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Dois elementos, ou, se quiserem, duas forças regem o universo: o elemento espiritual e o elemento material.
Esta obra é, pois, como já o dissemos, um complemento das aplicações do Espiritismo, de um ponto de vista especial. Os materiais se achavam prontos, ou, pelo menos, elaborados desde longo tempo, mas ainda não chegara o momento de serem publicados. Era preciso, primeiramente, que as ideias destinadas a lhes servirem de base houvessem chegado à maturidade e, além disso, que se levasse em conta a oportunidade das circunstâncias.
O Espiritismo não tem mistérios nem teorias secretas; tudo nele deve ser dito com clareza, a fim de que todos o possam julgar com conhecimento de causa. Cada coisa, entretanto, tem de vir a seu tempo, para vir com segurança. Uma solução dada precipitadamente, antes da elucidação completa da questão, seria mais uma causa de atraso do que de avanço.
todas as ciências que nos fazem conhecer os mistérios da natureza são revelações e se pode dizer que há para a humanidade uma revelação incessante. A Astronomia revelou o mundo astral, que não conhecíamos; a Geologia revelou a formação da Terra; a Química, a lei das afinidades; a Fisiologia, as funções do organismo etc.
A característica essencial de qualquer revelação tem que ser a verdade.
Revelar um segredo é tornar conhecido um fato; se é falso, já não é um fato e, por conseguinte, não existe revelação. Toda revelação desmentida pelos fatos deixa de o ser, caso seja atribuída a Deus. E, visto que não podemos conceber Deus mentindo, nem se enganando, ela não pode emanar dele; logo, deve ser considerada produto de concepção humana.
O homem de gênio é um Espírito que, tendo vivido mais tempo, adquiriu e progrediu mais do que aqueles que estão menos adiantados. Ao encarnar, traz o que sabe e, como sabe muito mais do que os outros e não precisa aprender, é chamado homem de gênio. Mas seu saber é fruto de um trabalho anterior e não resultado de um privilégio. Antes de renascer, já era Espírito adiantado; reencarna para fazer que outros aproveitem do seu saber ou para adquirir mais do que possui.
Os homens progridem incontestavelmente por si mesmos e pelos esforços da sua inteligência. Mas, entregues às próprias forças, só muito lentamente progrediriam, se não fossem auxiliados por outros mais adiantados, como o estudante o é pelos professores.
Todos os povos tiveram homens de gênio, que surgiram em diversas épocas para impulsioná-...
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Esses gênios, que aparecem através dos séculos como estrelas brilhantes, deixando longo traço luminoso sobre a humanidade, são missionários ou, se o quiserem, messias.
Se Deus suscita reveladores para as verdades científicas, pode, com mais forte razão, suscitá-los para as verdades morais, que constituem elementos essenciais do progresso. Tais são os filósofos cujas ideias atravessam os séculos.
No sentido especial da fé religiosa, a revelação se diz mais particularmente das coisas espirituais que o homem não pode descobrir por si mesmo, nem com o auxílio dos sentidos; e esse conhecimento lhe é dado por Deus ou por seus mensageiros, quer por meio da palavra direta, quer pela inspiração. Neste caso, a revelação é sempre feita a homens predispostos, designados sob o nome de profetas ou messias, isto é, enviados ou missionários, incumbidos de transmiti-la aos homens.
Todas as religiões tiveram seus reveladores, e estes, embora estivessem longe de conhecer toda a verdade, tinham uma razão de ser providencial, porque eram apropriados ao tempo e ao meio em que viviam, ao caráter particular dos povos a quem falavam e aos quais eram relativamente superiores.
Deus e a imortalidade da alma, se fundirão numa grande e vasta unidade, tão logo a razão triunfe dos preconceitos.
Infelizmente, as religiões têm sido, em todos os tempos, instrumentos de dominação; o papel de profeta sempre tentou as ambições secundárias e tem-se visto surgir uma multidão de pretensos reveladores ou messias, que, valendo-se do prestígio deste nome, exploram a credulidade em proveito do seu orgulho, da sua ganância ou da sua indolência, achando mais cômodo viver à custa dos iludidos.
O que parece certo é que os Espíritos mais próximos de Deus pela perfeição se impregnam do seu pensamento e podem transmiti-lo.
Quanto aos reveladores encarnados, segundo a ordem hierárquica a que pertencem e ao grau de saber a que chegaram, esses podem tirar de seus próprios conhecimentos as instruções que ministram, ou recebê-las de Espíritos mais elevados, mesmo dos mensageiros diretos de Deus, os quais, falando em nome deste, têm sido às vezes tomados pelo próprio Deus.
As instruções podem ser transmitidas por diversos meios: pela inspiração pura e simples, pela audição da palavra, pela vidência dos Espíritos instrutores, nas visões e aparições, quer em sonho, quer em estado de vigília, como se vê tantas vezes na Bíblia e nos livros sagrados de todos os povos.
É, pois, rigorosamente exato dizer-se que a maioria dos reveladores são médiuns inspirados, audientes ou videntes, o que não significa que todos os médiuns sejam reveladores, nem, ainda menos, intermediários diretos da Divindade ou dos seus mensageiros.
Só os Espíritos puros recebem a palavra de Deus com a missão de transmiti-la; mas sabe-se hoje que nem todos os Espíritos são perfeitos e que existem muitos que se apresentam sob falsas aparências, o que levou João a dizer: “Não acrediteis em todos os Espíritos; vede antes se os Espíritos são de Deus.” (1a Epístola, 4:1.)
O caráter essencial da revelação divina é o da eterna verdade. Toda revelação eivada de erros ou sujeita a modificações não pode emanar de Deus.
O Cristo e Moisés foram os dois grandes reveladores que mudaram a face do mundo e nisso está a prova da sua missão divina. Uma obra puramente humana não teria tal poder.
O Espiritismo, dando-nos a conhecer o mundo invisível que nos cerca e no meio do qual vivíamos sem o suspeitarmos, assim como as leis que o regem, suas relações com o mundo visível, a natureza e o estado dos seres que o habitam e, por conseguinte, o destino do homem após a morte, é uma verdadeira revelação, na acepção científica da palavra.
Por sua natureza, a revelação espírita tem duplo caráter: participa ao mesmo tempo da revelação divina e da revelação científica.
Participa da primeira porque foi providencial o seu aparecimento e não o resultado da iniciativa, nem de um desejo premeditado do homem;
Participa da segunda por não ser esse ensino privilégio de indivíduo algum, mas ministrado a todos do mesmo modo; por não serem os que o transmitem e os que o recebem seres passivos, dispensados do trabalho da observação e da pesquisa; por não renunciarem ao raciocínio e ao livre-arbítrio;
a Doutrina não foi ditada completa, nem imposta à crença cega porque é deduzida, pelo trabalho do homem, da observação dos fatos que os Espíritos lhe põem sob os olhos e das instruções que lhe dão, instruções que ele estuda, comenta, compara, a fim de tirar ele próprio as consequências e aplicações.
Em suma, o que caracteriza a revelação espírita é o fato de ser divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo a sua el...
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Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma maneira que as ciências positivas, isto é, aplicando o método experimental.
Quando fatos novos se apresentam, que não podem ser explicados pelas leis conhecidas, o Espiritismo os observa, compara, analisa e, remontando dos efeitos às causas, chega à lei que os preside; depois, lhes deduz as consequências e busca as aplicações úteis.
Não foram os fatos que vieram depois confirmar a teoria: a teoria é que veio subsequentemente explicar e resumir os fatos. É, pois, rigorosamente exato dizer-se que o Espiritismo é uma ciência de observação e não produto da imaginação.
pode-se então estudar todas as variedades e as causas de tão singular ilusão, reconhecer que tal situação é sobretudo própria de Espíritos pouco adiantados moralmente e peculiar a certos gêneros de morte; que é temporária, podendo, todavia, durar dias, meses e anos.
O Espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente; a Ciência sem o Espiritismo se acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria; ao Espiritismo, sem a Ciência, faltariam apoio e comprovação.
Todas as ciências se encadeiam e se sucedem numa ordem racional; nascem umas das outras à medida que encontram um ponto de apoio nas ideias e conhecimentos anteriores.
mas a matéria, por si só, é inerte, não tem vida nem pensamento; é preciso a sua união com o princípio espiritual.
O Espiritismo não descobriu nem inventou este princípio, mas foi o primeiro a demonstrá-lo, por meio de provas irrecusáveis; estudou-o, analisou-o e tornou-lhe evidente a ação. Ao elemento material, juntou ele o elemento espiritual. Elemento material e elemento espiritual, eis os dois princípios, as duas forças vivas da natureza.
Tendo por objeto o estudo de um dos elementos constitutivos do universo, o Espiritismo toca forçosamente na maior parte das ciências; só podia, portanto, vir depois da elaboração delas; nasceu pela força das coisas, pela impossibilidade de o homem explicar todas as coisas apenas com o auxílio das leis da matéria.
O simples fato de o homem poder comunicar-se com os seres do mundo espiritual traz consequências incalculáveis da mais alta gravidade; é todo um mundo novo que se nos revela e que tem tanto mais importância, quanto a ele hão de voltar todos os homens, sem exceção.
Razão há, pois, para que o Espiritismo seja considerado a terceira das grandes revelações. Vejamos em que essas revelações diferem e qual o laço que as liga entre si.
Deus que diz aos homens: “A vossa verdadeira pátria não é neste mundo, mas no reino celestial, lá onde os humildes de coração serão elevados e os orgulhosos serão humilhados.”
Deus de misericórdia, que diz: “Perdoai as ofensas, se quiserdes ser perdoados; fazei o bem em troca do mal; não façais a outrem o que não quereis que vos façam.”
Toda a doutrina do Cristo se funda no caráter que Ele atribui à Divindade. Com um Deus imparcial, soberanamente justo, bom e misericordioso, Ele fez do amor de Deus e da caridade para com o próximo a condição expressa da salvação, dizendo: Amai a Deus sobre todas as coisas e o vosso próximo como a vós mesmos; nisto estão toda a lei e os profetas; não existe outra lei. Sobre esta crença, assentou o princípio da igualdade dos homens perante Deus e o da fraternidade universal.
Mas era possível amar o Deus de Moisés? Não; só se podia temê-lo.
Entretanto, o Cristo acrescenta: “Muitas das coisas que vos digo ainda não as podeis compreender, e muitas outras eu teria a dizer, que não compreenderíeis; é por isso que vos falo por parábolas; mais tarde, porém, enviar-vos-ei o Consolador, o Espírito de Verdade, que restabelecerá todas as coisas e vo-las explicará todas.” (João, 14:16; Mateus, 17.) Se, pois, o Cristo não disse tudo quanto poderia dizer, é que julgou conveniente deixar certas verdades na sombra até que os homens estivessem em condição de compreendê-las.
Como Ele próprio o confessou, seu ensino era incompleto, visto anunciar a vinda daquele que deveria completá-lo; previra, pois, que suas palavras seriam desprezadas ou mal interpretadas, e que os homens se desviariam do seu ensino; em suma, que desfariam o que Ele fez, uma vez que todas as coisas hão de ser restabelecidas.
Ora, as ciências tornam conhecidas algumas leis; o Espiritismo revela outras; todas são indispensáveis à compreensão dos textos sagrados de todas as religiões, desde Confúcio12 e Buda13 até o Cristianismo.
O Espiritismo, partindo das próprias palavras do Cristo, como este partiu das de Moisés, é consequência direta da sua doutrina.
À ideia vaga da vida futura, acrescenta a revelação da existência do mundo invisível que nos rodeia e povoa o espaço, e com isso precisa a crença, dá-lhe um corpo, uma consistência, uma realidade à ideia. Define os laços que unem a alma ao corpo e levanta o véu que ocultava aos homens os mistérios do nascimento e da morte.
Pelo Espiritismo, o homem sabe de onde vem, para onde vai, por que está na Terra, por que sofre temporariamente e vê ...
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Sabe que a alma progride incessantemente, através de uma série de existências sucessivas, até atingir o grau de perfeição que a aproxima de Deus. Sabe que todas as almas, tendo um mesmo ponto de origem, são criadas iguais, com a mesma aptidão para progredir, em virtude do seu livre-arbítrio; que todas são da mesma essência e que não há diferença entre elas, senão quanto ao progresso realizado; que todas tê...
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