Os dias mais estranhos - 10. Café

No dia a seguir encontrámo-nos no café, no nosso usual, embora não nos últimos dias para mim, pequeno-almoço.Ela chegou, sentou-se sem uma palavra, e ficou ali pura e simplesmente a olhar para mim. Olhei para ela também. Observámo-nos por uns momentos.-Estamos bem em relação a ontem? – Acabou por perguntar, ao fim de algum tempo.-Estamos bem. Porquê?-Só para saber. – Disse finalmente com um sorriso – Bom dia!-Olha, p’ra ti também. Chegas aqui e demoras meia hora para dizer bom dia…-Xi, que irritadiço. Era só para confirmar…-Pois, pois… tá bem…-Acordaste com os pés de fora da cama ou quê?-Nem por isso, – disse eu com um sorriso – era só para te espicaçar…-Bahh! P’ra ti… - disse com uma careta.-Bahh! P’ra ti também, olha… - disse eu respondendo com outra. Parecíamos dois miúdos a fazer uma birrinha. Logicamente, logo a seguir, escangalhámo-nos a rir com a nossa figura.-Mas conta lá – disse ela quando nos recompusemos – afinal que coisa é assim tão importante eu tu tens que não possas ir amanhã.-Não é nada “assim tão importante”, mas são cenas que já estavam combinadas.-“Cenas”?-Sim, já não estou com um amigo meus há um tempo e resolvemos juntar-mo-nos para ir pôr a conversa em dia. -E isso é mais importante…-Não seria se ele não vivesse em Beja.-Há! Então não tens mesmo muitas oportunidades de estar com ele.-É isso…-O.K., não volto a insistir.
No resto do tempo que demoramos a tomar o pequeno-almoço, e mesmo quando seguidamente nos dirigimos ao trabalho, estivemos sempre com confiança. O episódio do dia anterior parecia ter-nos aproximado não de uma maneira passional, mas mais de genuína amizade. E isso agradou-me.
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Published on October 29, 2015 01:34
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