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lugar da fé, que opera milagres, entra a ação. É ação heroica que cria milagres; a ação humana se vê comprometida a isso por seu nascimento. Assim,
homem moderno, ao contrário, estaria passivamente exposto ao processo anônimo da vida. Também o pensamento degeneraria em cálculo como função cerebral.
Arendt acredita inclusive poder denotar sinais de perigo “de que o homem poderia estar em vias de transformar-se na espécie animal da qual ele parece descender desde Darwin”
como faz um caracol, se recobre de uma casa de metal, e como fazem as bactérias reagindo aos antibióticos ao se modificarem em espécies mais resistentes[24]
A sociedade laboral individualizou-se numa sociedade de desempenho e numa sociedade ativa. O
Visto com precisão, o animal laborans pós-moderno é tudo menos animalesco.
É hiperativo e hiperneurótico.
Nada promete duração e subsistência. Frente a essa falta do Ser surgem nervosismos e inquietações.
Também as religiões enquanto técnicas fanáticas, suprimindo o medo da morte e produzindo
próprio Nietzsche dissera que após a morte de Deus a saúde se erige como uma deusa.
Precisamente frente à vida desnuda, que acabou se tornando radicalmente transitória, reagimos com hiperatividade, com a histeria do trabalho e da produção.
especificidade desse campo de trabalho é que somos ao mesmo tempo prisioneiro e vigia, vítima e agressor.
Justo a ênfase no ser-ativo tem muito em comum com a hiperatividade e a histeria do sujeito de desempenho pós-moderno.
Arendt, Cícero interpela seus leitores a afastar-se do “fórum” e do “burburinho da multidão” e retirar-se para a solidão de uma vida contemplativa.
Ela não consegue ver que precisamente a perda da capacidade contemplativa, que não por último depende da absolutização da vita activa, é corresponsável pela histeria e nervosismo da sociedade ativa moderna.
contraposição à concepção de Arendt, também na tradição cristã não se preza primariamente uma prevalência unilateral da vita contemplativa.
Devemos aprender a ler, devemos aprender a pensar, devemos aprender a falar e a escrever.
Em vez de liberdade, ela acaba gerando novas coerções.
Hoje, cada vez mais ela cede lugar à irritação ou ao enervar-se, que não podem produzir nenhuma mudança decisiva.
crescente positivação da sociedade enfraquece também sentimentos como angústia e luto, que radicam numa
empuxo daquela positivação geral do mundo, tanto o homem quanto a sociedade se transformam numa máquina de desempenho autista.
Segundo Hegel, é precisamente a negatividade que mantém viva a existência.
negatividade do não-para é também um traço essencial da contemplação.
Tanto a “angústia” de Heidegger quanto a “náusea” de Sartre são reações tipicamente imunológicas.
auxiliar “Nippers”, exageradamente ambicioso, é atormentado por um distúrbio intestinal psicossomático.
sociedade descrita por Melville é ainda uma sociedade disciplinar. Assim, todo relato está perpassado de muros e paredes, elementos de uma arquitetura da sociedade disciplinar. “Bartleby”
Ele ainda não desenvolve sintomas daquela depressão que é uma marca característica da sociedade do desempenho pós-moderna.
Os sentimentos de insuficiência e de inferioridade ou de angústia frente ao fracasso ainda não fazem parte da economia dos sentimentos de Bartleby.
Ele não se vê confrontado com aquele imperativo de ter de ser ele mesmo, que marca a sociedad...
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aquele excesso de positividade ou de possibilidade. Ele não suporta o peso do imperativo pós-moderno, de começar a abandonar o próprio
na sociedade das convenções e instituições, não conhece aquele exagero de trabalho do eu, que leva a um cansaço do eu depressivo.
seria anunciante, querigmática.
Ele sucumbe como um “naufrágio em meio ao Atlântico”. A fórmula de Bartleby “I would prefer not to” afasta-se de qualquer interpretação messiânico-cristológica.
Como contraponto, a sociedade do desempenho e a sociedade ativa geram um cansaço e esgotamento excessivos.
excesso da elevação do desempenho leva a um infarto da alma.
Eu imagino ‘cansado’ como a sociedade pentecostal recebe o espírito, através do banco. A inspiração do cansaço diz menos o que se deve fazer do que aquilo que pode ser deixado de lado”. O
O cansaço de esgotamento não é um cansaço da potência positiva. Ele nos incapacita de fazer qualquer coisa. O cansaço que inspira é um cansaço da potência negativa, a saber, do não-para.
Também o Sabah, que originalmente significa parar, é um dia do não-para, um dia que está livre de todo para-isso,
cansaço dá o compasso ao indivíduo disperso”[34]. Aquela “sociedade pentecostal” que inspira ao não fazer se contrapõe à sociedade ativa. Ele
uma sociedade dos cansados em sentido específico.
O aparato psíquico freudiano, dotado de mandamentos e proibições, é um aparato repressivo e impositivo. Está estruturado como uma sociedade disciplinar, composta de hospitais, asilos, presídios, quartéis e fábricas. Por isso, a psicanálise freudiana só pode ser efetiva numa sociedade repressiva, que baseia sua organização na negatividade das proibições.
aparato psíquico de Freud é dominado pelo medo e pela angústia frente à transgressão.
Mas isso já não se aplica ao sujeito de desempenho da pós-modernidade. Esse é um sujeito da afirmação.
Também o sujeito kantiano está dividido em si, como acontece com o sujeito freudiano.
sujeito obediente não é um sujeito do prazer, mas um sujeito do dever. Assim, também o sujeito kantiano segue um trabalho de dever, reprimindo suas “inclinações”.
desempenho moral compensa. O sujeito moral que aceita também a dor e o sofrimento por causa da moralidade está seguro de receber a gratificação.
sujeito de desempenho da modernidade tardia não se submete a nenhum trabalho compulsório. Suas máximas não são obediência,