Os dias mais estranhos - 28. Desejo (ambição, anseio, aspiração, fome)
Senti mais forte o cheiro do ar conforme sai do meu carro para passar para o dela. Era um cheiro carregado de sal e pesado espesso de humidade. Um ar típico de final de Outubro à beira-mar.Entrei para o carro dela, e o meu primeiro impulso foi o de querer abraça-la. Não o fiz. Esperei primeiro pela reacção dela. Ela tinha ainda um ar carregado e os seus olhos, embora cheios de lágrimas, não espelhavam dor ou tristeza, mas raiva.-Ele teve a ousadia, … – disse em tom carregado, falando para mim como se estivesse a falar com ele – ele teve a ousadia de me tocar. Bastardo, filho da puta… – disse já completamente aos gritos.Foi então que num impulso a agarrei e a puxei para mim. Ela sossegou de imediato quando a abracei, e ficou ali num silêncio irado. Aos poucos fomos deslizando até que ela ficou deitada ao meu colo, ao longo dos bancos, comigo debruçado por cima dela a envolve-la. Acendi um cigarro e passei-lhe, acendendo outro de seguida para mim. Ficamos em silêncio. Ela, talvez pelo efeito do som das ondas do mar e despedaçarem-se contra as rochas, ou pelo efeito das passas longas que dando no cigarro, foi-se acalmando e às tantas serenou os olhos e ficou ali, sossegada, a respirar devagar.Finalmente, abriu os olhos e voltou-se para mim. Olhou-me com o ar mais doce imaginável. Eu derreti-me.-Obrigado, meu anjo. Tu não tens nada que tár a levar com estes filmes…-Não te incomodes.-Não, a sério. Desculpa.-O quê?-Vens para aqui, assim, de repente.-Esquece… Ficamos mais um pouco em silêncio, mas os nossos olhos não se desviavam, perdidos que estavam no olhar do outro. Conforme a luz do farol rodava espalhava-se um clarão na humidade que já cobria os vidros permitindo que eu a visse com clareza num flash. Nunca ela me perecera tão bonita com naquele momento.Não querendo estragar o momento, pousei a minha mão na sua coxa, bem suavemente, e ali a deixei ficar quieta. Ela, por seu turno, levou a mão à minha cara, e depois passou-a pela minha cabeça, repousando-a atrás do meu pescoço. Pude sentir a leve pressão da sua mão a puxar-me para si. Deixei-me mergulhar lentamente, com uma suavidade quase sobrenatural, ou por outra, sobretemporal. Naquele momento não era um mero beijo. Era tudo. Era muito mais do que isso. Era a própria razão de existir. Os nossos lábios colaram-se de uma forma mágica, com uma sucção suave mas que nada poderia quebrar. De uma forma absolutamente lânguida as nossas línguas encetaram um bailado, unindo-se e explorando-se.Senti a sua mão sobre a minha, na sua coxa. Entrelacei os dedos da minha mão na sua. Sentia o peso do seu corpo sobre as minhas pernas. Sentia-a completamente, num simples beijo que de simples nada tinha. Sabia que o sentimento era recíproco. Aos poucos, e muito levemente, a sua mão fez deslizar a minha para cima do seu seio. Fiz-lhe uma pequena massagem e senti a sua respiração mudar um pouco. À medida que fui massajando senti a sua respiração ficar mais urgente. Retirei a mão e comecei a desabotoar-lhe o botão mais acima da camisa. A sua mão veio ter com a minha. Hesitei um pouco. A sua mão limitou-se a fazer uma carinho à minha mão, com a ponta dos dedos, como que em aprovação. Demorei o meu tempo, criando antecipação em mim e nela. Fui desapertando os botões ate lhe deixar só o ultimo botão. Depois, passei a mão ao longo do seu corpo, sentindo-o, até a repousar de novo sobre o soutien. O seu peito, ali oprimido, perecia querer saltar para fora. Passei meu polegar para dentro do soutien, massajando-lhe o peito. Ela correspondeu-me. Quebramos finalmente o beijo, que parecia ter durado uma eternidade e os nossos olhares prenderam-se novamente. Estávamos com um ar absolutamente sério, mas ao mesmo tempo com uma paz indescritível. Apenas num beijo tínhamos acabado de fazer amor, de uma maneira estranha ao corpo, que só uma mente quando se eleva consegue compreender. Naquele momento tínhamos sido deificados. Naquele momento éramos Deus e o universo e, sobretudo, nós próprio, completamente nus e expostos um ao outro.Expus-lhe o seio, baixando o soutien, e fiz a minha mão moldar-se a ele. Massajando-a em seguida suavemente. O olhar dela espelhava uma aceitação que eu nunca tinha visto. Só então desviei o olhar e baixei a cabeça, para a beijar. Ela facilitou a acção arqueando as costas, expondo mais e seu seio e aproximando-o da minha boca. Eu beijei-o suavemente, deixando que os meus lábios sentissem a sua textura, e depois a língua, deixando que esta fizesse círculos na sua auréola. Depois suguei-o fazendo com que ela suspirasse. Ali fiquei, sorvendo-o longamente, completamente perdido do tempo. Beijei-o até ela me puxar de novo para os seus lábios num beijo apaixonado e meigo, mas ao mesmo tempo carregado de urgência e tesão. Toda ela era um fogo que me aquecia mas não me queimava, a não ser por dentro.Paramos finalmente para respirar, e eu deixei-me ficar, completamente atónito e com todas as palavras perdidas no meu cérebro. Como era doce aquela deusa encarnada. Depois abracei-a e apertei-a contra mim, sem saber como expressar os meus sentimentos. Este momento tinha ido muito além de tudo o que conhecia. Muito além de mim. Não dissemos mais uma palavra. Não foi preciso. Só o fizemos ao fim de um tempo longo que passou depressa, exprimindo, não o desejo, mas sim a necessidade de nos separarmos.
A viagem de volta para casa correu como um sonho que sei que existe, mas não consigo identificar. Deitei-me a saber que em sonhos faríamos amor.
A viagem de volta para casa correu como um sonho que sei que existe, mas não consigo identificar. Deitei-me a saber que em sonhos faríamos amor.
Published on November 09, 2015 00:32
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