amoroso, ou a antagonista. Chloe fez a escolha dela. Rory fez a dele.
Mas agora ela sabe… bom, ela odeia admitir. Odeia mesmo. Mas essa Shara, escrita em papel de carta cor-de-rosa, é um milhão de vezes mais interessante do que a versão falsa. Tipo, sem comparação.
Quanto a Chloe… bom, não é que Chloe se esqueça de pensar em outras coisas além de Shara Wheeler. Mas nada mais parece tão interessante, o que não é culpa dela. Sinceramente, talvez as outras coisas devessem se esforçar mais.
Então Chloe está ganhando fôlego, enquanto Smith e Rory estão perdendo. O moral nunca esteve tão baixo no grupo “Eu beijei Shara Wheeler”.
Às vezes, quando me sentia no ápice da criatividade, imaginava como poderia fazer você se apaixonar por mim.
Tenho tentado muito entender o que é que me faz me sentir dessa forma e como isso parece tão profundo e tão grande que deve ser a maior parte de mim, meus ossos e a pele que cobre meus nós dos dedos e meus ombros.
Gostaria que você guardasse esta para você, S
Willowgrove é onde Shara está — estava — todos os dias, mas Belltower é de Chloe.
Foi para seu beijo que Shara comprou um brilho labial novo.
E se Shara for mais do que uma escrota perversa? E Shara for uma escrota perversa que está apaixonada por ela?
Qual é. Tem um milhão de perguntas mais interessantes que você poderia fazer.
A filhinha cristã perfeita de Willowgrove quer a menina bissexual esquisita com delineador exagerado.
Mesmo se Chloe não quiser Shara, ela quer alugar um triplex naquela linda cabecinha. Se o próximo bilhete for parecido com o último, ela precisa dele. Tipo, por puro entretenimento.
— Para de ser dramático. — A gente está literalmente numa festa de teatro.
Ela bate o celular no peito e olha para a o teto manchado de umidade, os gritos, as risadas, a música e a fofoca diminuindo sob o volume ensurdecedor do atrevimento de Shara.
Esse é o problema, Shara digita. Eu estava perto demais para perceber que você era especial. Levei um tempo para entender como colocar você onde eu queria.