Box Grandes Obras de Dostoiévski
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Started reading October 6, 2025
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aviltamento,
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Todos nós, os Karamazov, somos como insetos. E mesmo em ti, que és um anjo, vive este inseto que provocará uma tempestade no teu sangue...
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Smerdyakov, moço de vinte e quatro anos, de feitio arisco e taciturno, o qual não se devia a caráter tímido ou ferino, pois pelo contrário, mostrava-se orgulhoso e parecia desprezar toda a gente.
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Porventura depois de dezanove séculos não mantém a palavra divina o seu vigor de origem e o seu poder sobre a alma do indivíduo e a massa do povo? Vê-se ainda poderosa e viva na alma dos próprios incrédulos que que querem destruir tudo! Até os que renegaram Cristo e atacam a sua doutrina conformam ao ideal cristão os sentimentos e os atos da sua vida, porque até aqui nem as subtilezas da mente nem os ardores do coração conseguiram apresentar um ideal que exceda em humanidade e em virtude o que Cristo aconselhou ao mundo antigo. Sempre foram grotescos os resultados de qualquer tentativa de ...more
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intransigente
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Porque os nossos filhos, e não os vossos, os filhos dos pobres fidalgos a quem todos desprezam têm já aos nove anos um verdadeiro sentido da justiça, senhor. Como o hão de ter os ricos se nunca na vida esquadrinham o íntimo do coração?
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Falava com vertiginosa rapidez, como se temesse que não lhe permitissem dizer tudo o que desejava.
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Compreenda, Lisa, como deve ser amargo para um homem ofendido que os outros o tratem com ares de proteção...
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Os meus irmãos perdem-se, meu pai também. E fazem com que outros se percam. É a força ancestral dos Karamazov,
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Durante estes três meses notei que me olhavas com atenção. Os teus olhos revelaram uma fiscalização que me foi insuportável, afastando-me sempre.
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ainda que não acreditasse na vida, ainda que perdesse a fé na minha amada e na ordem das coisas e me convencesse que tudo é desordem e um caos maldito e infernal, e me invadisse o horror de todas as desilusões humanas, desejaria viver, e uma vez provado o cálice não o abandonaria até havê-lo acabado.
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Várias vezes me perguntei se há no mundo um desespero capaz de mitigar esta sede frenética, talvez inconveniente, de vida, que sinto em mim, e cheguei à conclusão de que não existe, de que até aos trinta andarei sedento e então apagar-se-á em mim esse ardor. Alguns malabaristas apáticos, irascíveis e fracos de espírito, entre os quais abundam os poetas, reputam de vileza esta sede de viver. Bem sei que é característico dos Karamazov esta sede de vida sem consideração seja pelo que for e tu mesmo a sentes, mas o que tem de vil tal ansiedade?
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Sim, a vida, sem considerações nem lógica, como tu dizes; quando não nos importarmos com a sua lógica compreenderemos o seu sentido. Há algum tempo já que penso o mesmo. Tu tens feito metade do trabalho, Ivan, porque amas a vida; procura agora fazer o que falta e serás salvo.
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Quanto a mim, há tempo que resolvi não pensar se foi Deus que criou o homem ou se foi o homem que criou Deus. Não quero deixar-me arrastar por todos esses axiomas
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Procurarei expor-te, o mais breve possível, o essencial do meu ser, que classe de homem sou, em que creio e em que espero, não é assim? Por conseguinte, tenho de começar declarando simplesmente que admito a existência de Deus.
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Eu cheguei à conclusão de que se nem isto posso chegar a compreender, tentarei em vão chegar ao conhecimento de Deus. Humildemente reconheço que as minhas pobres faculdades não podem expor esta questão, porque com uma inteligência eminentemente euclidiana, terrestre, como irei resolver problemas que não são deste mundo?
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Tais questões escapam em absoluto a uma inteligência feita para conceber apenas a ideia de três dimensões. Pois bem, admito a existência de Deus de boa vontade e, ainda mais, concedo a sua sabedoria, a sua providência, que está inteiramente fora do nosso alcance; creio na ordem sobrenatural e no sentido da vida; creio na harmonia eterna com que um dia temos de nos confundir. Creio no Verbo para que tende o Universo e que estava em Deus e que o mesmo era Deus, etc., etc., até ao infinito: porque isto pode expressar-se de mil maneiras. Parece que vou por bom caminho, não é verdade? Pois crê-me, ...more
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Com certeza! Não é um segredo; queria chegar a isso, precisamente. Irmão, não quero corromper-te nem arrancar-te aos teus princípios; antes pelo contrário, quereria curar-me com a tua ajuda. — E Ivan sorriu como uma boa criança, como Aliocha nunca o havia visto sorrir.
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Nunca compreendi que se possa amar ao próximo.
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dizendo que o rosto de um homem afasta com frequência o amor de muitos corações inexperientes. Mas na humanidade existe ainda muito amor, e amor como o de Cristo. É o que consta, Ivan.
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É possível amar ao próximo em abstrato ou de longe, mas ao vizinho é quase impossível.
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O nosso passatempo tradicional consiste na delícia de torturar.
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Não compreendo nada — gritou Ivan como se delirasse. — Já não preciso compreender nada. Quero sujeitar-me aos acontecimentos. Há tempos já que renunciei a compreender. Se pretendo entender alguma coisa, que sejam os acontecimentos que me enganem. Já assentei que hei de sujeitar-me a eles.
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a simples cobiça do poder, dos bens da terra, do domínio da humanidade reduzida a escravidão universal e senhoreada por eles... é isso o que perseguem. Talvez não acreditem em Deus. O teu atormentado Inquisidor é uma mera fantasia.
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ignomínia
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Ivan encaminhava-se para casa de seu pai sentindo uma opressão que aumentava a cada passo. O extraordinário não estava precisamente nisso, mas porque não conseguia saber o porquê. Eram frequentes os seus abatimentos e não podia surpreendê-lo a sua atual prostração quando acabava de romper com tudo o que o retinha na cidade e se dispunha a lançar-se numa vida nova, a mergulhar no futuro, onde, como sempre, se veria só com as suas esperanças, com as suas aspirações, que o enchiam, transbordando mesmo, sem ter chegado até a concretizá-las. Mas, agora, à parte a angústia do desconhecido, que ...more
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«Sinto-me doente de angústia e não sei, não sei o que me falta. Melhor será não pensar.» Tentou desviar em vão o pensamento. O que mais o mortificava e exasperava era sentir aquele peso como algo acidental que permanecia fora da sua alma, embora perto mas sem um ponto fixo, o que sucede por vezes com um objeto posto em frente dos nossos olhos que, por abstraídos que estejamos no trabalho ou na conversa e não o notemos, nos estorva, molesta e atormenta, até que, reagindo, afastamos o incómodo, que é insignificante, qualquer coisa fora do lugar, um lenço caído, um livro mal colocado, etc.
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Nisto, como em tudo, começou a revelar uma vaidade ilimitada, um amor próprio que se sentia ferido à menor contradição, o que desgostou Ivan e acabou por afastá-lo do seu convívio.
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Em geral havia algo surpreendente no lógico incoerente dos desejos que deixava prever sem os expor nunca com clareza. Smerdyakov perguntava sempre, fazia alusões que obedeciam a algo premeditado, sem se saber porquê, e de repente parava o discurso ou iniciava outro assunto. Mas o que enojava Ivan sobretudo era aquela peculiar, repulsiva e sempre crescente familiaridade que se permitia o lacaio.
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visto naquela altura não tomaria o seu riso por sinal de alegria. Talvez nem ele mesmo tivesse podido explicar que espécie de sentimentos o provocavam enquanto caminhava agitado de um louco frenesi.
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Era muito tarde e Ivan continuava desperto e preocupado, ficando de pé até às duas da madrugada. Não analisaremos aqui as suas reflexões, nem é ainda tempo de penetrarmos nesta alma, como faremos oportunamente. Ainda que o tentássemos, difícil seria expor os seus pensamentos pois que o cérebro se encontrava cheio de uma estranha confusão exaltada por uma excitação intensa.
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jovem e agora, no fim da minha peregrinação, parece que está outra vez a meu lado. É admirável, padres e mestres, que Aliocha, o qual tem fisicamente alguma semelhança com ele, embora pouca, se lhe pareça espiritualmente com tal exatidão que muitas vezes vi neste jovem o meu próprio irmão, misteriosamente volvido a mim, nas últimas jornadas da minha vida, como um aviso, como uma inspiração. Isto maravilha-me como se fosse um sonho prodigioso.
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Não é preciso mais do que uma semente pequeníssima. Deixai-a cair no coração do aldeão e não se perderá, pois viverá na sua alma toda a vida, brilhando como uma luzinha, como uma grande recordação nas trevas do seu íntimo e do próprio pecado.
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E de que servirá a palavra de Cristo, se não pregarmos com o exemplo? Deixa-se o povo sem a palavra divina e o povo está sedento dela e de tudo quanto seja edificante.
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mas a vida está arranjada de maneira tão grotesca que é quase impossível atuar de outro modo
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Não poderão compreender bem isto — respondia eu — enquanto o mundo não caminhar por uma senda diferente durante muito tempo, e enquanto aceitarmos como verdades as maiores mentiras e obriguemos os outros a aceitá-las. Agi com sinceridade uma vez na vida, e todos me olham já como um perturbado. Veem como vós próprios, sendo meus amigos se riem de mim?
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O homem do mundo tem tendência a envergonhar-se das ações retas...
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A humanidade está hoje dividida em unidades, disseminada, cada homem mantém-se no seu buraco, afastado dos outros, escondendo-se a si mesmo, e a tudo quanto possui, dos demais.
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acostumados a não confiar mais do que em si mesmos, e obstinados em não crer na ajuda dos demais, na do próximo e na da humanidade, tremem com medo de perder as riquezas e privilégios que conseguiram. Ninguém quer compreender, para escárnio dos homens da nossa época, que a verdadeira defesa tem de ser fundada numa solidariedade social e não no esforço individual isolado.
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Porque o mundo diz: «Satisfazei os vossos desejos, pois tanto direito tendes vós como o rico e o poderoso. Não temais satisfazê-los, antes sim multiplicai-os.» Eis a moderna doutrina do mundo. E nela dizem que se apoia a liberdade. Mas que resulta deste direito à multiplicação de desejos? No rico, o isolamento e o suicídio espiritual; no pobre, a inveja, o crime. Já que lhe outorgam os direitos e não lhe ensinam a satisfazer as suas necessidades, asseguram que o mundo está cada vez mais unido, e estreitam mais os laços de fraternidade, como se desaparecessem as distâncias e as doutrinas se ...more
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Como se despojará o homem dos seus vícios, e que pode esperar-se desse escravo de si próprio acostumado à satisfação de todas as necessidades que inventou? Isolado no seu egoísmo, que lhe importa o resto da humanidade? Vão-se amontoando riquezas, mas a alegria terá diminuído no mundo.
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Resisto aos meus gostos supérfluos e desnecessários, subjugo e castigo com a obediência o meu orgulho e vaidade, e por intermédio de Deus, consigo assim a liberdade de espírito que traz consigo a alegria.
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O mesmo não acontece nas classes elevadas, sequazes da ciência, que querem basear a justiça na razão divorciada de Cristo, como antes, e já proclamam que não existe o crime, que não existe o pecado. E isto é lógico, porque se não há Deus, que significaria o crime?
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É um sonho que os homens tenham de acabar por encontrar alegria só nos seus atos brilhantes e misericordiosos, e não como agora em prazeres de crueldade?
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Na realidade eles são uns sonhadores, mais fantásticos do que nós. A sua aspiração à justiça, sem Cristo, acabará por inundar a terra de sangue, porque o sangue quer sangue e aquele que «com ferro mata com ferro morre». E se não fosse a promessa de Cristo, destruir-se-iam entre si até não ficarem mais de dois sobre a terra. Mas nem estes dois poderiam suportar-se no seu orgulho, e um mataria o outro e logo a si mesmo.
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Talvez mesmo nem o mencionasse, a não ser pela forte influência que exerceu na vida do que seria o herói principal da minha história, Aliocha, que passou então por um momento crítico no desenvolvimento do seu espírito e sentiu uma sacudidela na sua inteligência, ficando fortalecido para o resto dos seus dias e com uma visão clara do caminho que havia de seguir.
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respondeu Aliocha com indiferença. E a imagem de Dmitri veio-lhe à ideia. Foi um momento, e ainda que o tenha feito lembrar um dever, um terrível compromisso, nem esta recordação o impressionou, desvanecendo-se, pelo contrário, como o fumo, esquecendo-a em seguida.
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Olha, Aliocha, cheguei a amar as minhas lágrimas nestes cinco anos... Talvez ame o meu ressentimento e não quem o causou.
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Que fiz eu por si? — respondeu Alexey inclinando-se para lhe pegar nas mãos. com doçura. — Ao fim e ao cabo só lhe dei uma cebola, uma cebolinha!
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Começou as suas orações sentindo-se sossegado de todo, mas depressa percebeu que orava rotineiramente. Passavam-lhe pela mente ideias libertinas que o alumiavam como um clarão e se desvaneciam como estrelas fugazes. No entanto, dominava na sua alma um sentimento de totalidade, de plenitude, de algo consistente e animador. Notava-o bem. Por vezes, afervorado, sentia vivos desejos de exteriorizar o seu reconhecimento, o seu amor.