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pão ou pães, é questão de opiniães… O sertão está em toda a parte.
vara de maria-preta
era o homem de maiores ruindades calmas que já se viu.
Eu sou é eu mesmo. Divêrjo de todo o mundo… Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.
O que mais penso, testo e explico: todo-o-mundo é louco. O senhor, eu, nós, as pessoas todas. Por isso é que se carece principalmente de religião: para se desendoidecer, desdoidar. Reza é que sara da loucura.
O senhor sabe: sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado! E bala é um pedacinhozinho de metal…
o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas — mas que elas vão sempre mudando.
Se tem alma, e tem, ela é de Deus estabelecida, nem que a pessoa queira ou não queira. Não é vendível.
sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso…
Sapo tirava saco de sua voz, vozes de osga, idosas.
Principalmente a confirmação, que me deu, de que o Tal não existe; pois é não? O Arrenegado, o Cão, o Cramulhão, o Indivíduo, o Galhardo, o Pé-de-Pato, o Sujo, o Homem, o Tisnado, o Côxo, o Temba, o Azarape, o Coisa-Ruim, o Mafarro, o Pé-Preto, o Canho, o Duba-Dubá, o Rapaz, o Tristonho, o Não-sei-que-diga, O-que-nunca-se-ri, o Sem-Gracejos… Pois, não existe!
Deixa o mundo dar seus giros! Estou de costas guardadas, a poder de minhas rezas. Ahã. Deamar, deamo… Relembro Diadorim. Minha mulher que não me ouça. Moço: toda saudade é uma espécie de velhice.
para a gente se transformar em ruim ou em valentão, ah basta se olhar um minutinho no espêlho — caprichando de fazer cara de valentia; ou cara de ruindade! Mas minha competência foi comprada a todos custos, caminhou com os pés da idade.
E, digo ao senhor, aquilo mesmo que a gente receia de fazer quando Deus manda, depois quando o diabo pede se perfaz.
A ver, e o sol, em pulo de avanço, longe na banda de trás, por cima de matos, rebentava, aquela grandidade. Dia desdobrado.
Aquilo, vindo aos poucos, dava um peso extrato, o mundo se envelhecendo, no descampante.
Viver é muito perigoso.
“Riobaldo, a colheita é comum, mas o capinar é sozinho…” — ciente me respondeu.
Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra.
Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois, no fim dá certo.
real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.
Comandante é preciso, para aliviar os aflitos, para salvar a ideia da gente de perturbações desconformes.
Cada hora, de cada dia, a gente aprende uma qualidade nova de medo!
Vingar, digo ao senhor: é lamber, frio, o que outro cozinhou quente demais.
Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data.
Sertão é o penal, criminal. Sertão é onde homem tem de ter a dura nuca e mão quadrada.
Deveras se vê que o viver da gente não é tão cerzidinho assim?
Urubú é vila alta, mais idosa do sertão: padroeira, minha vida — vim de lá, volto mais não… Vim de lá, volto mais não?… Corro os dias nesses verdes, meu boi mocho baetão: burití — água azulada, carnaúba — sal do chão… Remanso de rio largo, viola da solidão: quando vou p’ra dar batalha, convido meu coração…
“Seu pai fosse rico, tivesse negócio, eu casava contigo e o prazer era nosso…”
Dizendo que, depois, estável que abolisse o jaguncismo, e deputado fosse, então reluzia perfeito o Norte, botando pontes, baseando fábricas, remediando a saúde de todos, preenchendo a pobreza, estreando mil escolas.
Fugi. De repente, eu vi que não podia mais, me governou um desgosto. Não sei se era porque eu reprovava aquilo: de se ir, com tanta maioria e largueza, matando e prendendo gente, na constante brutalidade.
Meu rumo mesmo era o do mais incerto. Viajei, vim, acho que eu não tinha vontade de chegar em nenhuma parte.
Mas a vida não é entendível.
Tudo, naquele tempo, e de cada banda que eu fosse, eram pessoas matando e morrendo, vivendo numa fúria firme, numa certeza, e eu não pertencia a razão nenhuma, não guardava fé e nem fazia parte.
O rio, objeto assim a gente observou, com uma crôa de areia amarela, e uma praia larga: manhãzando, ali estava re-cheio em instância de pássaros.
Esta vida é de cabeça-para-baixo, ninguém pode medir suas pêrdas e colheitas.
Em horas, andávamos pelos matos, vendo o fim do sol nas palmas dos tantos coqueiros macaúbas, e caçando, cortando palmito e tirando mel da abelha-de-poucas-flores, que arma sua cera cor-de-rosa. Tinha a quantidade de pássaros felizes, pousados nas crôas e nas ilhas.
Tem diversas invenções de medo, eu sei, o senhor sabe. Pior de todas é essa: que tonteia primeiro, depois esvazia. Medo que já principia com um grande cansaço.
Você acha que a gente corta carne é com quicé, ou é com colher-de-pau?
Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo.