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Quando chegou a Antares a notícia de que as Forças Armadas, sob o comando do ministro da Guerra, tinham acabado de dar um golpe de Estado, Tibério Vacariano exultou, saiu para a rua, fez um comício mirim na praça, e bravateou durante o chimarrão das dez. O país estava salvo! Sua alegria, porém, foi de curta duração, pois em breve se esclareceu que a finalidade daquele movimento militar fora a de garantir a posse dos candidatos eleitos.
“golpe preventivo”.
por estar procurando incutir na nação brasileira a ideia de que ela tinha “um encontro marcado com o Destino, e um grande papel a representar no palco da História”,
A 21 de abril de 1960, no último ano de seu governo, o presidente Kubitschek inaugurou Brasília oficialmente.
Nós... nós lá no Rio Grande não iremos... iremos nunca para diante... sem primeiro enterrar definitivamente certos cadáveres simbólicos... Gaspar Martins, Júlio de Castilhos, Borges de Medeiros... Getulio Vargas... e outros, outros...
Eu quero que os homens da nossa... da nossa geração compreendam que seu tempo passou... que não podemos continuar olhando para trás... recordando as nossas cargas de cavalaria...
Não aceito essas ideias modernas de socialismo, comunismo e sei lá que mais.
Morrer não é privilégio de ninguém. Todos morrem. Os ricos e os pobres, os inteligentes e os estúpidos. Uma das coisas que aprendi com a velhice foi fazer as pazes com a minha morte.
O diabo sabe muito mais por velho do que por diabo.
No dia 25 de agosto de 1961, exatamente sete anos e um dia depois do suicídio de Getulio Vargas, chegou a Antares a notícia de que Jânio Quadros acabava de apresentar ao Congresso Nacional a sua renúncia ao cargo de presidente da República.
O governador Leonel Brizola, cunhado de João Goulart, dramaticamente de metralhadora portátil a tiracolo, fazia as suas proclamações por intermédio da imprensa e duma cadeia de estações de rádio, afirmando repetida e categoricamente à nação que não aceitaria nenhum golpe, e que ele estava decidido a resistir pelas armas.
A experiência parlamentar no Brasil durara escassamente dezesseis meses e fora um fracasso.
Defendamos a nossa crença em Deus, na Pátria, na Família e na Propriedade!
desde a irrupção da revolução vitoriosa de 31 de março, trezentas e setenta e oito pessoas tinham tido seus direitos políticos suspensos, dez mil funcionários haviam sido demitidos ou obrigados a se demitirem e que estavam em processo cerca de cinco mil investigações que envolviam umas quarenta mil pessoas em todo o território nacional.
Nunca ouviu falar na velha Ana Terra, que até hoje é venerada em Santa Fé, a cidade que ela ajudou a fundar. Era uma pioneira na acepção exata do termo, mulher corajosa, de virtudes altíssimas.
E eu acho, meu caro, que cada um de nós tem nas suas mais remotas cavernas interiores um troglodita adormecido que, submetido a um certo tipo de estímulo, vem rapidamente à tona de nosso ser e se transforma num déspota totalitário capaz de todas as bestialidades.
Pense na História e me diga quando, em que tempo o ridículo não andou de braço dado com o sublime.
A festa acabou. Temos de tomar nosso destino em nossas próprias mãos com a maior seriedade e decisão. Não seremos mais tratados como meninos irresponsáveis, mas como adultos. Ninguém nos dará mais presentes. O preço de ficar adulto é bastante alto, não nos iludamos...
Os pessimistas, meu caro, estão muito mais protegidos neste mundo que os otimistas. Divertem-se menos, concordo.
Temos uns meninos que estudam em Porto Alegre ou São Paulo, bebem uísque Chivas Regal, dizem que leem Proust e Kafka, têm carros ingleses ou alemães e vão de vez em quando a Buenos Aires.
cuando la dicha es buena.
E o nosso Erico Verissimo? — Nosso? Pode ser seu, meu não é. Li um romance dele que fala a respeito do Rio Grande de antigamente. O Zózimo, meu falecido marido, costumava dizer que por esse livro se via que o autor não conhece direito a vida campeira, é “bicho de cidade”. Há uns anos o Verissimo andou por aqui, a convite dos estudantes, e fez uma conferência no teatro. Fui, porque o Zózimo insistiu. Não gostei, mas podia ter sido pior. Quem vê a cara séria desse homem não é capaz de imaginar as sujeiras e despautérios que ele bota nos livros dele. — A senhora diria que ele também é comunista?
em matéria de política, o Erico Verissimo é um inocente útil.
Leonel Brizola, que repete como um disco quebrado essa coisa de remessa dos lucros das empresas estrangeiras, espoliação, reforma agrária, entreguismo, et cetera e tal...
O Tibério é um velho chineiro e desfrutável. Viveu metido em negociatas durante o Estado Novo e os outros Estados que se seguiram. Tem duas mulheres, o salafrário, a legítima e a amante.
Nossos políticos profissionais, gente pela qual não tenho a menor simpatia, costumam apelar periodicamente ao Exército a fim de tomarem o poder.
Democracia qual nada, governador! O que temos no Brasil é uma merdocracia.
É curioso — retrucou Pedro-Paulo —, estranho que haja tanto respeito pelos mortos e tão pouco pelos vivos. — Encolheu os ombros. — Claro! É fácil ser justo e compreensivo para com os que morrem. Basta enterrá-los... e eles nos deixam em paz. Agora, é difícil compreender e ajudar os vivos vinte e quatro horas por dia, todos os dias do ano, ano após ano...
Viver, para muitos, às vezes parece até uma espécie de cacoete.
Causou estranheza o fato de seus corpos não produzirem nenhuma sombra.
Apodrecer é o destino de toda carne... o que é uma bela frase.
Diz pra Deus que me dê uma boa morte, já que não me deu uma boa vida.
Sentes alguma coisa? — e a voz de Rita vem abafada através do lenço. — Sinto! Sinto! Ele está vivo e é nosso!
Mas é que a morte não matou o meu amor por vocês. Nem por todos os seres vivos do mundo. Nem pelo mundo... e pela vida.
a do dr. Getulio Vargas, que ela adorava como se ele fosse um santo. O Velho tinha morrido, e estava no céu, apesar de ter dado um tiro no próprio coração. Deus não teria coragem de mandar o dr. Getulio para o inferno. Todas as manhãs, tirante a de domingo, antes de começar a limpeza da peça, Acácia costumava ajoelhar-se diante da imagem do Pai dos Pobres e recitar atabalhoadamente uma oração, em geral um pai-nosso.