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Tem um ponto de marca, que dele não se pode mais voltar para trás.
Para lá fomos, de rastros apagados. Caminhamos prazo dentro de riacho, depois escolhemos para pisar pedras, de nosso pisado com ramos as marcas desmanchamos, e o mais do caminho se seguiu por muitos diversos rodeios.
Acho que, de cansado, estava também com dôres redondas de cabeça, molhei minhas fontes. Cansaço faz tristeza, em quem dela carece.
Quase com um peso, por minha culpa dos dois — eles eu era quem tinha escolhido, para conduzir, e depois tudo. Logo esses — o senhor sabe, o senhor segue comigo. Remorso? Por mim, digo e nego.
Num ponto me agradei: então, em guerra, quase não se morre?
Jõe Bexiguento achava que não tinha mais sustância para ser jagunço; duns meses, disse, andava padecendo da saúde, erisipelava e asmava. — “Cedo aprendi a viver sozinho. P’ra o Riachão vou, derrubo lá um bom mato...” Era o projeto em tal, que ele formava vez em quando. — “Trabalhar de amassar as mãos... Que isso é que sertanejo pode, mesmo na barra da velhice...”
Porque eu estava sem sono, sem sede, sem fome, sem querer nenhum, sem paciência de estimar um bom companheiro.
Por me ver casca em chão, que é o figurado de desprezo,
Homem como eu não é todo capaz de guardar a parte de amor, em desde que recebe muitas ofensas de desdém.
— “S’as ordens, s’or...”
Mas o Hermógenes se saíu em só dizer, sério, confioso: que Joca Ramiro era maludo capitão, vero, no real.
“A ele nego água, na boca do pote!”
Aquilo era a tristonha travessia, pois então era preciso.
acho que o sentir da gente volteia, mas em certos modos, rodando em si mas por regras. O prazer muito vira medo, o medo vai vira ódio, o ódio vira esses desesperos? — desespero é bom que vire a maior tristeza, constante então para o um amor — quanta saudade... —; aí, outra esperança já vem...
E o que se falava mais era em mulher? Isso fazia muito boa falta. Cada um queria delas, no que só pensava. As mocinhas próprias de se provar, ou rua alegre cheia de alegria — o bom sempre melhor, o bom. Amigo meu, o Umbelino — esse que dizia: que, por não ter mulher ali, se tinha de muito lembrar. Ele era do Rio Sirubim, de um lugar para trás das cachoeiras. Valia como companheiro, capaz d’armas. Que que pequeno, era bom. Relembrava: — “Já tive uma mulher amigável só minha, na Rua-do-Alecrim, em São Romão, e outra, mais, na Rua-do-Fogo...” Essas conversas, com o calor. Calor em que cão pendura
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O senhor me crê? E foi então que eu acertei com a verdade fiel: que aquela raiva estava em mim, produzida, era minha sem outro dono, como coisa solta e cega. As pessoas não tinham culpa de naquela hora eu estar passeando pensar nelas. Hoje, que enfim eu medito mais nessa agenciação encoberta da vida, fico me indagando: será que é a mesma coisa com a bebedice de amor? Toleima.
O senhor ainda me releve. Mas, na ocasião, me lembrei dum conselho que Zé Bebelo, na Nhanva, um dia me tinha dado. Que era: que a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar de ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e fato é. Zé Bebelo falava sempre com a máquina de acerto — inteligência só. Entendi. Cumpri. Digo: reniti, fazendo finca-pé, em força para não esparramar raivas.
Montei, fui trotando travado. Diadorim e o Caçanje iam já mais longe, regulado umas duzentas braças. Arte que perceberam que eu vinha, se viraram nas selas. Diadorim levantou o braço, bateu mão. Eu ia estugar, esporeei, queria um meio-galope, para logo alcançar os dois. Mas, aí, meu cavalo f’losofou: refugou baixo e refugou alto, se puxando para a beira da mão esquerda da estrada, por pouco não deu comigo no chão. E o que era, que estava assombrando o animal, era uma folha seca esvoaçada, que sobre se viu quase nos olhos e nas orêlhas dele. Do vento. Do vento que vinha, rodopiado. Redemoinho:
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Tristeza é notícia? Tanto eu tinha um aperto de desânimo de sina, vontade de morar em cidade grande. Mas que cidade mesma grande nenhuma eu não conhecia, digo. Assim eu aproveitei para olhar para a banda de donde ainda se praz qualquer luz da tarde. Me lembro do espaço, pensamentos em minha cabeça. O riacho cão, lambendo o que viesse. O coqueiro se mesmando. A fantasia, minha agora, nesta conversa — o senhor me atalhe. Se não, o senhor me diga: preto é preto? branco é branco? Ou: quando é que a velhice começa, surgindo de dentro da mocidade. Noitezinha, viemos. Primeira coruja que a ãoar, eu
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Sô Candelário chega exclamava, chorava: dizia que nunca tinha chefiado pessoal tão valente feito nós, com tantas capacidades.
E Joca Ramiro. A figura dele. Era ele, num cavalo branco — cavalo que me olha de todos os altos. Numa sela bordada, de Jequié, em lavores de preto-e-branco. As rédeas bonitas, grossas, não sei de que trançado.
E, quando ele saía, o que ficava mais, na gente, como agrado em lembrança, era a voz. Uma voz sem pingo de dúvida, nem tristeza. Uma voz que continuava.
Diadorim me olhava, com um contentamento. Me chamou de lado. Vi que, mesmo sendo assim querido e escolhido de Joca Ramiro, ele procedia mais de ficar de longe, por ninguém se queixar, não acharem que ali havia afilhadagem. — “Não é que ele é mesmo o chefe de todos? Não é que é mandante?” — Diadorim me perguntava. Era.
Só para o nome-da-mãe ou de “ladrão” era que não havia remédio, por ser a ofensa grave.
Crime, que sei, é fazer traição, ser ladrão de cavalos ou de gado... não cumprir a palavra...” — “Sempre eu cumpro a palavra dada!” — gritou de lá Zé Bebelo.
Briguei muito mediano, não obrei injustiça nem ruindades nenhumas; nunca disso me reprovam.
Julgamento — isto, é o que a gente tem de sempre pedir! Para que? Para não se ter medo! É o que comigo é. Careci deste julgamento, só por verem que não tenho medo... Se a condena for às ásperas, com a minha coragem me amparo. Agora, se eu receber sentença salva, com minha coragem vos agradeço. Perdão, pedir, não peço: que eu acho que quem pede, para escapar com vida, merece é meia-vida e dobro de morte. Mas agradeço, fortemente.
Curtamente: dali da Sempre-Verde, com um dia mais, desapartamos. O bando muito grande de jagunços não tem composição de proveito em ocasião normal, só serve para chamar soldados e dar atrasamento e desrazoada despesa.
106. Separação dos bandos
Curtamente: dali, da Sempre-Verde, com um dia mais, desapartamos. O bando muito grande de jagunços…
E a gente raivava alto, para retardar o surgir do medo — e a tristeza em crú — sem se saber por que, mas que era de todos, unidos malaventurados.
Mas nós passávamos, feito flecha, feito faca, feito fogo.
Sô Candelário, piorado doente, devia de estar um tempo desses nos Lençóis, para onde portador seguira, com pressa de chamado.
Sofrimento passado é glória, é sal em cinza.