Para desopilar deste estado receoso e apático em que se ...



Para desopilar deste estado receoso e apático em que se encontrava há já vários meses, a chegar ao limite que transforma os dias em ano, Tomás decidiu agir. Não é coisa fácil, agir, quando nos encontramos absortos pelas vastas percepções manipuladas pelo medo, as quais tendem a ser mais convictas do que a promessa de uma vida melhor. A razão por ter dado o salto da inércia para a acção, praticamente da noite para o dia, foi um acontecimento subtil, embora marcante, no seu quotidiano. Como narradora, posso dizer-vos que este pequeno acontecimento teria passado despercebido, caso não fosse apenas mais um entre tantos similares; muitos o precederam até Tomás resolver mudar de táctica. Portanto, meus caros leitores, caso se preocupem em não experienciarem um momento crucial para vos dar a volta, fazendo-vos dar a volta à vida, podem relaxar, pois a vida encarregar-se-á de vos colocar em tais momentos. De qualquer forma, já os estão a viver. Apenas necessitam de uma boa dose de atenção.Voltando a Tomás. Até então tinha poucas certezas de ser capaz de viver como os comuns mortais, angustiado pelas poucas opções que conhecia e temendo ser infeliz, embora vivesse já numa tristeza constante. Eu percebo, e aposto que vocês também: há sempre a hipótese de cairmos na armadilha invisível da sociedade e colocarmo-nos a caminho da infelicidade. Todavia, e chamem-me simplesmente uma narradora dada a clichés, se quiserem, mas acho que ficar na mesma também não é solução. Talvez, por algum tempo, se safem, como Tomás, e possas sobreviver neste limbo. Não por muito tempo, espero.O que Tomás aprendeu com este recente acontecimento, numa mensagem escondida para além da dor que lhe esmagou o peito, foi a importância de ter um objectivo. Estava quase sem rumo, perplexo entre as suas ideias demasiado gerais para as conseguir perceber, até que aquilo, isto é, o tal momento, o acordou. Assim, passou das melancólicas dúvidas, para um fervor que acelerou a circulação sanguínea. Algumas pessoas chamam-lhe inspiração. Agrada-me. E agrada-me também observar Tomás a avançar na vida, com a intenção de chegar a determinado lugar, a partilhar a sua vida, resolvido a ser feliz, à sua maneira. E eu, enquanto narradora óbvia e metediça, eu instalo-me aqui, deliciada com a evolução independente das minhas personagens, assim como da minha própria vida.      
(a partir de um exercício para desbloquear a escrita)
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Published on February 17, 2014 08:25
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