Incidente em Antares

by Erico Verissimo

Rosinha foi a única pessoa que compareceu ao enterro de Erotildes no cemitério dos indigentes. Trouxe-lhe algumas flores que roubara do jardim dos Campolargos e entre as quais se viam algumas das rosas queridas de d. Quitéria.

No sistema capitalista, meu amigo, todos os absurdos são possíveis.

Kkkkkkk Até os mortos voltarem? O capitalismo faz milagres.

Libindo Olivares

Professor pederasta

Inocêncio Pigarço

Delegado torturador.

Organizar uma campanha muito hábil, sutilíssima, no sentido de apagar esse fato não só dos anais de Antares como também da memória de seus habitantes. Sugiro (aqui entre nós) um nome para esse movimento: Operação Borracha.

Eles que tinham os maiores podres queriam se esconder e esconder as falcatruas. A política nunca muda.

Podemos contar com vários aliados nessa campanha, a saber: o tempo, que tem uma função de borracha e de água, pois aos poucos vai apagando e lavando tudo...

A gente não deve nunca enterrar as coisas que ama.

Na calçada, no lugar em que o rapaz caiu, ficou uma larga mancha de sangue enegrecido, na qual a imaginação popular — talvez sugestionada por elementos da esquerda — julgou ver a configuração do Brasil. (É assim que nascem os mitos.)

É o que se vê com o "mito" do Bolsonaro e do Lula.

“Noventa milhões em ação, pra frente Brasil, salve a seleção…”, começava uma delas. Ou de músicas ufanistas, como a que anunciava: “Eu te amo, meu Brasil, eu te amo, meu coração é verde, amarelo, branco, azul anil…”. Multiplicavam-se slogans como “Brasil, ame-o ou deixe-o”,

Nada podia se opor à construção do Brasil Grande. “A Revolução”, que foi como os militares descreveram sua presença no governo, “era irreversível.”

E nada aconteceu. A revolução militar só nos atrasou.

Com seu jeito sempre quieto, sóbrio e comedido, e por detestar a violência praticada sob todos os matizes ideológicos, traçou um dos libelos mais contundentes contra as ditaduras e a supressão das liberdades.

Erico costumava representar-se em personagens que faziam parte de seu espaço ficcional, como o Tônio Santiago de O resto é silêncio, ou o Floriano Cambará de O tempo e o vento. Aqui ele se espelha em um professor de ciências sociais, Martim Francisco Terra,