Os dias mais estranhos - 30. Conversas (diálogos, cavaqueiras, prosas)

O Zeca ficou a olhar para mim com um olhar atónito, não acreditando quase no que eu acabava de lhe contar. Ao fim de algum tempo desatou a rir.-Chavalo, vou-te dizer…Eu limitei-me a manter o meu silêncio. Sentia nitidamente um tom de alguma incredulidade, mas também de alguma inveja.-Ouve, mas tu esperastes até agora para ficares parvo? Mas o que é que queres tirar daí?-Sei lá…, já não sei. Mas curto aos molhos tar com ela. Custa-me à brava tar assim longe. -Mas sê sincero contigo, pá. Mano, ela tá casada com um gajo que, pelo que dizes tá carregado de papel. O que é que tu tens para dar a uma gaja dessas? -Não sei, meu, não sei…-Ouve irmão, tu vais-te meter numa fria. Tou mesmo a ver. Fiquei a olhar para ele. A voz dele soou-me à voz da razão.-Se calhar… – fiz uma pausa à procura de palavras – Pá, se tiver de ser, acho que está na altura de dar uma cabeçada na parede.-Yá, mas vê lá se pões um capacete primeiro…Rimo-nos os dois.
Não voltamos nessa noite a tocar no assunto. Ainda conversamos mais um bocado, mas só mesmo para descontrair. Quando acabamos as nossas cervejas matámos a noite.
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Published on November 09, 2015 07:23
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