E, uma vez que vos falei um pouco de "Crónicas do Paraíso"...

Deixo-vos um cheirinho.
Isto foi escrito há uns seis ou sete anos, não como parte de algo, mas apenas porque sim!
E no entanto, foi depois o ponto de partida para uma história que não é fácil de gerir.

Aqui fica.


Prologo

Olhou em frente.
Defronte de si aquilo por que sempre tinha ansiado.
Um enorme vazio indefinível. A mais completa ausência de luz.
Estava no seu limiar e tinha uma decisão para tomar. Avançar implicava enfrentar o desconhecido. Ficar ali implicava contemplar o resto da sua existência. A dúvida assaltava-o. No entanto a curiosidade suplantava o medo.
Uma decisão rápida.
Avançou.
Ao fazê-lo sentiu-se, de repente, puxado. Tinha passado o ponto de não retorno. Era no entanto, por enquanto, apenas uma leve sensação, como um formigueiro subtil que se lhe espalhava pelo corpo. Subtil e no entanto inexoravelmente forte, inescapável. Sentia a sua própria aceleração de uma forma constante. Sentia o peso dessa mesma aceleração que aos poucos se foi transformando em algo que parecia começar a querer esmaga-lo.
Sentiu medo. A dor apareceu. A mente começou a ficar pouco clara. Sentia-se quase a perder os sentidos.
A aceleração era agora absolutamente brutal. Começou a ver os pontos de luz na orla a ficarem alongados. A pressão era esmagadora.
À medida que acelerava ainda mais os seus movimentos tornaram-se mais lentos. Como que em resposta à brutal velocidade começou a sentir-se expandir. As recordações começaram a aparecer mais vividas na sua mente. Momentos cada vez mais distantes e ao mesmo tempo cada vez mais presentes, recordava-se daquilo que nunca tivera consciência de ter vivido e à medida que as recordações chegavam vivia-as e incorporava-as naquilo que era.
Chegou a um ponto em que se tornara tão grande que já não via, apenas ganhava consciência.
Recordava agora quase todo o passado, começava a recordar o presente fundindo-o com o passado de uma maneira que o tempo começava a não fazer qualquer sentido.
Atingiu o seu exponencial máximo e, nesse mesmo instante, fundiu-se com o que tinha à sua frente, recordou todo o passado, o presente e o futuro e tomou plena consciência da sua não existência.
Havia vazio. Havia escuridão. Havia intenção.
-Faça-se luz. - Disse finalmente.
E uma explosão de luz brotou do nada e invadiu todos os âmagos do seu ser.
Ele contemplou-a e viu que era boa…

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Published on March 20, 2015 03:04
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