Missão optimismo
No fim-de-semana estiveram cá o Afonso Cruz, o Carlos Vaz Marques e o Eric Frattini, para a primeira edição de um novo módulo da feira do livro da Praia da Vitória, conhecida por Outono Vivo. A Câmara pediu-me ajuda e, ao verificar que imperava a boa vontade, em vez da partidarite do costume, comprimi a agenda.
Correu bem. Surpreendido, o Frattini suspirava: “Hoje, em Madrid, quarenta pessoas são um sucesso e nunca há perguntas.” Nós tivemos perguntas e gente. As sessões estavam cheias, a feira movimentada – e as manifestações de reconhecimento para com autores prolongaram-se. Repeti-lo-emos.
E, contudo, quanta pedra ainda por partir. Uns dias antes, perguntaram-me dos jornais: “As pessoas lêem mesmo ou só pretendem enfeitar estantes?” Depois, e ao longo das sessões, sucederam-se os lamentos. Os jovens não lêem. As mulheres querem é reality shows. Madraços de barba rija só pensam na PlayStation.
O Afonso ocupou-se do essencial: “Pelo contrário.” O mercado passa por uma contracção pontual mas, na generalidade, esta geração lê mais. Dizem-no os números: publicam-se mais livros, mais edições, mais exemplares. O pessimismo é injustificado.
Por mim, voltei à pergunta original: as pessoas lêem ou só querem forrar paredes? Pois talvez também queiram forrar paredes, mas só isso já será sinal de que sabem que o livro existe. Nem sempre foi assim. “E, já agora, digam-me lá: que mais bela decoração poderia ter uma parede do que um monte de livros?”
Muito trabalho pela frente. Oxalá fosse só nas ilhas, ou mesmo só na província.
Diário de Notícias, Novembro de 2014


