Os dias mais estranhos - 14. Programa (projecto, plano, desígnio, prospecto)
Acordei um pouco sobressaltado e desorientado por não saber o sítio onde estava. Só depois me recordei. Ela já não estava ao meu lado. Pela janela entravam raios de sol que me anunciavam uma manhã primaveril. Que horas seriam? Senti o cheiro de ovos mexidos. Levantei-me e segui o cheiro. Fui dar com ela na cozinha, vestindo um robe azul-escuro, enquanto preparava os ditos ovos. -Bom dia. – Disse ainda com voz de sono.-Bom dia, dorminhoco. Fiz-nos uns ovos. Não sei se gostas, mas eu adoro!-Por mim tá fixe. – Disse eu enquanto me tentava habituar à luz. – Que horas são?-É quase meio-dia…-Dormiste que nem um anjo… – disse ela. – Queres tomar um duche? Se quiseres tens toalhas lavadas na prateleira de cima do móvel. E escusas de fazer cerimónia…Na verdade apetecia-me tomar um duche, e aceitei a sua proposta. Soube-me bem sentir a água quente a correr pelas minhas costas. Quando saí sentei-me com ela a comer o pequeno-almoço e informei-a de que tinha de ir.-Porquê?-Ainda tenho trabalho para fazer em casa e logo já tenho umas cenas combinadas…-É pena! – Disse ela fazendo beicinho.-Pois é. – Disse-lhe eu.-Estava à espera que passasses o dia por aqui…Não lhe respondi.-O que é que tens combinado mais logo? Alguma coisa que eu não possa saber?-Não. É só um jantar em casa de uns amigos.Não me disse ou perguntou mais nada. Acabamos de tomar o pequeno-almoço e saímos para ir beber um café. Pelo meio fomos falando de tudo um pouco. Quando finalmente chegou a hora de eu ir, ela levou-me ao carro. -Gostei que tivesse cá passado a noite. – Disse-me ela, com um olhar ternurento.-Eu também gostei deste bocadinho.Sem mais ela deu-me um beijo e virou-se caminhando em direcção a casa. Foram precisas todas as minhas forças para entrar para dentro do carro e não ir atrás dela. Não pude deixar de reviver toda esta situação enquanto guiava para casa. Não conseguia parar de pensar nela. Ao chegar a casa telefonei aos meus amigos a perguntar se faria mal levar mais alguém. Afiançaram-me que não e que até teriam todo o gosto. Posto isto, telefonei-lhe.-Olá! – disse-lhe.-Olá. -Olha, só para saber se me queres tu fazer companhia hoje…-Mas não tinhas o tal jantar?-Sim, mas o pessoal convidou-te também.-Pois, mas agora sou eu que já tenho programa…-Há…-O Francisco não tá cá, e a Mónica telefonou a perguntar se eu não queria ir lá…-Bem, mas se a Mónica não tem programa, também pode vir… Podes crer que é uma noite gira. É tudo gente fina.Ela hesitou um momento. Não quis insistir, fiquei apenas à espera da sua resposta.-Vou ligar à Mónica e já te ligo.-O.K.!Desliguei. Pelo menos não me deu logo uma tampa de caras, o que podia ser sinal de que até lhe apetecia estar comigo. Fiquei à espera de uma resposta ansiosamente. A resposta apareceu em breve via SMS.“A QUE HORAS EM TUA CASA?”
“AS 19:00!” – foi a resposta.
“AS 19:00!” – foi a resposta.
Published on November 02, 2015 00:44
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