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Para meus pais. Espero que gostem(quando lerem). Mas também para Túlio, meu professor de filosofia. Obrigada por tomar todo o meu horário de intervalo no terceiro ano para uma aula sobre o que era Metanoia. Esse livro não existiria sem você — ou, talvez, apenas tivesse um outro título.
Há uma linha tênue entre ser uma pessoa fodida e estar fodido. Quando Daniel William Xavier acordou em um quarto que ele não conhecia, com uma dor de cabeça insuportável, ele soube que poderia ter feito a proeza de ser as duas coisas simultaneamente.
— Meu rosto fica aqui em cima, princesa — ele grunhiu, usando uma mão para se apoiar na parede. Inferno de dor. — Não que seja muito melhor. — Ela rebateu, simplesmente, antes de passar ao seu lado com indiferença. Até mesmo bateu o cotovelo nele.
Porque, em primeiro lugar, ela estava bonita pra cacete. Não que nunca tivesse sido, é claro. Mas quando Will ainda treinava do time de seu pai, ela só tinha quinze anos, odiava aparecer no estádio para ver os treinos ao lado do pai, e se recusava a olhar para o rosto de William por tempo demais. Além disso, eles não se pareciam em nada. Marcos sempre dissera que sua filha tinha puxado quase que completamente a aparência da falecida mãe, da pele não-retinta até os cabelos escuros e cacheados. Nem um pouco parecida com o homem alto e de cabelos castanhos-claros que era o seu progenitor.
Mariana Dias passou a odiar festas quando o melhor jogador de futebol do mundo vomitou em seu vestido.
— Ana diz que ele é gay. Eu discordo.
— Não vou apostar isso com você, e nem deveríamos conversar sobre esse tema. — Sexo? — Mariana. — Putaria — ela rebateu, com um sorriso irritantemente vitorioso.
Revirando os olhos mentalmente. Estrangulando William mentalmente.
— Ele abandonou o meu pai! — ela exclamou, quase exasperada. — Deixou ele na merda pra se ferrar sozinho, sabendo que era um momento importante para o time. Ele sabia que era a melhor chance para todos os investimentos do meu pai, e deixou ele de lado. Ele é egoísta, arrogante, insuportável, ignorante, idiota, ridículo… — Oi, William — Fernando disse.
— Por que não começamos com a goleira? — Você sabe o meu nome. — Apresente-se. Babaca. — Mariana. E assim, uma por uma, o time feminino se apresentou. Vitória, Jade, Ana, Catarina, Andreia, Marcela, Raquel, Paula, Valéria e Samantha.
— Se ele não sair, eu saio — foi tudo o que ela disse antes de se trancar dentro do quarto.
— Pode deixar. — Daniel assentiu, e tornou a olhar para Marcos em seguida. — Não sei se te avisaram, mas entreguei um cheque para a direção do estádio. Fiquei sabendo dos problemas de segurança e nos vestiários e achei que seria bom ajudar com algo.
— Significa que estou fazendo um bom trabalho? — Daniel sorriu em seus dentes perfeitamente alinhados e brancos, apoiando o rosto sobre a mão. Ele sabia que não. Mas é claro que era a oportunidade perfeita para encher a paciência de Mariana. Que, ao contrário dele, sabia ser minimamente madura quando queria. — Como não faria? — Um sorriso calmo cruzou o seu rosto. — É uma pena que alguém tão brilhante como você não possa mais jogar. Mas é uma felicidade que seu nível esteja tão baixo a ponto de se tornar acessível para nós, meros mortais.
Aquela breguice de porto seguro, e todas as palavras que pareciam ridículas demais para que Mariana as dissesse em voz alta. Fernando era aquilo, e sempre seria.
— Só estou tentando ajudar. — Achei que me odiasse. — Acho que você não merece o tratamento valorizado que tem, não significa que eu fique feliz em te ver assim. — Gosto da sua sinceridade. — Não gosto de nada em você.
— Ei. — Paulo retornou quando estava prestes a abrir a porta. — Nós vamos pedir pizza, já que ele não fez nada para o jantar além de… beber. Você não quer ficar? — Ele não vai gostar. — Meu lema é foda-se o Will.
“Compromisso oficial?! William Xavier está com uma jogadora, e nós sabemos tudo sobre Mariana Dias”.
— Vou negar tudo assim que sair daqui, eu prometo — Daniel assegurou, trocando um olhar com Marcos antes de continuar. — A menos que, sabe, você queira fingir que é verdade. Mariana o encarou. Ela apenas o encarou, esperando que ele dissesse mais. Esperou que ele risse, que soltasse que era apenas uma brincadeira sem graça pra caralho. Não aconteceu. Daniel ainda a olhava como quem esperava por uma resposta — e também como quem estava com medo da sua expressão. — Eu vou chutar as suas bolas. — Olha, nós não vamos perder nada. E, cá entre nós, eu negar não vai adiantar também. No máximo você
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Depois de três horas, Mariana havia dormido e ele continuava assistindo. Não que tivesse muita escolha — e, mesmo se tivesse, ele provavelmente ainda não pararia. Em algum momento, Mariana havia apoiado a cabeça em seu ombro e esticado as pernas sobre as suas, e ele não iria acordá-la para se levantar. Mesmo que lhe causasse um certo incômodo, uma pontada que ele conhecia bem para os dias ruins, mas ainda não ruim o suficiente para que se preocupasse.
— Eu não te entendo — ela murmurou, quando ele se sentou no banco de passageiros. — Eu também não — Daniel confessou, balançando levemente a cabeça. A frase seguinte soou tão baixa quanto a primeira. — Mas gosto quando você me faz pensar nisso.
— Vá se arrumar. Você tá com uma cara péssima. — Não tem nada diferente na minha cara… — Exatamente, ela é sempre assim. Tente melhorar.
— Vocês têm tesão em brigar quando eu estou por perto? — Paulo acenou para que um garçom se aproximasse. — Porque, porra, é insuportável.
Daniel
— Quer me ver apanhar? — É o meu maior sonho —
Ela parou ao ver a figura loira deitada em sua cama. Daniel vestia uma camisa social exageradamente formal, combinando com a calça no mesmo tom de azul. Que combinava igualmente com ele. Havia, para completar, uma rosa, o cabo preso entre seus dentes.
Com os anos sendo… bem, ele mesmo, Daniel percebeu que havia um padrão com a forma como as coisas funcionavam. Primeiro, as pessoas o olhavam. Como se quisessem ter certeza de que era ele, o jogador — agora, ex-jogador — famoso, ou se não passava de uma alucinação. Depois, havia os burburinhos. De uma a uma, as pessoas eram informadas sobre a sua presença. Até mesmo os que não o conheciam — fosse de vista ou até pelo seu nome — ficavam sabendo que havia ali um astro mundial do futebol. Com isso, vinham as fotos tiradas discretamente, um flash ou outro aparecendo de forma inesperada. Era o mais
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— Que besteira, você me adora. — Hm. — Ele se inclinou sobre o braço do sofá, fitando-a. — E o que te faz pensar isso? — Você vive me elogiando como jogadora, e não adianta dizer que não. Eu descobri. — Sou seu treinador, é sua obrigação jogar bem. Mariana ergueu um dedo no ar, pedindo que ele se calasse. — Diz que eu sou bonita. — Você é. Não significa que eu goste de você e da sua companhia. — Você parou de me encher o saco nos treinos. — Faz parte do nosso combinado, princesa. — Me deu um carro. — Para a sua segurança — ele argumentou. — Comprou torta pra mim. Duas vezes. — Você precisava.
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— Preferia que você não fosse tão dramática. — É o meu jeitinho. Daniel sabia. Daniel adorava.
— Pare de falar como se eu fosse um adolescente, isso não vai destruir a minha vida. — Ela é uma mulher, pode destruir a sua vida em cinco segundos. — Paulo riu. — Homens são sonsos.
Agora, porém quando Mariana passou os braços ao redor do seu pescoço em um estúdio de fotografia cheio de pessoas, ele pensou seriamente na possibilidade de dar o número de sua conta bancária, de seu cartão de crédito e até a senha do cofre em seu quarto. Ela nem precisava pedir.
— Tipo…? — Vou decidir. Ela suspirou. — Fechado. — Bom negociar com você — ele brincou. — Não deixe Paulo usar o cartão, por favor. — Vou pensar. Talvez eu deixe como vingança. — Você é cruel, gosto disso.
Quando se olhou no espelho, porém, Mariana gostou do que viu. Talvez fosse a onda considerável de autoestima que havia lhe atingido nos últimos dias, ela não sabia. Mas ela gostou, e se sentiu surpreendentemente bem sob o vestido. — É esse — Paulo anunciou assim que ela saiu do provador. — Eu tenho quase certeza de que esse vestido foi feito para pessoas com peitos maiores… — ela murmurou, fazendo uma careta. — Não sei. Acha que vão gostar? — Depende. Você gostou? — É, sim. — Então pronto.
— Se você mexer nas minhas coisas outra vez, eu vou te matar. — Em minha defesa, eu não sabia que era um diário. Abri em uma página aleatória e, coincidentemente, era a mesma em que você falava sobre o quanto queria que eu cantasse Levo Comigo do Restart pra você. Aliás, você era fã do Restart?